DS9 2×21: The Maquis, Part II

Não há resposta fácil para o dilema de Benjamin Sisko frente aos maquis

Sinopse

 Data estelar: Desconhecida. 

Ben Sisko contempla seu amigo, o tenente-comandante Calvin Hudson, que, por sua presença no asteroide, confirma ser membro dos maquis. Hudson tira o seu uniforme de uma bolsa e o entrega a Sisko, dizendo: “ultimamente ele tem ficado muito apertado em mim”.

Hudson se diz encantado pela determinação daqueles colonos e que não pode dar as costas para eles como a Federação teria feito, chamando novamente o tratado de um mero pedaço de papel.

Perguntado por Sisko sobre o paradeiro de Dukat, ele responde que nunca imaginou que um dia Ben se aliaria a um cardassiano contra ele. Hudson faz uma última proposta ao comandante, a de utilizar a estação como uma base maqui.

Quando Sisko recusa a proposta, ele e seus companheiros são tonteados pelos maquis. De volta à estação, o comandante tem uma reunião com a almirante Necheyev, que lhe dá o sermão padrão de que o tratado tem de ser honrado a todo custo, de passagem rotulando os maquis (e negando qualquer possível valor para a causa deles) como um “bando de cabeças-quentes irresponsáveis”.

Pouco antes de partir, ela ordena a Sisko que abra um diálogo com os maquis. Quando Kira entra no escritório, ouve o desabafo de Sisko:

“Estabelecer um diálogo? Que diabos ela acha que eu estou tentando fazer todo esse tempo? Só porque um grupo de pessoas pertence à Federação não quer dizer que eles sejam todos santos, o real problema é a Terra. Na Terra, não existe pobreza, crime ou guerra — você olha para fora do QG da Frota Estelar e você vê o paraíso. Bem, é fácil ser santo no paraíso. Mas os maquis não vivem no paraíso. Aqui, na Zona Desmilitarizada, esses problemas ainda não foram resolvidos. Aqui não existem santos, apenas pessoas. Famintas, assustadas e determinadas a fazer o que for necessário para sobreviver, quer isso receba a aprovação da Federação ou não.”

Em seguida, Odo prende Quark como cúmplice de Sakonna. O ferengi fornece, então, uma lista das armas vendidas e diz que ela estava pretendendo usá-las em breve. Sisko se encontra com uma alta autoridade cardassiana (o legado Parn) em visita à estação.

Sisko assegura que tudo o que é possível está sendo feito para encontrar e resgatar Dukat. Para o seu espanto, Parn diz que isso não é necessário e que Dukat é acusado em Cardássia de liderar um pequeno grupo de militares envolvidos no contrabando de armas para a Zona Desmilitarizada.

Após Parn partir, Sisko diz a Kira que eles precisam encontrar Dukat mais do que nunca, pois agora ele tem certeza de que o Comando Central cardassiano está, de fato, contrabandeando armas para seus colonos.

O’Brien determina uma nova lista de possíveis esconderijos e Sisko lidera outra expedição para tentar encontrar Dukat. Dessa vez, eles têm sucesso: recuperam Dukat e prendem vários maquis.

Sisko deixa Amaros fugir com um recado pra Hudson: “Diga a ele que eu ainda não disse à Frota sobre sua traição, ainda temos tempo de resolver esta situação juntos, mas nosso tempo está se esgotando. Diga a ele que ainda tenho o seu uniforme, ele pode pegar de volta a hora que quiser.”

De volta à estação, Sisko visita Dukat e lhe informa sobre sua conversa com o legado Parn. Este fica chocado, finalmente tendendo a acreditar que, de fato, Cardássia está contrabandeando armas na Zona Desmilitarizada.

Dukat sugere, então, que eles se unam para impedir o contrabando e os maquis, com o que Sisko concorda. Quando o comandante vai deixando a sala, o cardassiano agradece por ele ter salvado sua vida, ao que Sisko responde: “Eu tenho certeza que você teria feito o mesmo por mim”.

Dukat acha que o Comando Central está usando comerciantes xepolitas para o contrabando. Mais tarde, ele também é fundamental, quando ajuda Sisko & cia. a impedir que um cargueiro dessa raça entregue sua carga (de armas), levando à suspensão do contrabando do Comando Central.

Enquanto isso, Quark e Sakonna discutem em suas celas os detalhes da “lógica dos maquis”. Sakonna, sensibilizada pela discussão com Quark, confessa a Sisko que os maquis pretendem atacar um depósito de armas montado no interior de um complexo civil em um planeta da Zona Desmilitarizada.

Dukat diz que pode ser capaz de descobrir o nome de tal planeta. Sisko retorna a Volon III de forma a avisar os colonos (e por conseguinte os maquis) de que ele sabe do plano. Ele é surpreendido por Hudson e um grupo de maquis armados.

Quando o comandante oferece uma bolsa tendo no seu interior o uniforme de Hudson, este a desintegra, simbolizando que não há mais retorno para ele. Sisko avisa que, se eles forem atacar, ele os impedirá, custe o que custar.

Nossos heróis esperam com três exploradores em Bryma (o local do depósito, segundo as fontes de Dukat). Eles devem impedir que os maquis cheguem ao alcance dos sensores do planeta, o que pode precipitar uma guerra em larga escala.

Sisko & cia. conseguem impedir o ataque maqui, apesar do confronto aberto entre eles (exploradores contra naves maquis). Sisko deixa Hudson escapar por se negar a destruir sua nave.

De volta à estação, já com Dukat rumando de volta para casa, Ben recebe os cumprimentos do Comando da Frota por ter evitado uma guerra, sobre o que ele reflete ter talvez apenas adiado o inevitável.

Comentários

O episódio faz um bom serviço em colocar Sisko em uma difícil situação. Hudson fala claramente ao comandante da estação sobre os seus motivos e objetivos, em uma longa cena logo no início do episódio. (A linha, logo no início da cena, sobre o uniforme de Hudson, “ultimamente ele tem ficado muito apertado em mim”, estabelece o tom de forma maravilhosa.)

A almirante Necheyev estabelece claramente a posição da Federação logo em seguida. (O tom e o texto da almirante são um pouco excessivos. Talvez um problema da própria personagem, mas serve bem como preparação para o discurso de Sisko.)

Após a visita do legado Parn, Sisko percebe que o Comando Central cardassiano está, de fato, contrabandeando armas para os seus colonos e que Cardássia planeja usar o rapto de Dukat (provavelmente junto com o “sacrifício político” de um número de outros oficiais cardassianos em alguma espécie de “lista negra”) como uma conveniente “cortina de fumaça” para esse ato escuso.

Quark fornece uma lista das armas compradas por Sakonna, para uso iminente.

O que, sem muita reflexão, se traduz em algumas conclusões:

– Os maquis vão atacar e não vai ser algo pequeno.

– Sisko não pode pedir ajuda à Frota, como poderia e deveria, pois acabaria por expor a traição de Hudson.

– A Federação está “bufando no cangote de Sisko” por resultados, pois, para quem não estiver contando, foram dois raptos e a destruição de uma nave com 78 cardassianos a bordo em sua estação, só na primeira parte deste episódio. (Não seria interessante que a almirante tivesse deixado um adido seu na estação para “supervisionar” os progressos de Sisko? Com certeza a mobilização dos únicos três exploradores da estação após a libertação de Dukat chamaria alguma atenção.)

– O Comando Central também não vai fornecer nenhuma ajuda, pois estão “sujos” desde o começo.

E agora, Sisko?

O comandante decide insistir no resgate de Dukat. Pois, conseguindo tal feito, a Federação vai dar uma maneirada com ele e o cardassiano é uma fonte de valiosos recursos, independente da Federação e de Cardássia. E, mais, aproveitando a “deixa” do Comando Central, a possibilidade de Sisko fazer alguma espécie de acordo com Dukat mais tarde é clara.

O resgate do cardassiano, em si, é realizado com uma bela cena de ação. Mas o que é realmente digno de nota é o recado que Sisko envia (através de Amaros) a Hudson. Excepcional!

E por falar em fazer algo juntos com diferentes agendas:

Após descobrir a natureza da visita de Parn, Dukat decide aceitar a ajuda de Sisko para deter o contrabando de armas em troca da sua ajuda para deter os maquis (com certeza uma confissão assinada por um mercador xepolita, detalhando suas últimas negociações com os cardassianos, virá bem a calhar na volta de Dukat a Cardássia).

O contrabando de armas e os maquis são impedidos. (É raro quando os elementos de uma trama fazem tanto sentido, por isso fiz questão de detalhar bem.) E todos viveram felizes para sempre? Será?

Os maquis foram detidos desta vez e Sisko “perdeu” um dos seus melhores amigos. Ao final do episódio, o comandante só pode imaginar que, se a história tivesse sido um pouco diferente, poderia ser Cal Hudson sentado em sua cadeira e ele lá fora se escondendo em algum lugar na Zona Desmilitarizada.

Nem sempre existem respostas fáceis…

Fechando a conta:

A direção de Corey Allen se revelou extremamente competente. As cenas de batalha ao final do episódio foram muito bem executadas (especialmente por retratar o cuidado que ambas as partes têm de não matar ninguém do outro lado, como já tinha ficado claro quando do resgate de Dukat) e a utilização do uniforme de Hudson de forma simbólica, para sua deserção, é absolutamente brilhante.

É desnecessário repetir que as cenas entre Dukat & Sisko são infinitamente assistíveis novamente. E Brooks e Alaimo conseguem ainda superar as suas respectivas atuações do episódio anterior.

Sisko ao final do episódio, de onde ele emerge como um herói complexo com diversos conflitos internos e dúvidas, consegue interromper o contrabando de armas do Comando Central (com a ajuda de Dukat) e impedir o iminente ataque maqui, dando a Hudson a chance de voltar atrás até o último segundo possível e imaginável. “É fácil ser santo no paraíso” é talvez a frase que melhor identifica Deep Space Nine enquanto série.

Dukat é uma delícia de se assistir. Foi ele que iniciou o tiroteio quando do seu resgate. Ele conseguiu resistir à sonda mental de Sakonna e, depois, se ofereceu para “retribuir a gentileza” do interrogatório. Ele enalteceu o sistema de justiça cardassiano e, logo depois, ante a perspectiva de ser processado em tal sistema, arrumou rapidamente uma alternativa estratégica com Sisko. Vale também destacar a cena em que Dukat faz o comandante do cargueiro xepolita se “borrar” de medo com sua incrível presença. Dukat emerge deste episódio como o mais complexo, interessante, mais bem atuado e, sob qualquer outro critério, o maior e melhor antagonista da história de Jornada nas Estrelas.

Plana e Nogulich trabalham bem com o material recebido, bem como todo o elenco regular.

Problemas, como a falta de maior intensidade nas cenas envolvendo Sakonna e Quark (separados ou juntos), a (já comentada) fraca interpretação de Bernie Casey (como Cal Hudson), que fere especialmente uma longa cena entre Sisko e Hudson no começo do episódio, e uma pequena gafe de trama, tendo todos os oficiais graduados da estação no combate final, não põem por terra este grande episódio.

(Porém se não fosse a informação obtida de Sakonna, por meio da persuasão de Quark, eles não teriam como estabelecer a missão dos maquis, mesmo com os recursos da Frota Estelar.)

The Maquis” é um dos melhores episódios duplos de Jornada, estabelecendo um firme gancho onde pendurar sólidas histórias futuras. Uma deliciosa “caixa de Pandora” que não iria se fechar tão cedo.

Avaliação

Citações

“I thought you were strong, Commander. But you’re not. You’re a fool, a sentimental fool.”
(Eu pensei que você fosse forte, comandante. Mas você não é. Você é um tolo, um tolo sentimental.)
Dukat

“Why? Because Vulcans don’t lie?.”
As a rule they don’t.”
(Por que? Porque vulcanos não mentem?)
(“Como regra, não.)
Dukat e Sisko

Trivia

  • Somente Ira Steven Behr foi listado no press release da Paramount como tendo escrito este episódio.
  • Participação de John Schuck como legado Parn. John Schuck (nascido a 04/02/1940 em Boston, Massachusetts, EUA), já participou de filmes como os filmes IV e VI de Jornada nas Estrelas, no papel do embaixador klingon e o filme Dick Tracy, como um repórter. Também trabalhou em TV, em séries como Babylon 5 (personagem Draal), Roots, Mash, Bonanza, Gunsmoke e em muitas outras, além de ter participado também do episódio da sexta temporada de Voyager, “Muse“.

Ficha Técnica

História de Rick Berman & Michael Piller & Jeri Taylor e Ira Steven Behr
Roteiro de Ira Steven Behr
Dirigido por Corey Allen

Exibido em 02 de maio de 1994

Título em português: “Os Maquis, Parte II”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Tony Plana como Amaros
John Schuck como o legado Parn
Natalija Nogulich como a almirante Alynna Necheyev
Bertila Damas como Sakonna
Michael Bell como o Xepolita
Amanda Carlin como Kobb
Marc Alaimo como gul Dukat
Bernie Casey como Cal Hudson
Michael Rose como Niles

Balde do Odo

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Nívea Doria

Episódio anterior | Próximo episódio