TNG 5×14: Conundrum

Perda de memória traz nova iluminação para os tripulantes da Enterprise-D

Sinopse

Data estelar: 45494.2

Após ser rastreada por uma nave alienígena não identificada, a tripulação da Enterprise, incluindo Data, tem uma séria, mas seletiva, perda de memória. Embora tenham esquecido quem são e o que fazem, os tripulantes ainda possuem as habilidades e conhecimentos que lhes permitem operar a nave. Toda a comunicação com o exterior foi interrompida, mas a tripulação deduz que eles estavam em batalha, devido à existência de destroços de uma pequena nave alienígena nas proximidades.

Após muitos esforços, a tripulação ganha acesso ao computador da nave, que fornece a eles nomes, fotos e postos de todo o pessoal responsável pela operação crucial da nave. Já que o conhecimento não desperta nenhuma memória, ninguém estranha quando um comandante Keiran MacDuff é listado como o segundo em comando.

Mais tarde, Geordi e Data descobrem informações ligadas à sua missão – eles foram ordenados a invadir o território lysiano e destruir seu centro de comando central. A informação sugere que os lysianos seriam os responsáveis pela perda de memória da tripulação. As ordens também exigem que a Enterprise mantenha silêncio de rádio absoluto.

Na ponte, a tripulação está desconfortável com o pensamento de destruir uma pequena nave lysiana, especialmente quando eles descobrem que a Enterprise é muito mais poderosa que a nave “inimiga”. Picard quer contatar a Federação para verificar, mas MacDuff insiste que ele não pode, lembrando-o de que as ordens estabelecem que eles estão em guerra com os lysianos e não devem entrar em contato com ninguém. Não vendo outra escolha, Picard dispara e destrói a nave.

Ainda desconfortável, Picard procura um meio de restaurar as memórias da tripulação. Ele envia Data e Geordi para acessar os registros médicos, mas a dupla se vê incapaz da tarefa. Eles também descobrem que os relatórios da missão, os registros da tripulação e os diários pessoais estão desaparecidos, o que os deixa bastante incomodados. MacDuff, entretanto, aponta que tudo o que está acontecendo é consistente com a informação que eles têm dos lysianos. Desesparada, a tripulação decide que a dra. Crusher deve tentar um perigoso tratamento para restaurar a memória sem o recurso de consultar os registros médicos de seus pacientes. MacDuff imediatamente se voluntaria para o tratamento, durante o qual ele parece sofrer um ataque espasmódico. Após a interrupção da sessão, ele diz a Crusher que ainda não se lembra de nada.

Enquanto Picard se prepara para atacar o comando central lysiano, ele descobre que os inimigos são tão inferiores tecnologicamente à Enterprise que são praticamente indefesos. Incapaz de justificar moralmente o ataque, ele ordena a Worf que abra um canal de comunicação. MacDuff exige o controle tático para abrir fogo contra os lysianos, mas Riker e Worf o tonteiam com um feiser.

O disparo revela que MacDuff na realidade é um alienígena. Mais tarde, após a dra. Crusher restaurar as memórias da maior parte da tripulação, Picard descobre que MacDuff é um membro de uma espécie que está em guerra com os lysianos há décadas. Embora eles tenham o poder de manipular computadores e suprimir memórias, sua tecnologia de armas era inferior. Daí a tentativa de usar a Enterprise como instrumento para terminar seu conflito com os lysianos.

Comentários

“Conundrum” é um episódio bastante divertido, totalmente focado na tripulação da Enterprise. O estudo da personalidade dos personagens é bastante interessante porque permite que eles interajam sem saber como suas relações se estabeleciam anteriormente, embora seu comportamento básico continue o mesmo.

Jean-Luc Picard se mostra o mesmo líder de sempre – tão líder que foi capaz de não entrar em conflito e dividir sua tripulação quando Worf levantou a hipótese de que ele, e não Picard, fosse o capitão da Enterprise. Jean-Luc, embora mostre claramente nos diálogos sua força de comando e sua ascendência sobre o resto da tripulação, aceita com tranquilidade uma posição de inferioridade.

Igualmente interessante é a vontade de Worf de ser o comandante. A atuação do klingon mostra muito de sua própria personalidade – sempre combativa e contestadora –, juntando-a às próprias características de sua espécie, que incluem a conquista do poder pela honra de suas ações. Como ninguém tinha memória da “honra das ações passadas”, seria muito difícil para Worf aceitar Picard como capitão com base em algumas bolinhas coladas no pescoço.

E se ver Worf no comando já foi interessante, mais legal ainda foi vê-lo perder a cadeira de capitão para Picard. Sua expressão de decepção, seu pedido de desculpas e a grande reação de Picard, que nem se incomodou com o episódio, deixam muito claro quem merece estar sentado ali.

O trio amoroso composto por Riker, Troi e Ro Laren também é interessante, principalmente dado o histórico entre Will e a alferes bajoriana em episódios passados. Extraindo-se as más lembranças e os preconceitos, vê-se que os dois combinam bastante um com o outro, com o mesmo espírito sarcástico e arrojado. Mais engraçadas ainda são as situações em que Troi quase relembra seu passado com Will, que ainda mantém grande atração pela conselheira, mas está atualmente enrolado com Ro Laren. O fim do episódio traz também um momento hilário, em que o primeiro oficial se vê às voltas com a dupla, já de posse de suas memórias antigas. “Quem tudo quer nada tem”, é a lição do dia para o pobre Will.

A tensão final do episódio mais uma vez consolida o espírito nobre de Picard e seus colegas a bordo da Enterprise – incluindo Worf, que se redime de sua sede de poder inicial. A decisão de não atacar o comando central lysiano é só o que poderíamos esperar desse grupo de personagens, com memórias intactas ou não. Jean-Luc continua sendo o líder de sempre, e, em momentos assim, chega a fazer o telespectador sentir uma tremenda admiração pelo capitão da Enterprise.

Tirando o extraordinário estudo dos personagens, a trama em si não diz muito. Embora esteja razoavelmente bem arrumada, sem muitos furos, é difícil aceitar certos detalhes, como o fato de o bloqueio da memória ser totalmente reversível e os primitivos alienígenas serem capazes de alterar cérebros e computadores da Enterprise com grande facilidade (é difícil de acreditar especialmente que uma raça capaz de mexer com os circuitos de Data ou do computador da nave seja tão primitiva tecnologicamente, a ponto de não possuir armas melhores que a dos lysianos – para o bem ou para o mal, tecnologia e poder bélico andam sempre de mãos dadas).

Mesmo assim, vale dizer que, convincentes ou não, as explicações que viabilizam a história foram todas dadas, de modo que é possível suspender a descrença e assistir a este episódio sem ridicularizar sua premissa. Outro problema, talvez até mais grave, porque tem a ver com o conteúdo dramático do segmento, é a extrema previsibilidade da história. É bem possível que grande parte da audiência já tenha matado a charada do que estava acontecendo assim que viu aquele “novo comandante” na ponte.

Do ponto de vista técnico, o episódio mostra a competência de costume. Atuações dentro do padrão, direção sem inovações, mas competente, bonitas tomadas externas da Enterprise e um belo efeito do tiro de feiser no comandante MacDuff (revelando sua natureza alienígena) também ajudam a fazer de “Conundrum” uma boa hora desta quinta temporada.

Avaliação

Citações

“One photon torpedo would’ve ended their war.”
“It almost did.”
(Um torpedo fotônico teria terminado a guerra deles.)
(Quase terminou.)
Jean-Luc Picard e William Riker

Trivia

  • Originalmente, “Conundrum” foi escrito para a quarta temporada, mas acabou guardado para o quinto ano, e teve mais material adicionado à premissa original, como a marcante presença de Ro, por exemplo.
  • A maior parte do roteiro final do episódio foi escrita por Joe Menosky, que não foi creditado. De acordo com Brannon Braga, coube a Menosky fazer o episódio funcionar.
  • Segundo Rick Berman, o episódio é baseado no conceito de ‘e se?’. “Se você tem nove pessoas que não sabem quem ou o que são, elas vão se encontrar? Vão achar sua hierarquia? O capitão vai virar o capitão?”
  • “Conundrum” foi filmado entre 18 e 26 de novembro de 1991, nos galpões 8 e 9 da Paramount. Como bottle show, só teve cenas nos cenários fixos da nave.
  • O modelo do Comando Central Lysiano foi usado anteriormente, de forma etérea e semitransparente, como o deus edo, em “Justice”, da primeira temporada.
  • A música que Riker toca em seu saxofone neste episódio é The Nearness of You, de Hoagy Carmichael, a mesma que ele tocou para Minuet no episódio “11001001”, da primeira temporada.
  • Erich Anderson, que aqui atua como o “comandante” Keiran MacDuff, apareceu em séries como Quantum Leap, Melrose Place, Plantão Médico e principalmente Nova York Contra o Crime, como o personagem Don Kirkendall. Erich também foi uma das vítimas de Jason Voorhes em Sexta-feira 13: Capítulo Final.
  • Michael Piller achou que o episódio não fez jus à premissa original. Rick Berman ficou em cima do muro: “Um episódio de fazer pensar, achei. Não um dos grandes.” Já Ronald D. Moore, Brannon Braga e Jeri Taylor destacaram o triângulo Ro Laren-Will Riker-Deanna Troi como o grande destaque. Mas Braga achou que o mistério em torno do falso primeiro oficial não funcionou.
  • Michelle Forbes gostou de atuar neste episódio: “Foi divertido trabalhar com Frakes. É um problema interessnate para um personagem, porque você tem um personagem bem definido que se inclina numa direção. Quando você tem amnésia, pergunta-se se isso traz um lado de você que sempre quis se expor. Você ficaria realmente confortável com isso? É uma coisa interessante.”
  • O segmento ganhou um Emmy por seus efeitos visuais, dividido com “A Matter of Time”.

Ficha Técnica

História de Paul Schiffer
Roteiro de Barry Schkolnick
Dirigido por Les Landau

Exibido em 17 de fevereiro de 1992

Título em português: “Esquecimento”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Erich Anderson como Kieran MacDuff
Michelle Forbes como Ro Laren
Liz Vassey como Kristin
Erick Weiss como tripulante
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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