Pon farr vulcano provoca temporada de acasalamento a bordo da Voyager
Sinopse
Data estelar: 50537.2.
Enquanto se apronta para uma missão avançada, B’Elanna se surpreende com o pedido de Vorik para tornar-se sua parceira. Ela recusa, mas o alferes agarra seu rosto e desloca sua mandíbula. O Doutor explica que Vorik está entrando no ritual de união vulcano conhecido como pon farr. Se ele não encontrar uma parceira, pode vir a morrer. Vorik tenta atravessar o difícil período com meditação intensiva.
O grupo avançado inicia sua busca pela galicita, o material que a tripulação havia detectado em um planeta próximo, mas B’Elanna torna-se cada vez mais agressiva, chegando a morder Paris. Tuvok descobre que Vorik tocara o rosto da tenente, o que iniciou um elo telepático entre os dois. Agora Torres também está vivenciando o pon farr. Vorik está quase fora de si no desejo de unir-se a B’Elanna, mas é forçado a permanecer na Voyager, onde o Doutor tenta ajudá-lo programando uma fêmea vulcana holográfica no holodeck.
No planeta, Paris, Tuvok e Chakotay localizam Torres e lhe explicam o que está se passando. Enquanto tentam convencê-la a deixar o planeta, um grupo de alienígenas subterrâneos os cercam. Há um confronto e os homens desaparecem com Chakotay e Tuvok, deixando Paris e Torres sozinhos. Durante a busca pelos colegas, Torres diz a Paris que quer unir-se a ele, mas o piloto se nega a tomar vantagem da situação.
Chakotay e Tuvok convencem os alienígenas, chamados Sakari, que vieram em paz. Os Sakari explicam que se mudaram para o subsolo quando seus ancestrais foram atacados por invasores desconhecidos. Chakotay oferece ajuda para protegê-los de ataques futuros em troca de galicita. Em algum outro lugar, Torres tenta seduzir Paris, mas ele novamente contém a colega. Pouco tempo depois, Tuvok e Chakotay os encontram.
De repente, Vorik, que não consegue mais segurar seus instintos, aparece no local. Ele desafia Paris por Torres, mas a própria tenente aceita o desafio e inicia uma batalha ritual, derrotando o oponente. A febre passa, e o grupo avançado retorna à nave. Mais tarde, Chakotay encontra evidências dos invasores de que os Sakari falavam e, alarmado, chama Janeway à superfície; os dois de deparam com um cadáver Borg.
Comentários
Como de costume, “Blood Fever” apresenta mais de uma trama central; na verdade, tem uma principal –a questão dos hormônios vulcanos– e outra secundária –os alienígenas no planeta. Analisando o roteiro isoladamente, a primeira aparenta ser mais importante, mas, no contexto da série, a outra com certeza é muito mais.
Havia muito o Pon Farr não era tratado em Jornada. Tanto em A Nova Geração quanto em Deep Space Nine o assunto pareceu pouco relevante, já que naquelas séries não havia personagens vulcanos fixos. Quando Voyager estreou com suas novidades –entre elas, um vulcano negro–, ficou meio óbvio que mais cedo ou mais tarde aquele desequilíbrio neuroquímico da raça mostraria as caras novamente. Era uma certeza tão absoluta quanto a aparição dos Borgs (sobre a qual haverá comentários mais detalhados). Afinal, previa-se que a série duraria sete temporadas, o intervalo exato entre os períodos de casamento Vulcano. A forma como a produção decidiu se desvincular da previsibilidade foi mostrar um outro personagem e não Tuvok atravessando o chamado Pon Farr.
Os fãs haviam tido, até então, praticamente um só episódio em todas as séries de Jornada que abordava as práticas de união vulcanas (“Amok Time”). Na Série Clássica, Spock, porém, não se limitava ao Pon Farr; apaixonando-se ocasionalmente por mulheres alienígenas. Vale lembrar, o famoso oficial da Enterprise original não era um vulcano de sangue puro, mas filho de uma mulher humana. Voyager é a primeira série a trabalhar a fundo personagens vulcanos legítimos.
E que espécie paradoxal são os vulcanos. A princípio, personificam a lógica e a sabedoria. São equilibrados, totalmente embasados no pensamento crítico e desprovidos de subjetividade. Tais características lhes dão vantagens bem definidas. Mas há quem diga que elas são também a ruína da espécie. A raça ritualiza aquilo que não se enquadra no lógico; seus instintos e chamados naturais mais se assemelham aos dos primatas terrestres do que aos seres humanos. Há a bajulação da fêmea e a luta contra os outros pretendentes; e predomina o darwinismo, a lei do mais forte.
A situação se complica um pouco mais do que o normal em “Blood Fever”. Na Enterprise-D, de A Nova Geração, os oficiais vulcanos tinham os seus familiares a bordo com eles. Caso não tivessem, provavelmente podiam pedir uma licença temporária e voltar ao seu planeta. Mas, na Voyager, Vorik e Tuvok estão virtualmente sozinhos. A nave, além de militar –não carregando, portanto, passageiros ou civis–, encara uma viagem de no mínimo 70 anos para o território conhecido.
Sobre o Pon Farr, há duas informações mostradas na série das quais ninguém sabia. Ou elas se tratam de uma novidade, ou são mais uma contradição. A primeira delas é o fato de um indivíduo não-vulcano “contrair” os efeitos do fenômeno. Tuvok chove no molhado quando explica a Vorik que já houve casos assim e que B’Elanna, por ser klingon, pode tê-los experimentado com mais intensidade. A outra, que não tem explicação, é quando Vorik mente para o Doutor no holodeck. Ele diz que o método sugerido para combater a situação funciona e que tudo está se normalizando. Na cena seguinte, no entanto, o alferes está na superfície do planeta, realizando o tal ritual do combate. Tudo bem, os vulcanos no Pon Farr costumam agir instintivamente, mas então essa idéia de que Vulcano não mente tem que ser esquecida. Na verdade, eles mentem sim, mas, como Tuvok tem o costume de fazer, usam eufemismos para amenizar o fato. É só lembrar da cena no episódio “State of Flux”, em que o chefe de segurança diz a Chakotay que mentiu para os maquis sob ordens de um oficial superior.
Seguindo em frente na história, o público tem uma pequena amostra do que os produtores tem em mente para Tom e B’Elanna. O aprofundamento no relacionamento dos dois é, talvez, o ponto mais consistente de toda a série. Nem mesmo a relação Janeway/Chakotay, Janeway/Tuvok ou Tom/Harry é tão explorada. É estranho, porque esses outros relacionamentos sempre foram sugeridos, desde o início de Voyager, passando depois a ser ignorados. A idéia que transparecia inicialmente é a de que B’Elanna acabaria com Chakotay, como visto em “Persistence of Vision”. Depois, ele passou a se aproximar mais da capitã, a exemplo, “Resolutions” e “Coda”. Tom sempre mostrou evidências de que ficaria sozinho, por não ter maturidade para levar um compromisso. Mas como esse terceiro ano de Voyager é como um caldeirão de novas fórmulas e muito experimento, tudo mostrado na série deixa de ser previsível.
O episódio ainda mostrou bem o íntimo de Tom e B’Elanna. O piloto da nave não é mais aquele caçador de mulheres visto em “Caretaker”. Ele agora tem princípios, moral, ética. Tom Paris simplesmente pulou do 8 para o 80. Não apenas deixou de aventurar-se com diferentes mulheres, como contém-se diante da mulher em quem está verdadeiramente interessado. Engraçado como alguém como ele possa resistir aos “chamados da natureza”, enquanto Vorik, o vulcano, perca o controle. Sobre B’Elanna, bom, o telespectador pôde ver de novo o suprimido lado klingon à flor da pele. É uma pena que isso aconteça tão esporadicamente, porque Roxann Dawson faz uma ótima klingon. Aqui ela está temperamental ao máximo, sensual, movida pelo corpo e não pela mente, frustrada, brava, assustada. Enfim, todas as emoções são retratadas pela atriz com muita intensidade e convencem.
