ENT 4×01: Storm Front

Archer e Alicia em Terra alternativa dominada pelos nazistas

História alternativa com nazistas é palco para o fim da Guerra Fria Temporal

Sinopse

Data: Desconhecida

Trip e Travis são atacados por aviões ao tentar descer na Terra com uma cápsula auxiliar, o que os obriga a voltar à Enterprise. No planeta, Archer está sendo transportado como prisioneiro pelos nazistas, mas o comboio é interrompido por membros da resistência americana à invasão alemã. Eles acabam levando Archer, que fica aos cuidados de Alicia.

Trip e Travis sendo atacados por aviões nazistas em linha temporal alternativa de Enterprise

Na Enterprise, Hoshi capta transmissões de rádio que sugerem que eles voltaram a 1944, mas numa realidade alternativa, em que a Alemanha invadiu com sucesso os EUA durante a II Guerra Mundial. Um alienígena, da espécie dos na’kuhls chamado Vosk é o responsável. Ele tem oferecido armas aos nazistas em troca de equipamento e materiais.

Eis que surge na enfermaria, todo desfigurado, Daniels. Dizendo-se responsável pela ida da Enterprise ao passado, ele conta que a Guerra Fria Temporal se transformou em um conflito aberto, em que facções tentam apagar umas às outras da história com incursões ao passado. Silik também está a bordo e confronta Trip, antes de fugir para o planeta numa cápsula auxiliar. Trip e Travis partem atrás dele, via teletransporte, e acabam capturados pelos nazistas.

Alienígena Vosk se passando por nazista em linha temporal alternativa de Enterprise

Em Nova York, Archer usa o apoio da resistência para encontrar e emboscar um dos alienígenas comandados por Vosk. O confronto acaba em tiroteio com os nazistas, mas o capitão consegue pegar um comunicador do na’kuhl e entrar em contato com a Enterprise, revelando que está vivo e foi transportado a esse tempo. De volta à nave (com Alicia), ele conversa com Daniels, que, pouco antes de morrer, revela que Vosk está construindo um conduíte para voltar a sua própria época. O único modo de restaurar a linha temporal original é impedindo-o de ter sucesso, já que foi essa a incursão inicial que serviu de gatilho para a Guerra Temporal. No planeta, as obras para o conduíte de Vosk seguem a todo vapor…

Comentários

Se tem um episódio de Enterprise que é difícil de avaliar, é “Storm Front”. Há pelo menos três modos diferentes de encará-lo. O primeiro, e talvez mais justo, seja pelo que ele é enquanto episódio, ou seja, o que ele apresenta em seus 42 minutos. Por esse ponto de vista, é sem dúvida um segmento com uma premissa interessante e bem executada.

Em tempos recentes, no campo da literatura em especial, tem sido uma moda interessante o desenvolvimento do que se convencionou chamar de “história alternativa” ou “história contrafactual”. O que teria acontecido se Kennedy não tivesse sido assassinado? O que teria sido da humanidade se os russos tivessem chegado à Lua? (Pergunta que, por sinal, foi explorada a partir de 2019 na série For All Mankind, do veterano de Star Trek Ronald D. Moore.) E se o Império Romano não tivesse se destroçado? E por aí vai.

Ttitle Card Enterprise "Storm Front"

Mesmo Jornada nas Estrelas já teve seus momentos de “história contrafactual”. O exemplo mais memorável é o clássico “The City on the Edge of Forever”, em que o fato de McCoy voltar no tempo e salvar Edith Keeler permite que a Alemanha vença a II Guerra Mundial. Em “Storm Front”, mais uma vez esse período histórico recebe a atenção dos roteiristas.

Do ponto de vista da qualidade de “história alternativa”, o episódio é bem rico. Não se pode questionar a criatividade de colocar os nazistas com um pé na América, tendo ocupado inclusive a Casa Branca (lembrando algo como O Homem do Castelo Alto, romance de Philip K. Dick escrito em 1962, adaptado em 2015 como uma série de TV homônima), e, num lance ainda mais surpreendente, converter os gângsteres dos anos 1930 em heróis, a “resistência” à ocupação alemã. É fato que, se o contexto é suficientemente rico, a caracterização individual dos elementos não é lá essas coisas – especialmente dos nazistas, que são apresentados como vilões unidimensionais do pior tipo. Mas vamos combinar que nazistas nunca foram dados a muita sofisticação mesmo, na ficção ou fora dela. Então, sob esse primeiro ponto de vista possível, talvez o mais correto, “Storm Front” é um bom episódio.

Archer com Alicia e companheiros de resistência em linha temporal alternativa de Enterprise

O segundo modo pelo qual se pode encarar o segmento no contexto do próprio universo de Jornada nas Estrelas. Aí, a coisa fica um pouco mais complicada. Não pela premissa em si, mas pela forma de sua execução.

Tomemos de novo o exemplo máximo de “história alternativa” em Star Trek: “The City on the Edge of Forever”. Naquele episódio, a aventura claramente é toda centrada no desafio imposto a Kirk e Spock para evitar que o futuro seja destruído. O contexto histórico é pouco relevante no final das contas, é quase um artefato de roteiro para um drama muito bem caracterizado e vivido pelos personagens. Essa é uma história perfeita de Jornada nas Estrelas, que não se esqueceu de que os protagonistas são os tripulantes da Enterprise.

Em “Storm Front”, isso não acontece. O contexto é tão destacado pelo roteiro e pela produção que os personagens ficam quase esquecidos, sem nada interessante para fazer. As imagens que ficam na cabeça são a da Casa Branca com faixas decoradas com a suástica e os ataques dos aviões B-51 da Força Aérea americana à cápsula auxiliar de Mayweather e Trip, logo na abertura. Se fosse um episódio da série Sliders, seria excepcional. Como um de Jornada nas Estrelas, ele deixa a desejar.

Casa Branca dominada pelos nazistas em linha temporal alternativa de Enterprise

Uma terceira perspectiva possível é a de ver “Storm Front” como uma continuação direta de “Zero Hour”, que criou o cliffhanger para esta história. Mas encarar o episódio dessa maneira é ainda pior: não fica claro como Daniels pode ter arrastado a Enterprise, de um lado, para 1944, e Archer, de outro. Também não fica claro por que os agentes temporais precisam dos tripulantes da NX-01 para fazer seu serviço sujo, para começo de conversa. Não seria muito mais saudável à linha temporal evitar envolver gente do século 22 nessa Guerra Fria Temporal que, para todos os efeitos, é travada entre forças de séculos futuros – ainda que o campo de batalha seja todo o espaço-tempo?

Dá a impressão de que seria mais prático e menos intrusivo enviar dez “Daniels” para o século 20 e tentar impedir Vosk e seus asseclas do que fazer uma tremenda força para envolver Archer e seus comandados. Bem, não se pode ter muita pretensão de entender a lógica desses agentes temporais – na verdade, está claro que eles não têm uma lógica que seja muito lógica –, então fica só o pensamento jogado para o leitor.

T'Pol e Phlox conversando com um Daniels moribundo sobre a linha temporal alternativa que a Enterprise se encontra

Por fim, ainda é possível encarar o episódio por um quarto ângulo: como a tão propagandeada conclusão para o “arco” da Guerra Fria Temporal. Uso aspas para “arco” porque a história acabou ficando sem pé nem cabeça, e é bem difícil que sua conclusão possa sair algo melhor do que isso.

De toda maneira, é um julgamento que não pode ser feito sem “Storm Front, Part II”. Silik está na Terra, com propósitos desconhecidos, Archer se enturmou com os gângsteres para combater a ocupação nazista na América, Daniels morre na enfermaria dizendo que a forma de acabar com toda a bagunça na linha do tempo é destruir o artefato que Vosk está construindo com ajuda alemã.

Silik e Tucker brigando

A julgar por essa primeira parte, o conselho à audiência é tentar não se prender muito aos detalhes do enredo e encarar o segmento como um entretenimento de ação descompromissado, cujo objetivo é colocar um ponto final num conceito que parecia promissor, mas jamais foi trabalhado com seriedade e planejamento pelos produtores de Enterprise. Para o bem ou para o mal, em mais um episódio, acaba a Guerra Fria Temporal.

Avaliação

Citações

“My singing would often drive my children to tears.”
(Minha cantoria normalmente faz meus filhos chorar.)
Phlox

“Imagine a plague that would only target non aryans?”
(Imagine uma praga que só afetasse não arianos?)
Vosk, prometendo mundos e fundos aos nazistas

Trivia

  • No mapa apresentado pelo general nazista, o Canadá figura completamente ignorado pelas forças alemãs, embora fosse um país aliado ativo no esforço de guerra, ao lado do Reino Unido e outros.
  • Alicia se surpreende por Archer se referir ao conflito como II Guerra Mundial. O termo ainda não havia se tornado corriqueiro na época.
  • A partir deste episódio, Enterprise passou a ser filmada com câmeras digitais Sony NDW-F900, em vez de filme fotográfico.
  • O nome do alienígena confrontado por Archer, Ghrath, nunca é dito no episódio, bem como sua espécie, na’kuhl. Mas eles constam do roteiro. Ghrath, por sinal, é interpretado por Tom Wright, que viveu Tuvix no episódio de mesmo nome da segunda temporada de Voyager.
  • Enterprise se tornou, com este episódio, a primeira série de Star Trek a iniciar uma quarta temporada sem qualquer mudança em seu elenco desde o piloto.
  • É a segunda vez que vemos Daniels morrer. A primeira foi em “Cold Front”, da primeira temporada.
  • O elenco convidado inclui Joe Maruzzo e Steve Schirripa, que aqui vivem Sal e Carmine, eram conhecidos como parte do elenco regular de Família Soprano.
  • Golden Brooks (Alicia) fazia parte do elenco regular de outra série da UPN, a comédia Girlfriends.
  • O ator J. Paul Boehmer vive pela segunda vez um soldado da SS em Star Trek, tendo antes vestido o uniforme nazista no episódio duplo “The Killing Game”, de Voyager.
  • O que acontece a Daniels aqui já havia acontecido a Chakotay no episódio “Shattered”, da sétima temporada de Voyager, em que ele é colocado em um estado de fluxo temporal. O Doutor então notou que Chakotay “tem o fígado de um homem de 80 anos, e os rins de um menino de 12”.

Ficha Técnica

Escrito por Manny Coto
Dirigido por Allan Kroeker

Exibido em 8 de outubro de 2004

Títulos em português: “Tempestade Temporal, Parte I”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Golden Brooks como Alicia Travers
Jack Gwaltney como Vosk
John Fleck como Silik
Joe Maruzzo como Sal
Tom Wright como Ghrath
Matt Winston como Daniels
Christopher Neame como general alemão
Steven R. Schirripa como Carmine
J. Paul Boehmer como agente da SS
John Harnagel como Joe Prazki
Sonny Surowiec como soldado alemão

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

Episódio anterior | Próximo episódio