Picard faz de tudo para evitar se tornar um dos “deuses astronautas”
Sinopse
Data estelar: 43173.5
A Enterprise presta socorro a uma equipe antropológica em Mintaka III, que está estudando de forma camuflada um povo com características similares às dos vulcanos, mas que ainda está no equivalente terrestre da Idade do Bronze.
Ao chegarem, há feridos no posto, e o sistema holográfico de camuflagem pifou, permitindo que a janela seja visível na encosta da montanha. Um mintakiano chamado Liko, pai de Oji, vai investigar e acaba se ferindo. Beverly Crusher tenta salvá-lo, levando-o à Enterprise.
Picard não está feliz com a potencial violação da primeira diretriz e ordena que Crusher apague a memória recente de Liko após tratá-lo. Ele então é devolvido ao planeta, mas o procedimento falha, e ele começa a adorar “o Picard” como uma divindade.
Riker e Troi descem disfarçados de mintakianos para investigar o nível de contaminação cultural e descobrem que Liko está reacendendo uma crença há muito abandonada por aquele povo em seres sobrenaturais. Para complicar tudo, um dos antropólogos, ferido, foi capturado pelos mintakianos.
O líder dos cientistas, Barron, pressiona Picard para transportar seu colega na frente dos mintakianos, mas Picard se recusa. Riker e Troi então criam um ardil para conseguir levá-lo da aldeia. Riker escapa com Palmer, o antropólogo ferido. Mas Troi permanece com os mintakianos, que passam a desconfiar dela.
Barron considera o estrago inevitável e sugere que Picard cumpra o papel de divindade, ao menos dando um rumo espiritual aos mintakianos. Mas o capitão se recusa. Em vez disso, ele decide trazer Nuria, a líder mintakiana, a bordo, para convencê-la de que ele e sua tripulação são mortais, meros seres vivos, ainda que tecnologicamente muito avançados.
Nuria se convence, depois de ver uma antropóloga da equipe de Barron morrer na enfermaria. Ela retorna ao planeta com Picard, num momento em que Liko está para cometer uma loucura: matar Troi com uma flecha para aplacar a fúria de “o Picard”, a divindade. O capitão tenta dissuadi-lo, mas Liko está cego por sua fé. Ele atira contra Picard para provar sua divindade e se choca ao vê-lo gravemente ferido.
Na Enterprise, Beverly consegue curar o ferimento de Picard, que se despede dos mintakianos convicto de que eles estão destinados a um dia, como a humanidade, explorar as estrelas.
Comentários
“Who Watches the Watchers” é um fantástico episódio sobre contaminação cultural, religião e a noção, sintetizada de forma brilhante por Arthur C. Clarke, de que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.
Star Trek já havia explorado algumas vezes antes a popular ideia dos “deuses astronautas”, hipótese segundo a qual a humanidade pode ter sido visitada por extraterrestres em seu passado remoto e ter confundido esses visitantes com deuses. Episódios memoráveis com essa temática são “Who Mourns for Adonais”, da Série Clássica, bem como “The Magicks of Megas-Tu” e “How Sharper Than a Serpent’s Tooth”, da Série Animada. Mas aqui, em A Nova Geração, pela primeira vez vemos essa premissa invertida, com a tripulação da Enterprise fazendo o papel dos “deuses astronautas”.
Não só se trata de uma premissa bastante verossímil, do ponto de vista do universo ficcional da série, como acaba sendo uma ótima oportunidade para comentários diversos sobre os perigos da fé, quando não só um grupo de pessoas acredita piamente em uma entidade sobrenatural como tenta adivinhar seus desígnios.
Na pessoa de Picard, com sua ética inquebrantável, temos aqui um vislumbre da visão roddenberriana do secularismo humanista do século 24. Ele simplesmente se recusa a deixar que os mintakianos mergulhem novamente nas brumas da superstição. E, convenhamos, interferência por interferência, a que ele acaba fazendo ao se revelar aos nativos é muito menor do que deixá-los por lá acreditando na divindade “o Picard”.
Patrick Stewart entrega uma de suas grandes atuações e, sozinho, faz valer o episódio. Mas tem muito mais que isso. O segmento oferece bons papéis para Riker e Troi, além de poucos, mas marcantes, intervenções de Crusher. Ao deixar o resto da turma no plano de fundo, o segmento mostra uma seletividade importante na construção de uma estrutura narrativa que realmente valorize os personagens, ainda que tenhamos um segmento voltado para o coletivo e não excessivamente calcado em um único protagonista.
Também há que se elogiar os ótimos valores de produção, com direito a filmagens em locação, que dão um senso de realidade maior a Mintaka III. Em resumo, temos aqui um dos melhores episódios da temporada e, sem exagero, possivelmente da série toda.
Avaliação
Citações
“Horrifying… Dr. Barron, your report describes how rational these people are. Millennia ago, they abandoned their belief in the supernatural. Now you are asking me to sabotage that achievement, to send them back into the dark ages of superstition and ignorance and fear? No!”
(Horrorizante… Dr. Barron, seu relatório descreve quão racionais são essas pessoas. Milênios atrás, elas abandonaram sua crença no sobrenatural. Agora você me pede para sabotar essa realização, enviá-las de volta à idade das trevas da superstição e da ignorância e do medo? Não!)
Picard
Trivia
- O título deste episódio vem de uma citação em latim, feita pelo poeta romano Juvenal, do século 2 d.C.: “Quis custodiet ipsos custodes?”
- O parque de Vasquez Rocks, na Califórnia, mais uma vez foi usado como locação neste episódio. A equipe sofreu, lidando com temperaturas de 38 graus Celsius. E, para piorar tudo, para não atrair cobras, escorpiões e abelhas, ninguém podia usar desodorante ou perfume.
- O arco incomum usado por Liko é um Martin Dyna-Bo.
- Este foi o último episódio produzido durante a breve estadia de Michael Wagner no comando da sala de roteiristas. Michael Piller assumiria a chefia da equipe a partir do episódio seguinte.
- Wil Wheaton não aparece neste episódio.
- James Greene (Barron) voltaria a Star Trek no episódio “The Reckoning”, de Deep Space Nine, como Ranjen Koral. Já Ray Wise (Liko) retornaria em “Hope and Fear”, de Voyager, como Arturis.
- Jonathan Frakes comentou sobre o trabalho com pesada maquiagem para este episódio. “Minha experiência sendo mintakano me propiciou grande apreciação pelo que Dorn passa todas as manhãs. Acho que a maquiagem levava algo como 2,5 horas, mas eu não ficava numa boa; eu fico muito agitado. O visual ficou incrível. Você fica encantado de como as pessoas reagem quando você está com ela. Eu farei o mintakano ocasional, mas sou muito agradecido por ter minha própria cara.”
- A peça mintakana com que Picard foi presenteado seria vista em muitos outros episódios da série, em seus aposentos, assim como em todos os filmes com o elenco de A Nova Geração, exceto Nêmesis.
- O escritor Ira Steven Behr, que trabalhou na série durante a terceira temporada, curtiu o episódio. “Uma boa hora de televisão. Eu achei que foi um episódio muito bom, mas era entrar e sair, como A Nova Geração costumava fazer, porque ela era sobre audaciosamente ir adiante. Se os roteiristas tivessem tido cinco temporadas para lidar com aquela trama, quem sabe quantas idas e vindas Jean-Luc poderia ter enfrentado. Essa oportunidade simplesmente não existia lá.”
Ficha Técnica
Escrito por Richard Manning & Hans Beimler
Dirigido por Robert Wiemer
Exibido em 16 de outubro de 1989
Título em português: “Quem Observa os Observadores”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Elenco convidado
Kathryn Leigh Scott como Nuria
Ray Wise como Liko
James Greene como Barron
Pamela Segall como Oji
John McLiam como Fento
James McIntire como Hali
Lois Hall como Warren
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria