Busca pelos Fundadores e pela origem de Odo trazem ação e aventura à série
Sinopse
Data estelar: 48212.4.
Uma reunião estratégica entre Kira, Dax, Odo, Bashir e O’Brien no OPS (Centro de Operações de DS9) é interrompida quando uma nave estelar da Federação se descamufla, já dentro do perímetro de segurança da estação. Sisko, a bordo da tal nave, avisa que trouxe uma surpresinha para o Dominion. Mais tarde, Sisko explica que a Defiant é um protótipo de nave de guerra da Frota Estelar, desenvolvida com o propósito de lutar contra os borgs. A missão de Sisko é levar a Defiant para o quadrante Gama através da fenda espacial e tentar estabelecer algum tipo de relação diplomática com os fundadores do Dominion.
Para poder realizar a tarefa, a nave está equipada com um dispositivo de camuflagem emprestado pelo governo romulano em troca de quaisquer informações obtidas sobre a potência do quadrante Gama. A romulana T’Rul foi designada a operar o dispositivo de camuflagem. A Frota Estelar também enviou o tenente-comandante Michael Eddington para tomar conta dos assuntos de segurança da Frota em DS9 de agora em diante. Odo fica furioso com isso e avisa a Sisko que vai pedir demissão.
Ben e Jake conversam e ambos admitem finalmente aceitar DS9 como o seu verdadeiro lar. Um desolado Odo observa as estrelas no Promenade, Kira se aproxima e diz ter “mexidos uns pauzinhos” com o governo bajoriano para que o comissário faça parte da missão na condição de representante de Bajor. Odo diz a Kira que “valeu a intenção” e parte. Sisko convence Quark a ajudá-lo a contatar os fundadores do Dominion por intermédio dos karemmas, uma raça com quem ele já havia negociado antes.
A Defiant parte com todos, à exceção de Jake. Odo é o último a embarcar, solicitando permissão para vir a bordo usando a cartada que Kira lhe ofereceu anteriormente, para manter a sua dignidade pessoal. Odo e Quark dividem o mesmo quarto a bordo da Defiant. Já no quadrante Gama, as atividades das patrulhas jem’Hadares parecem indicar que o dispositivo de camuflagem pode não ser tão eficiente quanto Sisko e cia. gostariam que fosse.
Em órbita do mundo natal dos karemmas, um negociante de nome Ornithar diz que toda comunicação deles com o Dominion passa por uma certa estação retransmissora (ele diz não saber nem se os fundadores existem ou não e que eles negociam com o Dominion por intermédio dos vortas). Ele indica o local em um mapa estelar e Odo fica fascinado por uma nebulosa nesse mesmo mapa. Quark decide ficar para trás e voltar a DS9 por seus próprios meios.
Kira fala com Sisko e demonstra total desprezo pelas atitudes da Frota Estelar com relação a Odo. Sisko não discorda de nada que a major fala, mas diz que para Odo ficar ele tem que querer ficar. A Defiant chega à estação retransmissora, O’Brien e Dax se transportam e são presos pelos soldados jem’Hadares. Sisko decide deixar os dois para trás e parte, com a chegada de mais uma patrulha de naves, seguindo as coordenadas enviadas por Dax.
Kira vai conversar com Odo e o comissário se diz irresistivelmente atraído por um planeta na nebulosa Omarion e quer tomar uma nave auxiliar e partir. Os jem’Hadares atacam e, apesar de a Defiant conseguir destruir uma das naves inimigas, os escudos caem e os soldados abordam a nave.
A tripulação luta bravamente em uma disputa sem chance de vitória. Odo e Kira lutam nos decks inferiores e a major cai inconsciente. Odo consegue de alguma forma se livrar dos jem’Hadares e arrastar Kira para uma nave auxiliar, com o objetivo de partir para um planeta errante na nebulosa Omarion. Ele diz a Kira que a última imagem que viu da Defiant foi a de uma nave à deriva cercada por naves jem’Hadares e que ele não tem noção do que aconteceu com Sisko e os demais. Chegando ao planeta, Kira e Odo avistam um enorme lago dourado, e dele emergem formas de vida idênticas a Odo. Uma fêmea diz “bem vindo ao lar” para o comissário.
