TNG 4×11: Data’s Day

Cotidiano de Data enriquece ainda mais um dos personagens mais ricos da série

Sinopse

Data estelar: 44390.1

A compreensão de Data do comportamento humano é colocada em teste quando sua amiga Keiko Ishikawa resolve desistir de casar-se com seu noivo O’Brien. Porém a discordância é resolvida e, para preparar-se para a cerimônia, Data decide ter aulas de dança com a dra. Crusher (conhecida no passado como “a doutora dançarina”).

Enquanto isso, uma embaixadora vulcana, T’Pel, chega a bordo da Enterprise para liderar negociações secretas com os romulanos. Ao ser transportada para a nave inimiga, um defeito no transporte faz com que ela seja morta. Saindo da Zona Neutra, Data descobre que a embaixadora não foi morta e que a suposta falha do transporte foi causada pelos romulanos.

De volta à Zona Neutra, Picard é confrontado por duas aves de guerra romulanas. Ao perguntar pela embaixadora, os romulanos revelam que na verdade ela não passava de uma espiã infiltrada na Federação, agora devolvida a sua nação de origem. Para evitar um incidente ainda mais grave, Picard abandona a Zona Neutra.

Enquanto mais um bebê nasce na enfermaria, Data reassume o comando do turno da madrugada, concluindo um dia inteiro de sua vida a bordo da Enterprise.

Comentários

“Data’s Day” oferece um incrível insight sobre a vida cotidiana de Data. Embora vários outros episódios já tivessem conseguido mostrar algumas facetas interessantes da psique do androide – como “The Measure of a Man” e “The Offspring” –, nenhum consegue dar uma noção do que é o dia a dia para o personagem a bordo da Enterprise.

O formato escolhido para contar a história é perfeito: nada melhor que conhecer o cotidiano de alguém a partir de sua própria narrativa. Ainda mais se for alguém que não costuma ter processos racionais semelhantes aos nossos, como é o caso de Data. Por meio de uma carta que ele está escrevendo ao comandante Maddox, temos a chance de ver como o androide ao mesmo tempo está longe e tão perto de ter reações puramente humanas.

O tom cômico do episódio em nada prejudica a seriedade da história – que envolve um caso de espionagem romulana – e tampouco detrata o personagem em foco. Costuma-se dizer que um protagonista está indo bem em uma situação cômica quando a audiência ri com ele, e não dele. Com Data, a coisa não funciona bem assim. Em geral, o público acaba rindo de situações produzidas pela ingenuidade quase infantil do personagem.

Entretanto o que seria a desgraça para qualquer outro é um ponto de força para Data. Embora o público ria das atitudes pouco apropriadas, produzidas em razão de suas dificuldades para entender os humanos, aquilo emana com tal força do personagem que não se pode deixar de admirar o androide por sua visão ingênua, mas por isso mesmo muito mais límpida e honesta. É o olhar de uma criança.

Além de admirarmos Data pelo que ele é, o personagem cumpre seu papel na série como um verdadeiro espelho da natureza humana. É muito curioso ver como ele desenvolve raciocínios aparentemente impecáveis – como o de que O’Brien ficaria contente pela decisão de Keiko de cancelar o casamento — que na prática simplesmente não funcionam. O ser humano é mesmo cheio de contradições e é isso que percebemos quando olhamos para nós mesmos através de Data.

Mesmo tirando esse lado “cabeça” do episódio, ainda sobra o puro entretenimento. Várias cenas são de matar de rir, como as lições de dança de Data ou ainda suas tentativas frustradas de reproduzir a linguagem humana (xingando Geordi na barbearia) ou reconciliar o casal que ele ajudou a formar.

Por fim, a trama com os romulanos apresenta um interesse para manter o público na cadeira durante uma hora inteira, sem encarar o episódio como obra de uma sitcom (comédia de situação, nome dado às séries humorísticas de meia hora de duração).

Só não dá para entender como é possível a Federação descobrir que houve um espião romulano sob suas barbas e nada mais acontecer a respeito. É o tipo de resposta que poderia (ou até deveria) aparecer em um episódio seguinte, mas, em razão da natureza episódica da série (cada história está contida em si mesma, não exigindo do telespectador acompanhar todos os episódios para entender um determinado segmento), o incidente acabou esquecido.

Avaliação

Citações

“I have good news. Keiko has made a decision designed to increase her happiness. She has cancelled the wedding.”
(Tenho boas notícias. Keiko tomou uma decisão para aumentar a felicidade dela. Ela cancelou o casamento.)
Data, informando a O’Brien da decisão de sua noiva

Trivia

  • A ideia de fazer um episódio de “um dia na vida” foi originalmente proposta por Harold Apter durante a terceira temporada. A equipe discutiu qual personagem deveria ser focado, até fecharem com Data, “porque ele é o único que está em pé 24 horas por dia”, segundo Ronald D. Moore.
  • Rick Berman sentia que era preciso ter uma trama secundária e por isso o lance da espiã romulana foi inserido. Explicou o showrunner Michael Piller: “Rick acreditava que você não podia ter um episódio sem riscos ou drama em Star Trek. Eu concordei com ele, ou tudo que faríamos seria um álbum de recortes.”
  • A equipe de roteiristas também queria promover um casamento a bordo antes do desenvolvimento deste episódio. Chegaram a cogitar casar Picard ou mesmo O’Brien, mas com a oficial do leme que iria substituir Wesley.
  • Coube a Ronald D. Moore reescrever o roteiro de Apter. Segundo ele: “Na versão de Apter, havia uma cena no holodeck em que Data faria literalmente o grande número de discoteca de John Travolta em Nos Embalos de Sábado à Noite. Completo com o terno branco. Era de matar de rir! Todo mundo sabia que nunca iríamos fazer aquilo, mas a ideia de incluir alguma dança aí ficou no ar.”
  • Gates McFadden e Brent Spiner fizeram quase todas as sequências de dança no episódio. Ele pediu um dublê apenas para uma tomada sobre a cabeça, pois não tinha confiança de que conseguiria executar os movimentos. McFadden, com muita experiência prévia como coreógrafa, planejou os passos. E os dois atores é que bolaram as falas, depois aceitas pelos roteiristas, segundo o diretor Robert Wiemer.
  • Esta é a primeira vez que Rosalind Chao apareceria na série, interpretando Keiko.
  • Este episódio se passa no 1.550º dia desde que a Enterprise foi comissionada em 4 de outubro de 2363, data estelar 40759.5.
  • Pela primeira vez vemos a gata de Data, Spot (o sexo do animal foi definido no episódio do sétimo ano “Genesis”, quando Spot teve filhotes).
  • As palavras que Picard diz na cerimônia do casamento de O’Brien e Keiko são as mesmas ditas pelo capitão Kirk, em um casamento de oficiais ocorrido no episódio “Balance of Terror”.
  • Segundo Ron Moore, o quasar Murasaki mencionado aqui é o mesmo Murasaki 312 do episódio da Série Clássica “The Galileo Seven”.
  • O cabeleireiro boliano deste episódio é V’Sar, a ser substituído mais adiante pelo mais famoso Mot.
  • A nave USS Zhukov, que trouxe a embaixatriz vulcana até a Enterprise, é a nave em que o tenente Reg Barclay (“Hollow Pursuits”) serviu antes de ser transferido para a Enterprise.
  • O ator Alan Scarfe retornaria como o comandante de um campo de concentração romulano em “Birthright, Part II”, do sexto ano da série. Ele também participaria de Voyager, no episódio da segunda temporada “Resistance”. Em “Data’s Day” ele interpreta o romulano Mendak.
  • A música que embala a dança de Data e Crusher, “Isn’t It Romantic”, é um clássico da canção americana dos anos 1950. Grande sucesso, ganhou fama ainda maior depois que fez parte da comédia romântica Sabrina (1954), com Audrey Hepburn, Humphrey Bogart e William Holden. A música chegou a ser gravada pelo cantor de jazz Mel Tormé, pai de Tracy Tormé, roteirista das duas primeiras temporadas de A Nova Geração.
  • O resultado final do episódio foi festejado por Ron Moore, que o descreveu como “ótimo e divertido”, e Rick Berman, que disse que acabou sendo “surpreendido positivamente”. Confirmando essa percepção, o escritor Michael Chabon diz tê-lo visto duas vezes enquanto roteirizava a primeira temporada de Picard.

Ficha Técnica

História de Harold Apter
Roteiro de Harold Apter e Ronald D. Moore
Dirigido por Robert Wiemer

Exibido em 7 de janeiro de 1991

Título em português: “O Diário de Data”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Rosalind Chao como Keiko O’Brien
Colm Meaney como Miles O’Brien
Sierra Pecheur como T’Pel/Selok
Alan Scarfe como Mendak
Shelly Desai como V’Sal
April Grace como técnica do transporte

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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