Primeiro ato de trilogia vulcana usa bem os personagens e a história de Star Trek
Sinopse
Data: Desconhecida
A Embaixada da Terra em Vulcano sofre um atentado que mata 43 pessoas, inclusive o almirante Forrest, que sacrificou sua vida para salvar o embaixador Soval. A Enterprise é chamada a Vulcano para participar das investigações, e o líder do Alto Comando, administrador V’Las, vem a bordo com uma comitiva.
Eles informam a Archer que já há suspeitos: andorianos ou syrranitas, uma facção de vulcanos que se opõem ao Alto Comando e recentemente se tornaram violentos, sob o comando de Syrran.
Malcolm Reed e Travis Mayweather exploram os destroços da embaixada e encontram uma bomba não detonada. Uma leitura de sensores revela a presença de DNA vulcano, mais especificamente T’Pau, uma jovem syrranita. Com essa revelação, as autoridades vulcanas querem afastar a equipe de Archer da investigação, alegando se tratar de problema interno vulcano. Mas Soval pede que o capitão siga investigando. Enquanto isso, T’Pol recebe uma visita do marido, Koss, que entrega um medalhão IDIC enviado pela mãe dela, identificada como uma syrranita. Ele contém um mapa da Forja, um deserto vulcano por onde o lendário Surak teria peregrinado 1.800 anos atrás. T’Pol acredita que sua mãe quer que eles a encontrem, e Archer decide descer com ela ao planeta.
Na Enterprise, Phlox encontra evidências de que T’Pau foi falsamente incriminada, e Tucker convence Soval a realizar um elo mental para revelar o real perpetrador do atentado, explorando a mente de um funcionário da embaixada que trabalhava no acesso ao edifício. O procedimento revela que Stel, o investigador-chefe sob ordens de V’Las, é o real culpado.
Na Forja, Archer e T’Pol se abrigam de um sehlat selvagem e são resgatados por um vulcano que se declara Arev. Eles andam juntos até serem afetados por uma tempestade elétrica. O trio se abriga em uma caverna, mas Arev é ferido mortalmente. Antes de morrer, ele realiza um elo mental com Archer.
Na Enterprise, Tucker apresenta as novas evidências a V’Las, que está revoltado por Soval ter feito um elo mental e ordena que o embaixador se entregue ao Alto Comando, o que ele faz. Em Vulcano, Archer e T’Pol seguem pelo deserto e o capitão, de algum modo, sabe que uma encosta de montanha é uma parede holográfica falsa. Ela leva a um santuário, e lá os dois são rendidos por um grupo de syrranitas…
Comentários
“The Forge” abre a chamada “trilogia da reforma vulcana” em Enterprise, de forma realmente inspirada e intrigante. Diferentemente do trio de episódios imediatamente anteriores, em que a trama em três atos tinha um fio condutor, mas três batidas diferentes (com os órions no primeiro, a Estação Fria 12 no segundo e a perseguição final aos aumentados no terceiro), aqui temos mais claramente uma única história em três episódios.
A estrutura lembra mais a de romances, com um respiro narrativo mais longo e bons momentos de personagens. A própria trama, que começa com um atentado em Vulcano, lembra histórias anteriores publicadas em livros de Star Trek, como The Vulcan Academy Murders, de Jean Lorrah (lançado em português pela Aleph em 1992, como Crime em Vulcano), e tem por objetivo mais amplo iniciar a jornada dos vulcanos de Enterprise para a forma como os vimos na Série Clássica. Não por acaso, temos como roteiristas a dupla Judith e Garfield Reeves-Stevens, casal famoso por ter escrito vários romances de Star Trek antes de se juntar à equipe de Enterprise.
Diversos caminhos se abrem neste episódio, com a investigação do atentado, a introdução dos syrranitas e a crise interna vulcana, bem como o encontro de Archer e T’Pol com Arev na Forja. Nenhum dos dois se resolve aqui; pelo contrário, se desdobram, e temos a sensação de que uma grande conspiração está em curso dentro do governo vulcano para eliminar opositores.
Mais que isso, vemos excelentes momentos de personagens. Diferentemente do arco dos aumentados, aqui a tripulação da Enterprise é bem utilizada. Reed e Mayweather têm oportunidade de aparecer na cena da bomba não detonada, e Phlox também é bem usado para revelar que as evidências de envolvimento syrranita foram falsificadas (logicamente depois que Archer e T’Pol já saíram ao encalço deles). Tucker aparece lidando com as autoridades vulcanas na ausência de Archer, e o capitão e sua primeira oficial têm bons momentos juntos na jornada pela Forja. Mas o personagem que tem maior ganho “líquido” é Soval, embaixador que desde “Broken Bow” vem num suave, gradual, mas seguro, arco de redenção e chega aqui a virar herói e mártir. Pena que à custa da vida do almirante Forrest, que também se martiriza num ato de heroísmo.
É legal ver como a história se desenrola em dois planos, com os personagens e suas ações, mas, sobreposto a isso, a trama é de que como humanos e vulcanos se aproximaram a ponto de viabilizar a fundação da Federação Unida de Planetas. Essa sempre foi a vocação de Enterprise como série, e é desenvolvida de forma efetiva aqui.
Saltam aos olhos as toneladas de referências (desde as estátuas gigantes de Vulcano à moda de Jornada nas Estrelas: O Filme até as pálpebras internas desses alienígenas, vistas em ação em “Operation: Annihilate!”, e os sehlats, mencionados em “Journey to Babel”. Por sinal, é a primeira vez que vemos um desses animais em live-action, depois de sua aparição em “Yesteryear”, da Série Animada, e descobrimos que T’Pol, a exemplo de Spock, também teve um sehlat de estimação quando era pequena.
Isso para não falar no proverbial “elefante na sala” das referências, a presença de T’Pau no episódio. É certo dizer que se trata da mesma personagem vista em “Amok Time”, e aqui começamos a entender as raízes de sua futura proeminência. Claro, em “The Forge” ela aparece quase como uma menção, mas há mais por vir na trilogia.
Os valores de produção são igualmente impressionantes. A panorâmica da embaixada da Terra, bem como sua explosão, representa CGI de boa qualidade para a época, e nas cenas da Forja a combinação entre CGI, manipulação digital de ambiente real e cenas em locação sem manipulações funciona de forma extremamente efetiva. Uma das vantagens de construir histórias em trilogias é poder usar o orçamento de três episódios para construir cenários e sequências, e isso fica bem aparente aqui.
No fim, é um episódio que funciona em todos os níveis: por preencher lacunas na saga mais ampla de Star Trek, por usar bem os personagens da série e por trazer uma trama fascinante, que está apenas começando e não tem vergonha de se apresentar assim.
Avaliação
Citações
“We had our wars, Admiral, just as Humans did. Our planet was devastated, our civilization nearly destroyed. Logic saved us, but it took us nearly fifteen hundred years to rebuild and travel to the stars. You Humans have managed to do the same in less than a century. There are those in the High Command who wonder what Humans will achieve in the century to come … and they don’t like the answer.”
(Tivemos nossas guerras, almirante, como os humanos. Nosso planeta foi devastado, nossa civilização quase destruída. A lógica nos salvou, mas levou quase 1.500 anos para a reconstruirmos e viajarmos para as estrelas. Vocês, humanos, conseguiram fazer o mesmo em menos de um século. Há aqueles no Alto Comando que se perguntam o que os humanos vão realizar no século vindouro… e eles não gostam da resposta.)
Soval, para Forrest
Trivia
- Este episódio é o primeiro a confirmar que existe um governo da Terra Unida.
- “The Forge” é o único da trilogia da reforma vulcana que teve filmagens em locação, realizadas em um sítio industrial no Vale Simi, no condado de Ventura, a noroeste de Los Angeles. No caminho para lá, a equipe de produção se divertiu ao ver na rua uma placa com os dizeres “Vulcan Materials Company”.
- As filmagens aconteceram entre 14 e 22 de setembro de 2004, com sete dias de filmagem.
- Robert Foxworth, que aqui faz V’Las, antes havia interpretado o almirante Leyton, nos episódios “Homefront” e “Paradise Lost”, de Deep Space Nine. Curiosamente, “Homefront” também abriu com um atentado a uma conferência diplomática.
- O roteiro estabelece que a embaixada da Terra fica em Shi’Kahr, cidade capital de Vulcano (mencionada pela primeira vez em “Yesteryear”, da Série Animada).
- Este foi o terceiro e último episódio da série a não ter nenhuma cena na ponte da Enterprise. Os outros dois foram “Shuttlepod One”, da primeira temporada, e “Carpenter Street”, da terceira.
Ficha Técnica
Escrito por Judith & Garfield Reeves-Stevens
Dirigido por Michael Grossman
Exibido em 19 de novembro de 2004
Títulos em português: “No Deserto de Vulcano”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Robert Foxworth como V’Las
Vaughn Armstrong como Maxwell Forrest
Gary Graham como Soval
Michael Reilly Burke como Koss
Michael Nouri como Syrran
Larc Spies como Stel
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria