DSC 4×08: All In

Michael e Book jogam pôquer leoniano no cassino de Haz Mazaro

Em aventura divertida, Burnham e Book decidem sua sorte no carteado

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Enquanto a Frota Estelar investiga a subtração de seu protótipo de motor de esporos portátil, a presidente Rillak enquadra Vance e Burnham por não saberem o que Book e Tarka estavam planejando. Ela ordena que Vance coordene seus recursos para monitorar possíveis aquisições de isolínio, substância necessária para construir a arma proposta por Tarka. Quanto a Burnham, sua missão será colher inteligência para se preparar para o primeiro contato com a espécie 10-C. Após a reunião, Vance encoraja Burnham a tentar matar dois coelhos com uma cajadada só, colhendo inteligência sobre os misteriosos alienígenas e tentando apreender Book ao mesmo tempo.

Ela decide, então, ir a Porathia, que abriga a Barca do Karma de Haz Mazaro, um velho conhecido de Burnham e Book que opera sob o radar da Federação e seria capaz de obter o isolínio. Ele também seria um ótimo contato para a obtenção de cartas estelares da civilização stilph, que fica a apenas 30 anos-luz das coordenadas da espécie 10-C. Ela não tem contato direto com a Federação, mas já lidou com os órions, e Mazaro pode conseguir as cartas com eles.

Presidente Rillak dando bronca em Vance e Michael pelo roubo do protótipo do motor de esporos

Enquanto Culber, na Discovery, ainda lida com a aflição de seu trabalho (recebendo relutantemente o apoio de Stamets para superar a crise), Book chega ao cassino de Haz Mazaro e negocia o isolínio com ele, em troca de encontrar um trapaceador contador de cartas que assola as mesas de jogo. Burnham chega em seguida, negocia as cartas estelares com sucesso e pergunta a Haz sobre o isolínio, tentando comprá-lo ou ao menos tirá-lo do alcance de Book. O mercador alienígena exige muito mais latinum do que ela tinha, o que motiva Owosekun a participar de um desafio de luta-livre no ringue da barca. Ela perde as duas primeiras lutas, e na terceira, quando já é tratada como “zebra”, vence, obtendo o latinum. Em paralelo, Book e Tarka conseguem identificar e apreender o trapaceador – um transmorfo.

Stamets conversando com Culber

Com o “empate”, Haz propõe decidir quem leva o isolínio à moda dos portadores – com um jogo de pôquer leoniano. Além de Book e Burnham, outros dois remanescentes da Corrente Esmeralda ambicionam obter a mercadoria. Todos concordam, depois que Haz aceita que a mercadoria seja inspecionada de antemão pelos participantes. Na disputa, Burnham e Book cooperam para derrubar os outros dois e, então, decidem nas rodadas finais quem leva. Book vence e parte com o isolínio.

Burnham e Owosekun retornam ao Quartel-General da Federação apenas com as cartas estelares, mas a capitão revela à presidente Rillak que já esperava perder de Book no jogo e, por isso, implantou um rastreador no isolínio ao inspecioná-lo. Agora, a Frota Estelar pode avançar sobre Book e tentar impedi-lo de lançar um ataque à anomalia.

Haz Mazaro e Michael em mesa de pôquer

Na Discovery, a análise das cartas estelares revela a presença de uma espécie de hipercampo nas coordenadas da espécie 10-C, com raio de 228 milhões de quilômetros – capaz de abrigar um sistema planetário em seu interior. Para manter uma estrutura artificial desse tipo, a demanda energética é enorme, o que, por sua vez, explica o que é a anomalia – uma espécie de draga de mineração em forma de buraco de minhoca, capaz de colher as quantidades infinitesimais de boronita que trafegam pelo espaço. Sabe-se que boronita, em concentração suficiente, pode sintetizar uma grande fonte de energia. Ao descobrir o poderio dessa civilização desconhecida, torna-se ainda mais urgente impedir Book e Tarka de atirarem a galáxia em uma guerra da qual a Federação não pode sair vencedora.

Comentários

Dizem que ficção científica de verdade não é sobre tecnologias ou sociedades fantásticas, mas sobre pessoas imersas num mundo que é composto por esses elementos. Nesse sentido, “All In” é uma peça muito bem-sucedida. O episódio tem um agradável sabor de “vida cotidiana”, com uma aventura divertida e bem centrada em dois personagens: Burnham e Book.

Depois de se consolidarem como um casal e uma grande dupla na terceira temporada, a trama deste quarto ano tem colocado os dois em lados opostos, e as divergências vêm se empilhando desde então: ele teima em explorar a anomalia a contragosto dela, em “Anomaly”; mais tarde, ele se opõe a que deixem Felix para morrer em “The Examples”; e o racha vem de forma definitiva em “…But to Connect”, em que Book defende um ataque à anomalia, estimulado por Tarka e em contraposição à postura diplomática defendida por Burnham. Voto vencido, ele parte para executar seu plano à revelia da Federação, para desespero da capitão.

Michael e Book conversando sobre o jogo de pôquer

É nesse ponto que embarcamos em “All In”, e a primeira reação é de estranheza com a redução do senso de urgência deste para o episódio anterior. O que poderia ter sido uma perseguição frenética se torna uma disputa de inteligência e “habilidades de portador”, que materializa o conflito dos dois na forma de jogos. A despeito da súbita mudança da quinta para a primeira marcha, a transição funciona. E aí somos premiados com uma tonelada de clichês de tramas de jogatina.

No centro do palco, o extremamente carismático Haz Mazaro, trazido à vida de forma brilhante por Daniel Kash com texto igualmente cativante do roteirista Sean Cochran. Este personagem é, literalmente, a vida da festa, e suas tiradas de “malandro do século 32”, mixando referências que apenas os mais versados em Star Trek podem pegar (e ainda assim com pesquisa) e uma atitude transparente para quem não faz ideia do que de fato ele esteja falando, valorizam demais o que, em outros aspectos, seria uma história pouco criativa.

Haz Mazaro

Burnham é emparceirada com Owosekun na missão, e a personagem secundária ganha seu momento sob as luzes da ribalta, na sequência de luta livre e o jogo de apostas que a circula. É, talvez, a parte menos efetiva do segmento, por conta de sua ambiguidade. De um lado, é para parecer um lance de inteligência e trapaça por parte das duas. De outro, cria-se o suspense sobre se Owo realmente seria capaz de vencer a luta (o que totalmente esperamos que sim, mas muito mais escorados no clichê e na necessidade da trama do que no que está em tela). No fim das contas, ter tentado manter as duas possibilidades em aberto tira um pouco do brilho da história. Uma comunicação mais clara de que tudo não passaria de um embuste das duas criaria uma cumplicidade com a audiência que tornaria a sequência menos batida e mais efetiva. Tecnicamente, claro, a luta é executada de forma primorosa, fazendo valer o talento desta companhia de produção para cenas de ação.

Owo em ringue de luta livre para ganhar latinum

O lado B dessa história mostra Book e Tarka tentando identificar embusteiros em meio ao cassino de Haz e tem muito pouca carne para merecer grande destaque. A sacada de que só há um trapaceiro – um transmorfo –, se fazendo passar por muitos, é boa. Mas também evoca a frivolidade de reintroduzir uma das espécies centrais de Deep Space Nine no século 32 da forma mais “barata” possível. Os fundadores do Dominion, ao menos no século 24, não casam com esse tipo de comportamento. Muita coisa pode ter se passado em 800 anos, mas vamos ficar só na curiosidade aqui.

Em seguida, temos o desafio de pôquer leoniano, esse sim definitivamente envolvente e, enfim, lançando os holofotes de forma mais direta sobre Book e Burnham, numa sequência de colaboração/conflito psicologicamente intrigante. É o ponto de quebra da relação dos dois, após uma última tentativa malograda de Michael de trazê-lo de volta para seu lado. A tensão é palpável, e a metalinguagem com o pôquer é muito apropriada – tem alguém blefando ali? Quem terá a cartada final? Saímos do jogo com a sensação de que é Book, até descobrirmos que Michael tinha mais um ás na manga, ao plantar um rastreador no isolínio.

Transmorfo aparecendo em Discovery

De volta ao Quartel-General, o episódio volta a engatar a quinta, para nos entregar no mesmo ritmo em que começamos: prontos para uma perseguição frenética a Book e Tarka. As últimas revelações sobre a espécie 10-C aprofundam o mistério e elevam os riscos, em caso de fracasso. É a porta de entrada para o que parece ser o início do terceiro ato do arco da temporada.

As atuações todas são muito boas, trazendo nuances não só aos personagens fixos (em que, mais uma vez, menos é mais, privilegiando focar alguns e esquecer outros), mas também aos recorrentes, como a Rillak de Chelah Horsdal e o Vance de Oded Fehr. Quem sai meio apagadinho é o Tarka de Shawn Doyle, a despeito da curta e tensa cena com a poderosa Owo de Oyin Oladejo.

Vance, Michael, Stamets, Rillak e Saru descobrindo mais sobre a espécie 10-C

Os efeitos visuais mais uma vez chamam atenção, quando a nave auxiliar viaja para a barca de Haz, mas o mais bonito mesmo é o trabalho de cenários e adereços, com o interior do cassino. Um visual e uma ambientação à altura dos melhores trabalhos de Discovery.

Estamos falando de um episódio espetacular? Não. Mas ele carrega muito bem a história e entretém, conforme mergulhamos na fase final deste quarto ano da série.

Avaliação

Citações

“I heard we had Starfleet guests, so I just had to scurry like a spider cow to welcome you.”
(Ouvi que tínhamos convidados da Frota Estelar, então tive de correr como uma vaca-aranha para recebê-los.)
Haz Mazaro

Trivia

  • Este episódio abriu a exibição da segunda bateria de episódios da quarta temporada.
  • O título “All In” é uma expressão envolvida em jogatina, significando o ato de apostar tudo que tem, e é dita ao longo do episódio por Owosekun, Burnham e Book.
  • Sean Cochran faz parte da equipe de roteiros de Discovery desde a primeira temporada, e este é seu quarto episódio na série, primeiro nesta temporada. Curiosamente, o pai dele é um especialista em pôquer, o que facilitou a inclusão de referências fiéis no episódio.
  • O cenário do cassino de Haz Mazaro é uma impressionante redecoração do set criado para a estação espacial no episódio de abertura da temporada, “Kobayashi Maru”.
  • Este é o primeiro episódio em live-action de Star Trek a ter dois diretores creditados (embora já tenhamos segmentos com contribuições de mais de um diretor no passado). Christopher J. Byrne, que trabalhou como diretor de segunda unidade da série na primeira temporada, assina sua quarta direção em Discovery, e Jen McGowan, sua primeira.
  • O almirante Vance cita a classe Eisenberg de naves estelares, canonizando a homenagem ao ator Aron Eisenberg, que viveu Nog em Deep Space Nine.
  • Isolínio é uma nova substância na franquia, mas armas isolíticas já haviam sido mencionadas em Jornada nas Estrelas: Insurreição.
  • O planeta Porathia, que abriga a Barca do Karma de Haz Mazaro, já havia sido mencionado, mas não visto, antes em Discovery, como o local em que a ISS Discovery e sua contraparte trocaram de lugar na primeira temporada.
  • A Discovery agora usa naves auxiliares do século 32. Burnham e Owo voaram na DSC03.
  • O hipercampo da espécie 10-C, com seu raio de 228 milhões de km, é a maior estrutura artificial já vista em Star Trek, superando a esfera Dyson encontrada em “Relics”, de A Nova Geração, com seu raio de 220 milhões de km, e a nuvem de V’ger, de Jornada nas Estrelas: O Filme (isso se você levar em conta a edição do diretor, que reduz seu diâmetro de 82 UA, como figurou na versão do cinema, para mais razoáveis 2 UA; uma unidade astronômica é a distância Terra-Sol, cerca de 150 milhões de km).
  • Os remanescentes da Corrente Esmeralda não têm seus nomes ditos no episódio, mas são creditados como Mat’Trub (Jason Gosbee) e Zakari (Claudia Jurt).
  • Este episódio representa a primeira aparição em live-action de um transformo, a raça de Odo, desde o fim de Deep Space Nine. O próprio Odo, contudo, apareceu como uma recriação de holodeck em “Kobayashi”, episódio da primeira temporada da série animada Prodigy, exibido cinco semanas antes deste.
  • Daniel Kash (Haz) já apareceu antes em Discovery como Duggan, em “Terra Firma, Part 2”, da terceira temporada.
  • Entre as várias citações que Haz faz, ele menciona a vaca-aranha de “Second Contact” (Lower Decks), Armus de “Skin of Evil” (A Nova Geração) e a Horta de “The Devil in the Dark” (Série Clássica).
  • Boronita é um elemento ultrarraro que pode servir de catalisador para a produção das moléculas ômega, mencionadas em “The Omega Directive”, de Voyager.

Ficha Técnica

Escrito por Sean Cochran
Dirigido por Christopher J. Byrne e Jen McGowan

Exibido em 10 de fevereiro de 2022

Título em português: “Tudo em Jogo”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Wilson Cruz como Hugh Culber
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Oded Fehr como Charles Vance
Shawn Doyle como Ruon Tarka
Chelah Horsdal como Laira Rillak
Daniel Kash como Haz Mazaro
Annabelle Wallis como Zora
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Michael Chan como oficial de operações do HQ
Daniel DeSanto como agente de Kurr
Jason Gosbee como Mat’trub
Emmanuel John como segurança do HQ
Claudia Jurt como Zakari
Jeff Kassel como árbitro
Nabel Khatib como cara fortão
Warren Scherer como Kurr
Oksana Sirju como caixa

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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