Uhura é uma personagem venerada há décadas, imortalizada na atuação da grande Nichelle Nichols. Mas, quando mergulhamos na Série Clássica, não há muito sobre o passado da oficial. Essa história, contudo, está prestes a mudar com a chegada de Strange New Worlds, a mais nova série de Star Trek, que estreia em 5 de maio. E Celia Rose Gooding, a atriz que vai viver Uhura nela, promete que aprenderemos muito sobre a juventude da personagem – algo que se mistura à própria vida da atriz. Por sinal, essa mistura entre personagem e ator parecem também se aplicar a Melissa Navia, que interpreta a piloto Erica Ortegas, e Christina Chong, que vive a chefe de segurança La’An Noonien-Singh, uma ancestral direta do famoso e infame Khan.
“Eu muitas vezes digo que os roteiristas definitivamente bateram um papo com meu terapeuta, tentando encontrar o que de mim eu posso trazer para essa personagem”, diz Gooding, em entrevista ao Trek Brasilis. “Há muitas similaridades entre eu, Celia, e a cadete Uhura. Nós duas perdemos familiares de formas muito traumáticas, nós somos muito jovens no nosso campo e meio que questionando, como chegamos aqui e como vamos navegar esse espaço.”
O bate-papo foi parte de uma rodada de imprensa promovida pelo Paramount+ para promover a chegada da série. O TB teve a chance de se juntar a jornalistas de várias partes do mundo para trocar ideias com praticamente todo o elenco principal de atores que trarão à vida as aventuras do capitão Christopher Pike e sua tripulação a bordo da nave estelar USS Enterprise. Para começar, a conversa rolou com Gooding, Navia e Chong. Confira a seguir um trecho do papo em vídeo e, abaixo, a transcrição completa da conversa.
Vocês três têm três caminhos diferentes através de Star Trek, porque a Melissa tem um personagem inteiramente novo, a Christina tem uma personagem com alguma bagagem em seu nome, embora seja nova, e a Celia tem esse enorme legado a que responder, então fico me perguntando que tipo de pesquisa vocês fizeram quando entraram nesse mundo para habitar esses papéis?
Melissa Navia – O que é ótimo sobre a Ortegas é que é um personagem totalmente novo, então o que eu realmente busquei saber é a história dos pilotos, os oficiais do leme, e pilotos e navegadores em Star Trek, e estou sempre daquele jeito, sabe, nada vai acontecer a não ser que a nave possa voar. Então levei isso muito a série e eles escreveram essa personagem incrível que é confiante, habilidosa, e ainda assim é tão confiante que é capaz também de realmente ter esse grande relacionamento com seus colegas de tripulação na ponte. Mesmo quando, você sabe, nós estamos em uma perseguição e dando a volta em buracos negros e todas essas coisas malucas. Então eu meio que realmente deixei isso me guiar e uma grande parte da minha lição de casa foi aprender como a nave funciona e levar isso muito a sério. E também ter uma grande camaradagem com a minha tripulação, que é real porque o elenco é maravilhoso no convívio e acho que isso aparece na tela.
Christina Chong – Para mim, como uma nova fã de Star Trek, eu literalmente me imergi na série original e em A Ira de Khan também. Então tudo que houvesse, e não há realmente tanta coisa assim, sobre Khan. Mas eu vi tudo que pude sobre ele. E também vi Discovery, porque, obviamente, eu queria conhecer com quem nós íamos trabalhar, então eu vi as temporadas um e dois de Discovery. E aí, além disso, foi mais como, eu perguntei para amigos que eram trekkies. Quando primeiro recebi o roteiro, minha reação foi, meu Deus, não tenho ideia do que qualquer dessas coisas, isso são palavras? Quer dizer, esse foi outro elemento disso e fora isso foi apenas mergulhar no passado e ver o que eu podia trazer do meu passado e da minha vida a fim de personalizar isso para La’An.
Celia Rose Gooding – É, eu tinha um caminhão de conhecimento sobre essa personagem quando eu descobri quem ela era. Eu realmente tive, acho, a lição de casa disso foi meio que decidir quando era hora de parar de olhar para outras pessoas para essa personagem. Eu tive de decidir que, ok, agora eu estou aprendendo demais e pensando demais sobre o futuro dela, quando, claro, o futuro dela é importante, mas a cadete que estou interpretando, essa jovem Uhura, ela não tem ideia do que está reservado a ela, então eu tive que meio que receber um monte de informação e então jogar tudo pela janela e ter um entendimento de como ela se porta e quais são as coisas que são inatamente dela, mas então entender que a Uhura que é amada nessa franquia é a pessoa que ela está crescendo para ser e não quem ela é hoje. Então haverá partes da jovem Uhura que são meio que irreconhecíveis e então, ao ver as experiências e oportunidades que a moldam, e os relacionamentos que ela tem com essa tripulação incrível que a influenciam, é um caminhada, não uma maratona. Quer dizer, na verdade, não, é uma maratona, não um pique. É isso. Então, tem sido incrível saber que esse personagem tem uma tonelada de informação sobre a qual eu posso retornar se em algum momento eu me sentir perdida, mas também é usar o tempo para personalizá-la e trazer minhas proprias “celiazices” para esse papel tão amado e icônico.
O legal sobre sci-fi em geral é a quantidade de personagens que você pode ter em uma série ou um filme e que, seja um alienígena, um monstro ou o que quer que seja, sempre tem alguém com quem você pode se conectar. Os personagens que vocês estão vivendo, quão diferentes ou similares eles são de quem vocês são na vida real?
Christina Chong – Eu diria que meu personagem… a lista de personagens, nós não sabíamos que era Star Trek, eu não sabia que era Star Trek, mas na lista tinha lá, você sabe, chefe de segurança ou algo assim, e ela tem TSPT [transtorno de estresse pós-traumático] e passou por todas essas coisas… ela é muito profissional e um pouco reservada e eu recentemente havia sido, antes da audição, diagnosticada com TSPT e eu pensei, oh, oh, eu meio que posso fazer isso, posso usar aquilo… mas acho que, de certo modo, eu adoro a similaridade de que ela é muito física, sabe, e eu sou uma ex-dançarina, eu faço parkour, kung fu, todas essas coisas, tenho um passado com artes marciais, mas também o fato de que eu, em geral, sou uma pessoa bem vulnerável, mas coloco esse muro na frente muitas vezes. Se estou muito confortável e sou próxima com as pessoas, você verá algo como a versão completa de mim aparecer, mas em geral há um elemento de, sabe, guerra, que todos nós colocamos, certo? Mas acho que no fundo essa coisa de lidar com a vulnerabilidade e a força e a casca grossa de La’An foi algo que eu achei, meio que veio naturalmente para mim.
Melissa Navia – Quero dizer que Ortegas é como a versão mais legal de mim no futuro. Quer dizer, se houvesse uma versão futura mais legal de mim, seria Ortegas. Ela é, você sabe, ela leva seu trabalho muito a sério e o faz muito bem. Eu estava realmente empolgada de interpretar uma personagem que é latina, essa também é minha origem, e… eu pilotei um avião uma vez, eu fiz uma lição de pilotagem, então eu estava meio que, agora eu preciso realmente focar nisso, mas entrar nesse papel, uma boa parte dele é saber como pilotar uma nave estelar. E a maravilha é que os roteiristas e produtores, eles nos deram essa habilidade de realmente nos colocarmos nos personagens, e acho que você vai ver isso em todos, e acho que isso também torna os personagens, nossas interações, ainda mais reais e genuínas, porque você vê o quanto nós genuinamente gostamos uns dos outros. Para mim, é, é basicamente como, tudo que eu gostaria de ser Ortegas é. E de todos esses modos, ela, tipo, não tem o coração aberto, ela passou por muita coisa, é uma veterana de combate, e eu tenho um passado de luta, de artes marciais, que você vai ver nos episódios, e fiquei feliz que os roteiristas foram capazes de incluir tudo isso. Mas você vai ver todas essas camadas, sabe, desaparecendo, e, para a audiência, ela vai ver todos esses diferentes aspectos de Ortegas conforme a temporada continua. E estamos agora filmando a temporada dois, então é assim, coisas super grandes estão por vir.
Celia Rose Gooding – É, falando da temporada dois, acho que muito da… há muitas similaridades entre eu, Celia, e a cadete Uhura. Nós duas perdemos familiares de formas muito traumáticas, nós somos muito jovens no nosso campo e meio que questionando, como chegamos aqui e como vamos navegar esse espaço, e eu muitas vezes digo que os roteiristas definitivamente bateram um papo com meu terapeuta, tentando encontrar o que de mim eu posso trazer para essa personagem. Mas não, é como a Melissa disse, temos roteiristas incríveis e esse elenco e essa equipe é incrível, então me sinto muito segura. Eu me sinto muito segura de poder meio que contar histórias que até mesmo a Celia não foi realmente capaz de partilhar. Então é incrivelmente catártico e incrivelmente… te deixa humilde. Essa é a palavra. Mas, sim, é realmente muito legal viver uma personagem cuja vida meio que imita e vive num espaço que é tão próximo do seu, porque há algumas vezes em que vou para casa do set e estou meio que, será que eu atuei em alguma cena hoje ou eu apenas contei aquelas coisas naquela hora? Então, sim, o desafio para mim tem sido muito esse, tentar me lembrar de que estou interpretando uma personagem, e não a Celia, porque tem tanto de nós que se sobrepõe e intersecta.
Vocês falaram um pouco sobre como imergiram na mitologia de Star Trek e tudo isso, então qual é o personagem clássico favorito de vocês e como vocês gostariam que sua personagem seja percebida e que tipo de coisa memorável sobre sua personagem vocês acham que os trekkies vão realmente lembrar da performance de vocês nisso?
Celia Rose Gooding – Eu tenho uma muito fácil. A própria Uhura!
Melissa Navia – Eu ia dizer comandante Riker, o que é engraçado, porque muitas pessoas, quando Ortegas, antes mesmo que eu tivesse sido escalada, e as descrições da personagem saíram e os fãs pegaram as descrições, eles estavam falando algo como, esse soa como um personagem tipo Riker, e para mim, que via A Nova Geração quando estava crescendo, eu meio que tinha uma queda pelo Riker, e ele era, sabe, divertido, competente e no controle, garantia que as coisas eram feitas. E agora, para todo mundo, ser, como, Ortegas é a versão de Riker dessa tripulação, eu fico pensando, como isso pode acontecer? Então, eu diria Riker.
Christina Chong – Eu iria com Spock, porque obviamente eu tenho uma relação bem próxima com o Spock nesta temporada também. É tão legal ver o antes, ver Ethan criar o Spock de antes, e ele é tão icônico. Quer dizer, mesmo sendo uma nova fã de Star Trek, todo mundo sabe quem é o Spock. Então, sabe, para mim, seria o Spock. E, para ser lembrada, eu não sei como eu gostaria… bem, eu queria que a ferocidade da La’An e suas trancinhas sejam lembradas.
Star Trek sempre lidou com diversidade, desde o primeiro dia. Mas eu queria perguntar de vocês, vivendo essa experiência, como é ter tantas mulheres em papéis importantes e como isso afeta a performance de vocês?
Melissa Navia – Claro, acho que uma das coisas, quando o elenco saiu, e eles anunciaram a tripulação, houve uns poucos que reagiram como, uau, tem mais mulheres que homens, e foi tão interessante porque eu apenas… mas o fato de que estamos notando isso… deveria ser uma coisa em que você não nota, sabe? E eu acho que o elenco que eles montaram é, de novo, sou super enviesada porque eu amo o elenco, mas eles montaram esse elenco maravilhoso, em que você nem nota o fato de que há mais mulheres que homens ou mais homens que mulheres na ponte. Eles também fizeram essa coisa realmente ótima com nossos uniformes, em que ainda temos as calças e temos também as túnicas e essa ótima conversa que eu tive com a Rebecca [Romijn], em que a Rebecca dizia, sabe, você deve ainda poder lutar e fazer o que tem que fazer e ser incrível em sua túnica da Frota Estelar como faria usando calças. Então tem essa ótima mistura de que somos todos o mesmo e diferentes. E em termos de diversidade, eu estava realmente feliz de fazer a audição para o papel de uma latina. Eu sou latina e tentar trazer minha própria experiência nisso e então ir ao espaço, quer dizer, você não pode bater isso, como ator, como pessoa, eu estou vivendo um sonho aqui.
Christina Chong – É, para mim, claramente, estou ciente de quão incrível é que temos mais mulheres que homens no elenco principal, mas não era algo de que eu estava consciente no set. E mesmo quando eu descobri que o elenco é, não é algo, como a Melissa disse, não é algo que… meio que apenas parece natural e normal, o que é um privilégio incrível de ter. Não deveria ser um privilégio na verdade, deveria ser sempre desse jeito. Mas ser capaz de ter isso e eu acho, como você diz, tem sido desde o primeiro dia, sempre foi sobre diversidade e, acho, vendo a série original, apenas pareceu normal que, claro, vamos ter um conjunto de homens, mulheres, todo mundo incluído. E, da mesma forma, sendo chinesa, é extremamente… é incrível ter um papel tão não estereotípico para atuar.
Celia Rose Gooding – A história da Nichelle [Nichols] na comunidade sci-fi, mas também na comunidade do entretenimento. Ela foi uma das, tenho certeza de que foi a primeira mulher negra a ter um papel de não servidão na história da televisão. E o fato de que isso aconteceu no gênero sci-fi, acho que é tão revolucionário. Mas eu sou alguém que… eu não pensava sobre essas coisas, o número de homens versus o número de mulheres na ponte. Eu sou uma grande fã de mulheres liderando, acho que esse é o jeito que tem de ser. Mas eu… é tão empolgante, significa muito para mim ser parte de um grupo como esse e continuar a abrir portas para futuros elencos e novas versões de Star Trek, e se encaixar deste modo parece realmente muito legal. Estou empolgada para que o resto do mundo se acostume com algo que seja assim, porque Star Trek vem fazendo isso por anos e o fato de que as pessoas estão, tipo, como isso pode ter acontecido, o material está por aí há várias décadas. Então é apenas muito bom continuar essa história.
Melissa Navia – É, a ponte é realmente uma representação do mundo como ele é, e isso é o que é enorme para nós, trazer isso para a tela, para tantas pessoas que assistiam a Star Trek enquanto cresciam e agora são quem são, engenheiros e trabalhando na NASA e mandando satélites e naves para o espaço, sabe. Tem uma história inteira nisso. Mas estamos super orgulhosas de ser parte dela, uma pequena parte dela.
Colaborou Gustavo Gobbi.
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