Sobre Vorik, não há muito a dizer, a não ser que apareceu do nada no meio da terceira temporada e vem ganhando crescente destaque na série. É sempre bom ver personagens secundários em desenvolvimento, coisa que deveria acontecer em Voyager mais do que em qualquer outra série de Jornada. A nave tem uma tripulação limitada, motivo pelo qual é difícil compreender a aparição de figurantes diferentes a cada semana. E, quando um ou outro ganham destaque, como Seska, Suder ou Hogan, eles acabam mortos. Bom, isto não acontecerá a Vorik. Ele continuará em evidência sobretudo nesta e na próxima temporada. Mas, a longo prazo, voltará para o lugar de onde veio…
Por último, vale lembrar o peso da presença dos borgs em “Blood Fever”. Eles dispensam apresentações. São simplesmente os vilões mais temidos de Jornada. A produção de Voyager sabia que um dia recorreria a eles e talvez até seja por isso que a série tenha sido ambientada no quadrante Delta. Embora a aparição na história da semana não tenha durado mais do que poucos segundos, foi muito simbólica. A capitã Janeway finalmente se deparou com algo que ela vinha temendo desde que iniciou sua longa viagem para casa. A partir deste ponto, a vida da tripulação nunca mais será a mesma. A proximidade com o território Borg vai se tornar cada vez mais evidente e alcançar um clímax sensacional. Para a produção do seriado, significa uma total reestruturação em todos os aspectos; o tom das histórias vai mudar, a premissa, os personagens, tudo. É esperar para ver.
Avaliação
Citações
“In other words, you’re ready. Let’s go.”
(Em outras palavras, você está pronto. Vamos.)
B’Elanna
“She bit me… and she seemed to be enjoying it, in a Klingon kind of way… She’s really not herself.”
(Ela me mordeu… e parecia estar gostando, de um jeito klingon… Ela está fora de si.)
Paris
“I hope Lt. Torres isn’t too upset with me.”
“With Lt. Torres, ‘upset’ is a relative term.”
(Espero que a tenente Torres não esteja muito zangada comigo.)
(Com a tenente Torres, ‘zangada’ é um termo relativo)
Vorik e Doutor
“Are you saying that I’m impossible to resist?”
“I wouldn’t go that far.”
(Você está dizendo que eu sou irresistível?)
(Eu não iria tão longe.)
Paris e B’Elanna
“You’re afraid that your big, scary Klingon side might have been showing. Well, I saw it up close. And you know, it wasn’t so terrible. In fact, I wouldn’t mind seeing it again someday.”
“Careful what you wish for, Lieutenant.”
(Você está com preocupada que seu grande e assustador lado klingon possa ter se mostrado. Bom, eu o vi de perto. E sabe, ele não era tão terrível. Aliás, eu não me importaria de vê-lo novamente outro dia.)
(Cuidado com o que deseja, tenente.)
Paris e B’Elanna
Trivia
- O alferes Vorik aparece pela terceira vez na série. As outras ocasiões foram nos episódios “Fair Trade” e “Alter Ego“.
- Deborah Levin reprisará o seu papel como a alferes Lang nos episódios “Displaced” e “Year of Hell, Part I”, do quarto ano.
- É a segunda vez em que o Pon Farr vulcano é retratado em tela. A primeira menção a essa peculiaridade da fisiologia reprodutiva desses alienígenas ocorreu no episódio “Amok Time”, do segundo ano da Série Clássica.
- A direção do episódio ficou sob a batuta de Andrew Robinson, mais conhecido do público como o intérprete do cardassiano Garak, de Deep Space Nine.
- Segundo o alferes Vorik, há 73 homens a bordo da Voyager. Isso representa exatamente 50% da tripulação.
- Aqui fica estabelecido que Tuvok tem um implante artificial no braço. O ligamento do cotovelo teve de ser substituído após uma simulação de combate.
Ficha Técnica
História de Lisa Klink
Dirigido por Andrew Robinson
Exibido em 05 de fevereiro de 1997
Título em português: “Febre”
Elenco
Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim
Elenco convidado
Alexander Enberg como Vorik
Bruce Bohne como Ishan
Deborah Levin como alferes Lang
Enquete
Edição de Stéphanie Cristina