ENT 2×09: Singularity

Velha premissa de Jornada é usada em bom termo para os personagens

Sinopse

Data: 14 de agosto de 2152

Enquanto a tripulação está toda desacordada, T’Pol faz em seu diário o que parece ser o último registro da Enterprise. A nave está em curso direto para um buraco negro e a tripulação parece ter sido estranhamente afetada por esse objeto astronômico. Sozinha, embora imune, a vulcana não pode fazer nada para salvar a nave.

Em seu registro, ela conta que a crise começou dois dias antes, quando Archer decidiu marcar um curso para estudar um buraco negro. Centenas desses objetos já haviam sido estudados pelos vulcanos, mas nenhum deles pertencia a um sistema trinário — daí o interesse da Enterprise por ele.

Enterprise na rota de um buraco negro

Para fazer a aproximação máxima, a nave teve de seguir em força de impulso, o que deixou a tripulação com poucos afazeres durante os dois dias de viagem. Archer aproveitou a ocasião para pedir a Trip que desse um jeito em sua cadeira na ponte, que aparentemente estava muito desconfortável.

Enquanto isso, Reed começou a trabalhar num novo protocolo de segurança, capaz de colocar a nave toda em prontidão para uma emergência tática em caso de ataque inimigo. Hoshi conseguiu ocupar temporariamente a posição do chef, que esteve doente e não podia mais preparar as refeições da tripulação.

Trip consertando a cadeira do capitão

Archer aproveitou o tempo livre para refletir mais sobre o que escrever no prefácio de uma biografia de seu pai. O editor havia pedido uma página de texto ao capitão, mas Archer sentiu dificuldades em colocar algo relevante sobre seu pai em tão curto espaço.

T’Pol continuou trabalhando nas leituras emanadas do buraco negro. Ela iniciou os estudos na ponte, mas logo decidiu ir trabalhar em seus aposentos, em razão do barulho que Trip estava fazendo para corrigir as imperfeições da cadeira do capitão.

Na enfermaria, Mayweather se apresentou com uma dor de cabeça. Phlox, estranhamente, em vez de simplesmente receitar um medicamento, decidiu iniciar uma bateria de exames no alferes. Quando os resultados preliminares não resolveram nada, o médico tomou uma decisão ainda mais inusitada: fazer uma cirurgia exploratória no cérebro do piloto.

Archer tentando escrever prefácio para biografia do pai

E ele não foi o único a começar a agir estranhamente. Aos poucos, conforme a Enterprise se aproximava do buraco negro, todos os tripulantes, à exceção de T’Pol, começaram a agir de forma psicótica. Trip ficou absolutamente obcecado com a cadeira do capitão. Reed passou dos limites ao não só implementar os protocolos de segurança sem a autorização do capitão, mas também realizar um exercício não agendado. O oficial de armamentos criticou duramente o capitão e o engenheiro-chefe por demorarem a chegar à ponte durante o exercício. O episódio foi tão violento que Reed e Trip quase saíram no braço, sendo apartados por Archer.

No refeitório, Hoshi insistia em fazer sempre a mesma comida, uma receita tradicional de sua família, e a tripulação já não aguentava mais o cardápio da alferes. Mayweather tentou fugir de Phlox, mas foi sedado pelo médico.

Mayweather com dor de cabeça na enfermaria

Percebendo a gravidade da situação, T’Pol tentou avisar Archer, mas o capitão também estava perdido em sua obsessão pela redação do prefácio do livro sobre seu pai. O último recurso da vulcana foi ir à enfermaria, onde ela percebeu que Phlox estava também perturbado e prestes a abrir a cabeça do alferes Mayweather no meio. Ela imobilizou o médico com uma pinça vulcana e, analisando os testes feitos no alferes, descobriu a chave do problema: uma estranha radiação emanada do buraco negro estava afetando a tripulação.

A única forma de salvar a todos é marcar um curso exato para longe do fenômeno, mas ela não pode fazer isso sozinha. Alguém precisa pilotar a nave enquanto ela aponta as correções de curso a partir da estação de ciências.

