DS9 2×11: Rivals

História tenta enfocar competitividade, mas abusa de deturpação científica

Sinopse

Data estelar: Desconhecida 

Na iminência de “dar o bote” em uma mulher alienígena de nome Alsia, que ficou viúva recentemente, um vigarista el’auriano de nome Martus é preso por Odo. Ele é acusado de ter aplicado o “golpe do vigário” em
um casal.

Em sua cela, ele encontra outro alienígena, de nome Cos, que tem em sua posse um estranho dispositivo de jogo, ao qual atribui a perda de toda a sua fortuna. Ao jogar pela última vez, Cos fica espantado por vencer e morre. Martus fica com o dispositivo.

Miraculosamente, o casal retira a queixa e Martus é posto em liberdade. Ele vai ao Bar do Quark e tenta vender o jogo ao proprietário, mas o súbito interesse do ferengi e sua aparente maré de sorte faz Martus voltar atrás. Ele se amiga com outra viúva, a bajoriana Roana (imediatamente atraída por ele), que acaba oferecendo o espaço físico para que Martus abra o “Clube Martus” direto competidor do Bar do Quark.

Martus consegue levar Rom para trabalhar com ele, além de todos os clientes de Quark. Seu segredo? Várias unidades de uma versão tamanho família do dispositivo alienígena.

Enquanto isso, O’Brien e Bashir se enfrentam em um jogo de raquetebol. O’Brien perde feio. Coisas estranhas, altamente improváveis — literalmente impossíveis –, começam a acontecer na estação.

Para tentar reverter a maré dos seus negócios, Quark manipula Bashir e O’Brien a entrar em um jogo de apostas, com parte dos lucros destinado aos órfãos bajorianos. Quark recupera os seus fregueses para o “duelo” entre O’Brien e Bashir.

Enquanto isso, a sorte de Martus parece terminar e Roana (com ciúmes das garotas do dabo, entre outras coisas) fecha o clube. Martus tenta uma última cartada, oferecendo todos os seus lucros a um investimento aparentemente rentável de Alsia.

Dax detecta uma “perturbação nas leis da probabilidade”, que é máxima no clube de Martus: a origem são os dispositivos tamanho família. Dax e Sisko os destroem. Imediatamente, Odo prende Martus, pela acusação original do casal, e Alsia, que se revela também uma vigarista que deu o golpe em Martus.

Quark chega no xadrez e se oferece para pagar a fiança de Martus, para que ele suma da estação e não volte mais.

Comentários

Deep Space Nine chega ao ponto mais baixo desta sua “trilogia do terror”. Peguem suas raquetes e vamos tentar entender o que houve de errado com esta abismal hora de televisão.

Primeiramente, temos a premissa da tal “máquina de probabilidade”. Acho justo sempre julgarmos premissas “ditas científicas” do seguinte modo: primeiro junto à real ciência; segundo, junto à ciência da série; e, terceiro, aceitar as regras dessa premissa desde que “os fins justifiquem os meios”, em um certo sentido, e tais regras sejam feitas constantes no curso do episódio. Infelizmente, a premissa do presente episódio falha miseravelmente nos três pontos.

A ideia original parece advir da teoria do caos, só que de forma tão distorcida, irresponsável e imbecil que chega até a ofender. Em essência, foi criada uma “caixinha mágica” que serve para fazer coisas “improváveis” acontecerem. Bem, eu acho que tal dispositivo não pertence ao universo de Jornada, que, “teoricamente”, se preocupa em tratar ciência com alguma dignidade.

O mais triste é que as regras de funcionamento de tal dispositivo não são claramente estabelecidas e parecem se modificar para satisfazer o direcionamento da história (o que leva o roteiro do episódio ao limiar do amadorismo completo).

Aparentemente, um replicador pode replicar não somente “caixinhas mágicas” como “caixinhas mágicas TAMANHO FAMÍLIA”. Interessante, MUITO interessante. Os fragmentos de “má ciência” advindos dessa premissa são tão absurdos que me fazem rir do que não deveria.

Discutida a premissa, o episódio gira em torno da antiga história da “rivalidade de dois trapaceiros”, no caso Quark e Martus, a qual leva MUITO TEMPO para entrar em foco, dobrada pela latente rivalidade entre O’Brien e Bashir.

Acredito que o fato de Martus ser el’auriano seja desnecessário para o episódio, talvez uma herança dos rascunhos iniciais da história, mais um podre desta bagunçada colcha de retalhos chamada de episódio.

A interação de Bashir e O’Brien é a melhor coisa do episódio e, ainda assim, não faz muito por mim. Eu a acho aqui um pouco forçada e excessiva em partes, muito aquém daquilo de que os dois são capazes. E esse lado da história fica totalmente solto, sem fechamento nenhum. Que zona de roteiro, hein?

(O interessante é que a “máquina de probabilidade” não é essencial para contar a história. Martus poderia ser apenas um “comerciante” abrindo um bar em frente ao do Quark — só a ausência dessa premissa imbecil já daria outra vida ao episódio. Não iria salvá-lo, mas, ao menos, ele deixaria de ser este travesti de televisão aqui apresentado.)

Para tal história funcionar, o roteiro deve produzir afiados diálogos, situações engraçadas e reviravoltas a uma taxa alta e constante. Infelizmente, não é isso que acontece. O roteiro é pobre e pouco inspirado, falta direcionamento cômico ao episódio e a maioria dos atores parece infernalmente entediada com o episódio. O resultado é previsível, lento e arrastado.

A caracterização de Quark e O’Brien diante das circunstâncias está correta. Bashir também está bem (talvez um pouco imaturo em certos pontos, mas foi legal ver em primeira mão a sua habilidade com a raquete). Keiko e Rom também estão OK. O resto dos personagens está terrível — especialmente Martus –, aparentemente em um estado de coma coletivo.

A trama, além de herdar todos os problemas da “máquina de probabilidade”, tem um sério problema: Por que diabos Odo não revistou o alienígena preso e confiscou a “máquina de probabilidade” inicialmente? É fácil de consertar (Martus podia ter ganhado a máquina em um jogo qualquer, por exemplo), mas com uma premissa tão furada como essa, esse ponto já começa a arrancar gargalhadas involuntárias.

A direção de David Livingston, ainda que inventiva como sempre (reparem na cena em que Quark e Sisko tomam o elevador por exemplo), não conseguiu inflamar devidamente a comédia e o resultado foi um episódio apático e sem foco.

A performance de Chris Sarandon como Martus foi abismal, dando a entender que o ator estava completamente desmotivado (e/ou entediado) com o papel. Ele foi o grande responsável pelas cenas entre Martus e Quark não funcionarem de jeito algum. Chao e Grodénchik se saíram bem com o material. Os demais convidados ficaram no “neutro”.

A maioria dos regulares nem honrar o pagamento honrou. Shimerman, Meaney, Terry Farrell e El Fadil estiveram bem, mas o resto pareceu contaminado com o “tédio sarandoniano”.

Alguns outros pequenos bons pontos espalhados: O’Brien fazendo cooper no Promenade, Bashir preocupado com a saúde de O’Brien, Bashir procurando uma garrafa de ketchup que funcionasse, Quark manipulando Bashir e O’Brien a realizar a partida e a reviravolta ao final, em que Alsia também é revelada como uma vigarista.

Para a plateia feminina, tivemos O’Brien sem camisa duas vezes (mostrando que ele é bastante sensual para a sua esposa — o que é bem legal) e Bashir com uma indumentária que parecia identificar a sua própria religião. (Mas, como de costume, também tivemos uma garota do dabo com os seios seminus.)

O ângulo da trama envolvendo Roana foi um total desperdício de filme.

Sou só eu, ou mais alguém acha impossível qualquer tipo de jogo (ao menos nos termos sugeridos) naquela “quadra high-tech” cheia de planos inclinados e cantos vivos?

“Rivals” eleva a “imbecilidade científica” em Jornada a um patamar completamente novo, nos explicando detalhadamente como NÃO fazer uma comédia no processo. De forma geral, um dos mais confusos, mal-acabados e um dos episódios mais medonhos de toda a série.

Avaliação

Citações

“Nunca confie num homem vestindo um terno melhor que o seu”
(Nunca confie num homem vestindo um terno melhor que o seu.)
Quark 

You had a game?.”
No, HE had a game. I just kinda stumbled around the court for 90 minutes making a complete [fool] of myself.”
(Vocês fizeram um jogo?.)
(Não, ELE fez um jogo. Eu só fiquei correndo em volta da quadra por 90 minutos fazendo um tremendo papel de bobo.)
Keiko e O’Brien

Trivia

  • Neste episódio, foi, pela primeira vez, nomeada a raça de Guinan (e também de Martus), os el’aurianos.
  • O conceito original do episódio veio da contínua tentativa de diversos roteiristas de tentar oferecer um “pitch” sobre teoria do caos (normalmente vendida ao público leigo usando o argumento das “butterfly’s wings“, que foi o título original do “pitch” de Jim Trombetta).
  • Originalmente, teríamos Quark com um dispositivo (encontrado nas escavações de uma antiga civilização) que lhe traria grande sorte às custas do azar das outras pessoas. Não havia o personagem Martus e muito menos o conflito entre Quark e um rival nessa ideia original.
  • A ideia de Martus foi inicialmente um efeito colateral de uma possível participação de Whoopi Goldberg como Guinan, o que não se concretizou. Martus (ou, na realidade, o seu predecessor no processo criativo do episódio) seria possivelmente um filho mal-encaminhado da el’auriana. Quando Goldberg não conseguiu um espaço em sua agenda, o personagem foi reestruturado, mas permaneceu sendo um el’auriano.
  • O cenário da quadra de raquetebol foi considerado muito caro, difícil de filmar e não foi mais usado durante a série.

Ficha Técnica

História de Gabe Essoe & Kelley Miles
Roteiro de Frederick Rappaport
Dirigido por David Livingston

Exibido em 03 de janeiro de 1994

Título em português: “Rivais” .

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Rosalind Chao como Keiko O’Brien
Barbara Bosson como Roana
K. Callan como Alsia
Max Grodénchik como Rom
Albert Henderson como Cos
Chris Sarandon como Martus

Balde do Odo

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Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Nívea Doria

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