Descompassado e protelador, episódio coloca babá para cuidar de Burnham
Sinopse
Data estelar: Desconhecida
A Frota Estelar dá ordens para que a Discovery vá até Book e o impeça de usar a arma isolítica de Tarka contra a anomalia. Vance diz ter convencido a presidente Rillak de que Burnham é a pessoa certa para a missão, a despeito de seu vínculo com Book, mas tem de fazer uma concessão: a comandante Nhan irá a bordo, com autoridade para cumprir a missão à revelia de Michael caso ela hesite.
Na nave, Saru está perturbado pelos eventos recentes e conversa com T’Rina, via holografia, solicitando ajuda com meditação. Ela acaba convidando-o para uma refeição – um encontro – quando for possível.
A Discovery se camufla e salta para o planetoide errante onde Book e Tarka estão escondidos, construindo a arma isolítica. Burnham instrui Saru a comandar um grupo avançado que tentará abordar o veículo de Book via nave auxiliar camuflada. A bordo, Rhys, Bryce e Culber. O plano é dissuadir Book e, só em último caso, usar fêiseres em tonteio para rendê-los.
A nave auxiliar consegue atracar, mas um sistema de defesa de matéria programável instalado por Tarka, sem conhecimento de Book, começa a destruí-la. O quarteto é transportado de volta no exato momento em que o casco cede. Book, então, salta com sua nave para a anomalia. Nhan conferencia de forma privada com Burnham e Saru e comunica que a nave de Book, equipada com o protótipo do novo motor de esporos, tem uma vulnerabilidade e pode ser destruída com um tiro certeiro. Burnham argumenta que ainda se pode chegar a um meio-termo com ele, sem precisar sacrificar sua nave, suas vidas e o protótipo da Frota Estelar. Nhan relutantemente concorda. Burnham coloca Stamets para investigar quanta boronita ainda há na região da anomalia, o que daria uma previsão de quanto tempo ela permaneceria no mesmo local, sem ameaçar mundos habitados.
A Discovery, então, salta para o interior da anomalia – uma região relativamente tranquila, cercada de nuvens gasosas – e inicia a busca pela área central, onde estaria seu controlador. Ela o encontra antes de Book, o que inicia um jogo de gato e rato para imobilizar um ao outro e agir para proteger ou atacar a região do controlador. Após trocas de tiros e uma tentativa deliberada de Tarka de destruir a Discovery, Burnham está ficando sem opções – até Stamets concluir os cálculos e estimar que a anomalia deve permanecer parada por 154 horas, praticamente uma semana.
Burnham parte numa nave auxiliar e deixa a Discovery sob o comando de Saru, sob ordens de obedecer a Nhan caso ela ordene um disparo fatal contra a nave de Book. Ela se alinha à frente da nave de Book e faz um apelo, explicando que a anomalia permanecerá por lá mais 154 horas. Ela sugere um meio-termo em que, nessas 154 horas, a Federação tentará o primeiro contato e, caso não obtenha resultados, todos seguirão com o plano de atacar a anomalia. Book cede, mas Tarka está inconformado. Ele diz que planeja isso há dez anos e precisa da fonte de força do controlador da anomalia. Enquanto a tripulação da Discovery celebra o sucesso diplomático, Tarka transporta a arma isolítica para o controlador. Incapazes de impedir a detonação, a Discovery e a nave de Book saltam para longe.
A anomalia é destruída, mas, para a frustração de Tarka, o controlador fica do outro lado do buraco de minhoca e não pôde ser resgatado. A Discovery volta ao Quartel-General da Federação, onde preparativos se aceleram para a missão de primeiro contato, agora mais urgente do que nunca. Saru consulta Culber sobre seu possível encontro com T’Rina, e Nhan deixa a nave, manifestando seu desejo de voltar a servir a bordo futuramente.
Então, chegam observações da USS Mitchell, nave que patrulha a região onde a anomalia estava. Aparentemente, uma nova anomalia reapareceu lá, como se nada tivesse acontecido, e retomou a mineração de boronita…
Comentários
“Rubicon” é o segundo episódio seguido a cobrir o drama “Michael precisa perseguir e apreender Book” e, diferentemente de seu predecessor, não tem diversão suficiente para se sustentar. É tudo muito uniforme, muito monótono, sem grandes reviravoltas ou novidades, até Tarka se revelar definitivamente como um antagonista e detonar a anomalia à revelia de Book – e nem isso podemos ponderar como grande mudança, já que uma outra aparece quase imediatamente para tomar seu lugar.
Como todo o arco “Michael atrás de Book” é por si mesmo um protelador da investigação que nos levará à espécie 10-C, o resultado é bastante frustrante. E o pior é a sensação que não precisava ter sido. E quem sai especialmente ferida do segmento é Michael Burnham, que teve uma comandante colocada a bordo para lhe servir de babá (Super Nhanny?).
O retorno de Nhan à série é muito bem-vindo, e o encaixe dela na trama, baseado no histórico da série, é perfeito. Na segunda temporada, quando era preciso sacrificar Airiam, Burnham hesitou, e coube a Nhan fazer o que deveria ser feito. O inacreditável é que isso não tenha sido explorado de forma potente aqui. Esse elemento deveria ter sido trazido à tona com proeminência, e haveria mais drama para ser minado se Vance houvesse mandado Nhan, com anuência de Saru, para sua missão de “supervisão” de forma clandestina, sem o conhecimento de Burnham.
(Aliás, não dá para entender como uma capitão de nave estelar, ainda que recém-promovida, como Michael Burnham, precise ter uma comandante, hierarquicamente inferior, como supervisora. Ela não deveria ter aceitado, e a audiência decerto também não.)
Se o desejo fosse não usar Nhan como agente clandestina, um pouco mais sensato (mas não muito melhor para Michael) teria sido Vance assumir temporariamente o comando. De toda forma, ou a Frota Estelar confia em seu capitão para fazer um serviço ou não confia. A “confiança com supervisão” é algo que sabota completamente a noção de hierarquia a bordo. Como a tripulação vai ver o fato de que sua capitão tem uma babá? É uma escolha muito infeliz dos roteiristas, que prejudica a imagem de Burnham.
Não bastasse isso, é impossível ignorar o fato de que a missão foi um total fracasso. Se realmente detonar a anomalia produzisse uma reação furiosa e fatal da espécie 10-C, era isso que a Federação teria para enfrentar agora – “a guerra que não podemos vencer” do almirante Vance. Onde estava a presidente ao final do segmento para despejar impropérios furiosos sobre Michael de novo? Esse poderia ter sido o fim da Federação, com consequências inimagináveis, e acabou sendo tratado como “ah, que pena, melhor sorte na próxima”.
Desde “Kobayashi Maru”, a mensagem telegrafada é a de que Michael Burnham precisa aprender o valor do sacrifício. Ela não pode salvar todo mundo sempre. E esta história foi configurada como o desfecho perfeito deste arco – se ela tivesse tido que abandonar Book e destruí-lo. Ou, ainda que os dois pudessem entrar em acordo, Book teria de pagar o preço final nas mãos de Tarka, que efetivamente o trai para atingir seus próprios objetivos.
Nada disso acontece. Talvez por querer preservar Book na série, talvez para que esse fechamento de arco ainda venha adiante, mas o fato é que deixa “Rubicon” manco.
O episódio parece claustrofóbico, as sequências espaciais até são bonitas, mas não fazem o serviço que deveriam – introduzir a adrenalina de uma batalha espacial. Tudo parece mais um suave balé, valorizado pelo paralelismo de ações e reações de Michael e Book (não há dúvida de que a relação pessoal dos dois é maravilhosa e isso aparece aqui de novo), mas em última análise, melhor no papel do que na execução. Passa a sensação de mais um episódio que se esforça muito para economizar (algo que deve se justificar no gasto extra que fatalmente terá o desfecho da temporada, mas nada faz para ajudar o presente segmento).
Até mesmo a trama B, o romance adolescente de Saru, parece completamente fora de lugar, embora tematicamente ligado à trama A – ambas falam sobre gestão de risco e a busca por meios-termos. Doug Jones é particularmente encantador em sua cena final com Wilson Cruz, mas não tem nada que salve o fato de que estão falando de namorinho no meio do apocalipse. É difícil acompanhar as batidas emocionais, e terminamos com uma sensação de um segmento desconjuntado, que poderia ter sido os dez minutos finais do episódio anterior, não fosse a necessidade de esticar o arco da temporada por 13 episódios. Por sua falta de substância e seu desserviço a alguns personagens, em particular Burnham, “Rubicon” é o pior episódio da temporada e possivelmente da série toda.
Avaliação
Citações
“In times of division, we identify that upon which we can agree. A shared goal, perhaps, that can lead to compromise.”
(Em tempos de divisão, podemos identificar com que podemos concordar. Uma meta partilhada, talvez, possa levar a um meio-termo.)
Saru
Trivia
- O título deste episódio se refere ao rio Rubicão, no norte da Itália. Júlio César, então comandante de tropas, era proibido de cruzar esse rio com seus soldados em direção a Roma, o que seria visto como tentativa de tomar o poder (o que ele fez em 49 a.C.). Em razão disso, “cruzar o Rubicão” é uma expressão usada para designar o ponto de não retorno.
- Esse é o quinto episódio escrito por Alan McElroy, que se juntou à série na segunda temporada, e a primeira oportunidade na direção para Andi Armaganian, que trabalhou duas décadas em edição e agora está dirigindo. Além de Discovery, ela trabalhou na primeira temporada de Strange New Worlds.
- Rachael Ancheril volta como a comandante Nhan, papel que ela viveu nas temporadas 2 e 3.
- Jett Reno foi mencionada, mas não apareceu neste episódio. Em razão da pandemia, a atriz Tig Notaro teve poucas oportunidades de ir ao set em Toronto durante a quarta temporada, o que explica sua pequena presença.
- Pela segunda vez nesta temporada, Burnham usa seu bordão “Let’s fly”/”Vamos voar”.
- A hipótese da utilidade esperada mencionada por Tarka é um conceito real usado em economia desde o século 18.
- A USS Mitchell é mencionada neste episódio, possivelmente uma referência a Gary Mitchell, o oficial da Enterprise vitimado pelo encontro com a barreira galáctica em “Where No Man Has Gone Before”, da Série Clássica.
Ficha Técnica
Escrito por Alan McElroy
Dirigido por Andi Armaganian
Exibido em 17 de fevereiro de 2022
Título em português: “Rubicão”
Elenco
Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
David Ajala como Cleveland “Book” Booker
Elenco convidado
Oded Fehr como Charles Vance
Rachael Ancheril como Nhan
Shawn Doyle como Ruon Tarka
Tara Rosling como T’Rina
Annabelle Wallis como Zora
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe, Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Piotr Michael como computador da nave auxiliar
Fabio Tassone como computador da nave de Book
TB ao Vivo
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria