Trilogia da formação da Federação abre com andorianos, telaritas e romulanos
Sinopse
Data: 12 de novembro de 2154
A Enterprise foi designada para levar uma delegação telarita a um planeta neutro, Babel, para uma conferência de paz com os andorianos. Durante a travessia de território andoriano, a nave capta pedidos de socorro de módulos de fuga. Shran e 19 membros da tripulação de uma nave andoriana destruída, a Kumari, são resgatados. Eles dizem ter sido atacados por uma nave telarita.
Pouco depois, a própria Enterprise é atacada por uma nave que parece ser andoriana. Após a fuga, enquanto lida com os conflitos entre andorianos e telaritas a bordo, Archer ordena a perseguição à nave. Ao chegar ao final da trilha de dobra, encontra um veículo diferente e de origem desconhecida. Trip e Reed levam um grupo de abordagem para lá, a fim de restabelecer os sistemas da nave e estudá-los. Pilotada por romulanos, ela é religada. A Enterprise fracassa em trazer todos os membros do grupo de volta, e Trip e Reed ficam isolados na nave inimiga.
A bordo da Enterprise, Shran está convencido de que tudo não passa de um embuste telarita. Ele escapa de seus aposentos e sai à procura de Gral, o embaixador telarita, a fim de fazer um interrogatório violento. Enquanto isso, T’Pol descobre que o veículo misterioso tem uma série de emissores holográficos que permitem mudanças na aparência da nave, fazendo-a parecer naves diferentes, como uma camuflagem. Archer confronta Shran e diz ter provas de que sua nave não foi atacada pelos telaritas. O andoriano concorda em baixar as armas, mas um assistente de Gral toma uma delas e dispara contra Talas, uma andoriana. O tiro parece ter sido superficial.
Enquanto isso, no veículo romulano, Trip e Reed chegam à ponte e descobrem que ele está sendo pilotado remotamente.
Comentários
“Babel One” faz aquilo que se esperava de Enterprise desde seu primeiro episódio: que mostrasse como uma espécie recém-chegada à comunidade interestelar, a humana, se tornou tão importante e central no que viria a ser a fundação da Federação Unida de Planetas. Nada fazia mais sentido que isso, diante da possibilidade de criar uma ponte entre o século 22 e o que vimos na Série Clássica.
Ainda assim, houve uma certa relutância nas primeiras temporadas da série em exercer essa vocação, optando por explorar mais o que seriam as primeiras viagens interestelares de longo alcance empreendidas pela Terra, talvez por medo de se tornar um poço de referências e expectativas óbvias, dada a época escolhida para ambientar o programa.
Na quarta temporada, com o cancelamento iminente, essas preocupações foram todas pela janela, e aqui temos um episódio que parece não só um prelúdio/homenagem a “Journey to Babel”, da Série Clássica (em ambos os casos, telaritas e andorianos a bordo da Enterprise para uma conferência de paz no planeta neutro Babel), como também a abertura de uma trilogia que poderia ser chamada perfeitamente de raízes da Federação.
Começa a ficar cada vez mais claro o papel dos humanos para ser a “cola” dessas espécies belicosas e desconfiadas, viabilizando a formação da aliança interestelar. Archer, claro, personifica todas essas qualidades: alguém sempre disposto a confiar, capaz de estender a mão a quem precisa, adaptável, mas ao mesmo tempo já calejado por conflitos e disputas anteriores durante a missão da Enterprise. E aqui ele exerce esse papel de forma bastante qualificada.
Já havíamos visto um telarita em “Bounty”, da segunda temporada, mas aqui os reconhecemos como os alienígenas introduzidos na Série Clássica. A caracterização psicológica e a maquiagem são excelentes, e é possível dar algumas risadas com o “treinamento” de Archer para lidar com eles (em especial quando ele o aplica, com toda seriedade, a Trip). Mas o episódio definitivamente não se inclina muito para o humor. É, antes disso, uma trama de mistério, que logo se desfaz para os espectadores, mas permanece para a tripulação — o envolvimento romulano, mais uma vez, faz todo sentido, sabendo pela Série Clássica que uma guerra entre a Terra e Romulus é iminente (e precede a formação da Federação). Aqui começamos a ver os porquês: paranoicos, os romulanos estão determinados a sabotar a união de espécies locais, o que poderia representar uma ameaça futura a eles.
O segmento faz tudo isso sem violar o cânone, por meio do truque da nave pilotada remotamente. É algo que o episódio preserva até o final, quando Trip e Reed chegam à ponte da nave e encontram um computador, enquanto vemos a nave ser operada de Romulus, a vários anos-luz de distância. Com essa escolha, foi possível mostrar os romulanos no episódio e, ainda assim, não deixar que qualquer humano os visse (mantendo tanta consistência quanto possível com “Balance of Terror”, que introduziu esses alienígenas na primeira temporada da Série Clássica).
Os cenários do interior da nave-drone romulana são meio pobrinhos, bem como a ponte (oportunamente devastada) da Kumari, a nave destruída de Shran. O resto se passa a bordo da Enterprise. A despeito dessas limitações de produção, o diretor David Straiton faz um bom trabalho para tornar o episódio menos tedioso, inclusive com escolhas inusitadas e movimentos de câmera dinâmicos para registrar a troca de tiros nos corredores da nave.
A exemplo das outras duas trilogias desta temporada, contudo, é impossível avaliar a trama deste episódio desassociada dos dois seguintes. Por ora, o que dá para dizer é que “Babel One” foi um primeiro ato muito bom, que estabelece as bases para uma aventura que mistura ação e diplomacia, fugindo um pouco do sabor de exploração que foi a tônica costumeira de Enterprise na maior parte da série.
Avaliação
Citações
“I’m told this ship is the pride of Starfleet. I find it small and unimpressive.”
“Funny… I was about to say the same thing about you.”
(Me disseram que esta nave é o orgulho da Frota Estelar. Eu a acho pequena e comum.)
(Engraçado… Eu ia dizer a mesma coisa sobre você.)
Gral e Archer
Trivia
- Lee Arenberg, que interpreta o telarita Gral, antes viveu outro personagem com mesmo nome, então um ferengi, no episódio “The Nagus”, de Deep Space Nine.
- A representação de Romulus neste episódio contou com um modelo 3D em CGI (imagens geradas por computador), originalmente criado para representar a capital romulana no filme Jornada nas Estrelas: Nêmesis.
- Foi a primeira vez que vimos Romulus em Enterprise. Em todas as séries anteriores, quando o planeta apareceu, foi representado por uma pintura, em vez de um modelo em CGI.
- A guarda de honra presente à chegada de Gral à Enterprise foi uma homenagem à cena da chegada de Sarek a bordo em “Journey to Babel”, da Série Clássica.
- A exibição deste episódio na rede UPN, em 28 de janeiro de 2005, bateu um recorde negativo de audiência da série, com 2,5 milhões de espectadores. Alguns dias depois de ele ter ido ao ar, a UPN anunciou oficialmente o cancelamento de Enterprise, que no entanto teve todos os seus episódios exibidos (o que era incomum para séries canceladas).
Ficha Técnica
Escrito por Mike Sussman & André Bormanis
Dirigido por David Straiton
Exibido em 28 de janeiro de 2005
Títulos em português: “Babel Um”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Jeffrey Combs como Thy’lek Shran
Lee Arenberg como Gral
Molly Brink como Talas
J. Michael Flynn como Nijil
Brian Thompson como Valdore
Kevin Brief como Naarg
Jermaine Soto como tripulante MACO
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria