Detour em forma de déjà vu traz descendentes da NX-01
Sinopse
Data: Desconhecida
No que se preparam para entrarem no corredor subespacial que Degra os instruiu a utilizar para chegarem a tempo à reunião do Conselho Xindi, Archer e sua tripulação têm que considerar outro problema além da espécie que controla o corredor, os kovaalanos. No caso, uma outra nave da Frota se aproxima da Enterprise, e da classe NX. Especulações a respeito se poderia se tratar da NX-02 Columbia são rapidamente colocadas de lado após eles detectarem que aquela nave é, nada mais, nada menos do que a própria Enterprise.
O capitão Lorian, dessa outra NX-01, os instrui a alterarem o curso. Após se encontrar com Archer a bordo da Enterprise deste, Lorian o informa que a missão deles não terá sucesso, pois, após Archer levar a Enterprise ao corredor, eles irão voltar no tempo 117 anos, sendo esta a “origem” desta Enterprise que Lorian comanda. Eles têm estado na Expansão Délfica por todo esse tempo e estão ali naquele momento para impedirem que isso ocorra novamente, pois a intenção original deles, de destruir a sonda xindi original, não teve sucesso. Assim, o que Lorian decidiu fazer é providenciar para que Archer consiga de fato chegar até a reunião com o Conselho Xindi. Para isso, eles pretendem implantar algumas modificações na Enterprise atual para que esta possa manter altas velocidades de dobra além da capacidade nominal da nave e, então, não precisarem usar o corredor subespacial. Archer demonstra estar reticente em acreditar em toda aquela história, mas Lorian pede para Phlox confirmar a sua identidade e a de sua primeiro oficial, Karyn Archer — no caso, bisneta de Archer, sendo que Lorian é filho de T’Pol e Trip. Isso feito, Archer decide seguir as recomendações de Lorian.
Enquanto as tripulações trabalham, acontece boa interação entre ambos os grupos, com a esperada troca de informações sobre quem-fica-com-quem; Trip também gosta de interagir com seu filho meio-vulcano, da mesma maneira que Archer com sua bisneta (ele se casaria com uma alien que resgatariam anos antes), enquanto Mayweather descobre que ficaria com a cabo McKenzie, dos MACO, enquanto Reed descobre que iria continuar solteiro, enquanto Phlox teve bastante filhos. Archer também é convidado por Karyn a conhecer a idosa T’Pol, que depois de anos de convivência com humanos, demonstra muita felicidade em poder rever seu antigo capitão e pede para Archer entregar um padd para a sua jovem contraparte.
A informação no padd é importante, e Archer é informado pela jovem T’Pol que a sua versão idosa não acredita que o plano de Lorian irá funcionar, pois encontrou problemas nos cálculos matemáticos dele a respeito das modificações, o que poderia resultar na destruição da nave. No lugar, a idosa T’Pol acredita que modificações diferentes poderiam fazer com que a Enterprise conseguisse utilizar o corredor subespacial sem ser arremessada ao passado. Archer confronta Lorian a respeito destas informações e diz que seguirão as recomendações de T’Pol. Lorian faz objeção a isso e, secretamente, cria uma alternativa para que a Enterprise consiga ir até o encontro com o Conselho. Archer, contudo, acaba descobrindo a agenda de intenções de Lorian, e, invariavelmente, ambas as Enterprise se engajam em combate. Karyn, contudo, consegue demonstrar para Lorian o absurdo da situação em que acabaram se metendo, com eles tendo que lutar contra sua própria família passada.
Archer se encontra novamente com Lorian, e este lhe explica que se preparou a vida inteira para impedir o ataque original xindi, mas não conseguiu tomar a decisão de usar a única opção que lhe restava para conseguir esse feito, que teria sido colocar a Enterprise em rota de colisão com a sonda xindi, o que possibilitou a sonda atacar a Terra. Archer afirma que compreende a situação, que eles precisam se focar agora em conseguirem fazer com que viagem seguros pelo corredor subespacial para conseguir prosseguir com a missão e que precisam trabalhar juntos para isso. Com os esforços retomados, T’Pol acaba finalmente encontrando sua idosa contraparte, a qual afirma para a jovem que os efeitos emocionais do uso do trellium jamais irão passar completamente, e que Trip pode a ajudar a lidar com isso.
Com as modificações completas, as naves se aventuram no corredor, com a Enterprise de Lorian servindo de reflexo para a de Archer, de modo a oferecer cobertura contra os ataques que os kovaalanos lançam contra eles assim que entram no corredor. Assim que a Enterprise consegue com sucesso passar pelo corredor, eles não têm mais notícias da Enterprise de Lorian. T’Pol acredita que eles não sobreviveram à batalha, mas Archer especula que, como eles conseguiram passar com sucesso pelo corredor, aquela Enterprise nunca teria existido em primeiro lugar, uma vez que a história foi modificada, o que ainda assim não explica o fato de que odos eles ainda terem as memórias sobre Lorian e sua tripulação alternativa.
Comentários
“E²” tem ecos muito fortes de outro episódio de Jornada nas Estrelas: “Children of Time”, de Deep Space Nine. Se isso não é o suficiente para qualificá-lo como um mau episódio, ao menos cria um incômodo senso de déjà vu. Uma pena, pois não fosse essa repetição de premissa, “E²” poderia ser um dos segmentos mais interessantes da temporada.
No estilo típico de Brannon Braga, o enredo todo é baseado num “high-concept” — a Enterprise encontra a si mesma, ocupada por uma tripulação de descendentes de Archer e cia. Liderados por Lorian, eles contam que a NX-01 foi atirada no passado por conta da decisão do capitão de atravessar o corredor subespacial indicado por Degra. Mais de cem anos depois, seus descendentes estão lá para impedir que Archer cometa o erro mais uma vez.
Para quem não se lembra, ou não viu, “Children of Time” conta mais ou menos a mesma coisa. Naquele caso, a Defiant chega a um planeta e, ao atravessar uma determinada barreira de energia que envolve aquele mundo, ela contata um grupo de colonos que supostamente seriam descendentes de Sisko, Dax, Worf e cia. Eles alertam para o que os criou — uma tentativa posterior de deixar o planeta levou a Defiant de volta à barreira, que atirou a nave no chão e para trás no tempo. Os tripulantes, então, resolveram ocupar aquele mundo e criar a colônia em que eles estão vivendo.
Tanto no caso de Enterprise quanto no de Deep Space Nine, como não poderia deixar de ser, os “descendentes” não estão sendo totalmente honestos com os tripulantes da Frota Estelar. No caso do século 24, eles na verdade tentavam induzir a Defiant a voltar no tempo e garantir a existência deles; no caso do século 22, a motivação é mais nobre: Lorian e seus comandados querem impedir que a NX-01 cometa o mesmo erro e volte no tempo, o que a impediria de concluir sua missão de salvar a Terra.
De toda maneira, o paralelismo é muito grande para passar despercebido. E, como no caso de DS9, o que mais se destaca aqui não é a história em si — apenas um enredo conveniente à execução do “high-concept” –, mas os potenciais desdobramentos de personagens. É no mínimo interessante travar contato com Lorian, filho de T’Pol e Tucker, e ver sua interação com seus pais. E T’Pol, em dose dupla (ela é a única sobrevivente da antiga tripulação da “outra” Enterprise), tem um papel crucial no episódio.
É até irônico que um “high-concept” sirva única e exclusivamente para desenvolver os personagens, mas é exatamente o que acontece aqui. Descobrimos que T’Pol está condenada a viver sem o controle total de suas emoções (efeito irreparável de seu vício por trellium) e que Trip pode ter um papel pessoal importante em sua vida. O engenheiro-chefe, que, além de estar apaixonado, é humano, abraça com facilidade esse potencial futuro, em que a vulcana e ele estão juntos e têm um filho, mas T’Pol prefere pensar que as coisas não necessariamente serão assim. De toda forma, a tensão produzida é o mais interessante disso tudo.
Trip também tem uma interação interessante com Lorian, que em tese seria seu filho, mas na verdade o engenheiro o vê como uma lembrança de seu próprio pai. A dinâmica é reforçada (e colocada à prova) quando Lorian decide roubar os injetores da Enterprise e acaba sendo obrigado a tontear Tucker na engenharia.
Hoshi, Mayweather e Malcolm têm um momento especial, em que comentam seu “futuro” na “outra” Enterprise e Reed acaba revelando que ele nunca se casou. O fato de que, ao final da cena, ele puxa uma cadeira para uma tripulante desacompanhada, tentando mudar seu “destino”, arranca risos. Phlox passa totalmente despercebido (a referência de que muitos dos atuais tripulantes “descendem” dele não é suficiente para caracterizar desenvolvimento de personagem). E, curiosamente, Archer não é bem aproveitado.
Embora ele tenha deixado descendentes, sua relação com sua bisneta é pouco relevante, fria e desinteressante. Certamente a presença dela poderia ter ajudado mais, não só para confrontar Lorian e sua decisão de impedir a todo custo que a NX-01 de Archer entrasse no corredor, mas também para ajudar o capitão a tomar a decisão certa. Faltou interação entre os dois.
No fim, apesar da qualidade e dos efeitos especiais, não se pode negar que “E²” é mais um detour do que qualquer outra coisa: um episódio supérfluo no contexto do arco e que poderia muito bem ter sido suprimido. Ainda assim, ele introduz o que seria a reta final da saga xindi, a três episódios do fim da temporada.
Avaliação
Citações
“It’s real romantic when you put it like that.”
(É bem romântico quando você cita deste jeito.)
Trip
“My father is a resourceful man. he’ll be able to fabricate new injectors.”
(Meu pai é um homem habilidoso. Ele será capaz de fabricar novos injetores.)
Lorian
“You mission is over Captain, it was the only logical decision.”
(Sua missão acabou, capitão, era a única decisão lógica.)
Lorian
“Trip can be an outlet for these emotions.”
(Trip pode ser um escape para essas emoções.)
T’Pol
Trivia
- A produção do episódio se estendeu de 3 a 11 de fevereiro, incluindo filmagens em uma segunda unidade no dia 13. A fotografia principal incluiu cenas na segunda nave, além da própria NX-01 original e a nave de Degra.
- De acordo com Mike Sussman, escritor de “E²”, o nome Lorian é uma homenagem a floresta Lórien do livro Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, de J.R.R. Tolkien.
- O colete vestido por Lorian foi usado anteriormente por Jake Sisko na temporada final de Star Trek: Deep Space Nine.
Ficha Técnica
Escrito por Michael Sussman
Dirigido por Roxann Dawson
Exibido em 5 de maio de 2004
Títulos em português: “Enterprise 2”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
David Andrews como Lorian
Randy Oglesby como Degra
Tucker Smallwood como xindi-humanoide
Rick Worthy como xindi-arbóreo
Tess Lina como Karyn Archer
Tom Schanley como Greer
Steve Truitt como tripulante 1
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria