DS9 2×24: The Collaborator

Eleição do novo kai em Bajor: um prato cheio para a major Kira Nerys

Sinopse

Data estelar: Desconhecida 

Faltando apenas dois dias para a eleição do novo kai (líder religioso dos bajorianos), vedek Bareil, o preferido da desaparecida kai Opaka e virtual vencedor do pleito, recebe uma visão dos Profetas que parece sugerir que ele foi o responsável pelo suicídio de Prylar Bek, o monge bajoriano que (segundo conta a história oficial) forneceu a exata localização de uma célula da resistência bajoriana aos cardassianos, resultando na morte de 43 rebeldes, incluindo o próprio filho de Opaka (este evento é conhecido como “massacre do vale Kendra”). Nem mesmo o amor de Kira parece conseguir acalmar a consciência de Bareil.

Vedek Winn também está na estação e se encontra com Bareil e Kira. Logo em seguida, um antigo colaborador bajoriano, o secretário Kubus, é reconhecido e preso por Odo. Winn e Kubus trocam olhares. Pouco depois de Kira apresentar a Kubus a impossibilidade de permitir o retorno dele a Bajor devido a um conhecido dispositivo legal de automático exílio a colaboradores bajorianos da época da ocupação, Odo chama a major para informar que Winn ofereceu santuário a Kubus, após o ex-colaborador ter pedido uma audiência com a vedek.

Kira e Odo descobrem que Winn andou pesquisando sobre o tal “massacre do vale Kendra”. A major não permite que Winn leve Kubus para Bajor em sua nave. A vedek revela a Kira que Kubus resolveu trocar uma informação pela sua anistia. A informação é de que Bareil foi o traidor, não Bek. Bareil teria forçado Bek a fornecer a localização da base rebelde.

Winn oferece a Kira a chance de fazer uma completa investigação sobre o assunto. Enquanto isso, ela promete que não irá tornar público o possível envolvimento de Bareil no “massacre”. Kubus afirma que Bareil veio ver Bek na estação, na noite anterior ao suicídio do monge. Bareil confirma a informação mas não pode revelar a Kira a natureza de sua conversa com Bek, devido à confidencialidade da confissão.

Odo informa Kira de que os registros de todas as comunicações de Bek com a assembleia dos vedeks na semana anterior ao “massacre” foram selados, algo que só um vedek poderia fazer. Quark presta um favor a Kira e Odo e consegue acessar os registros, mas os arquivos foram apagados. O’Brien consegue descobrir a identidade de quem os apagou: vedek Bareil.

Bareil confessa a Kira que ordenou a Bek que desse a informação. Ele trocou a vida de 43 bajorianos pela de 1.200, a população total do vale que seria dizimada se os cardassianos não descobrissem a exata localização da base rebelde. Quando Kira vai informar a Winn sobre sua descoberta, Winn lhe informa que Bareil acaba de desistir de sua candidatura. Kira fica intrigada, sabendo que Bareil não iria simplesmente se esquivar da verdade. Kira e O’Brien voltam a analisar os registros e descobrem toda a verdade.

Kira vai a Bajor no dia em que Winn é eleita a nova kai. Ela confronta Bareil que finalmente admite que foi Opaka a real colaboradora. Ela sacrificou a vida de seu filho e mais 42 membros da resistência para salvar 1.200 civis, enquanto Bareil sacrificou a sua carreira política para preservar a memória de Opaka.

Comentários

A “ocupação bajoriana” é sempre um rico terreno de onde se pode extrair potente drama com fascinantes tons de cinza. Em “The Collaborator” esses “tons de cinza” acabam por tocar mesmo a desaparecida líder religiosa bajoriana, a reverenciada kai Opaka. Com mais uma comovente atuação de Nana Visitor e uma infinitamente acertada decisão de fazer de Winn a nova kai ao final do episódio, o segmento em questão acaba por constituir uma excelente hora de televisão. Saiba mais detalhes, sem precisar colaborar com os cardassianos no processo, nas próximas linhas.

A trama do episódio é bastante convencional: o nobre vedek Bareil vai ser eleito o novo kai bajoriano; Bareil é acusado de ser um colaborador cardassiano e vai ser investigado; as evidências reveladas apontam claramente para a culpa do vedek; ele retira a sua candidatura a Kai, virtualmente assumindo tal culpa e, ao final, o (novamente) nobre Bareil confessa a Kira estar protegendo a memória de kai Opaka (com o bônus extra para a qualidade do episódio, de isto acontecer após a eleição de Winn), a real colaboradora.

Fazendo da acusadora, vedek Winn, a sua maior concorrente a corrida para se tornar kai, e da investigadora, a major Kira, sua namorada realmente apaixonada por ele, só serve para tornar o drama mais interessante. A eleição de Winn, ainda que não surpreendente, foi extremamente acertada, oferecendo inúmeras possibilidades dramáticas interessantes ao longo da série.

O único real problema estrutural do episódio foi relativo à sub-trama envolvendo Kubus. A troca de favores entre Kubus e Winn é absolutamente aceitável (bem como a necessária, mas não descrita, troca de favores de Winn com o governo provisório, para conseguir honrar a sua parte no acordo), porém a falta de fechamento ao final do episódio, em que ficamos sem saber se o ex-secretário recebeu ou não o asilo, é bastante frustrante, emprestando um ar de “mal-acabado” ao episódio.

(Se extrapolarmos sobre a atitude de Winn em relação ao encontro com Sisko, acho que Kubus teve mesmo de voltar -com alguma sorte – para cardássia. O conceito do secretário Kubus foi muito interessante, mas foi utilizado apenas como um dispositivo para fazer a trama funcionar, o que é uma pena.)

As imagens dos Orbs são sempre interessantes, seja por exemplificarem uma característica estilística única da série, seja por oferecerem uma forma consistente de apresentar vislumbres para futuros acontecimentos. A maior parte das imagens apresentadas aqui tem o seu imediato “payoff” no curso do episódio, daí não serem necessários comentários adicionais. Algumas imagens, possivelmente destinadas ao futuro de Bareil, sugerem o uso por ele das táticas de Winn (uma alusão ao veneno da cobra, “cobra=Winn”) e uma sugestão de futura aliança (sugerida pela visão de intimidade) com a agora kai de Bajor.

(Infelizmente nenhuma dessas previsões chegou a ser concretizada de forma muito clara, pois o personagem foi morto durante a terceira temporada. Mais detalhes na época devida.)

Winn, mais hipócrita, manipuladora e condescendente do que nunca, consegue tirar o melhor da situação com Sisko, Kubus, Kira e Bareil. O fato de ela manter a sua palavra e não revelar nada sobre a investigação sobre Bareil, mesmo após a sua eleição como kai, não lhe confere nenhuma nobreza subjacente mas sim uma grande perfeição em fazer o mal.

Fazendo uma comparação, Dukat e Winn parecem representar as duas faces da mesma moeda: o cardassiano distorce em sua cabeça o mundo que o cerca em uma forma que sempre o coloca como uma espécie de herói romântico, enquanto a bajoriana rescreve em sua mente a ética e a moral do universo, colocando-a como modelo de tal ordem de conduta. Ao final, ambos procuram pela mesma coisa, um tal nível de poder que os permita ser “gentis e condescendentes” com seus “súditos”. Uma aliança entre Dukat e Winn finalmente irá surgir no “capítulo final” da série, na sétima temporada.

Kira foi a força motriz do episódio, carregando-o com um incrível senso de dever, ética e nobreza. Com tudo isto aliado a uma inquietação, com a qual qualquer espectador pode se relacionar e simpatizar. A conversa com Kubus, a “conversa” com Odo, a promessa de investigar Bareil feita a Winn, a descoberta da “verdade” sobre Bareil, a descoberta sobre o real envolvimento de Opaka e os “parabéns” à nova kai só comprovam que personagem maravilhoso ela é, correspondendo às nossas expectativas e ao mesmo tempo nos surpreendendo um pouco em cada situação.

A direção de Cliff Bole foi competente, mas não exatamente no mesmo nível das dos últimos esforços da série. Comparando esta com a direção de Kim Friedman em “The Wire”, um episódio com características similares como cenas longas com apenas dois atores e ausência de ação convencional, se observa uma clara desvantagem. As visões do Orb foram excelentes, como usual com qualquer diretor.

O elenco regular esteve todo bastante afinado esta semana, principalmente Shimerman, mas o destaque é obviamente para Nana Visitor. Reparem, por exemplo, na cena em que Kira explica a Kubus que ele não pode voltar a Bajor, um texto bem convencional que ela empresta uma força e, principalmente, uma verdade tremendas. A difícil bater Visitor quanto a emoção e sinceridade.

Dentre os convidados fica o destaque absoluto para Fletcher, com seu semblante doce contraposto aos atos impiedosos e amorais de Winn. Anglim mostra uma performance claudicante. Aparentemente, quando ele de que dar uma “esticada” no personagem, se perde e desestabiliza um pouco a caracterização. Ele parece só funcionar bem com um Bareil totalmente contido. Saviola e os outros convidados fizeram o pedido e nada mais.

É na cena em que Kira diz a Odo que está apaixonada por Bareil, que temos o primeiro momento na série em que percebemos que o comissário tem sentimentos pela major.

A fala de Odo de que em difíceis circunstâncias mesmo os melhores de nós são capazes de coisas terríveis pode ser interpretada tanto como uma referência aos acontecimentos de “Necessary Evil” tanto como um “setup” para a revelação final de Opaka como colaboradora.

A cena entre Quark, Kira e Odo foi simplesmente maravilhosa, com direito à minha favorita regra de aquisição ferengi.

Em toda a temporada, Sisko somente foi referido como “Emissário” na sua única cena deste episódio.

Aparentemente a assembleia dos vedeks é que escolhe o novo Kai, certo? Então por que aquele papo entre Kira e Bareil sobre em quem ela votaria?

The Collaborator” é mais um exemplo da união de uma trama simples (com uma escolha brilhante na eleição de Winn) com temas relevantes (bajorianos, cardassianos e a ocupação) e notáveis atuações (especialmente de Fletcher e Visitor), que acaba por constituir mais um substantivo “vencedor”, 100% Deep Space Nine. O segmento consolida a major Kira no posto de, de fato, protagonista das duas primeiras temporadas da série.

Avaliação

Citações

“I know you’re under a terrible strain, but, if you’re wise, you will never speak to me with such disrespect again.”
(Eu sei que você está sob uma pressão terrível, mas, se você for sábia, nunca mais falará comigo com tamanho desrespeito de novo.)
Winn

“Perfect. Not only is it illegal, it’s sacrilegious.”
(Perfeito. Não só é ilegal, é um sacrilégio..)
Quark

Trivia

  • Gary Holland, o autor da história e do primeiro rascunho do roteiro do episódio, foi responsável pela propaganda e divulgação de DS9 durante toda a sua produção. Escrever para Jornada era um sonho de infância dele.
  • Após conversarem por quase um ano sobre a eleição de Bareil como novo kai, os produtores acabaram voltando atrás por considerar que esta situação ofereceria pouco conflito e drama relevante para as contínuas histórias da série e preferiram a solução adotada ao final do episódio.

Ficha Técnica

História de Gary Holland
Roteiro de Gary Holland e Ira Steven Behr & Robert Hewitt Wolfe
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 23 de maio de 1994

Título em português: “O Colaborador”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Philip Anglim como vedek Bareil
Bert Remsen como Kubus Oke
Camille Saviola como kai Opaka
Louise Fletcher como vedek Winn
Charles Parks como Eblan
Tom Villard como Prylar Bek

Balde do Odo

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Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Roberta Manaa

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