ATENÇÃO: ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS!
“Strange Energies” é o primeiro episódio da segunda temporada de Star Trek: Lower Decks, disponibilizado dia 12 de agosto nos Estados Unidos e Canadá. Alguns easter eggs e referências aos outros seriados já foram publicados aqui no Trek Brasilis, pois apareceram no trailer do seriado. Mas encontramos muitos neste episódio.
O episódio começa em algum tipo de prisão, dentro de um campo de asteroides. A prisão é guardada por naves cardassianas de guerra, uma da classe Galor e naves de patrulha da classe Hideki.
O cruzador da classe cardassiana Galor apresenta corretamente o defletor vermelho do episódio “What You Leave Behind” de Deep Space Nine e não o defletor amarelo original de “The Wounded” de A Nova Geração.
A base cardassiana lembra todas aquelas diferentes bases de asteroides cardassianos no sistema Chin’toka no episódio “Tears of the Prophets” de Deep Space Nine.
Na cena inicial, Mariner está sendo interrogada por uma cardassiana (Missi Pyle) em uma sala, que é igual à sala do episódio “Chain of Command” de A Nova Geração, onde Picard foi interrogado por Gul Madred. O uniforme da cardassiana, as listras na parede, a mesa, as cadeiras, e especialmente, as quatro luzes são as mesmas encontradas nesse episódio.
Jennifer está de volta! Mariner é interrompida durante seu trabalho holográfico por Jennifer, uma tripulante andoriana que já tinha aparecido na 1ª temporada de Lower Decks. No episódio “Cupid’s Errant Arrow”, Mariner corre pelos corredores e empurra essa personagem para fora do caminho, dizendo: “Mova Jennifer”.
O comentário de Mariner sobre saber que os tripulantes da Frota Estelar não deveriam ter conflitos interpessoais, embora ela odeie abertamente a andoriana Jennifer, é uma boa risada sobre uma das regras introduzida por Gene Roddenberry na Série Clássica e em A Nova Geração, que proibiu o conflito entre os tripulantes, e frustrou salas de escritores, para retratar os avanços sociais que a humanidade conquistou.
O holograma de Boimler reclama dos cardassianos dizendo: “Eles ficam me mostrando luzes”. Se você não viu o episódio “Chain of Command” de A Nova Geração, os cardassianos tentam forçar Picard a pensar que há cinco luzes na frente dele quando há apenas quatro. A 1ª temporada, Lower Decks também faz referências a “Chain of Command”. No episódio “Much Ado About Boimler”, Mariner brincou sobre ser babá do capitão substituto do tipo Jellico, o capitão temporário ficou na Enterprise nesse episódio. Freeman, Shaxs e Ransom usaram as roupas pretas de operações especiais naquele episódio e Tendi fez o mesmo em “Veritas”.
Em seu programa de treino no holodeck, Mariner está usando moletom e tênis da marca Frota Estelar, certamente um cosplay que veremos em futuras convenções.
Mariner foge em uma nave da classe Miranda, a USS MacDuff NCC-1877. A classe Miranda foi vista pela primeira vez em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, na forma da USS Reliant. A USS Saratoga, do episódio “Emissary” de Deep Space Nine também é desta classe.
No episódio “Conundrum” de A Nova Geração, o comandante Kieran MacDuff era uma identidade fabricada, assumida por um alienígena satarrano, que se passava por membro da tripulação da USS Enterprise-D, como parte de um complô para derrotar a Aliança Lysiana. Como este é um programa da Mariner, seria bem típico dela nomear a nave em homenagem a um personagem fictício.
Como é comum em naves da Federação, o nome USS MacDuff pode também ser uma homenagem a Lord Macduff, um personagem que é o principal antagonista em Macbeth de William Shakespeare. Macduff, um herói lendário, desempenha um papel central na peça: ele suspeita de Macbeth por regicídio e mata Macbeth no ato final.
Além da MacDuff, o hangar na instalação holográfica cardassiana também abriga várias outras naves, descritas a seguir.
- Nave Jem´Hadar (#1)
- Nave cardassiana classe Hideki (#2)
- Runabout da Frota Estelar, classe Danube (#3)
- Fragata romulana classe Snipe (#4)
- Delta Flyer (#5)
Abriga ainda uma nave klingon, o cruzador de batalha da classe D5, mas é a variante sem os tanques, como só visto no episódio “Marauders” de Star Trek: Enterprise.
Também abriga um interceptador bajorano , cuja parte inferior apresenta detalhes (veja a parte traseira) do modelo físico original, que o modelo CGI da 7ª temporada de Deep Space Nine não tem. Deve ser baseado em fotos do modelo e não na nave CGI.
As naves romulanas vistas no holoprograma da Mariner são baseados nos cruzadores romulanos pesados do videogame Star Trek: Starfleet Academy, de 1997 (à esquerda na figura). (@_Pundus_, @gaghyogi49 e capturas de tela cortesia de @TrekCore)
A nave de ataque Jem’Hadar e o interceptador bajorano pode também ser vistos nos episódios “Treachery, Faith and the Great River” e em “The Homecoming”, os dois de Deep Space Nine.
Desde que a Voyager retornou do quadrante Delta, os Delta Flyers devem ter entrado em produção em massa e depois caído nas mãos dos cardassianos, já que pelo menos 5 deles são vistos na estação cardassiana.
Ao fugir, a MacDuff é prontamente perseguida por três naves cardassianas da classe Hideki, talvez a segunda nave cardassiana mais usada depois da Galor.
A ponte da USS MacDuff da classe Miranda é idêntica à ponte da USS Reliant, como vista em Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan, onde este projeto de nave foi introduzido pela primeira vez.
Os detalhes desta ponte também são encontrados na ponte da USS Reliant (à esquerda na figura).
A seguir é apresentada a abertura do seriado. A sequência de créditos de abertura do show foi atualizada para a nova temporada. As maiores naves pakled que apareceram no episódio final da 1ª temporada foram adicionadas à batalha borg na sequência de abertura (#1 e 5 na figura). De acordo com Mike McMahan, estas são chamadas de “harpias de batalha”. As naves pakled muito menores vistas no final do episódio são chamadas de “harpias de batalha” por Boimler. Foram ainda adicionadas uma ave de rapina klingons (#4) e naves romulanas war bird (#2, 3, 6, 7).
Fred Tatasciore ainda é nomeado nos principais créditos, apesar de Shaxs, o chefe da segurança, ter morrido no final da primeira temporada e não aparecer neste episódio. Mas os gritos dos guardas masculinos da prisão cardassiana no holodeck foram dublados por ele, enquanto as guardas femininas não se manifestaram.
A USS Cerritos teve algumas mudanças cosméticas depois de ser reparada, após ser bastante avariada na batalha final contra os pakleds, no último episódio da primeira temporada.
Nas capturas de tela das aberturas das 1ª e 2ª temporadas verificamos uma mudança a USS Cerritos: as naceles são um pouco mais longas.
Em alguns close-ups da 1ª e 2ª temporadas da USS Cerritos, podemos ver novos módulos de fuga, no lado dorsal ao redor da ponte.
Observe módulos de fuga adicionais no módulo traseiro entre as naceles.
A parte inferior do disco tem sua estrutura muito mais detalhada.
Adicione a capitão Carol Freeman à lista de pessoas do século 24 que possuem ou constroem naves em garrafas, assim como Jean-Luc Picard e Miles O’Brien, citados no episódio “Booby Trap” de A Nova Geração e Joe Carey do episódio “Friendship One” de Voyager. Ele estava construindo um modelo da USS Voyager em uma garrafa. Na época de sua morte o modelo estava quase completo, só faltando uma nacele para terminar.
Parece que a capitã Freeman guardou um dos cristais de seu segundo contato com os gelrakianos no episódio “Temporal Edict”.
O beliche de Boimler na Cerritos está sendo usado pelos três alferes como depósito de suas coisas. Entre as parafernálias estão:
- Um jogo de xadrez tridimensional.
- A garrafa de uísque romulano e
- O bat’leth da Mariner, vistos no 1º episódio “Second Contact” da 1ª temporada.
- A mala de tricorders T88 que Tendi e Rutherford roubaram da USS Vancouver, no episódio “Cupid´s Errand Arrow”, da 1ª temporada.