T'Pol fazendo a pinça vulcana em Phlox

Diante do impasse e com a tripulação a essa altura toda inconsciente, ela vai aos aposentos de Archer para colocá-lo debaixo de um chuveiro gelado e convencê-lo a pilotar a nave, mesmo que ele não estivesse em condições.

Na ponte, os dois começam a trabalhar, mas Archer está ainda muito alterado para pilotar com tranquilidade. Suas manobras pelo disco de acreção do buraco acabam colocando a nave num curso de colisão com um enorme fragmento de matéria. Não fosse pelo novo protocolo de segurança de Reed, que ativou automaticamente os canhões de fase da Enterprise pela proximidade com o objeto, a nave teria sido destruída.

T'Pol dando banho em Archer

Por conta da rápida reposta dos canhões de fase, Archer consegue concluir a trajetória para longe do buraco negro. Aos poucos, todos começaram a se recuperar e tudo volta aos eixos a bordo. Trip resolve o problema na cadeira do capitão, apenas baixando-a um pouco. Phlox pede desculpas por seu comportamento. E Reed recebe autorização do capitão para continuar trabalhando em seu protocolo de alerta.

Comentários

“Singularity” é um episódio que já vimos muitas vezes; alguma espécie de contaminação afeta os tripulantes da nave, que começam a agir estranhamente, colocando todos em perigo. Até mesmo em Enterprise já havíamos visto algo bem parecido, com “Strange New World”. E o conceito é o mesmo dos velhos “The Naked Time” (Série Clássica) e “The Naked Now” (A Nova Geração).

Apesar de ser uma das premissas mais batidas da história de Jornada nas Estrelas, é inegável que o episódio funciona. O grande segredo é o roteiro afiado e o trabalho coerente de afloramento das características mais destrutivas dos personagens. Diferentemente do que havíamos visto em “Strange New World”, em que o comportamento aberrante era simplesmente agressivo e paranoico, aqui ele é um pouco mais: ele é consistente com as personalidades estabelecidas da tripulação.

Title Card Enterprise Singularity

Quem se deu melhor com essa coisa toda foi Reed, que não só teve cenas fortes e bem trabalhadas, como mostrou grande sagacidade e competência, mesmo afetado pela psicose gerada pela radiação do buraco negro. Sua ideia do “Reed alert” (agora já sabemos todos a origem do alerta vermelho, procedimento padrão nos século 23 e 24 a bordo das naves estelares) garante uma boa lembrança do oficial, mesmo quando ele já não está mais “na ativa” para a conclusão do episódio.

Archer também recebe uma problemática interessante, com a tarefa de escrever o prefácio para o livro de seu pai. Seu relacionamento com Henry Archer foi uma das forças motrizes do personagem no piloto e é interessante ver esse elemento de volta à série, de uma forma discreta e ao mesmo tempo significativa. Aliás, o episódio mantém boa dose de referências a segmentos anteriores, notavelmente o drama de Mayweather em “Dead Stop”. Com isso, os produtores mostram que, em termos de consistência interna, a série está bem servida.

Reed alterando os protocolos de segurança

Outro personagem que ganha uma abordagem válida é Phlox. Alguém poderia pensar que sua intenção de abrir a cabeça de Travis não passa de alívio cômico, mas a atitude é totalmente compatível com o conhecimento que temos do bom doutor, que, além de às vezes mostrar ser um experimentalista nato, também é extremamente curioso e possui um intenso senso de descoberta e de pesquisa científica. Sua intenção de “estudar” a dor de cabeça do piloto parece absolutamente genuína, dada a afetação pela radiação.

Trip não vai mal, mas sua psicose particular parece não ter muito a dizer sobre seu personagem. E Hoshi é bem lembrada, com seu já referido interesse pela culinária, embora sua participação também seja um tanto quanto reduzida.

