TNG 4×14: Clues

Sensacional clima de mistério tem final coerente, mas simplista

Sinopse

Data estelar: 44502.7

A Enterprise ruma para um misterioso planeta classe M ao redor de uma estrela T-Tauri a fim de fazer investigações, quando um buraco de minhoca aparece no caminho da nave. A passagem por ele faz com que todos a bordo fiquem inconscientes, menos Data, que diz terem se passado apenas 30 segundos desde o encontro com o fenômeno. Porém, evidências dão conta de que a tripulação esteve muito mais do que 30 segundos desacordada – possivelmente um dia inteiro.

Picard começa a preparar uma investigação e descobre que Data está intencionalmente omitindo informações cruciais sobre o que aconteceu. Enquanto tenta descobrir o que há de errado com o androide, ele ordena a volta da nave ao sistema. Chegando lá, a nave é atacada por uma forma de energia, e um alienígena energético acaba tomando o corpo de Troi. Ela e Data vão à ponte, quando a verdade é revelada. Após o desmaio de toda a tripulação, apenas Data teria ficado consciente para entrar em contato com os alienígenas. Eles ameaçavam destruir a Enterprise, pelo fato de a nave ter descoberto o local de sua existência, algo que queriam a todo custo manter em segredo.

Picard, junto com os outros, é revivido por Data e chega a um acordo com as criaturas, decidindo por executar um procedimento em que todas as memórias da tripulação fossem apagadas, preservando o segredo dos alienígenas. Apenas Data não seria afetado, mas, para contentar as criaturas, o capitão dá a ele ordens para jamais revelar a verdade a qualquer pessoa.

Infelizmente, quando o plano foi executado, nem todas as pistas que apontavam para o mistério foram apagadas, fazendo com que Picard e sua tripulação, após acordar, desconfiassem dos eventos e voltassem a investigar o planeta, “redescobrindo” as criaturas. Mais uma vez, elas aceitam repetir o procedimento. Só que agora a tripulação se compromete a eliminar todas as pistas antes deixadas que poderiam levar a uma nova investigação. O plano funciona e apenas Data permanece ciente dos eventos.

Comentários

Embora apresente uma solução um pouco simplista, “Clues” retrata uma grande história de mistério, capaz de intrigar o espectador até o último instante. Mais importante, o episódio consegue manter a audiência totalmente no escuro por um longo período de tempo – um desafio.

Felizmente, para obter esse resultado, não foi preciso apelar para nada muito inacreditável, que pudesse romper de forma irremediável com a coerência da trama. Depois que a história está resolvida, nada resta a não ser observar, com uma expressão perplexa, como tudo se encaixa perfeitamente. Uma bela história.

Um exemplo para demonstrar esse efeito é relembrar o salto que a audiência dá entre achar que Data foi de alguma forma modificado para depois descobrir que na verdade todos os outros foram modificados, menos ele! Isso mostra o quanto começamos com uma história e terminamos com outra totalmente diferente, mas ainda assim compatível com todos os elementos previamente apresentados.

Se como narrativa o roteiro funciona maravilhosamente, conduzindo o telespectador pelo mistério proposto, como enredo em si, o final deixa um pouco a desejar. É particularmente “forçada” a atitude dos alienígenas xenófobos de dar à Enterprise uma segunda chance, sob o pretexto de que os humanos seriam uma raça incomum e interessante.

Também incomoda um pouco a possessão de Deanna Troi por uma entidade alienígena, por dois motivos. Primeiro porque lembra muito um dos piores episódios da terceira temporada da Série Clássica, “The Lights of Zetar”. A triste lembrança vem não só pelo contexto, mas até pelos efeitos visuais, muito similares aos aplicados no episódio clássico.

E, segundo, porque essa é a única utilidade de Troi no enredo. Faltou explicar ao menos as causas para os alienígenas terem escolhido a conselheira como veículo de comunicação, dando a ela um maior senso de propósito. (Podemos supor que é sua capacidade empática, mas fica só na suposição mesmo.)

Em compensação, alguns elementos – meros detalhes – dão sabor especial à trama, como mais uma cativante aparição de Picard na pele de Dixon Hill, envolvendo a apresentação do cenário a Guinan. É o tipo de saudação à evolução dos personagens e à continuidade da própria série que valoriza ainda mais o produto final.

Os efeitos visuais estão bonitos, mostrando o que se tornaria uma tendência cada vez maior em Star Trek – recriar o espaço cheio de nebulosas, em vez de utilizar o já tradicional fundo preto com estrelinhas, que funcionou tão bem nas décadas anteriores. Usar o recurso uma vez ou outra só traz detalhes visuais interessantes. Por outro lado, quando se abusa da estratégia (como foi feito em Babylon 5 e, em menor medida, Voyager), a estética dá lugar à sensação de déjà vu.

Os personagens principais estão muito bem, especialmente Picard, o fio condutor da história, por meio de sua incessante perseguição à verdade, e Data, que se mantém fiel à caracterização original, mesmo tendo mentido e omitido inúmeras ocorrências.

Agora, é só impressão ou Picard parece ter, no final das contas, guardado lembrança dos eventos anteriores, mostrando que o procedimento de apagamento da memória não teria funcionado tão bem quanto deveria?

Avaliação

Citações

“We must leave, sir.”
(Devemos partir, senhor.)
“This ship isn’t going anywhere; not until I get an answer. Now, who gave you that order?”
(Esta nave não vai a lugar algum; não até eu ter uma resposta. Agora, quem lhe deu aquela ordem?)
“You did, sir.”
(Você, senhor.)
Data e Jean-Luc Picard

Trivia

  • A história deste episódio partiu de um fã, Bruce D. Arthurs, que submeteu um roteiro especulativo para os produtores. Michael Piller lembra que a trama era muito boa, mas o roteiro precisava de uma reescrita, que ele passou a Joe Menosky, durante o hiato entre temporadas. As mudanças, segundo Piller, foram “principalmente reestruturação causada pela partida de Wil Wheaton e uma polida grande nos diálogos”.
  • A trama lembra muito a do episódio “Thanks for the Memory”, da série Red Dwarf, exibido em 1988.
  • Este episódio é um daqueles bem econômicos. Além de ser um bottle show, filmado totalmente a bordo da Enterprise, tem poucos atores convidados.
  • Pela primeira vez vemos as aulas de mok’bara de Worf.
  • Mais uma vez vemos o ambiente de Dixon Hill, depois de “The Big Goodbye” e “Manhunt”. Seria a última aparição na série, mas ele voltaria no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato.
  • Michael Piller ficou muito satisfeito com o resultado final. “Eu realmente adorei aquele episódio. Um dos meus favoritos da temporada. Foi um mistério clássico perfeitamente realizado montado num formato de Star Trek, que acabou sendo um episódio muito satisfatório.”

Ficha Técnica

História de Bruce D. Arthurs
Roteiro de Bruce D. Arthurs e Joe Menosky
Dirigido por Les Landau

Exibido em 11 de fevereiro de 1991

Título em português: “Pistas”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Colm Meaney como Miles O’Brien
Pamela Winslow como McKnight
Rhonda Aldrich como Madeline
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Thomas Knickerbocker como homem armado

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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