ENT 4×18: In a Mirror, Darkly, Part I

Teia toliana em Enterprise

Segmento experimental prelúdio/sequência nos leva ao universo Espelho

Sinopse

Data: 13 de janeiro de 2155

Cerca de 82 anos após Zefram Cochrane atacar e pilhar a primeira nave vulcana a fazer contato com humanos, o Império Terráqueo enfrenta uma crise no universo Espelho. A guerra vai mal, e o comandante Archer tem um plano para virar a maré do conflito, levando a Enterprise NX-01 ao espaço tholiano. O capitão Forrest, contudo, discorda. Archer então promove um motim e coloca Forrest na detenção.

Cenas de Zefram Cochrane aparecendo em episódio do universo espelho de Enterprise

Ao assumir o comando, Archer ordena que a nave vá até coordenadas do espaço tholiano onde uma nave terráquea do futuro, mas vinda de outro universo, está sendo estudada. O novo capitão tenta garantir a lealdade de T’Pol e de Hoshi Sato, que além de oficial de comunicações ocupa o posto da “mulher do capitão”.

No caminho, a Enterprise encontra um tholiano e o captura. Por meio de tortura, Phlox obtém mais informações. A criatura cristalina emite sinais de socorro por meio de vibrações de seu corpo, e Phlox acaba por matá-la. E um acidente na engenharia faz pifar a camuflagem e outros sistemas, como sensores internos e comunicações. Archer desconfia de Tucker e o manda para a recém-criada cabine da agonia. Mas no fim a sabotadora é T’Pol, que liberta Forrest e o ajuda a retomar o comando. A Enterprise, contudo, está travada em seu curso atual. Ordenado pela Frota Estelar, Forrest decide prosseguir com a missão.

Archer do Espelho promovendo um motim contra Forrest

Chegando ao sistema Vintaak, a Enterprise descobre que a nave detida é a USS Defiant, vinda do universo Prime. A mando de Forrest, Archer lidera um grupo de abordagem, e T’Pol tem instruções para matá-lo durante a missão. Mas os tholianos chegam e cercam a Enterprise com sua famosa teia. A NX-01 é forçada a ejetar seus módulos de fuga e explode, com Forrest ainda a bordo. Agora cabe a Archer e seu grupo tentarem usar a Defiant para fugir…

Comentários

Tinha tudo para dar errado: uma história complexa, apinhada de referências e um pouco sem pé nem cabeça, ambientada integralmente em outro universo. E no entanto, apesar disso, “In a Mirror, Darkly, Part I” funciona muito, muito bem.

A despeito da trama que soa mais como fan fiction, roteiro, produção e atuações mais do que compensam, e praticamente tudo funciona. A ideia de fazer um episódio integralmente ambientado no universo Espelho ajuda a proteger o cânone — afinal, a primeira “travessia” entre as duas realidades paralelas aconteceria em “Mirror, Mirror”, da Série Clássica, se bem que depois Discovery mudaria essa história com o arco do Espelho da sua primeira temporada, mantendo o cânone nos eixos tornando esse primeiro contato com o Império Terráqueo ultra-secreto. Mas, mais que isso, ela permite que nos concentremos apenas nessa versão dos personagens, pulando o velho clichê de “onde estamos/como viemos parar aqui” que normalmente envolve episódios do Espelho com travessia entre universos.

Title Card Enterprise "In A Mirror, Darkly, Part I"

Dessa forma, o segmento funciona como um prelúdio de “Mirror, Mirror”. Mas o mais surpreendente é que ele também atua como uma sequência de “The Tholian Web”, revelando onde foi parar a USS Defiant, desaparecida naquele episódio. O cânone construído aqui também foi aproveitado em Discovery, com menção direta a essa nave, de forma que, no fim, ficou tudo bem alinhado.

Desnecessário dizer que estamos diante de um desbunde de referências, com a promessa de uma segunda parte ainda mais saudosista, já que só restou a Defiant, após a explosão da NX-01. E as citações já começam no teaser, que abre com o Primeiro Contato (inclusive reciclando material de Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato), mas na versão do Espelho. Incrível a intercalação entre cenas antigas e novas para recontar essa história, como também é muito legal a criação de uma sequência de abertura “do Espelho”, voltada para o belicismo, em vez da exploração.

Tucker do Espelho sofrendo tortura na cabine da agonia

Prosseguindo na expansão do cânone, aqui vemos pela primeira vez como um tholiano se parece, e de novo se trata de um pequeno milagre: uma solução criativa, compatível com o que vimos “do pescoço para cima” na Série Clássica, mas usando CGI para mostrar que se trata de uma criatura cristalina complexa e bem alienígena, que vive em condições muito diferentes das que nutrem usualmente os humanoides. Como diria Spock, “fascinante”.

A despeito de todas as referências, o que faz o episódio realmente funcionar para valer são os atores. Eles aparecem muito bem como suas contrapartes do Espelho, em particular a sedutora e perigosa Hoshi Sato e o sádico “médico” Phlox. Os demais também, embora menos usados, foram bem caracterizados, mantendo algumas das características de suas versões usuais, mas exageradas à enésima potência e multiplicadas por maldade, como é característico dessa realidade paralela.

Tholiano capturado pela Enterprise do Espelho

O segmento anda tão bem que é impossível não querer ver a segunda parte quando chegamos ao final, seja para saber como os personagens terminarão essa aventura, seja para ver mais “sabor Série Clássica” na sequência ambientada na Defiant. “In a Mirror, Darkly, Part I” é, de muitos modos, altamente experimental. Mas funciona e é um dos grandes vencedores desta quarta temporada.

Avaliação

Citações

“Will you kindly die?”
(Você pode fazer o favor de morrer?)
Phlox para o tholiano capturado

Trivia

  • O título deste episódio é uma referência bíblica (1 Coríntios 13:12, da versão padrão americana): “For now we see in a mirror, darkly; but then face to face: now I know in part; but then shall I know fully even as also I was fully known.” (Pois agora vemos em um espelho, sombriamente; mas então face a face: agora eu conheço em parte; mas então devo eu conhecer completamente conforme também sou completamente conhecido.)
  • Este episódio é uma sequência a “The Tholian Web”, bem como um prelúdio a “Mirror, Mirror”, ambos da Série Clássica. E descobrimos aqui que os tholianos são criaturas cristalinas de seis pernas.
  • A equipe de produção de Enterprise começou a pensar no universo Espelho como uma forma de trazer William Shatner para a quarta temporada. Mas a Paramount e Shatner não chegaram a um acordo, e a história acabou abandonada.
  • Apesar disso, ainda havia vontade de fazer algo no universo Espelho. Foi do showrunner Manny Coto a ideia de fazer algo sem travessia entre realidades, e o roteirista Mike Sussman foi quem sugeriu colocar a Defiant na história, depois de passar anos especulando sobre que destino a nave desaparecida teria tido. Ele chegou a propor algo para ela na segunda temporada, mas a Defiant acabou descartada da trama, e terminamos com o episódio “Future Tense”, da segunda temporada.
  • A ideia de jogar a Defiant para o passado e, ao mesmo tempo, para o universo Espelho foi o que permitiu aos roteiristas fazerem o que quiserem, livres das amarras do cânone.
  • Trip Tucker aqui diz que foi contaminado por raios delta, o mesmo tipo de radiação que colocaria o capitão Pike em uma cadeira de rodas no universo Prime.
  • Mike Sussman escreveu sozinho o roteiro, durante o hiato do natal de 2004. Ele periodicamente mandava páginas por fax para Manny Coto, que estava se casando em Veneza.
  • Foi de Manny Coto a ideia de usar cenas de Primeiro Contato numa versão alternativa do encontro de Zefram Cochrane com os vulcanos.
  • O grupo de abordagem de Archer vai para a Defiant com trajes de EVA por um motivo: a ideia é forçá-los a usar os trajes da Série Clássica na segunda parte!
  • A montagem dos créditos de abertura inclui combates aéreos da Primeira Guerra Mundial, tropas americanas marchando em Paris na Segunda Guerra Mundial, um esquadrão de Stukas, uma bomba atômica explodindo, bombardeios aéreos, um submarino disparando um torpedo, um pouso lunar “terráqueo”, um tanque T-62, um F-15 Eagle, a destruição de uma ave de rapina klingon e uma batalha entre a Enterprise e os xindi (com um prédio explodindo tirado de uma cena de “Dragon’s Teeth”, de Voyager). Também há cenas de produções da Paramount, como a série Call to Glory, o filme mudo da Primeira Guerra Wings, de 1927, e o filme Caçada ao Outubro Vermelho, de 1990. Ainda constam duas cenas mostrando dois submarinos alemães da Segunda Guerra tiradas do filme de guerra U-571 (2000), da Universal. A trilha da abertura foi composta por Dennis McCarthy, com o compositor Kevin Kiner.
  • A cabine da agonia foi um reaproveitamento da câmara de quarentena de “Cold Station 12”. E quem esteve no set acompanhando as filmagens da tortura de Tucker diz que as cenas foram desconfortáveis de ver e muito intensas.
  • Embora pedaços da ponte clássica tivessem sido reconstruídos antes para “Relics” (A Nova Geração) e “Trials and Tribble-ations” (Deep Space Nine), esta foi a primeira vez que a versão de três quartos completa da ponte foi construída, desde sua desmontagem original em 1969. Manny Coto temia que o cenário parecesse tosco, datado, mas no fim ele concordou que ficou bem legal.
  • A produção decidiu criar um símbolo único para os uniformes da Defiant, partindo da premissa de que cada nave estelar da Série Clássica tinha sua própria insígnia. Mais tarde, um antigo memorando que Bob Justman produziu em 1968 deixou claro que a insígnia diferente vista na tripulação da Exeter em “The Omega Glory” foi um erro, explicando ao figurinista Bill Theiss, sob a autoridade de Gene Roddenberry, que todos os oficiais da Frota servindo em naves estelares usavam o mesmo delta que adornava os uniformes da tripulação da Enterprise clássica.
  • A saudação do Império Terráqueo foi ligeiramente modificada aqui, a pedido de Scott Bakula, que temia que não houvesse espaço nos cenários apertados para fazê-la com a mão aberta, como era na Série Clássica.
  • Em “Vaulting Ambition”, de Discovery, um PADD descrevendo os eventos deste episódio os situa na data estelar 0141.7.
  • Embora a maioria dos fãs goste desse episódio, os atores John Billingsley e Connor Trinneer não gostaram deles, classificando-o como “banal” e “condescendente”, respectivamente.

Ficha Técnica

Escrito por Mike Sussman
Dirigido por James L. Conway

Exibido em 22 de abril de 2005

Títulos em português: “Reflexo Sombrio, Parte I”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Vaughn Armstrong como Maximilian Forrest
Franc Ross como homem grisalho

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria

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