TNG 3×01: Evolution

Wesley tem vislumbre de seu potencial futuro em estudo de personagem

Sinopse

Data estelar: 43125.8

Wesley adormece sobre a mesa fazendo um trabalho de escola e perde a hora de se apresentar à ponte, enquanto a Enterprise se prepara para realizar o experimento do doutor Paul Stubbs, destinado a investigar a detonação de uma estrela de nêutrons consumindo matéria de um astro companheiro. É um evento que acontece uma vez a cada 196 anos.

A nave está pronta para liberar a sonda de Stubbs, apelidada carinhosamente de “o ovo”, quando falhas misteriosas começam a acometer o computador da nave. Wesley se dá conta de que seu experimento abandonado pode ser o responsável. Ele trabalhava com nanites, robôs nanoscópicos, e alguns deles escaparam do laboratório.

O alferes coloca armadilhas no Bar Panorâmico para tentar recapturá-los e é confrontado por Guinan. Os danos à Enterprise avançam progressivamente e ameaçam a realização da missão. Wesley revela o que houve à mãe, Beverly, que está de volta à nave. Eles confirmam que o núcleo do computador foi tomado por nanites, que adquiriram a capacidade de autorreplicação e estão evoluindo de forma descontrolada.

Stubbs defende a erradicação imediata, mas Picard teme que eles possam ter adquirido inteligência e hesita em exterminá-los. À revelia do capitão, o cientista dispara um feixe de raios gama no núcleo do computador, para destruí-los. O resultado é os nanites atacarem o sistema de suporte de vida da nave e tentarem matar o cientista.

Data usa o tradutor universal para estabelecer contato com os nanites e acaba se oferecendo como conduíte para que eles falem através dele. Picard explica o que aconteceu, Stubbs pede desculpas, e os nanites concordam com uma trégua, em troca de realocação para um planeta onde possam viver. Com isso, o experimento de Stubbs é conduzido com sucesso.

Comentários

Como abertura de temporada, “Evolution” já sinaliza com clareza uma mudança de tom em A Nova Geração. Não só pelas óbvias mudanças visuais, com a troca da abertura e dos uniformes, mas principalmente pela sofisticação narrativa do episódio. E quem diria que seria possível estrear com o pé direito num episódio centrado em Wesley Crusher? É o que acontece aqui, por obra de Michael Wagner, o showrunner que ficou apenas os primeiros episódios da temporada no comando, e Michael Piller, seu sucessor imediato.

Os dois trabalham juntos numa trama que, de uma forma geral, reflete a própria mudança na série: amadurecimento ou, para usar a expressão literal adotada no episódio, “evolução”. Piller já revela sua obsessão para fazer com que a história seja sempre sobre alguém do elenco regular. É verdade que Paul Stubbs é o personagem central da trama. Mas ele é aqui uma espécie de espelho para Wesley. Quando jovem, aprendemos que o doutor era um menino-prodígio, como o filho de Beverly. E agora ele lida com o peso do mundo sobre os ombros, ao ter de entregar o resultado de uma pesquisa que pode consagrar ou destruir sua carreira. Obcecado desde jovem com o sucesso, Stubbs não vê limites para levar a cabo seus planos — mesmo que envolva destruir uma nova forma de vida inteligente.

Wesley, por sua vez, é a versão embrionária do velho cientista, com sua dedicação obsessiva com os estudos — começamos vendo-o literalmente caído de sono por causa deles — e a sensação de que o sucesso é uma função automática do seu trabalho (“eu sempre tiro A”). Guinan, por sua vez, com sua sabedoria sutil, indica a Wesley o problema dessa atitude, ao relembrar a história de Frankenstein, outro cientista obstinado que, como o alferes neste episódio, acaba por criar uma forma de vida que depois não consegue controlar.

Temos ainda Beverly, em sua volta à série, se preocupando com esse Wesley workaholic, e Deanna Troi desconstruindo a personalidade de Stubbs, para revelar o vazio interior que se esconde atrás de sua arrogância.

Tudo isso, em termos de trabalho de personagens, está muito acima da média do que costumamos ver nas duas primeiras temporadas, com caracterizações mais sofisticadas e humanas. E, claro, como um bom episódio de Star Trek, ele conta com uma bela trama de ficção científica, bem escorada em ciência real (o acurácia do retrato do par binário de uma estrela de nêutrons com uma gigante vermelha é de embasbacar, e os efeitos visuais idem).

O maior pecado talvez seja apenas a modesta quantidade de ação presente. Como um bottle show, ambientado totalmente dentro da nave, o episódio carece de mais movimentação. E a ideia de permitir que Data fosse controlado pelos nanites é basicamente uma conveniência dramática, arriscada demais para que Picard pudesse embarcar nela como embarcou (embora isso seja endereçado no roteiro). E tudo acaba num diálogo bastante simples e pouco efetivo.

No fim das contas, apesar desses pesares, temos uma boa estreia, naquela que prometeria ser, possivelmente, a melhor de todas as temporadas de A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“A brand new era in astrophysics, postponed one hundred and ninety-six years on account of rain.”
(Uma nova era na astrofísica, adiada 196 anos, por conta da chuva.)
Paul Stubbs

Trivia

  • Este foi o primeiro episódio da terceira temporada a ir ao ar, mas o segundo a ser filmado, após “The Ensigns of Command”. Também é a estreia da nova abertura e de novos uniformes, que revelam que La Forge foi promovido a tenente-comandante, e Worf virou tenente. Temos também a volta de Gates McFadden, como a doutora Beverly Crusher.
  • A história original envolvia ácaros ganhando consciência, o que fez o consultor científico David Krieger dar risada, pelo absurdo da proposta. Isso levou a produção a trocar os ácaros pelos mais razoáveis nanites.
  • Michael Piller viu na trama uma oportunidade para dar crescimento ao personagem Wesley. “Eu tinha essa história de nanites. Assim que conheci o cientista e percebi quem ele era, percebi que o cientista é Wesley dali a 40 anos, se ele permanecer no rumo de ser a criança esperta que é dedicada a seu trabalho e não parece ter muito mais acontecendo em sua vida. Eu disse, ‘se eu usar essa relação para levá-la a um nível mais humano, posso ajudar Wesley a crescer. Posso ajudar Wesley a avançar num relacionamento com uma namorada’. Isso virou o elemento central da reentrada de Beverly na série, que era, ‘meu filho não está tendo uma infância normal’. Nós sabemos que há muitas crianças assim. Eu vi isso e tive a sensação de que era necessário.”
  • Piller atribuiu sua contratação como líder do estafe de roteiristas na terceira temporada às referências que ele incluiu a beisebol, sua paixão, neste episódio. “No final, Rick Berman compartilhava de meu amor pelo beisebol e aquela cena acertou-o bem entre os olhos. E uma parceria estava formada.”
  • O episódio foi filmado em oito dias e mostrou a segunda aparição do laboratório da enfermaria (visto primeiro em “Home Soil”) e a primeira do núcleo do computador da Enterprise-D.
  • Refletindo sobre o episódio, Piller acabou por considerá-lo apenas razoável. “Senti que foi um episódio B-. Acho que funcionou ok, mas eu não tinha um final para ele e Mike [Wagner] também não. Há algumas cenas de personagens de que tenho muito orgulho. Não desgostei dele. Tenho orgulho do episódio, mas achei que não saiu do melhor jeito.”
  • O diretor Winrich Kolbe não curtiu o excesso de tecnologia. “Os nanites eram interessantes, mas eu gostei da volta da mãe do Wesley. Aquilo foi interessante. Mas, de novo, acabou afogado pelo elemento tecnológico que foi ampliado depois. Como você pode ver, meu problema é que eu preferia ter menos tecnologia e mais personagens.”

Ficha Técnica

História de Michael Piller & Michael Wagner
Roteiro de Michael Piller
Dirigido por Winrich Kolbe

Exibido em 25 de setembro de 1989

Título em português: “Evolução”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Whoopi Goldberg como Guinan
Ken Jenkins como Paul Stubbs
Mary McCusker como enfermeira
Randal Patrick como tripulante 1

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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