O Chicago Humanities Festival é uma fundação que organiza uma série anual de palestras, concertos e filmes, na cidade de Chicago, EUA. Um dos eventos promovidos pela fundação foi o bate papo virtual entre o apresentador LeVar Burton e o renomado físico americano, Michio Kaku.
Michio Kaku é um físico teórico, co-criador da teoria de campos de corda, um ramo da teoria das cordas, que viria para ajudar na explicação da chamada “Teoria de Tudo”. Kaku falou sobre seu novo livro, The God Equation. E também comentou a respeito de outras paixões: ficção científica e Star Trek.
Na Live realizada em 29 de abril, Kaku disse a Burton que, quando era criança, tinha duas coisas que admirava.
Primeiro foi Einstein. Quando ele faleceu, eu tinha oito anos. Todos comentavam que ele não pode terminar seu grande trabalho, “A Teoria de Tudo”. A equação de Deus que unificaria tudo. E eu era fascinado, e queria ser parte deste momento.
Mas eu tive uma outra fascinação. Sábado de manhã, eu costumava assistir Flash Gordon. Fiquei atraído por monstros espaciais, raios da morte, escudos de invisibilidade, cidades submarinas. Quer dizer, o que há para não amar? Depois, mais tarde, eu percebi que se fosse um físico poderia entender o que é possível, plausível e impossível na ficção científica. E estas são duas coisas que eu amava, ciência e ficção.
Burton comentou que um dos vínculos que ele viu entre ciência e ficção científica foi quando o capitão Kirk sacava seu comunicador para falar com alguém em órbita, algo que não se sonhava naquela época. Kaku disse que essa curiosidade o levou a se tornar um físico, buscando compreender as ideias que o fascinavam desde criança.
Nós nascemos cientistas. Nascemos querendo saber por que o sol brilha, por que as estrelas cintilam, de onde viemos. Então, o maior desanimador deste sonho é a escola secundária, com memorizações cansativas. E é nesta parte onde a ficção científica pode neutralizar, pode inspirar a imaginação. Quando criança queria saber sobre a quarta dimensão, o hiperespaço, a velocidade de dobra, e eu ficava pensando sobre todas estas coisas. Então, eu disse a mim mesmo, “tenho de me tornar um físico, de maneira a saber se eu posso ou não ter motores de antimatéria, velocidade de dobra, viagem dimensional”. Bem, eu sou um físico agora, e posso dizer alguma coisa sobre estas coisas.
Kaku passou a explicar que seu livro The God Equation fala sobre uma nova possibilidade na busca pela “teoria de tudo”, e talvez, a presença de uma quinta força, além da gravidade, além do eletromagnetismo, possa ser o elo que faltava, o que está causando uma enorme excitação na comunidade científica, porque isso poderia responder sobre a possibilidade da velocidade de dobra, viagens a outros universos e até mesmo máquinas do tempo.
Para Kaku, a ficção científica pode trazer uma melhor reflexão dos conceitos científicos, como fonte de inspiração para novas teorias. Sobre essa ligação ficção científica e ciência, o físico cita um exemplo conhecido da maioria dos trekkers.
Um dos meus colegas, Miguel Alcubierre foi assistir Star Trek, e ele viu a Enterprise viajando rápido e distante. Então, ele disse: “Há solução nas equações de Einstein nas quais a Enterprise possa ir rápido?”. Então, pegou uma folha de papel e achou uma solução que se chamaria dobra de Alcubierre. Isso foi o que Star Trek inspirou um físico, que estava assistindo a série. Agora, nós podemos dizer, cuidadosamente, que o mecanismo necessário para ter um motor de dobra é incrível. Nós estamos falando sobre energia de um buraco negro, mas, em princípio, isso é possível, como nos filmes.
Um fato curioso que aconteceu com Michio Kaku sobre Star Trek, foi quando, num evento, ele falava sobre a escala Kardashev, que classifica as civilizações, conforme seu grau de energia coletada.
… Deixe -me explicar. A civilização tipo 0 é a que capta energia do petróleo e carvão. A tipo I é planetária, que controla o tempo, como Flash Gordon e Buck Rogers. Star Trek seria civilização tipo II, estelar, que controla o setor alfa da Via Láctea. Eles colonizaram vários sistemas estelares. Então, temos a civilização tipo III, galática, como Star Wars. Assim, eu estava em Londres dando uma palestra. Aí veio um jovem e disse que eu estava errado, que existia a civilização tipo IV. Eu disse que a escala terminava em 3 e ele respondeu que a tipo IV seria o poder do Continuum Q. E eu pensei comigo mesmo: “Meu Deus, existe a civilização tipo IV em Star Trek“. É extra galática. Eles usam a energia escura e a do vacuum. O rapaz sacou a civilização tipo IV da TV.
Comentando sobre o tipo de sociedade em Star Trek, Kaku citou um episódio seu preferido.
Uma das coisas porque eu gosto de Star Trek é que não significa apenas atirar nos aliens em batalhas ou ser um western do espaço, mas que fala sobre problemas sociais, coisas que realmente ficam na sua cabeça. Um dos meus episódios favoritos é quando eles encontram uma cápsula no espaço, onde terráqueos sofriam de doenças fatais e foram congelados e lançados ao espaço na esperança de serem encontrados por uma civilização do futuro (“Neutral Zone” – A Nova Geração). Bem, uma dessas pessoas perguntou onde estariam seus investimentos. Ele havia acumulado riquezas, dizendo ser rico. E a tripulação da Enterprise perguntou: “O que é dinheiro?”. E eu pensei comigo: “O que uma sociedade sem dinheiro seria se você tivesse replicadores?” Você conseguiria o que quisesse. Mas aí, eu acredito que a sociedade colapsaria, se houvesse uma sociedade sem dinheiro. Isso é para pensar.
O físico acredita que o avanço da tecnologia de comunicação fará com que, talvez, a humanidade resolva debates sobre raça, classe social, gênero.
Nós estamos a centenas de anos na transição de uma civilização tipo zero para uma tipo I. Temos ainda este sectarismo racista, fascista que nos mantêm no pântano. Mas uma vez que atinjamos a tipo I, nos tornamos planetários, com valores e cultura planetários. E você vê o começo disso na internet, que é o começo de uma comunicação tipo I , assim como é o começo na linguagem planetária, nos esportes, na música, na moda. Então, eu começo a ver a transição para a civilização tipo I. Mas esta transição é muito perigosa. Nossa tecnologia está indo longe, entretanto nossas estruturas sociais são primitivas comparadas com a tecnologia. Esta incompatibilidade pode causar a morte da civilização. Mas eu creio que a tecnologia tem uma direção moral. Muitos cientistas acham que a tecnologia é neutra. Não penso assim.
Quanto a nova corrida da exploração espacial, Kaku fala das implicações para o futuro da humanidade.
Nós estamos entrando em uma nova era de exploração espacial porque os custos estão caindo, com foguetes reutilizáveis. Há um novo amanhecer pela comercialização, e as pessoas poderão, um dia, irem ao espaço como turistas. As primeiras naves estelares podem ser lançadas (para fora do sistema solar) em algumas poucas décadas. Não serão como a Enterprise, serão pequenos chips de computador energizados por lazer, alcançando 20% da velocidade da luz e chegariam no sistema Alfa Centauri em 20 anos. Stephen Hawking foi quem propôs a ideia.
Alguns livros do físico Michio Kaku pode ser adquiridos no Brasil.
Você pode assistir toda a entrevista no video abaixo: