DSC 4×13: Coming Home

Especie 10-C Star Trek Discovery

Desfecho potente, emocionante e efetivo conclui com sucesso arco da temporada

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

O Quartel-General da Federação, convertido em nave, voa em dobra para a Terra. Vance e Tilly ajudam a coordenar os esforços de evacuação, mas a situação é dramática. Somente cerca de 450 mil pessoas poderão ser retiradas em tempo da Terra e de Ni’Var. A maior torcida é para que a Discovery consiga convencer a espécie 10-C a desligar a anomalia.

A nave, contudo, segue presa num orbe, enquanto Tarka ruma para a fonte de energia da anomalia, com Book e Reno detidos por um campo de força. Está claro que houve um sabotador a bordo, e Burnham ordena que todo o comitê de primeiro contato fique restrito aos alojamentos, mas Ndoye admite que foi ela a ajudar Book e Tarka. Detida, ela se diz ainda disposta a colaborar.

Quartel General da Federação em dobra em direção à Terra

Tentativas de comunicar à 10-C a necessidade de liberá-los falham. Num ato desesperado, T’Rina tenta estabelecer um elo mental com as criaturas. Acaba seriamente debilitada, mas descobre por que a 10-C está confusa: eles têm uma mente coletiva e consideram que, como a nave de Book já escapou do orbe, o pedido da Discovery não faz sentido.

Stamets e Adira concebem um plano para libertar a nave, mas exigirá a detonação do motor de esporos. Com isso, será impossível depois retornar ao espaço da Federação sem uma travessia de décadas em velocidade de dobra. Burnham ordena que o plano seja executado, e a Discovery parte em perseguição à nave de Book.

T'Rina fazendo elo com a espécie 10-C

A bordo, Book e Reno conseguem escapar e confrontam Tarka, mas o risiano já colocou a nave no piloto automático e criptografou o acesso aos sistemas. Book entrega sua insígnia a Reno e diz para ela se transportar a bordo da Discovery, dizendo a Michael que ele a ama e que ela pode fazer o que deve – destruir a nave dele antes que seja tarde demais.

Aconselhada por Rillak, Burnham permite que Ndoye venha à ponte para analisar a situação tática. A única forma de deter a nave de Book agora é com um ataque suicida em uma nave auxiliar. Detmer é voluntária, mas Ndoye pede para ir no lugar dela. Há, então, a colisão, que coloca a nave de Book numa trajetória rumo ao hipercampo, onde será destruída. Ndoye consegue ser transportada de volta à Discovery, e Book e Tarka sobrevivem. O risiano está torturado por suas escolhas, mas ainda determinado a ir para seu “universo paradisíaco”. Ele usa o que resta de energia na nave para transportar Book à Discovery, enquanto tentará usar a explosão da colisão com o hipercampo como fonte para alimentar seu transporte interdimensional. Book está sendo teleportado quando sua nave explode e o sinal do transporte some. Ele está morto.

Book abrindo uma porta no campo de força com o colar de Grudge

Burnham fica arrasada, mas logo se recompõe e prossegue com a missão. A espécie 10-C mais uma vez se dispõe a conversar, e um orbe leva uma equipe liderada por Burnham e Rillak a uma superfície flutuante em meio à alta atmosfera do gigante gasoso que serve de lar aos alienígenas. Lá, a tripulação consegue comunicar o problema que seus mundos estão tendo com a anomalia, e a espécie 10-C concorda em levá-la a outro lugar. Burnham segue triste, e os alienígenas estão intrigados. Ela explica que perdeu alguém importante para si na outra nave, e a espécie 10-C rematerializa Book, dizendo ter interceptado e armazenado seu sinal de transporte.

Ainda desorientado, Book tem a chance de confrontar a 10-C e dizer o que ocorreu a seu planeta. Ele convence os alienígenas a desativarem a anomalia permanentemente e estabelece uma comunicação empática intensa com eles. Por fim, a 10-C abre um buraco de minhoca para que a Discovery possa voltar para casa.

Michael chorando a morte de Booker

Em órbita da Terra, agora salva, a tripulação se prepara para um merecido descanso. Book fará serviços comunitários lidando com refugiados da anomalia, e Burnham segue com o trabalho diplomático, recebendo a bordo a presidente da Terra Unida, que diz que o planeta está pronto para voltar à Federação.

Comentários

“Coming Home” completa de forma brilhante essa trilogia da espécie 10-C, numa trama que desata todos os nós que precisa, deixando para a imaginação do espectador aqueles que não precisa. Como o título sugere, são múltiplas “idas para casa” ao mesmo tempo: a Federação de volta à Terra, a Discovery ao espaço federado, Book a Burnham, Tilly a seus amigos queridos na Discovery, Stamets, Culber e Adira reunidos como a família que são, Tarka (talvez) ao encontro com Oros, Saru finalmente estabelecendo o desejado elo com T’Rina, e a espécie 10-C, com o desligamento do hipercampo, de volta à comunidade interestelar. É um bocado de coisa e não seria surpreendente se alguma dessas pontas acabasse solta ou mal atendida. Não é o caso, num tour de force da roteirista Michelle Paradise, que, desta vez, mantém o foco afiado ao longo de todo o segmento.

Tarka percebendo que pode nunca mais ver Oros

Colaboram de forma essencial para o sucesso a atuação brilhante de Sonequa Martin-Green, conforme Michael Burnham confronta seu “Kobayashi Maru”, telegrafado desde o primeiro episódio da temporada; os efeitos visuais majestosos que trazem à vida a espécie 10-C, revelada aos poucos no último trio de episódios, mas somente apresentada em sua plenitude aqui; a trilha sonora de Jeff Russo, extremamente potente e tocante, com direito a coral em alguns trechos; e a direção firme, sem muitos rodopios, de Olatunde Osunsanmi.

Comentando a estrutura em particular, “Coming Home” acerta onde segmentos anteriores falharam, ao manter os primeiros 45 minutos concentrados na ação, de forma efetiva e econômica. Não há cenas supérfluas, não há interrupções no drama para momentos “feeling feelings”, os personagens ganham vida ao manifestar suas emoções enquanto lidam com essa crise monumental, mostrando firmeza, companheirismo e tridimensionalidade. Vale destacar as limitadas, mas bem encaixadas, participações de Mary Wiseman (Tilly) e Oded Fehr (Vance) no episódio, assim como a dinâmica entre a capitão Michael Burnham e sua tripulação para avançar rumo à solução.
O roteiro dá um jeito de “fazer o bolo e comê-lo também”, ao entregar a necessária morte de Book de forma convincente, deixá-la assentar como uma realidade (e aí muito do sucesso se deve à atuação espetacular de Martin-Green, num momento que lembra temática e dramaticamente a morte de David, o filho de Kirk, em Jornada nas Estrelas III: À Procura de Spock), obrigar Michael a ressurgir dela revigorada (ainda que ferida) como capitão, e, então, quando tudo isso já transcorreu, providenciar sua ressurreição.

Vance e Tilly comemorando a retirada do DMA antes de atingir a Terra

Voltas de personagens principais mortos estão se tornando um clichê cada vez mais gasto em Star Trek, e é possível separar cada instância entre as que funcionam e as que não. Não há uma fórmula exata. A de Spock, em Jornada III, é talvez a mais efetiva de todas. A de Culber, no segundo ano de Discovery, entra na categoria do mais ou menos. As de Kirk, em Além da Escuridão: Star Trek, e Picard, no primeiro ano de Picard, são um osso meio duro de roer. E a de Shaxs, no segundo ano de Lower Decks, vale pelo puro deboche. E a de Book, entraria em qual categoria? Cada espectador fala por si nessa avaliação, mas há argumentos para defender que ela ficaria entre as melhores. Era algo que dramaticamente tinha que acontecer, acontece, é superado e, a partir daí, tudo bem voltar com o personagem sem sentir o gosto de “fraude narrativa”.

Aliás, vale destacar como esse episódio ecoa de forma emocionalmente potente e verdadeira ao longo de toda a hora. Não faltam momentos para ver-se com os olhos cheios d’água, sem qualquer forçada de barra e em diversos tons diferentes. Para além das óbvias morte e ressurreição de Book, podemos citar o par Saru e T’Rina, toda a sequência de comunicação com a espécie 10-C e a volta da Terra à Federação.

Saru e T'Rina explorando o novo relacionamento entre eles

O segmento, claro, cai em algumas armadilhas. T’Rina tenta um contato telepático com a 10-C. Legal, mas não devia ter sido o primeiro esforço, lá atrás? Dois planetas inteiros em jogo, e ficou como um último recurso? A sorte é que o que o elo mental entrega para a história é bastante limitado. Fosse “a solução”, a audiência certamente se sentiria enganada, depois de passar dois episódios num árduo esforço para aprender a “falar” com a 10-C. Por sinal, também é criticável a enorme fluência com que a equipe da Discovery aqui consegue transmitir ideias aos alienígenas. É verdade que o vocabulário rudimentar deve ter se expandido, com o trabalho do dr. Hirai e a colaboração de Zora, mas ainda assim, como não vimos nada disso, só nos resta o espanto de ver a fluência no diálogo final com as criaturas. A despeito disso, merece festa a potência da cena, que tinha tudo para se tornar arrastada, se virasse um longo megadiscurso ou tropeçasse nas dificuldades dramáticas de uma conversa por meio de intérpretes. Em vez disso, foi um ponto alto do episódio.

Vale aqui mencionar a incrível curva de aprendizagem pela qual passou a equipe de efeitos visuais com o uso do AR Wall e seus cenários virtuais. O trabalho neste último episódio é maravilhoso.

Tripulação da Discovery vendo a espécie 10-C pela primeira vez

Além dos grandes acertos com o que fez, o episódio também acerta com o que não fez. Por exemplo, jamais obtemos a resposta sobre se Tarka realmente conheceu Oros ou se não passava de fruto de sua imaginação. Também não sabemos se ele conseguiu se teletransportar para outro universo ou meramente morreu na explosão da nave de Book. É uma excelente escolha, que mantém a dubiedade do misterioso personagem até o final. Cabe a cada um de nós acreditar no que quiser.

Da mesma maneira, menos é mais quando Book faz o tão esperado contato telepático com a espécie 10-C. Ele simplesmente acende suas luzinhas na testa, os alienígenas acendem as deles, e fica implícita uma comunicação mais íntima, poderosa e efetiva que qualquer coisa que pudesse ser transmitida por palavras. O que exatamente? Cada um que resolva por si. É o tipo de escolha que eleva o momento de entretenimento a arte, deixando o espectador ser parte ativa na interpretação do que está vendo.

Book conversando com a espécie 10-C

Terminado o drama, com a Discovery devolvida ao espaço da Federação, aí sim temos o momento apropriado para a tripulação se reencontrar e descomprimir. Com cenas igualmente econômicas e de poucas palavras, vemos cada um dos tripulantes voltar à vibração da vida cotidiana – mais uma vez retomando a alegoria da crise da anomalia com a pandemia da Covid-19. É o alívio de retornar ao dia a dia, depois de tanto tempo sob o medo e a incerteza.

No fim das contas, temos o melhor desfecho de temporada que a série conseguiu entregar até agora. Apesar das trepidações e da visível economia em episódios anteriores, com uma trama rala demais para durar 13 episódios, “Coming Home” faz a jornada toda valer a pena e nos deixa ansiosos para reencontrar a equipe da USS Discovery em seu quinto ano.

Avaliação

Citações

“Love always ends in grief, but we can’t let the pain do this to us.”
(Amor sempre termina em sofrimento, mas não podemos deixar a dor fazer isso conosco.)
Cleveland Booker

“We came to this future to find the Federation in pieces, quadrants and sectors, planets and families, divided. So much uncertainty and disconnection. But the Burn and the DMA have shown us that we are all connected, and we can overcome any challenge so long as we do it together.”
(Viemos a esse futuro para encontrar a Federação em pedaços, quadrantes e setores, planetas e famílias, dividida. Tanta incerteza e desconexão. Mas a Queima e a AME nos mostraram que estamos todos conectados, e podemos superar qualquer desafio contanto que façamos juntos.)
Michael Burnham

Trivia

  • Este é o oitavo episódio escrito pela showrunner Michelle Paradise. Ela também escreveu a abertura da temporada.
  • Olatunde Osunsanmi dirige aqui seu décimo segundo episódio de Discovery.
  • O primeiro nome da general Ndoye é revelado aqui: Diatta.
  • O episódio termina com uma dedicatória “For April, with Love”. Foi uma homenagem a April Nocifora, produtora de longa data de Star Trek que morreu de câncer em dezembro de 2021.
  • A USS Mitchell, batizada em homenagem ao ator Ken Mitchell, foi vista pela primeira vez aqui. Outras naves da Frota Estelar mencionadas aqui são a USS Yelchin (em homenagem ao ator Anton Yelchin), a USS Credence e a USS Greco. Além disso, descobrimos neste episódio que o Quartel-General da Federação pode voar em dobra como uma nave estelar.
  • Book e Michael se recordam de uma missão Tiburon, planeta mencionado em “The Savage Curtain” e “The Way to Eden” (Série Clássica).
  • Pela primeira vez os borgs são mencionados em Discovery, indicando que eles podem ainda estar ativos no século 32.
  • A presidente da Terra foi vivida pela política e ativista americana Stacey Abrams, fã declarada de Star Trek.

Ficha Técnica

Escrito por Michelle Paradise
Dirigido por Olatunde Osunsanmi

Exibido em 17 de março de 2022

Título em português: “Vindo para Casa”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
Tig Notaro como Jett Reno
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Oded Fehr como Charles Vance
Stacey Abrams como presidente da Terra Unida
Shawn Doyle como Ruon Tarka
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Tara Rosling como T’Rina
Annabelle Wallis como Zora
Hiro Kanagawa como Hirai
Phumzile Sitole como Ndoye
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Sara Mitich como Nilsson
Raven Dauda como Tracy Pollard
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Seamus Patterson como Harral
Adrian Walters como Taahz Gorev
Michael Chan como oficial de operações do QG da Federação
Emmanuel John como oficial de segurança do QG da Federação
Jean-Paul Najm como segurança do QG da Federação
Fabio Tassone como computador da nave de Book

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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