Continua…
Comentários
Deep Space Nine abre a sua terceira temporada com um ambicioso episódio que introduz a nave estelar Defiant, estabelece o tom de desenvolvimento que será dado a Ben Sisko durante toda a temporada, mostra uma imediata reação da Frota Estelar à ameaça do Dominion e apresenta a espécie de Odo. O episódio cai na categoria de ação/aventura e nesses termos funciona muito bem, contando com excelentes valores de produção e extrema confiança em sua execução.
A missão de Sisko com a Defiant, como resposta da Frota Estelar à ameaça do Dominion, foi adequada e oportuna. A obtenção do dispositivo de camuflagem com os romulanos e a decisão de tentar contatar os fundadores por intermédio dos karemmas (boa continuidade com relação a “Rules of Acquisition”) soam como medidas bastante razoáveis também.
(Os diálogos de Ornithor indicam que os produtores já tinham em mente a hierarquia do Dominion: jem’Hadares, vortas e fundadores.)
A história pregressa da Defiant e suas características especiais a estabelecem claramente como “a nave de DS9“. O fato de Sisko e a nave terem um passado em comum só enriquece a série (além de fazer sentido de forma inatacável). As cenas entre Ben e Jake e Ben e Jadzia não são nada sutis, mas funcionam admiravelmente bem para estabelecer o arco de Sisko durante a temporada. Sisko trabalha muito bem a situação com Quark (outro com excelente participação – apesar de achar que o beijo no cetro do Nagus tenha sido um pouco demais) e depois com Ornithor, além de demonstrar real sensibilidade no caso de Odo (inclusive na cena com Kira). Um belo episódio para o comandante de DS9 (ainda que o estabelecimento dos temas do personagem para esta temporada tenha se dado de uma forma meio abrupta).
Falhas de segurança em DS9 e o descontentamento da Frota com Odo já foram estabelecidos antes, por exemplo, em “The Maquis”. Uma medida mais incisiva do comando, no caso a designação de Eddington, era mais do que esperada. Em “Necessary Evil” tivemos estabelecida a óbvia incompatibilidade de Odo com os métodos da Frota, bem como o fato de ele se definir pelo seu trabalho. Com a perda do seu trabalho, Odo teria que reagir de maneira muito forte. Olhar as estrelas do Promenade após pedir demissão foi o melhor retrato disto.
Odo demonstrou, na maioria de suas cenas, extremo ressentimento e mesmo raiva, chegando ao pico na cena com Quark. Nada disso soou falso, mas certos momentos foram de fato pra lá de over. Entretanto, o fato de um personagem regular de uma série de Jornada colocar a sua agenda pessoal acima da dos outros é tão atípico que por si só é interessante. A sua distante descrição do destino da Defiant e de sua tripulação só contribuiu para tal efeito. O corte entre o desmaio de Kira e ela acordando na nave auxiliar foi muito interessante. Não vejo problema com Odo “limpando o chão” com alguns soldados jem’Hadares fora de tela.
(Estas oscilações nas “vozes” de alguns personagens, notadamente na “fúria” de Odo e na “paixão” de Sisko, podem ser atribuídas ao fato de termos um roteirista escrevendo pela primeira vez na série, no caso Ronald D. Moore.)
Kira foi uma pessoa bastante razoável e pés no chão como sempre, tanto no trato direto com Odo quanto no trato indireto da situação do comissário através de Sisko. A paixão da major é sempre latente e desta vez ela até pediu permissão para falar livremente com o comandante (!). A participação de O’Brien e Bashir foi pequena no episódio. Ironicamente foi o bom doutor que acabou pilotando a Defiant durante a batalha.
A direção de Friedman foi impecável. A utilização de saltos com closes extremos empreendeu uma qualidade quase que cinematográfica ao episódio, especialmente nas cenas envolvendo a Defiant sob camuflagem (com extrema claustrofobia e tensão). A diretora orquestrou uma das mais sensacionais sequências de ação da série e do franchise quando do ataque dos jem’Hadares à Defiant, com tudo funcionando perfeitamente desde a fotografia de Jonathan West até a trilha sonora de Jay Chattaway (muito mais bombástica do que de costume nas séries modernas de Jornada).
A equipe de efeitos visuais realmente mereceu o pagamento esta semana, desde a sempre trabalhosa iluminação do nome da Defiant (um raro presente para uma audiência de TV) até a descoberta da espécie de Odo (com direito à primeira visão do “Grande Elo”, ou Great Link, na série), tudo funcionou em conceito e execução. Bravo! (Isso tudo sem falar nos feisers da Defiant!)
O elenco regular esteve bastante sólido, talvez com exceção das cenas iniciais de El Fadil (um pouco desligado) e de certos trechos do material de Farrell (na ponte da Defiant, quando ela avisa a Sisko sobre a condição de Quark, por exemplo). Visitor e Lofton estiveram bem como usual e Shimerman foi particularmente feliz com as suas escolhas aqui. Brooks não errou uma acentuação sequer e foi uma presença bastante forte e segura no episódio. O destaque, é claro, vai para Auberjonois, por saber combinar tão bem indignação, orgulho, raiva, solidão, felicidade, medo etc. ao longo do episódio. E por trazer tudo isso à tona, ao mesmo tempo, quando encontrou o seu povo. Realmente indescritível a expressão da face de Odo.
Dentre os atores convidados, Hackett e Marshall foram ótimos no pouco que foi pedido deles. Fleck foi bastante interessante (e mesmo engraçado) como Ornithar, mas Salome Jens fica com o destaque, mesmo tendo dito uma única frase.
Dax sugere no teaser do episódio que as duas únicas alternativas táticas frente a uma potencial invasão do Dominion seriam abandonar a estação e estabelecer uma posição defensiva em Bajor ou colapsar a entrada da fenda espacial. Bom sinal. Felizmente Sisko e cia. foram mantidos bem atrás em termos táticos com relação ao Dominion. Do que adianta introduzir uma grande ameaça à Federação se no episódio seguinte ela já está sendo explodida com um bocado de “tecnobaboseira” ou similar?
(Lamento informar que a Defiant irá fazer mais missões com todos os oficiais graduados a bordo ao longo da série. Não que isto faça algum sentido, estou apenas avisando.)
Uma pergunta razoável é por que o dispositivo de camuflagem da Defiant teve que ser romulano. Não poderia ter sido dos aliados klingons? Não existe explicação canônica para isto. Uma racionalização que é bastante popular entre os fãs é de que o tratado firmado entre a Federação e o Império Romulano que impede que a Federação desenvolva o dispositivo de camuflagem deve determinar também que em situações especiais e de interesse mútuo, naves da Federação possam utilizar dispositivos de camuflagem romulanos – e somente romulanos. Em uma nota relacionada, felizmente não foi adotada para a Defiant a camuflagem “interfásica” de “The Pegasus“, da sétima temporada de A Nova Geração, uma tremenda “caixa de vermes” que fica melhor fechada.
Por que somente T’Rul usou a sua arma de mão quando da abordagem dos jem’Hadares? Seria errado Sisko deixar a ponte no momento de crise para ir falar com Odo e foi errado ele permitir que Kira fosse fazê-lo. Não havia outro modo de nossos heróis obterem a informação na estação de retransmissão (com uma sonda-robô ou uma conexão remota talvez) sem ter que mandar Dax e O’Brien lá para baixo? Como os sensores da Defiant não detectaram a presença dos jem’Hadar na estação? Sisko não deveria ter desconfiado de que as coordenadas enviadas por Dax poderiam levar a uma emboscada?
“The Search, Part I” traz de volta DS9 em grande estilo, dentro da escola de ação/aventura, estabelecendo de forma direta ou indireta alguns dos principais temas e objetivos criativos da temporada. A descoberta da espécie de Odo foi uma manobra extremamente corajosa dos produtores e que irá modificar para sempre o personagem. O final do episódio faz um bom trabalho em “espalhar” os personagens, abrindo interessantes perspectivas para a sua continuação. Um excelente começo!
Avaliação
Citações
“When did I start thinking of this cardassian monstruosity as home?”
(Quando eu comecei a pensar nessa monstruosidade cardassiana como um lar?)
Sisko
“Can I speak freely? What the hell is wrong with Starfleet?”
(Posso falar livremente? Que diabos acontece com a Frota Estelar?)
Kira
“I’m your friend – you know, the one who talks to you when she needs help.”
(Eu sou sua amiga – sabe, aquela que fala com você quando ela precisa de ajuda.)
Kira
“Ever since we’ve come into the Gamma quadrant I’ve had this feeling of being drawn somewhere – pulled by some instinct to a specific place…”
(Desde que entramos no quadrante Gama eu tenho essa sensação de ser atraído para algum lugar – puxado por algum instinto para um lugar específico…)
Odo
“Welcome home.”
(Bem-vindo ao lar.)
Fundadora
Trivia
- Salome Jens já havia aparecido antes em Jornada no episódio “The Chase”, da sexta temporada de A Nova Geração. A Fundadora (que será referida assim nesse guia de episódios, pois nunca teve um nome estabelecido em tela) se torna uma personagem recorrente até o último episódio de DS9.
- Martha Hackett não participou mais de DS9 (assim como o novo penteado de Terry Farrell), após o duplo “The Search”, ficando com o caminho livre para interpretar Seska em Voyager.
- John Fleck voltaria a parecer como o romulano Koval, chefe da Tal Shiar, no episódio “Inter Arma Enim Silent Leges”, da sétima temporada de DS9. Ele já havia participado do episódio “The Mind’s Eye”, da quarta temporada de A Nova Geração, como Taibak, e depois viria a participar de Voyager no episódio “Alice”, da sexta temporada, como Abaddon. Fleck agora é bem conhecido dos fãs de Enterprise como Silik.
- Kenneth Marshall continuou a aparecer em DS9, com o seu Michael Eddington. Marshall é conhecido dos fãs do gênero sci-fi pela sua participação no filme Krull (1983), no papel do príncipe Colwyn.
- A tomada que a diretora Kim Friedman mais gostou foi aquela em que Odo observa o Great Link pela primeira vez, com uma fascinante combinação de emoções no rosto de René Auberjonois. Friedman diz que filmar na ponte da Defiant inicialmente foi muito difícil. Com o tempo o cenário foi modificado, facilitando o trabalho dos posteriores diretores.
- Um detalhe curioso é que, apesar de terem brigado um bocado para ter um dispositivo de camuflagem na Defiant, os produtores não tinham certeza se iriam utilizá-lo novamente no curso da série. Grande parte da iluminação necessária a fotografia das cenas é construída nos próprios cenários. O cinegrafista Jonathan West recebeu a informação inicial de que o “estilo de iluminação enquanto camuflada” seria só para “The Search”, daí ele não incluiu o equipamento fixo no cenário para tal efeito e fez uma adaptação específica no episódio. Obviamente a Defiant continuou se camuflando durante série e West teve sempre de começar do zero para acertar esse particular efeito em cada uma das vezes em que ele foi necessário.
- O consultor científico da série, Andre Bormanis, diz que a existência de um planeta errante, como o da raça do Odo, está “no limite da credibilidade”, mas ele afirma que tal planeta poderia desenvolver vida. O curioso é que a série Enterprise também figurou um episódio (“Rogue Planet”) sobre um planeta errante habitado por uma raça de transmorfos. Aparentemente Bormanis, agora um roteirista em Enterprise, tem fixação no assunto.
- Por uma dessas “coisas da vida” a imagem no cetro do Grande Nagus (feito para o episódio “The Nagus”, da primeira temporada) não foi baseada na imagem de Zek, mas sim na de Quark.
- Em uma tarefa hercúlea, os produtores da série conseguiram espaço físico e dinheiro para construir todos os cenários típicos de uma nave estelar para a Defiant. Em “The Search” temos apenas a ponte, um corredor e um dos pequenos alojamentos da tripulação. A engenharia só será vista em “The Adversary”, que termina essa terceira temporada.
Ficha Técnica
História de Ira Steven Behr & Robert Hewitt Wolfe
Roteiro de Ronald D. Moore
Dirigido por Kim Friedman
Exibido em 26 de setembro de 1994
Título em português: “A Busca, Parte I”
Elenco
Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado
Salome Jens como A Fundadora
Martha Hackett como T’Rul
John Fleck como Ornithar
Kenneth Marshall como Michael Eddington
Balde do Odo
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Roberta Manaa