Roteiro sob medida oferece morte tola e despedida bem executada para Tasha
Sinopse
Data estelar: 41601.3
A Enterprise está em rota para encontrar uma nave auxiliar que traz a conselheira Troi de uma conferência quando um estranho defeito faz com o veículo se choque com o planeta Vagra II. A única forma de vida na superfície é Armus, uma entidade misteriosa que tira prazer do sofrimento alheio.
Picard envia Riker, Beverly Crusher, Data e Tasha Yar para resgatar a conselheira. Ao tentar atravessar o terreno para chegar à nave auxiliar bloqueada pelo campo de força de Armus, Tasha Yar é morta.
Após o incidente, Picard decide descer, em uma tentativa de negociar a libertação das vítimas do acidente da nave auxiliar. Armus só responde às tentativas com provocações e jogos mortais. Em uma dessas ocasiões, a criatura “engole” Riker. Em outra, exerce controle sobre Data e ameaça obrigar o androide a matar seus colegas.
Na Enterprise, Worf e Wesley descobrem que, quando a criatura é desafiada, o campo de força ao redor da nave auxiliar enfraquece. Picard então começa a provocar Armus, e os sobreviventes são resgatados. O capitão ordena a destruição da nave auxiliar na superfície e impõe uma quarentena sobre o planeta, deixando Armus para trás.
Comentários
“Skin of Evil” é uma peça criada sob medida para dispensar a tenente Tasha Yar do elenco de Star Trek, após a atriz pedir para deixar a série. Por solicitação de Gene Roddenberry, a morte da oficial foi tola e sem sentido, a fim de espelhar os riscos enfrentados diariamente por membros da equipe de segurança de naves estelares. Apesar de nada heroica, a morte foi dramaticamente bem executada.
A começar pelo momento da história escolhido para abrigá-la – o começo. A vantagem de colocar algo assim nos momentos iniciais do episódio é deixar o telespectador ligado no enredo, assim como à espera de uma previsível ressurreição do personagem até o final – algo que não acontece, para a surpresa da audiência.
Toda a sequência que levou à morte foi extremamente eficiente, começando do golpe fulminante de Armus, arremessando Tasha a vários metros de distância, até a sensacional cena em que uma desesperada doutora Crusher tenta reavivar a amiga perdida. Tomadas dignas de um episódio de Plantão Médico, muito melhores que o tradicional “Ele está morto, Jim”, aplicado aos “tripulantes-desconhecidos-da-semana-escalados-para-morrer”.
Em compensação, os valores de produção desse episódio ficam abaixo da crítica. O cenário do planeta desértico é reminiscente das rochas de isopor e céu à base de holofotes coloridos vistos na Série Clássica. A maquiagem de Armus é uma das coisas menos criativas e mais feias já vistas na história de Jornada nas Estrelas. A nave auxiliar acidentada é, descaradamente, um modelo. Só sobram mesmo as tomadas externas da Enterprise, que são tão bonitas quanto de costume.
Em termos de enredo, a história é conveniente para seu propósito, mas sem grande mérito criativo. O conceito por trás de Armus é bem à la Gene Roddenberry – muito mais uma alegoria do que um personagem verossímil. Afinal, é difícil imaginar que uma espécie alienígena seja capaz de “destilar” sua essência ruim e abandoná-la no planeta.
Por outro lado, se como ficção a ideia é ruim, como mensagem ela pode ser vista como uma metáfora poderosa, digna dos ideais do criador de Star Trek. Em essência, Armus representa a ideia de que as espécies precisam abandonar sua mesquinhez, sua maldade, seu lado ruim, para bem explorar a vastidão do espaço.
Embora “forçado”, uma vez engolido, Armus faz todo sentido. Ele trouxe a Enterprise até lá para negociar uma carona para fora daquele planeta-prisão. O sujeito está abandonado por lá há milênios, sozinho. Mesmo que não fosse o mal personificado, suas atitudes insensíveis e de desprezo por outras formas de vida seriam perfeitamente compreensíveis.
As cenas que envolvem Troi e Armus são chatas até dizer chega. Importantes para o roteiro, é verdade, mas cansativas. E o personagem a levar o “Troféu Abacaxi” do episódio foi Worf. Aquele papo de a Enterprise não estar lá para destruir Armus, mas para trazer de volta os tripulantes, de modo que seria melhor ele permanecer na posição tática, soou totalmente não klingon, apesar de fazer sentido.
O diálogo reforça uma tendência da primeira temporada de humanizar Worf, algo que ficou patente em episódios como “Hide and Q” e, em menor medida, “Heart of Glory”. Felizmente os roteiristas iriam mudar essa atitude ao longo das temporadas seguintes, dando a Worf uma personalidade klingon mais refinada. O equilíbrio entre sua convivência humana e sua herança klingon só seria plenamente estabelecido no início da quinta temporada, em “Redemption, Part II”.
Finalmente, o melhor do episódio: a cena de despedida de Tasha Yar, no holodeck. Um discurso emocionante e a constatação da irreversibilidade da morte da tenente dão um sentido à história, fechando-a com um pequeno interlúdio sobre a relação entre os que morrem e os que continuam vivos, sintetizada na conversa de Data com o capitão Picard. Não é à toa que Denise Crosby declarou que, se mais episódios como esse tivessem sido escritos para Tasha, ela nunca teria pedido para deixar a série.
