DSC 4×06: Stormy Weather

Um bottle show com pouca história, mas importantes desenvolvimentos

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Em seu deslocamento, a anomalia deixou para trás uma fenda subespacial, e a USS Discovery recebe autorização para ir até lá e investigar, na esperança de descobrir quem poderia estar por trás do fenômeno. Ao penetrar a fissura, contudo, a nave se vê em um vazio completo, sem qualquer leitura de sensores.

A primeira atitude de Burnham é enviar um DOT como sonda, mas ele é consumido por uma força misteriosa e acaba completamente destruído, após 10,3 segundos. Sem desistir de colher mais informações, surge a opção de disparar um sinalizador. Mas ele some depois de 9,7 segundos, indicando que a divisa que pode destruir a nave está se aproximando.

Diante do perigo, a capitão decide deixar a fenda, mas Detmer não consegue estabelecer um rumo para fora – afinal, não há pontos de referência. Burnham, então, ordena Stamets a realizar um salto pela rede micelial. Book acaba encarregado de fazer a interface com o motor de esporos, enquanto Stamets colhe as informações do salto. Mas a tentativa é malograda, e Book sofre uma sobrecarga misteriosa, que desperta uma alucinação de seu pai morto, Tareckx.

Enquanto isso, no bar, Zora interage com Gray, mas o computador senciente está com dificuldade em processar as informações da nave, perturbada por suas emoções emergentes. Gray propõe um jogo que ajuda a acalmá-la e permite que ela perceba microalterações no casco, no deque 17. Uma brecha está prestes a ser aberta, e a tripulação trabalha para corrigir o problema, mas o alferes Cortez acaba morrendo, ejetado para o espaço.

A solução para o problema está no que aconteceu com Book. Uma análise das partículas que o sobrecarregaram indica uma origem na barreira energética que cerca a Via Láctea. Isso indica não só que os responsáveis pela AME são de fora da galáxia como também pode servir como uma referência para que a nave possa fugir do vazio – seguindo um sinal equivalente a um sonar que explora a presença dessas partículas para indicar o caminho para fora.

O curso é traçado, mas levará mais tempo que a Discovery pode resistir. Surge, então, a opção de manter a tripulação inteira presa no buffer no teletransporte, para ser rematerializada apenas após a nave escapar. Apenas Burnham ficaria a bordo para, com Zora, guiar o processo. A capitão coloca um traje pressurizado, e o sistema de suporte de vida da nave é desligado, desviando toda a potência para a manobra de fuga. Zora sofre com medo paralisante, mas conversar com Burnham a ajuda a seguir no curso, a despeito dos enormes danos à nave. A temperatura na ponte excede os níveis de tolerância para o traje de Burnham, e Zora canta uma música para distraí-la, antes que ela perca a consciência. Cabe ao computador tirar a tripulação do buffer do transporte após a volta ao espaço normal, e Burnham desperta na enfermaria, felizmente bem.

Booker ainda processa seu “encontro” com o pai e o ódio que nutre pelos responsáveis pela anomalia, enquanto a Discovery passa por uma extensa reforma após os danos causados pela viagem pela fenda subespacial.

Comentários

“Stormy Weather” é um episódio tão bem-sucedido quando seu predecessor, “The Examples”, mas por motivos muito diferentes. Enquanto o anterior tinha duas sólidas tramas (ainda que não necessariamente bem executadas), aqui temos quase nenhuma história, mas a realização é soberba. Estamos diante de um clássico bottle show, em que toda trama acontece dentro da Discovery, com uma economia que se estendeu até mesmo aos efeitos visuais, com o conveniente “vazio” no interior da fenda subespacial. E, ainda assim, os personagens carregam muito bem a atenção da audiência, com especial destaque para Zora, que se torna efetivamente um membro do elenco neste episódio.

E do que ele fala? Em essência, de conexão, de raízes e de família. O computador começa a sofrer de ansiedade por seu apego à tripulação. Michael reflete sobre o quanto seu passado familiar, por mais conturbado que seja, moldou quem ela é. E Book tem um estranho contato com o pai perdido – que o questiona por fazer hoje as conexões emocionais que, no passado, por questões éticas, ele se recusou a fazer.

Tudo isso é tratado sem espancar a nossa cara com o tema, o que é muito bom. Um resumo muito sumário do episódio diria: Discovery entra num vazio, após muitos danos consegue sair, trazendo consigo a informação de que os responsáveis pela anomalia de matéria escura têm origem extragaláctica. Por si só, é uma informação muito interessante, que alude ao fato de que quase certamente estamos lidando com algo nunca visto antes. Já tivemos alguns encontros com civilizações extragalácticas em Star Trek, como os kelvans de “By Any Other Name” (Série Clássica) e os nacenes de “Caretaker” (Voyager), mas é improvável que estejamos lidando com algum velho conhecido.

Em termos da narrativa, o segmento lembrou muito “Where Silence Has Lease”, da segunda temporada de A Nova Geração, embora desta vez sem um equivalente de Nagilum, o antagonista daquele episódio. Mas o paralelo nos faz perguntar se tudo isso também não foi uma tentativa de testar/experimentar/atrair uma nave para algum propósito específico. Será?

A revelação e parte da solução do episódio também remetem a elementos importantes da mitologia de Star Trek, como a existência de uma barreira de energia que cerca a Via Láctea (e fez sua primeira aparição em “Where No Man Has Gone Before”, da Série Clássica) e a possibilidade de manter pessoas vivas presas como padrões no buffer do teletransporte (estratégia usada por Scotty para esperar 75 anos por um resgate, como visto no episódio “Relics”, de A Nova Geração). São pequenos detalhes que agregam para a apreciação dos fãs iniciados.

(Há também o que reclamar, pensando ainda no confuso uso do teletransporte portátil: afinal, onde fica o buffer do transporte, na nave ou nas insígnias? Só pode ser na nave. Mas aí qual é a grande vantagem do transporte portátil? Certamente há como resolver essas questões logicamente. Falta só os roteiristas criarem essas regrinhas para si mesmos e, então, as aplicarem consistentemente, sob risco de as coisas mudarem a cada episódio, conforme a conveniência.)

O coração do segmento, contudo, está nos personagens. Michael Burnham mostra sua maturidade como capitão, tomando decisões apropriadas e convidando sua tripulação a oferecer sugestões e alternativas. E sua interação com Zora é fundamental para o sucesso, não só do ponto de vista da história, como também do ponto de vista dramático. O caminho do computador até a senciência vem sendo bem explorado pela série e, aqui, atinge um ponto de virada: as novas emoções estão dificultando que Zora possa executar suas funções adequadamente. Cabe a Michael estabelecer uma conexão empática com Zora para que todos possam sobreviver.

Também vale destacar as ótimas cenas entre Gray e Zora. O personagem pela primeira vez ganha agência própria, depois de deixar de ser o “fantasminha camarada” de Adira, mostrando-se importante sem que isso seja engendrado de uma forma artificial.

Igualmente interessante é o “encontro” de Book com seu pai, Tareckx. É mais um elemento que ajuda a entender a história pregressa do personagem, em um momento tão difícil de sua vida, em que qualquer reconciliação familiar já não é mais possível. E, claro, nos provoca a pensar se não há mais por trás desse evento. Poderia ter alguma relação mais direta com os construtores da anomalia? Uma forma de comunicação? Apenas um acidente à la Gary Mitchell? Parece improvável que seja mera “encheção de linguiça” do episódio.

Por falar nisso, mais uma vez Jonathan Frakes merece ser festejado por seus talentos como diretor. Seu domínio dos cenários de Discovery consegue evitar um visual enfadonho mesmo passando muito tempo na ponte. E as cenas dramáticas dos danos à nave e o centro de comando em chamas são muito efetivas, contrastando com o “lança-chamas automático” usado nos primeiros episódios da temporada. Um alívio ver que o pessoal na produção também percebeu que o resultado lá não ficou tão legal.

E para quem gosta de ver mais do pessoal da ponte, todos eles tiveram algo a contribuir neste segmento. Não é muito, mas pelo menos ajudou naquela dinâmica de “solução de problemas” típica de Star Trek. Até a Nilsson teve um punhado de falas! Só ficou meio esquisita aquela conversinha da Owo com o Saru antes de irem para o buffer do transporte. Fora do tempo e meio sem pé nem cabeça. Como aliás, boa parte da tecnobaboseira do episódio. Mas isso não trouxe grande penalidade, uma vez que ele claramente não escorava nisso. Seu sucesso vem muito mais das boas atuações, da evolução dos personagens e da introdução de mais um ingrediente ao mistério da anomalia.

Avaliação

Citações

“I’ve been thinking a lot about family, how the past is so much of the present. How even when someone is gone, we remain connected to them. Our memories, our feelings, it’s like they’re still here, with us. In some way.”
(Tenho pensado muito sobre família, como o passado é tanto do presente. Como mesmo quando alguém se vai, nos mantemos conectados a eles. Nossas memórias, nossos sentimentos, é como se eles estivessem aqui, com a gente. De algum modo.)
Michael Burnham

Trivia

  • “Stormy Weather” tem o mesmo nome da música que Zora canta para Burnham. Composta em 1933, ela deu nome a um filme musical em 1943 estrelado por Lena Horne, que também lançou um álbum chamado Stormy Weather em 1957. Lena Horne é avó de Jenny Lumet, produtora executiva de Discovery.
  • Este foi o sétimo episódio dirigido por Jonathan Frakes em Discovery e o vigésimo sexto crédito de direção dele na franquia, incluindo dois filmes.
  • Anne Cofell Saunders recebe seu quarto crédito de roteiro em Discovery, e o segundo nesta temporada, após “Anomaly”. Já Brandon Schultz assina pela terceira vez um episódio da série, depois de se juntar à equipe como assistente dos roteiristas na primeira temporada.
  • Saru menciona encontros anteriores da Frota Estelar com fendas subespaciais, citando a USS Enterprise e a USS Voyager. Possivelmente são referências aos episódios “Force of Nature”, de A Nova Geração, e “The Omega Directive”, de Voyager. Mas também podem ser episódios mais recentes, ligados a outras encarnações dessas naves, talvez até mesmo no século 32.
  • A referência à sobrevivência de longo prazo como um padrão no buffer transporte é quase certamente uma menção a Montgomery Scott, que usou a mesma técnica para sobreviver após a queda da USS Jenolan em uma esfera Dyson, em “Relics”, de A Nova Geração.
  • Este episódio faz a primeira menção à barreira galáctica desde a Série Clássica. Ela foi introduzida em “Where No Man Has Gone Before” e sua última menção também havia sido naquela série, em “Is There in Truth no Beauty?”.
  • Zora indica que escolheu o próprio nome, que significa “alvorada” ou “novo dia” em algumas culturas da Terra, Ba’ku e Ni’Var. Gray também revela ter escolhido seu próprio nome.
  • O padrão holográfico que representa Zora lembra o que foi visto em “Calypso”, de Short Treks. Ela se apresenta à tripulação com esse novo holograma e diz: “Hello”. É uma possível homenagem ao computador Apple Macintosh, que usou “Hello” como parte de sua campanha introdutória.
  • Jonathan Frakes destacou a similaridade entre o que acontece a Zora e as histórias que eram contadas com Data. “Tem muito do Data, não? A aspiração a ter senciência e a aspiração a ter emoções humanas… conforme a senciência e personalidade de Zora são reveladas, ao longo da temporada, acho intrigante que os outros personagens na série tratem Zora com respeito e um certo nível de polidez e civilidade que normalmente não se vê ao falarem com a Siri ou um computador ou a Alexa. Acho que é muito inteligente o que está acontecendo com a Zora, francamente.”
  • O diretor revelou que trouxe uma atriz para o estúdio, a canadense Robinne Fanfair, para atuar como Zora no local. Sua atuação depois foi substituída pela da atriz Annabelle Wallis, que já vive o papel, como voz, desde “Calypso”.

Ficha Técnica

Escrito por Anne Cofell Saunders & Brandon Schultz
Dirigido por Jonathan Frakes

Exibido em 23 de dezembro de 2021

Título em português: “Tempestade”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Doug Jones como Saru
Anthony Rapp como Paul Stamets
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Annabelle Wallis como Zora
Ian Alexander como Gray Tal
Rothaford Gray como Tareckx
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Sara Mitich como Nilsson
Raven Dauda como Tracy Pollard
Ivan Lopez como Cortez

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Nívea Doria

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