Aventura planetária volta a debater a necessidade da Primeira Diretriz
Sinopse
Data: Desconhecida
Archer, Hoshi e Reed estão voltando de uma missão a uma civilização pré-dobra. Para se camuflar, o trio usou maquiagem para se parecer com o povo local, que aparentemente estava às vésperas de uma guerra de grandes proporções (embora ainda não houvesse conflito armado). Enquanto o grupo começa a tirar seus disfarces, Reed descobre que perdeu seu comunicador.
Após vasculharem todos os lugares possíveis, os tripulantes da Enterprise chegam à conclusão de que a peça só pode estar no planeta. Hoshi consegue detectar um sinal do aparelho, restringindo sua posição exata a uns poucos quarteirões da cidade em que o grupo esteve pouco tempo atrás. Archer e Reed decidem voltar à superfície para resgatar o equipamento e evitar a contaminação daquela cultura com tecnologia avançada.
Os dois voltam a um bar onde estiveram antes, e Reed detecta o sinal do comunicador em uma sala onde ele não havia estado. Quando os dois vão até lá, descobrem que há gente no recinto e preferem esperar os alienígenas saírem antes de resgatar a peça. Mas a dupla é surpreendida por soldados do exército local, que, desconfiados, acabam detendo-os.
Capturados, eles são interrogados a respeito do comunicador. “O que é esse aparelho?”, pergunta o general Gosis, que acredita que os dois sejam espiões da Aliança, a facção inimiga daquele povo. Quando Archer e Reed se recusam a cooperar ou a revelar alguma informação, são espancados. Com as agressões, os alienígenas acabam descobrindo que eles estão usando uma maquiagem, mas na verdade parecem ter sido cirurgicamente alterados.
Os dois são imediatamente levados a um médico, que deve examiná-los para determinar por que eles têm sangue vermelho e são tão diferentes. Os exames revelam ainda mais surpresas: a disposição dos órgãos internos é completamente diferente. De posse dessas novas informações, Gosis volta a interrogar Archer e Reed. Com os exames e uma foto feita por uma aeronave da cápsula auxiliar, o militar sugere que a dupla seja alienígena.
Para evitar revelar a verdade, Archer decide assumir a identidade de um espião da Aliança. Ele diz que a cápsula auxiliar na verdade é um veículo suborbital que não pode ser detectado pelos sensores. Quanto às diferenças de fisiologia, completa Reed, elas são resultado do fato de os dois serem geneticamente projetados para serem melhores soldados. Archer diz que só há dois deles no momento, assim como todos os equipamentos que eles portavam (os comunicadores, scanners e pistolas de fase).
Os prisioneiros são novamente levados ao cárcere, e Gosis pergunta ao médico, Temec, se há algum meio de descobrir se os dois estão dizendo a verdade. O doutor diz que nada pode fazer para checar as proposições, a não ser que ele tenha a chance de conduzir uma autópsia e estudar os órgãos internos. Gosis decide ordenar a execução dos prisioneiros.
Na Enterprise, Hoshi determina a posição aproximada de Archer e Reed e não tarda para a tripulação concluir que os dois foram capturados. Monitorando as comunicações locais, ela descobre que os prisioneiros estão para ser executados, na forca. T’Pol decide que é hora para um plano de resgate.
Trip sugere que eles usem a nave-célula Suliban capturada no ano passado, quando eles levaram Klaang ao mundo natal klingon, para resgatar Archer e Reed. O engenheiro começa a trabalhar com Mayweather num meio de ativar o sistema de camuflagem da nave, o que acaba provocando um pequeno acidente: uma descarga faz com que o braço de Trip fique temporariamente camuflado. Ele vai até Phlox, que sugere que o problema deve se resolver sozinho. Enquanto isso, Trip vai precisar trabalhar usando uma luva para poder ver a própria mão.
T’Pol informa o engenheiro que o tempo urge, o que obriga o trio a partir imediatamente para o resgate de Archer e Reed. O sistema de camuflagem da nave-célula ainda não está totalmente funcional, o que faz com que ela seja atacada por alguns aviões do exército local. Eventualmente, os tripulantes da Enterprise conseguem escapar e descer no local em que Archer e Reed estão para ser enforcados.
Após um tiroteio, Archer consegue rapidamente recuperar as peças apreendidas pelos alienígenas e partir com os outros, voltando são e salvo para a Enterprise. Enquanto os alienígenas estão assustados, temendo que a Aliança tenha tecnologia que vai além de seus mais desvairados sonhos, Archer precisa confrontar o fato de que não é preciso deixar tecnologia para interferir na evolução de uma cultura pré-dobra.
Comentários
“The Communicator” é para a segunda temporada o que “Civilization” foi para a primeira: essencialmente uma aventura, ambientada em um planeta alienígena que ainda está longe de conhecer a tecnologia de dobra espacial. Na primeira temporada, a civilização era pré-industrial; agora, a civilização é mais avançada, equivalente ao mundo ocidental da primeira metade do século 20 na Terra.
Diferentemente do episódio do primeiro ano, entretanto, este aqui se propõe a estabelecer também uma discussão filosófica a respeito das motivações que levaram à criação da Primeira Diretriz. A não interferência com outras culturas menos avançadas parece ser uma ideia cada vez mais justificável, após cada nova aventura da Enterprise.
O único problema é que aqui ela já é tomada a priori, como se o conceito já estivesse plenamente estabelecido. Archer está até disposto a morrer por isso, coisa que provavelmente nem Picard, e certamente nem Kirk, estariam dispostos a fazer. Se isso mostra uma maturidade extra do capitão da Enterprise (NX-01), ela parece ter vindo na hora errada e de forma não natural.
É difícil acreditar que Archer estivesse disposto a ir tão longe por um princípio que nem é uma lei de seu governo, nem se mostrou ser absolutamente essencial em muitas situações. Mesmo assim, ainda há salvação para o conceito, na forma com que o capitão agiu nessa circunstância.
Ao que parece, Archer está filosoficamente maduro para abraçar a Primeira Diretriz. Por outro lado, ele está ainda muito longe do ideal no que diz respeito a aplicá-la. O capitão fez muito mais por interferir naquela cultura se dizendo um espião da Aliança do que se revelando um alienígena. Sob esse ângulo específico, o fato de ele ser um capitão relativamente inexperiente, trabalhando com problemáticas absolutamente novas, foi bem trabalhado pelo roteiro.
Mais que isso, vemos ao final de um episódio, pela primeira vez, a sensação de que as ações de Archer acabaram mesmo tendo um impacto negativo. Não sabemos se de fato a interferência causada pela visita dele e de Reed ao planeta foi devastadora, mas fica muito claro, no último diálogo do capitão com T’Pol, que pelo menos o potencial para que isso acontecesse havia permanecido. Numa série que parece sempre concluir os episódios com finais perfeitos, foi um tremendo dum avanço.
Independentemente de sua sólida (ou não) base filosófica, o que realmente atrai no segmento é a aventura. Talvez por isso esse episódio lembre tanto de “Civilization” — a melhor parte de tudo é ver a diplomacia caubói em ação. No caso específico, no resgate dos dois prisioneiros feito por Trip, T’Pol e Mayweather.
A sequência toda parece ser muito bem concebida e dirigida, desde o combate aéreo entre a nave-célula e pequenos e primitivos aviões militares alienígenas até o tiroteio final, em que nossos heróis usam suas pistolas de fase contra armas de disparo de projéteis bem convencionais.
À exceção de Phlox, todos os personagens regulares parecem ser usados numa dose razoável, embora não haja nada realmente de muito importante para qualquer um deles fazer. Nem para Archer e Reed, os pontos focais da história, o material apresentado é substancialmente marcante. Claramente, trata-se de um episódio orientado a enredo — a ação e a história são mais importantes que o mundo interno dos personagens. Concebido nesses termos, o episódio funciona.
A ideia original parece ter saído diretamente da Série Clássica. Em “A Piece of the Action”, McCoy descobre ao final do episódio que esqueceu seu comunicador em Sigma Iotia II, o que leva Kirk a deduzir que em breve aquela cultura atingiria o status tecnológico da Federação. No caso do episódio original, não passava de uma piada para fechar a história. Aqui, serviu como base para um episódio inteiro (embora o roteirista André Bormanis jure que a origem da história seja outra).
Não que isso desvalorize o segmento; na verdade, havia de fato uma boa história para ser contada em torno de um evento como esse. E o roteiro foi feliz em não tratar as consequências dos atos da tripulação da Enterprise de forma tão mundana. Há sim um forte impacto na interferência de Archer e cia. naquele mundo. E isso fica muito claro.
Os pontos negativos vão para a verossimilhança. Os alienígenas realmente não precisavam matar os dois prisioneiros para obter mais informações. Um deles bastaria para a autópsia, e o outro poderia ser interrogado e continuar fornecendo informações e respostas, até as relativas às futuras descobertas propiciadas pelo post mortem.
Por falar em furo de roteiro, alguém mais aí reparou que Archer e Reed não tiveram nenhuma dificuldade em entender tudo que os alienígenas diziam, mesmo depois de terem seus comunicadores (onde supostamente estariam instalados seus tradutores universais) confiscados?