Avaliação
Citações
“Hello, my friends. You are here now watching this image of me because I have died. It probably happened while I was on duty, and quickly, which is what I expected. Never forget I died doing exactly what I chose to do. What I want you to know is how much I loved my life, and those of you who shared it with me. You are my family, you all know where I came from and what my life was like before. But Starfleet took that frightened, angry young girl and tempered her. I have been blessed with your friendship, and your love.”
(Olá, meus amigos. Vocês estão agora assistindo a essa imagem minha porque eu morri. Provavelmente aconteceu quando eu estava de serviço, e rapidamente, o que eu esperava. Nunca esqueçam que eu morri fazendo exatamente o que escolhi fazer. O que quero que saibam é o quanto eu amei minha vida, e aqueles de vocês que a compartilharam comigo. Vocês são minha família, vocês todos sabem de onde eu vim e como minha vida era antes. Mas a Frota Estelar pegou aquela menininha raivosa e assustada e a transformou. Eu fui abençoada com suas amizades e seu amor.)
Tasha Yar
“Ah, Worf. We are so much alike, you and I. Both warriors, orphans who found ourselves this family. I hope I met death with my eyes wide open.”
(Ah, Worf. Somos tão parecidos, você e eu. Ambos guerreiros, órfãos que encontraram essa família. Espero ter encontrado a morte com meus olhos bem abertos.)
Tasha Yar
“My friend Data, you see things with the wonder of a child. And that makes you more human than any of us.”
(Meu amigo Data, você vê coisas com o vislumbre de uma criança. E isso faz de você mais humano que qualquer um de nós.)
Tasha Yar
“Captain Jean-Luc Picard, I wish I could say you’ve been like a father to me, but I’ve never had one so I don’t know what it feels like. But if there was someone in this universe I could choose to be like, someone who I would want to make proud of me, it’s you. You who have the heart of an explorer and the soul of a poet. So, you’ll understand when I say, ‘Death is that stage in which one exists only in the memory of others’, which is why it is not an end. No goodbyes, just good memories. Hailing frequencies closed, sir.”
(Capitão Jean-Luc Picard, eu gostaria de poder dizer que você foi como um pai para mim, mas eu nunca tive um, então não sei como é esse sentimento. Mas se houvesse alguém nesse Universo que eu escolheria para sê-lo, alguém que eu gostaria que se orgulhasse de mim, é o senhor. Você tem o coração de um explorador e a alma de um poeta. Então, entenderá quando eu digo, ‘a morte é um estágio em que alguém existe apenas na memória dos outros’, por isso não é um fim. Sem adeus, apenas boas lembranças. Frequências de saudação fechadas, senhor.)
Tasha Yar
“Sir, the purpose of this gathering… confuses me.”
“Oh? How so?”
“My thoughts are not for Tasha, but for myself. I keep thinking, how empty it will be without her presence. Did I miss the point?”
“No you didn’t Data. You got it.”
(Senhor, o propósito dessa reunião… me intriga.)
(Oh? Como assim?)
(Meus pensamentos não são por Tasha, mas por mim mesmo. Eu fico pensando o quão vazio será sem a presença dela. Eu não entendi?)
(Não, Data. Você entendeu sim.)
Data e Picard
Trivia
- O título original deste episódio era “The Shroud” (o manto), outro nome de início atribuído à criatura.
- Armus volta a aparecer em Star Trek: Lower Decks no episódio “The Spy Humongous” da segunda temporada, onde o grupo de alferes protagonistas utiliza uma pedra com poderes de ressoar suas vozes em planetas distantes para trolarem a criatura com insultos.
- “Gene não quis que a criatura fosse morta neste episódio”, disse a roteirista Hannah Louise Shearer. “Os seres humanos não deveriam julgar ninguém, segundo Gene.” Daí a decisão de simplesmente abandonar Armus.
- Se você achou que os atores estavam interpretando bem o sentimento de perda de Tasha Yar na cena final no holodeck, fique sabendo que a tristeza realmente existia, pois os atores estavam muito chateados pela saída de Denise Crosby do elenco. Marina Sirtis era uma das mais tristes.
- O maquiador Michael Westmore criou a cabeça de Armus, e o corpo era uma fantasia feita pela Makeup & Effects Laboratories. A geleca preta era uma mistura de metamucil e tinta de impressora.
- A cena em que Riker é engolido por Armus foi feita pelo próprio Jonathan Frakes, sem dublês. O ator diz que sofreu um bocado para filmá-la.
- Este episódio marcou a última aparição de Wil Wheaton (Wesley Crusher), bom como a de Denise Crosby (Tasha Yar), na primeira temporada. Ambos, contudo, foram creditados na abertura nos três episódios remanescentes.
- Denise Crosby ao final se arrependeu de ter deixado a série e pediu que a trouxessem de volta, o que enfim foi feito em “Yesterday’s Enterprise”, da terceira temporada. Isso abriu caminho para que a atriz vivesse sua própria filha nos episódios “The Mind’s Eye”, “Redemption, Parts I & II” e “Unification, Part II”, nas temporadas 4 e 5.
Ficha Técnica
História de Joseph Stefano
Roteiro de Joseph Stefano e Hannah Louise Shearer
Dirigido por Joseph L. Scanlan
Exibido em 25 de abril de 1988
Título em português: “A Essência do Mal”
Elenco
Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William T. Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Denise Crosby como Natasha “Tasha” Yar
Elenco convidado
Mart McChesney como Armus
Ron Gans como voz de Armus
Walker Boone como Leland T. Lynch
Brad Zerbst como enfermeiro
Raymond Forchion como tenente Ben Prieto
Enquete
Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria
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