Hoshi preparando comida pra tripulação

T’Pol serve apenas como a representante da audiência no episódio — a única que está sóbria para conduzir a história. Por essa razão, ela mesma acaba recebendo um bom tempo de tela, mas quase nenhuma cena interessante.

A gravação inicial da vulcana, estabelecendo o flashback, funciona como um bom elemento para gerar uma tensão na audiência, uma sensação de perigo, logo nos primeiros minutos, o que serve para nos levar convenientemente pelos momentos mornos que se seguirão. A narração em off serve para nos lembrar de um bom episódio da primeira temporada, “Dear Doctor”. Não só pelo fato de também pedir uma condução de narrador para explicar os eventos, mas também por relatar basicamente cenas do cotidiano da Enterprise.

T'Pol preocupada com comportamento da tripulação

O resultado disso é simples. Se você gosta da companhia dos tripulantes da NX-01, vai se divertir. Se a história é o que realmente importa e os personagens ainda não o cativaram o suficiente, este certamente não será seu episódio favorito.

De toda maneira, a história é razoavelmente bem construída a ponto de não levar ninguém ao sono. E quem gosta de efeitos especiais tem aqui um prato cheio. As cenas do buraco negro são todas espetaculares, mas ficam um passo atrás dos momentos finais do episódio, em que a Enterprise precisa efetivamente navegar pelo disco de acreção. São imagens para encher os olhos.

Enterprise escapando de buraco negro

A direção de Patrick Norris é conservadora, mas agradável. Ele talvez pudesse ter feito mais para retratar o estado alterado dos personagens com truques de filmagem, mas não que isso tenha feito uma falta absurda. As atuações aqui, competentes como de costume, são mais do que suficientes.

Mas o mérito do episódio precisa ir mesmo para Chris Black. O roteirista conseguiu trazer vida aos personagens a partir de um enredo bastante modesto e de uma premissa bastante batida. Apesar dessas dificuldades, os diálogos acertam na mosca.

Avaliação

Citações

“How am I supposed to sum up my father’s life in a page?”
(Como eu posso resumir a vida do meu pai numa página?)
Archer

“This isn’t a warship, Malcolm.”
“That’s obvious, sir.”
(Isso não é uma nave de guerra, Malcolm.)
(Isso é óbvio, senhor.)
Archer e Reed

“You’re lucky you’re a decent engineer, because you don’t know a thing about writing.”
“I’m not the only one.”
(Você tem sorte de ser um bom engenheiro, porque você não entende nada de escrever.)
(Eu não sou o único.)
Archer e Tucker

“He makes life and death decisions every day. The last thing he needs to be thinkin’ in a critical situation is; ‘Gee, I wish this chair wasn’t such a pain in the ass.'”
(Ele toma decisões de vida e morte todo dia. A última coisa que ele precisa pensar numa situação crítica é “Eita, como eu queria que essa cadeira não fosse um pé no saco!”)
Tucker

“I intend to implement some long overdue changes and if the captain won’t approve them, then I will go directly to Starfleet Command.”
(Eu pretendo implementar umas necessárias mudanças e, se o capitão não as aprovar, então eu vou diretamente ao Comando da Frota Estelar.)
Reed

“Why don’t you go play soldier somewhere else?”
(Por que você não vai brincar de soldado em algum outro lugar?)
Tucker

“If this were a military situation you’d be taken out and shot!”
(Se essa fosse uma situação militar, você seria afastado e fuzilado!)
Reed

Trivia

  • As filmagens aconteceram entre 23 de setembro e 1º de outubro de 2002. Todas as tomadas foram feitas nos cenários internos da Enterprise.
  • O episódio marcou a aparição de um novo cenário, a cozinha da nave.
  • Aqui conhecemos as raízes do que viria a ser o estado de ‘alerta vermelho’. Reed o chamou de “sistema de alerta tático”.

Ficha Técnica

Escrito por Chris Black
Dirigido por Patrick Norris

Exibido em 20 de novembro de 2002

Títulos em português: “Singularidade”

Elenco

Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato

Elenco convidado

Matthew Kaminsky como Cunningham

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Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria

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