E o cúmulo da maluquice foi o (totalmente desnecessário) episódio de Trip ficando com a mão invisível por conta de uma descarga da nave Suliban. Então quer dizer que alguma espécie de “pó de pirlimpimpim” é a responsável pela camuflagem nas naves Sulibans? Algo que possa “aderir” a qualquer material? E não um campo de deflexão da luz, como sempre foi sugerido em todos os manuais técnicos de Jornada nas Estrelas?
Já seria ridículo o suficiente se tivesse sido escrito por qualquer um, mas se torna pior ainda se nos lembramos que o roteirista do episódio também é o consultor científico da série! Até tu, Brutus?
Pelo menos somos presenteados com belíssimas tomadas de efeitos especiais (além da já referida batalha aérea, temos diversas visões panorâmicas do mundo alienígena feitas totalmente por computador) e cenários bem trabalhados, que adicionam aos valores de produção do episódio. A maquiagem dos alienígenas é razoável, considerando que são “alienígenas da semana”.
E o episódio também derruba o mito de que os tripulantes são sempre cirurgicamente alterados para parecerem alienígenas (o que ocorreu de fato, pelo menos uma vez, em “The Enterprise Incident”, da Série Clássica, quando Kirk foi alterado para parecer romulano). Neste caso, eles apenas foram maquiados (talvez, após o episódio, a Frota Estelar tenha determinado que eles precisariam mesmo passar por cirurgia para participar de tais missões, nos levando ao episódio de Kirk no século 23…).
No final das contas, uma aventura que não é brilhante, mas chega a ser satisfatória. E um episódio cujo dilema é baseado numa lei que ainda não existe, mas que todo mundo já sabe que vai existir. Ah, sim, e eu já ia me esquecendo: Archer volta a apanhar. Já estava com saudades…
Avaliação
Citações
“This would be a lot easier if there were a button marked ‘Cloak’.”
(Isso seria bem mais fácil se tivesse um botão marcando ‘Camuflagem’.)
Mayweather
“Having a cloaked hand could have its advantages; it’d be useful in a poker match…it might be helpful on movie night — if you bring a date… in case you want to steal some popcorn…”
(Ter uma mão camuflada pode ter suas vantagens; seria útil numa partida de pôquer… seria bom numa noite de filme — se você levar uma paquera… caso queira roubar umas pipocas…)
Mayweather
“I’ve gotten plenty of lectures on cultural contamination, but T’Pol never mentioned anything about sacrificing crewmen to prevent it.”
(Eu tive um monte de sermões sobre contaminação cultural, mas T’Pol nunca falou nada de sacrificar tripulantes para evitá-la.)
Archer
“You don’t have to leave technology behind to contaminate a culture.”
(Você não precisa deixar tecnologia para trás para contaminar uma cultura.)
T’Pol
Trivia
- Quando a sinopse do episódio foi revelada, alguns fãs imaginaram que a premissa tivesse saído direto de um episódio da Série Clássica. Mas o roteirista André Bormanis diz que não foi bem assim: “A premissa de “The Communicator” na verdade veio a mim quando eu perdi meu telefone celular uns poucos meses atrás. Eu não estava pensando em “A Piece of the Action”, mas claro que há um paralelo aí.”
- As filmagens começaram no dia 12 de setembro de 2002 e foram até o dia 20. Todas as tomadas foram feitas em estúdio, e os regulares Scott Bakula, Dominic Keating e Linda Park tiveram de usar maquiagem alienígena por boa parte das filmagens.
- Francis Guinan já havia aparecido em dois episódios de Voyager: “Ex Post Facto”, como o ministro Kray, e em “Live Fast and Prosper”, como Zar.
- Tim Kelleher já havia aparecido como o tenente Gaines no episódio final de A Nova Geração, “All Good Things…”. Ele também interpretou Four of Nine (P’chan) no episódio “Survival Instinct”, de Voyager.
- Dennis Cockrum também apareceu em “Live Fast and Prosper”, como Orek, e como um capitão alienígena em “Face of the Enemy” (A Nova Geração).
Ficha Técnica
História de Rick Berman & Brannon Braga
Roteiro de André Bormanis
Dirigido por James Contner
Exibido em 13 de novembro de 2002
Títulos em português: “O Comunicador”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Francis Guinan como Gosis
Tim Kelleher como tenente Pell
Dennis Cockrum como alienígena do bar
Brian Reddy como dr. Temec
Jason Waters como soldado
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Susana Alexandria