DS9 3×11: Past Tense, Part I

Crítica social oferece uma boa olhada na Terra arrasada do século 21

Sinopse

Data estelar: 48481.2

A Defiant chega a terra para um simpósio no QG da Frota Estelar sobre o quadrante Gama. Sisko, Dax e Bashir se transportam para a superfície, mas para a sua surpresa se materializam, sim, em São Francisco, mas na data errada, no ano de 2024. Sem identidade da época (e sem os seus comunicadores, roubados enquanto eles estiveram desacordados devido ao choque do transporte), Bashir e Sisko são encontrados por dois oficiais de segurança armados (de nome Vin e Bernardo) e jogados no “Bairro Santuário – A” (um dos muitos literais “campos de concentração urbanos” existentes àquela época). Nesses “santuários”, o então falido sistema de seguridade social americano amontoava doentes mentais, desempregados e demais “sem teto” e os esquecia como uma pilha de jornal velho.

Dax teve melhor sorte (ainda possui o seu comunicador) e foi encontrada por um milionário da internet, de nome Chris Brynner. Na Defiant, O’Brien checa o transporte e descobre uma descarga de energia temporal, um pouco antes do início do transporte dos três. A Frota Estelar confirma que eles não chegaram ao seu destino. Bashir e Sisko vão para o centro de triagem do “santuário”. Sisko diz a Bashir que as pessoas lá detidas não são criminosas, apenas pessoas sem ter onde morar e como se manter.

Dax usou o acesso à rede oferecido por Brynner e conseguiu pedir uma “segunda via” da sua identidade e dinheiro. Vin passa as impressões digitais de Sisko e Bashir pelo computador, que diz que elas não existem. Sem dinheiro e “vestidos como palhaços”, o segurança não vê outra saída senão dar a cada um deles um formulário de cadastro.

O’Brien finalmente desvenda o ocorrido, uma singularidade quântica microscópica atravessando o Sistema Solar explodiu no exato momento do transporte, polarizando partículas cronitrônicas (um subproduto do uso do dispositivo de camuflagem) que se armazenaram com o tempo no escudo de ablação da Defiant. O feixe de transporte foi desviado pelas partículas polarizadas para o passado, séculos no passado.

Esperando na fila, Sisko observa o calendário e percebe que faltam poucos dias para as famosas “Revoltas de Bell”, que ocorreram naquele exato local. O comandante diz a Bashir que este foi um dos mais violentos conflitos civis da história americana. Os residentes tomaram o controle do centro de triagem e fizeram os funcionários de reféns. As autoridades, acreditando na morte dos reféns, entraram no local na marra e produziram a morte de centenas de residentes durante a operação. Só que os reféns nunca foram feridos, pela intervenção de um residente, de nome Gabriel Bell, que sacrificou a sua vida para que nada acontecesse a eles. A nobre morte de Bell produziu uma verdadeira revolta dentre a população americana, que levou a profundas mudanças sociais.

Finalmente Bashir e Sisko são entrevistados por Lee, a funcionária de triagem. Ela descobre que eles não são “Lentos” (doentes mentais –como Vin estava pensando), mas sim “Duros” (pessoas procurando ajuda e trabalho). Entretanto, sem maiores referências pessoais, os dois têm que permanecer no “santuário”. Ela lhes dá “cartões de alimentação” para retirar comida e água dos postos específicos para isso espalhados pelo santuário e diz para eles terem cuidado com os “Brutos” (residentes que vivem às custas de outros). Dax continua tentando entrar em contato com os dois sem sucesso. Brynner diz que nenhum pronto-socorro acusou a entrada de nenhum deles. Ele diz que arrumou acomodações para ela por cinco noites e a convida para uma festa na noite seguinte e ela aceita.

Sisko e Bashir procuram por um lugar para ficar, mas cada vez ouvem a mesma história: “que o prédio está cheio”. Eles se encontram com um grupo de “Brutos” liderados por “B.C”, espancando e roubando o “cartão de alimentação” de um “Lento”. Eles não participam da briga.

O’Brien consegue uma maneira de recriar o acidente e montar uma operação de resgate, mas ele não sabe a época exata e eles não poderão tentar muitas vezes, devido ao limitado suprimento de “partículas polarizadas”. Ele e Kira são voluntários para a missão de resgate.

Após passar a noite na rua, Sisko e Bashir decidem subir em um dos prédios para ter uma panorâmica do local. Eles acabam trocando as vestimentas com outros dois residentes para terem acesso ao teto do prédio deles. Subindo as escadas eles encontram Michael Webb cuidando do seu filho Danny Webb, ferido pelos “Brutos”. Bashir ajuda o rapaz e Webb insiste para que eles ajudem os outros, mas Sisko e Bashir não podem interferir.

Na festa de Brynner, Jadzia, Chris e dois outros convidados conversam e surge o assunto que se a polícia pega alguém sem documentos na rua, fatalmente essa pessoa irá parar em um “santuário”. Jadzia pede então que Brynner verifique se foi isso que aconteceu com Bashir e Sisko e ele concorda.

Esperando na fila pelo jantar, Bashir é atacado por “B.C.” e sua quadrilha e ele e o comandante lutam, ainda que em desvantagem numérica. Neste instante, um homem bastante parecido com Sisko fisicamente vem para ajudar e acaba sendo esfaqueado por “B.C” e acaba morrendo. Sisko pega o seu cartão de identificação e após os dois despistarem a polícia ele diz ao doutor que aquele homem era Gabriel Bell. Sisko decide que eles têm que evitar que os reféns sejam mortos a todo custo.

No momento em que Kira e O’Brien se preparam para partir em missão, todo o sinal da presença da Frota Estelar desaparece e o único sinal subespacial detectável é Romulano, da vizinhança de Alfa Centauri. O chefe teoriza que o acidente deve ter criado uma “bolha subespacial” ao redor da nave que a isolou dos efeitos da mudança da linha temporal, que ele acredita obviamente serem resultado da viagem de Sisko e cia. ao passado.

No dia seguinte, Sisko e Bashir procuram Webb para colaborar no que for necessário para o bem dos moradores e concordam em ajudar na organização de uma passeata em frente ao centro de triagem em dois dias, com o objetivo de alertar a sociedade da situação nos “santuários”. Chris diz a Jadzia que de fato Bashir e Sisko foram admitidos, mas acha-los será difícil com cerca de 10 mil residentes.

Sisko e Bashir estão avisando as pessoas sobre a passeata, quando explode uma arruaça na porta do centro de triagem, Bernardo está sendo massacrado pelos residentes. Sisko toma a arma de Bernardo das mãos de um “Lento” e Bashir acaba ajudando segurança a entrar no centro, que a esta altura já havia sido tomado por “B.C” e o seu pessoal. Sisko diz que veio ajudar a guardar os reféns, em número de cinco, incluindo Vin, Lee e Bernardo. O comandante não vê outra saída e diz a “B.C” que o seu nome é Gabriel Bell.

Comentários

Com a falta de intensidade dramática de boa parte desta terceira temporada até aqui (isso sem falar nos dois fracassos abismais nas últimas três semanas), DS9 estava de fato devendo um grande episódio. Foi o que tivemos nesta semana, um soberbo segmento com uma profunda relevância social, sem dúvida um dos mais marcantes de toda a série. Ainda que um capenga dispositivo de trama (envolvendo viagem no tempo) e uma tonelada de “tecnobaboseira” incomodem um bocado. Mais detalhes, sem ter a necessidade de ser detido em um “bairro santuário” no processo, nas linhas abaixo.

Os autores do episódio claramente tinham dúvidas sobre a maneira que iriam utilizar para colocar Sisko, Bashir e Jadzia em 2024. O uso do transporte está ok, mas a explicação a respeito do ocorrido, além de ser exagerada, é completamente desnecessária (por que não usar uma idéia simples envolvendo manchas solares, por exemplo, ou melhor, ainda algo relacionado aos Profetas?). Qualquer típico espectador de Jornada sabia que algum “acidente temporal” (TM) havia ocorrido. O que torna as cenas a bordo da Defiant extremamente enfadonhas e previsíveis, especialmente quando comparadas às cenas do passado. Existe também uma estranha anomalia no processo que não modifica a linha de tempo no mesmo instante em que o trio se transporta para o passado (mesmo o proposto isolamento temporal da Defiant não parece totalmente convincente).

De fato, o ideal seria que as cenas na Defiant fossem eliminadas completamente e o nosso valoroso trio conseguisse voltar com os seus próprios meios (nessas condições um dispositivo de trama envolvendo os Profetas cairia como uma luva). Este é o grande problema do episódio. O mais triste é que, apesar do excesso de “tecnobaboseira” utilizado, nunca é explicado exatamente como O’Brien conseguiu encontrar prováveis destinos temporais para o nosso intrépido trio (além de ninguém ao menos mencionar a possibilidade da utilização do infame “efeito estilingue”(TM) para viajar no tempo).

Comentário social não é novidade em Jornada nas Estrelas. Pelo contrário, é uma das suas principais características identificáveis em seus mais de 35 anos de existência. Normalmente Jornada trata tais questões através de alegorias, usualmente com alienígenas e camadas e mais camadas de metáforas. O presente episódio toma um diferente caminho, ele é o mais cru e direto possível. Situando a sua ação apenas duas décadas em nosso futuro, ele apresenta um “aviso” tão bem-concebido que soa quase como uma profecia para o nosso tempo.

Desde o momento em que coloca sem reservas o tratamento diferenciado dado a Sisko & Bashir e a Dax, o episódio não recua em seu argumento. Os “santuários” são de fato bastante plausíveis. Não é difícil imaginar um cenário em que mesmo ativistas sociais respeitados e mesmo os residentes da primeira leva seriam a favor deles inicialmente. Também não é difícil imaginar que em um certo ponto do caminho eles se tornariam apenas uma maneira de esconder os problemas da sociedade da própria sociedade.

Quando Sisko contou a história das “Revoltas de Bell”, ficou claro que o residente iria acabar morto (provavelmente por culpa de nossos heróis) e Sisko tomaria o seu lugar, mas isso não incomoda de forma alguma, pois nós sabíamos desde o início como a história iria terminar, pois o próprio Sisko descreve tudo o que deve acontecer. A função maior do segmento é ser uma testemunha da história de Jornada e, nesses termos, funciona admiravelmente bem.

Jadzia se mostrou bastante esperta, lidando com o óbvio interesse de Brynner por ela enquanto colhia informações sobre onde e quando ela se encontrava e sobre o paradeiro dos seus dois companheiros (após “Meridian” e “Fascination”, a personagem estava realmente precisando de uma espécie de “redenção”, que felizmente se deu aqui).

Um interesse pelas partes mais sombrias e importantes da história faz bastante sentido para Sisko, posicionando-o como uma pessoa bastante consciente, socialmente falando. Suas atitudes, inicialmente de manter uma postura discreta e procurar cautelosamente por um meio de fuga e depois (devido à morte de Bell) de decidir por ficar e defender os reféns e em última instância tomar o lugar do próprio Bell, foram sempre sensíveis e fizeram bastante sentido.

Bashir formou uma efetiva dupla com Sisko, contrapondo o seu idealismo com a seriedade e ponderação do comandante. Foi o melhor momento do personagem na temporada (em contrapartida, o maior momento do doutor se deu no péssimo “Distant Voices”, reforçando a máxima “de que nem sempre o maior é o melhor”(TM)).

Os demais “personagens de 2024” trouxeram embutidos em suas caracterizações o quanto o espírito das pessoas se encontrava destroçado (de uma maneira ou de outra) naquela época. Brynner (bom, bem lá no fundo, mas totalmente alienado com relação ao sofrimento dos menos favorecidos), Vin (o veterano que tenta esconder com ironia e sarcasmo a sua própria frustração e falta de esperança), Bernardo (o novato que traz como única possível fonte redenção a sua mulher e filhos), Lee (a assistente social feita uma virtual empihadora de papel), Webb (aparentemente um outrora executivo, que tenta mais que todos manter a dignidade em condições tão adversárias) e finalmente “B.C” (que criou uma espécie de personagem por conta própria para sobreviver no “santuário” e projetou o melhor que lhe ainda restava naquele infame chapéu).

Reza Badiyi foi absolutamente matador, nas cenas “no passado” (as cenas do “presente” a bordo a Defiant foram todas triviais). Com tomadas longas e abertas, bastante interessantes e de bom gosto. A forma como ele capturou o trabalho de fundo dos figurantes, equilibrando a presença dos diversos grupos de pessoas presentes no “santuário”, também foi digna de nota. A espetacular fotografia “desbotada” de Jonathan West serviu para traduzir a falta de esperança daquele período e os demais departamentos de produção também não desapontaram.

Brooks fica com o destaque da semana, sua descrição daquele período, juntamente com as imagens, atinge um nível realmente tocante. A facilidade de Brooks com cenas de ação impressiona. A tomada final empunhando a escopeta é absolutamente clássica dentro da série. El Fadil mostrou um belo controle do personagem, enquadrando o idealismo de Bashir de uma maneira mais madura. Ele mostrou mais uma vez que é o mais efetivo dos atores, dentre todos os médicos de Jornada, em cenas de ação. Farrell, quando se concentra, funciona bem. O problema é quando ela relaxa um pouco e começa a fazer “caras e bocas”. Aqui ela funcionou bem com algumas exceções (como quando “descobre” o que Brymmer faz para viver, por exemplo). Os demais regulares só marcaram ponto e nada mais.

Todos os atores convidados foram bastante efetivos (alguns com partes minúsculas inclusive) em apresentar as diversas facetas daquele tempo e lugar, mas o destaque vai para Bill Smitrovich como Michael Webb, mantendo (de uma forma realista) a integridade do espírito humano.

Sisko não se refere a uma possível visita ao seu pai, que aparentemente “continuava morto” para equipe dos roteiristas (Joseph sisko iria finalmente aparecer pela primeira vez na série em “Homefront” e em “Paradise Lost”, da próxima temporada). O comandante de fato tem uma irmã que nunca apareceu na série em cena.

A cena residual de Quark foi meio absurda, mas honrou o espírito do personagem e foi uma bela referência a “The Search”. Bashir é um aficcionado por história (“The Homecoming”), mas não da história terrestre do século 21 (um elemento bastante conveniente para justificar a exposição de Sisko sobre os “santuários”, ainda que em linha com a personalidade de Bashir).

Por que o chefe não faz nenhum comentário sobre a Terra após a mudança da linha temporal? Ele só se refere à Frota Estelar. A fala de O’Brien também sugere que Alfa Centauri foi colonizada pela humanidade, pondo um ponto final em uma antiga discussão dentro do franchise. O episódio também diz explicitamente que O’Brien nunca foi oficial, outro eterno ponto polêmico entre os fãs.

Que destino tiveram os uniformes e comunicadores de Bashir e Sisko? Será que Dax queimou o seu uniforme? Fica pouca dúvida que Dax tenha “hackeado” alguns sistemas para conseguir a identificação e o dinheiro, mas fica a curiosidade sobre as informações que Bashir e Sisko colocaram em seus formulários (informações que dificilmente entraram no sistema, aliás). O que entrou no sistema com certeza foram às fotos deles dois com uniformes e as suas digitais (curioso também que o centro de triagem não utilizasse o exame de retina –muito caro).

Aparentemente o uso de computadores com comando vocal e com monitores sensíveis ao toque é de largo uso em 2024. Observando a internet do período, percebemos uma interface dividida em “canais”, competindo literalmente no tapa. Interessante também que um cartão de acesso à rede parece valer tanto quanto um bom e velho RG.

Outra eterna discussão entre os fãs envolve a localização histórica dos eventos mostrados neste episódio e as das três guerras terrestres citadas inicialmente já na Série Clássica: “Guerras Eugênicas” (aquela envolvendo Khan e referida em “Space Seed”, da Série Clássica, e que ocorreu aparentemente dentre os anos de 1992 a 1996 e afetou fortemente apenas a Ásia); “Guerra do Coronel Green” (indiretamente referida em “The Savage Curtain”, da Série Clássica, envolvendo o infame coronel Green, aparentemente ocorrida na Europa em época próxima à de “Past Tense” – grande especulação neste ponto, apesar de trechos de diálogo em “Past Tense”, na conversa da festa de Brynner, aparentemente justificarem um encadeamento de eventos no sentido Ásia-Europa-América) E a “Terceira Guerra Mundial” (feita em escala global e com a utilização de artefatos nucleares, tal conflito ocorreu, após os eventos de “Past Tense”, por volta de 2050 e terminou antes do primeiro contato com os Vulcanos em 2063, tendo sido citada várias vezes na Série Clássica e explicada melhor no filme “Primeiro Contato”).

É claro que no universo de Jornada nenhum evento marcou o verdadeiro início da redenção da humanidade (o início da construção do infame “Paraíso de Gene Roddenberry”(TM)) quanto o primeiro contato com os Vulcanos, aquele é o momento central do universo de Jornada, não os eventos retratados em “Past Tense”. Mas não custa especular que, após a “Terceira Guerra Mundial”, com os sistemas de governo e a economia mundial largamente em colapso, tenham sido os sentimentos produzidos por este evento (amplificados ao longo do tempo por inúmeros outros, na falta de melhor termo, heróis) que tenham prevenido a definitiva erradicação da humanidade, então possibilitando o vôo da Phoenix (melhor nome para uma nave impossível, naquelas circunstâncias).

É interessante a utilização da dupla Bashir e Sisko, se considerarmos o futuro da série. Bashir foi o definitivo símbolo do idealismo em DS9, especialmente no trato com a infame Seção 31, mas não sem antes se mostrar não tão puro assim e ter um segredo pessoal revelado. Sisko, por sua vez, se mostrou, ao longo da série, o mais sombrio de todos os oficiais da Frota e empregou mais de uma vez um pragmatismo “nada Roddenberryano” durante a guerra com o Dominion, nas duas últimas temporadas.

“Past Tense, Part I”, apesar dos seus óbvios defeitos de trama e da sua abordagem direta em sua mensagem, atitude atípica em Jornada (que com certeza o torna menos palatável para alguns fãs). Emerge como um grande vencedor, ao mesmo tempo testemunho e aviso de eventos que esperamos que nunca venham a acontecer. Um verdadeiro clássico da série.

Avaliação

Citações

“Treat people in your debt like family: exploit them.”
(Trata as pessoas em dívida como família: explore-as.)
Sisko

“You can’t free a fish from water.”
(Você não pode libertar um peixe da água.)
Quark

“Twenty-first century history is not one of my strong points –too depressing.”
(História do século 21 não é um dos meus fortes –muito deprimente.)
Bashir

“Causing people to suffer because you hate them… is terrible. But causing people to suffer because you have forgotten how to care –that’s really hard to understand.”
(Causar sofrimento às pessoas porque você as odeia… é terrível. Mas causar sofrimento às pessoas porque você se esqueceu de como se importar –isso é realmente difícil de entender.)
Bashir

“Are humans really any different than Cardassians or Romulans? If push comes to shove, if something disastrous happens to the Federation, if we are frightened enough, or desperate enough, how would we react? Would we stay true to our ideals, or would we just end up here, right back where we started?”
(Os humanos são realmente diferentes dos Cardassianos ou dos Romulanos? Se levarmos um empurrão, se algo desastroso acontecer à Federação, se formos assustados o suficiente, ou desesperadamente, como reagiríamos? Seguiríamos fiéis a nossos ideais, ou terminaríamos assim, logo de volta onde começamos?)
Bashir

“The name is Bell. Gabriel Bell.”
(O nome é Bell. Gabriel Bell.)
Sisko

Trivia

  • O problema dos “sem teto” dos Estados Unidos sempre foi algo que incomodou a Robert Hewitt Wolfe. Tal problema pode ser facilmente observado em Los Angeles, especialmente em Santa Mônica. “Em Santa Mônica, os ‘sem teto’ se tornaram ‘esculturas vivas'”, comentou Ira Behr na época. Wolfe começou a trabalhar então em um conceito que colocava Sisko como um “sem teto” em Santa Mônica em 1995. A primeira tentativa, batizada “Cold And Distant Stars”, trazia uma noção vaga que Sisko olharia o céu, as estrelas, o lugar aonde ele pertence. O desejo de Sisko o levaria então a ser considerado como louco pelos demais, mais um destes famosos “profetas urbanos”. Tal conceito não funcionou nem para Wolfe, muito menos para Behr.
  • Foi então que Behr trouxe um elemento que se tornou essencial à história: “as revoltas de Attica”. Referindo-se aos eventos produzidos pelas condições subumanas do presídio por volta de 1972, onde os prisioneiros, literalmente tratados como animais, se revoltaram com a situação. Behr decidiu então pelo conceito dos “campos de concentração urbanos” para o episódio.
  • Aí uma das coisas mais incríveis aconteceu. Quando a equipe preparava a história, surgiu uma manchete no jornal “L.A. Times” que detalhava uma proposta da prefeitura da cidade para transformar o centro de L.A. em algo “mais amigável” para o comércio. O artigo detalhava um autêntico “campo de concentração urbano” onde seriam colocados os “sem teto”, para “limpar” as ruas. Behr lembra que na época as pessoas chegavam a perguntar se ele havia tido acesso a alguma informação privilegiada da prefeitura. “Foi assustador, realmente assustador”, lembra o produtor-executivo.
  • O conto de Behr e Wolfe vai ainda mais longe profetizando que a classe média americana vai um dia se juntar à miséria dos destituídos e dos doentes mentais. A primeira cena em 2024 já enfatiza o preconceito no tratamento diferenciado dado a Jadzia Dax com relação à dupla Bashir & Sisko.
  • Termos como Dims (“Lentos”), Ghosts (“Brutos”), Gimmies (“Duros”) foram tirados do filme The Magnificente Seven e o nome Gabriel, do anjo Gabriel. O nome “B.C” foi uma homenagem à assistente de direção, B.C. Cameron. Como mecanismo de viagem no tempo, Wolfe utilizou o transporte, pois nunca havia sido utilizado antes. O conceito de “Política de Deslocamento Temporal” foi introduzido aqui e mais tarde modificado na “Primeira Diretriz Temporal” ao longo dos anos recentes em Jornada. Tal política acabou dando origem aos infames “investigadores temporais” de “Trials and Tribble-ations”, da quinta temporada de DS9.
  • Os atores e equipe foram filmar pela primeira vez na seção “das ruas de Nova York” dos estúdios da Paramount. O diretor Reza Badiyi já tinha experiência com o ambiente, tendo trabalhado ali em Mission: Impossible e Mannix, entre tantos outros programas. O cinegrafista Jonathan West disse que grande parte da fotografia do episódio foi estabelecida pela direção de arte, escurecendo os cenários e os sujando. West lembra também que eles trabalharam bastante à noite e ele utilizou duas lâmpadas de xenônio penduradas em altos guindastes para simular as patrulhas com helicópteros. Certas partes tiveram cerca de 100 pessoas em cena.
  • Westmore e Blackman tiveram o trabalho facilitado esta semana, sem alienígenas. A maior parte do esforço se baseou em “sujar” as pessoas e “estragar” as suas vestimentas. Siddig El Fadil gostou muito do episódio e da direção de Badiyi e o compositor Dennis McCarthy trouxe uma trilha com apenas sete minutos de música, outro diferencial do episódio.
  • O conceito dos Santuários foi novamente revisitado na franquia durante a segunda temporada de Star Trek: Picard, quando Seven e Raffi, tendo voltado no tempo ao mesmo ano no século 21 do que “Past Tense”, estiveram no equivalente de Los Angeles dos santuários.
  • Certos elementos e conceitos não usados em “Past Tense” acabaram tendo seu lugar em “Far Beyond the Stars”, da sexta temporada. Inicialmente Wolfe não queria usar a viagem no tempo e um dos muitos conceitos alternativos produzidos nas reuniões da equipe de roteiristas foi de que Sisko teria a sua consciência “deslocada” para a de um ancestral e ele encontraria os outros personagens na época, como humanos, sem maquiagem. Odo como um guarda de trânsito e Bashir como o médico de um pronto-socorro, por exemplo.

Ficha Técnica

História de Ira Steven Behr & Robert Hewitt Wolfe
Roteiro de Robert Hewitt Wolfe
Dirigido por Reza Badiyi

Exibido em 2 de janeiro de 1995

Título em português: “Passado Imperfeito, Parte I”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Jim Metzler como Chris Brynner
Frank Military como Bittle “B.C.” Colrich
Dick Miller como Vin
Al Rodrigo como Bernardo
Tina Lifford como Lee
Bill Smitrovich como Michael Webb
Henry Hayashi como um convidado masculino
Patty Holley como uma convidada feminina
Richard Lee Jackson como Danny Webb
Eric Stuart como um guarda
John Lendale Bennett como Gabriel Bell

Balde do Odo

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Edição de Mariana Gamberger

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