- O gongo tzutchiano, que o tenente JG O’Connor mantinha em seus aposentos a bordo da USS Cerritos, enquanto tentava uma ascensão espiritual, visto no episódio “Moist Vessel”, da 1ª temporada de Lower Decks. Tendi acidentalmente derrubou o gongo na mandala de areia em que O’Connor estava trabalhando há dois anos.
Tendi está preocupada que Rutherford costumava odiar peras, mas agora ele não odeia. Isso pode ser uma referência a Doctor Who. Nos episódios de Doctor Who Human Nature, Twice Upon a Time e Hell Bent, o Doutor, tanto David Tennant quanto Peter Capaldi, mencionam odiar peras. Na verdade, em “Human Nature“, quando a memória do Doutor é apagada, ele pede a Martha Jones para “nunca me deixar comer uma pera”.
Os números do “canal subespacial não reclamado” nos PADDs não parecem ser de importância óbvia. Não há um único 47 na lista, outro sinal claro de que Kurtzman está arruinando Trek. (#sóquenão).
O indeciso líder apergosiano é dublado por Randall Park, conhecido por seus papéis como agente do FBI Jimmy Woo no Universo Cinematográfico Marvel, Louis em Fresh Off the Boat, e muitos outros.
Chuveiros sônicos são comuns em Star Trek, e fizeram sua estreia em Jornada nas Estrelas: O Filme, mas a Mariner usa um lavador de energia sônica que faz sua estreia neste episódio de Lower Decks.
Quando Mariner começa a lavar um prédio de Apergos, ela revela um mural dos “antigos” com uma criatura parecida com uma baleia. A baleia alienígena tem um apêndice que irradia luz, possivelmente indicando a comunicação da baleia? Tudo isso pode ser um aceno sutil às baleias jubarte da Terra, que haviam se comunicado no passado com a civilização de uma sonda em Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa.
Essa cena pode também ser outro tributo à Califórnia, se o mural submarino que Mariner descobre enquanto lava a parede for inspirado nos Murais Baleeiros de Robert Wyland.
T’Ana explica que Ransom foi imbuído de poderes semelhantes a Gary Mitchell. Mitchell era um amigo de Kirk, da Academia da Frota, que alcançou superpoderes no episódio “Where No Man Has Gone Before” da Série Clássica. Deve-se notar também que Mariner mencionou Gary Mitchell no 1º episódio da 1ª temporada.
A pose de Gary Mitchell, vista em sua foto de arquivo, é verdadeira. Ela é desenhada no estilo da Série Animada, assim como a foto de Kirk e Spock em “No Small Parts”, o 10º episódio da primeira temporada de Lower Decks.
Freeman observa que a humanidade tem uma “relação complicada” com a religião organizada. Até o momento, nenhum personagem humano foi explicitamente descrito como seguindo qualquer religião importante (com exceção de Chakotay, que segue crenças indígenas nebulosas e inventadas). Elementos de religiões têm sido vistos ocasionalmente em Star Trek (igrejas, árvores de Natal, invocação de Deus), Gene Roddenberry sugeriu que a religião tinha acabado no futuro Trek.
Ransom virando Deus diz: “É fácil se tornar um deus. O truque é permanecer um Deus.” Isso pode ser uma referência ao axioma atribuído a Harlan Ellison: “É fácil se tornar um escritor. O truque é permanecer um escritor”. Ellison escreveu o episódio “A Cidade à Beira da Eternidade”, da Série Clássica. Na 1ª temporada de Star Trek: Picard, Soji viajou em uma nave chamada Ellison, que Michael Chabon revelou ser um easter egg destinado a fazer referência a Harlan Ellison.
O sobrenome do marido almirante de Carol Freeman foi finalmente confirmado como Freeman, deixando a dúvida de onde sua filha conseguiu seu sobrenome Mariner. Talvez este seja seu nome do meio.
No hangar onde Tendi dá choques em Rutherford, ainda estão consertando o shuttle Sequoia, que o tenente Shaxs mandou de volta com Rutherford, na batalha com os pakleds, no episódio “No Small Parts” o último da 1ª temporada de Lower Decks.
Ransom cria uma montanha com sua própria figura, semelhante ao Monte Rushmore nos Estados Unidos, que tem a cabeça de quatro presidentes: Theodore Roosevelt, Abraham Lincoln, George Washington e Thomas Jefferson.
“Strange Energies” faz um paralelo direto com a estreia da 1ª temporada de 2020, “Second Contact”, de várias maneiras. A tripulação está envolvida com uma segunda missão de contato que dá terrivelmente errado e Rutherford começa a namorar Barnes pela “primeira” vez. No final da 1ª temporada, Rutherford perdeu a memória, e é por isso que seu relacionamento com Barnes parece novo para ele. É por isso que Mariner diz “isso soa familiar.”
Barnes reclama que sua irmã está sempre falando que ela tem um simbionte. Jadzia Dax também sempre mencionava seu simbionte.
Barnes menciona que vai nadar na “Operações de Cetáceos”, uma parte do USS Cerritos que só vimos no esquema da nave no 1º episódio da 1ª temporada “Second Contact. Esta é a primeira vez que se estabelece que você pode simplesmente ir nadar lá. As “Operações de Cetáceos” derivam de uma linha ouvida no episódio “Yesterday’s Enterprise” de A Nova Geração. Este é mais um paralelo com o 1º episódio da 1ª temporada de Lower Decks.
Rutherford se refere incorretamente à SMD (Degradação de Memória Sintética) como LSD, dietilamida do ácido lisérgico, que é uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. Essa abreviação também faz referência a uma piada no filme Jornada nas Estrelas IV: A Volta para Casa, em que Kirk se refere incorretamente à droga “LSD” como “LDS”, dizendo que Spock “fez uso de LDS demais nos anos 1960”. LDS é a abreviatura oficial da CBS para Lower Decks.
A cabeça gigante do Ransom ataca a nave. Cabeças gigantes anteriores incluíram Nagilum em “Where Silence Has Lease” e os citherians no episódio “The Nth Degree” de A Nova Geração. A mão gigante de Apolo também atacou a Enterprise no episódio “Who Mourns for Adonais?”, da Série Clássica. Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira, a tripulação encontra “o Deus de Sha Ka Ree” que também é uma cabeça flutuante gigante, mas está no planeta, não na nave.
Mariner atinge Ransom na “zona neutra”. Personagens anteriormente atingidos na “zona neutra” incluem o preso de Rura Penthe em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida, que lutou com Kirk e tinha os genitais nos joelhos.
No episódio “Where No Man Has Gone Before” da Série Clássica o capitão Kirk mata Garry Mitchell jogando uma pedra sobre ele. A Dra. T´Ana cita isso e arruma uma empilhadeira com uma pedra e joga no comandante Ransom.
O tenente comandante Stevens se oferece para ler “Nightingale Woman” para Ransom na enfermaria. Este é o mesmo poema que Mitchell citou depois de ser atingido pela barreira galáctica no episódio “Where No Man Has Gone Before” da Série Clássica. “Nightingale Woman” foi um poema de Tarbolde, escrito em 1996 no Planeta Canopus. Foi dito no século 23 ser “um dos sonetos de amor mais apaixonados dos últimos séculos”. Um trecho do soneto, encontrado na página 387, dizia:
Na vida real, o poema foi escrito por Gene Roddenberry.
Mariner adicionou um desenho de castelo com seu nome na parede da prisão, com duas marcas, ou pelo número de vezes que ela ficou lá ou talvez denotando a segunda temporada.
Os momentos finais do episódio foram na USS Titan. O capitão Riker diz: “This jam session has too many licks and not enough counts.” (Este jam tem muitos solos e pouca base.) Em jazz, uma base (lick) refere-se a um padrão ou frase musical que é predeterminado, mas aberto à interpretação, que normalmente poderia resultar em um longo solo de jazz. Uma “contagem” (counts) por outro lado, é mais sobre a batida e a forma de um pedaço de música. A obsessão de Riker pelo jazz começou no episódio “11001001” de A Nova Geração. Na final da 1ª temporada de Lower Decks, o bordão de Riker para enviar a Titan em dobra foi uma contagem de jazz.
Esses foram as referências e easter eggs que encontramos. Se você achou mais alguns, coloque nos comentários!
Fontes pesquisadas: Jörg Hillebrand @gaghyogi49; Den of Geek; Trekmovie; Trekcore; Reddit