VOY 3×05: False Profits

Em história fraca, a Voyager perde sua melhor chance de voltar para casa

Sinopse

Data estelar: 50074.3

Depois de detectar um “buraco de verme” (ou fenda espacial) instável em um sistema solar próximo, os sensores da Voyager encontram algo ainda mais estranho: evidências de que um replicador do Quadrante Alfa está sendo usado em um dos planetas. Janeway envia Paris e Chakotay para o planeta Takar para investigar, e eles encontram uma dupla de ferengis sendo adorada como deuses pelos nativos por causa de sua avançada tecnologia.

Quando retornam à nave, Paris e Chakotay descobrem que os vigaristas ferengis, Koll e Arridor, chegaram ao Quadrante Delta sete anos antes, vítimas de uma tentativa de tomar posse de uma anomalia pouco segura. Sem meios de voltar para casa, eles se estabeleceram no planeta primitivo e tiraram proveito de um mito local que previa a chegada de “seres sagrados”. Descontente com a exploração daquela sociedade, Janeway traz os ferengis a bordo. Contudo, ela os manda de volta quando eles a convencem do caos que o desaparecimento deles causaria no planeta.

Apelando aos truques, Janeway manda Neelix ao planeta disfarçado de ferengi para informar a dupla de que eles estão sendo convocados por seu líder, o grande nagus. O plano vai por água abaixo quando os ferengis decidem que seria preferível matar Neelix a abrir mão dos lucros. Para se salvar, Neelix confessa sua verdadeira identidade. Mais uma vez, parece que os ferengis venceram.

Só resta uma cartada para a tripulação. Lembrando-se das profecias míticas de que os deuses irão embora em “asas de fogo” após a chegada de um peregrino sagrado, Neelix diz ser o enviado. A tripulação dispara três explosões de torpedos para tornar verdadeira uma passagem da profecia, que dizia que os deuses desaparecerão quando três estrelas novas aparecerem no céu.

Logo quando os esforços da tripulação para atrair a anomalia dão sucesso, a capitão transporta Kol e Arridor a bordo. Mas, antes que a nave consiga atravessar o fenômeno para chegar ao Quadrante Alfa, os ferengis se transportam para sua nave auxiliar e são atirados anomalia adentro, desestabilizando-a antes que a Voyager possa seguir. Janeway e seus oficiais livram os takarianos, mas perdem outra chance de voltar para casa instantaneamente.

Comentários

O episódio começa com uma premissa aparentemente muito boa. Os roteiristas retomam um evento mostrado sete anos antes, em “The Price”, durante o terceiro ano de A Nova Geração. Os atores convidados são os mesmos, o que garante a continuidade da história.

A proposta antropológica no qual se sustenta o enredo é interessante, pois há uma ligeira modificação com relação ao que se costuma esperar dos episódios do estilo Eram os Deuses Astronautas?. Normalmente, é de se esperar que a chegada dos alienígenas a um planeta tecnologicamente inferior desperte nos nativos novas lendas, mitos e religiões. Aqui, acontece diferente: a chegada dos ferengis não cria uma nova religião, mas se encaixa perfeitamente nas profecias locais, causando um impacto na cultura local bem menor do que poderia ter sido.

O segmento mostra o quanto profecias podem ser frágeis e manipuladoras. Não é à toa que muita gente explica os acertos de Michel de Nostradamus com a capacidade de retorcermos a interpretação de suas profecias para que elas se encaixem aos fatos estabelecidos. Aqui, temos uma visão do que isso pode ocasionar, em uma metáfora mais intensa e grosseira.

Tirando essa questão filosófica, vale a pena falar de outros dois pontos altos na história; a atuação do elenco e o humor, presente em qualquer roteiro que envolva os ferengis. Neelix fez um ótimo grande proxy, ou grande procurador. Vale lembrar que Ethan Phillips já havia interpretado um ferengi anos antes.

Mas, quanto ao resto, o episódio é muito problemático. Em primeiro lugar, a semelhança dos takarianos com a raça humana. Isso dispensa comentários. Depois entra — de novo — a questão da Primeira Diretriz. Se a capitão devolveu os ferengis à superfície para não causar impacto na cultura local, por que entrou em contato com eles para início de conversa? E, já que queria tirá-los de lá e não está mais tão cegamente presa aos regulamentos, por que não os transportou diretamente para a cela e seguiu caminho?

A explicação está no bom e velho “para salvar a espécie nativa”. Só que esse gesto de generosidade comprometeu mais uma vez a missão primária da Voyager, que é voltar para casa. Sinceramente, o modo como Janeway e o resto da tripulação lidaram com tudo isso deixou muito a desejar, a começar por Neelix. A farsa do mensageiro oficial era uma tática perfeita, até o talaxiano se desesperar e contar toda a verdade aos ferengis. Neelix e todos os outros acabaram sabotando toda a missão.

Depois, veio a ideia ridícula de oficiais de segurança treinados para enfrentar tudo não serem capazes de dar conta de dois ferengis (por acaso, por que Tuvok não se encarregou deles pessoalmente?). Isso, seguido pela fácil fuga da Voyager, sustentada, coincidentemente ou não, pelo não funcionamento dos transportes e do raio trator. Como uma nave auxiliar pode se esquivar de uma das mais avançadas da Frota também é uma pergunta que ninguém sabe responder.

É óbvio que não se esperava um retorno imediato da Voyager para o Quadrante Alfa. É início de temporada, do terceiro ano. Então, introduzir a tal fenda espacial e apresentar um modo de voltar para casa durante 44 dos 45 minutos do episódio é um desperdício, pois todos já sabem que aquilo não vai dar certo.

De certa forma, esse é sempre o problema quando se apresenta à Voyager uma possibilidade real de voltar para casa; sabemos que não vai dar certo. Os roteiristas deviam, portanto, abandonar essas “possibilidades” enquanto premissas de histórias. Toda vez que eles o fazem, é impossível evitar decepções.

Outra questão a ser debatida aqui é o perigo, para a série, de trazer elementos já familiares ao público. O risco de contaminação ou contradição do que já foi estabelecido é muito grande (como veremos mais adiante, com o tratamento dado aos borgs). Felizmente, com relação a isso, neste episódio os roteiristas acertaram tudo direitinho. Se “False Profits” não é um episódio particularmente interessante para Voyager, é uma boa conclusão para a aparição dos ferengis em “The Price”.

Avaliação

Citações

“I am the Holy Pilgrim and I’ve come to tell you there’s another verse to the song. It’s…’Please don’t burn the holy ones’.”
“I’m sorry, Holy Pilgrim, but that’s not part of the song.”
(Eu sou o peregrino sagrado e vim para dizer que há mais um verso na canção. É… ‘Por favor, não queimem os sagrados’.)
(“Me desculpe, peregrino sagrado, mas isso não faz parte da canção.”)
Neelix e Kafar

Trivia

  • Os dois ferengis desse episódio apareceram pela primeira vez em “The Price”, episódio do terceiro ano de A Nova Geração.
  • Joe Menosky escreveu o roteiro de “False Profits” enquanto estava na Europa e antes de entrar no staff de Voyager para a terceira temporada.
  • Aqui fica definido que o grande proxy, ou grande procurador, é o representante oficial do grande nagus, o líder dos ferengis.
  • Uma nave auxiliar é destruída neste episódio. A última vez em que isso aconteceu foi em “Innocence”, episódio do segundo ano. Agora somente em “Coda”, ainda no terceiro ano, veremos isso acontecer novamente.
  • Três torpedos são lançados aqui pela USS Voyager. Isso deixaria a nave, em teoria, com apenas mais 25 para se defender.
  • Alan Altshuld interpretou no passado Pomet, um sequestrador, em “Starship Mine” e Yranac, um yridiano, no episódio “Gambit, Part I”, ambos de A Nova Geração.
  • Michael Ensign interpretou anteriormente Krola, o ministro de segurança interna, no episódio “First Contact”, de A Nova Geração, e o embaixador vulcano Lojal em “The Forsaken” (Deep Space Nine).
  • Rob LaBelle interpretou o prisioneiro talaxiano de “Faces” (Voyager).

Ficha Técnica

História de George A. Brozak
Roteiro de Joe Menosky
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 02 de outubro de 1996

Título em português: “Falsos Profetas”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Dan Shor como Arridor
Leslie Jordan como Koll
Michael Ensign como Bard
Rob LaBelle como Kafar
Alan Altshuld como artesão

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Edição de Stéphanie Cristina
Revisão de Nívea Doria

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