DS9 2×10: Sanctuary

Discussão do tema imigração faz da obviedade o centro da história

Sinopse

Data estelar: 47391.2

Um pequeno grupo de alienígenas, oriundos do Quadrante Gama, é resgatado pela estação. Problemas com o tradutor universal impedem inicialmente a comunicação.

Quando o tradutor consegue “decifrar” a língua dos alienígenas, a mulher do grupo, Haneek, explica que eles são chamados de skrreeanos e existem mais de 3 milhões deles do outro lado da Fenda Espacial (chamada por eles de “O Olho do Universo”). O grupo é composto somente por refugiados, com enorme necessidade de auxílio.

Ela explica que as lendas do seu povo dizem que existe uma “terra prometida” (chamada Kentanna) do outro lado da Fenda Espacial (digo, do “Olho do Universo”).

Sisko se oferece para avisar os demais skrreeanos, ainda no Quadrante Gama, e procurar um planeta para os refugiados. Ele designa Kira para trabalhar junto com Haneek durante toda a operação. Mais tarde, quando os demais refugiados chegam à estação, Haneek é apontada como nova líder, por ter descoberto a Fenda Espacial. Seu povo dá a ela o encargo de encontrar Kentanna.

Quando o comandante chega com a novidade de que o planeta Draylon II pode ser um novo lar para os refugiados, Haneek diz que a sua pesquisa indicou que Bajor é Kentanna.

Haneek faz um pedido formal de imigração ao governo provisório bajoriano, que o nega. O governo alega que, se a colheita dos skrreeanos falhar, algo bem possível devido às condições do solo na região que seria designada a eles, Bajor teria mais 3 milhões de pessoas para alimentar e vestir, algo que o planeta não tem condição alguma de enfrentar. Haneek pede auxílio a Kira, que acaba ficando do lado do governo. Haneek sente que Kira a traiu.

Mais tarde, Tumak (o filho de Haneek) leva uma nave, na tentativa de pousar em Bajor. Ele acaba confrontando uma patrulha bajoriana e sua nave explode antes de entrar na atmosfera, selando, de fato, o destino dos skrreeanos.

Sem outra escolha, os refugiados estão de partida para Draylon II. Kira vai se despedir de Haneek e a líder diz que o governo provisório tomou uma decisão baseada em medo e suspeita e diz que, de fato, Kira tinha razão, “Bajor não é Kentanna”.

Comentários

Mais um belo tombo, mais um e pode pedir música no Fantástico. Peguem as suas enxadas e vamos conferir esta alegoria de Deep Space Nine sobre imigração.

No prólogo do episódio, temos a impressão de que vamos ter um episódio calmo sobre a situação interna de Bajor, através de uma perspectiva diferente, a do músico Varani (um personagem REALMENTE interessante e, sinto informar, que não voltará durante a série). De repente, surgem aqueles alienígenas esquisitos e, devido a um mau funcionamento do tradutor universal (possivelmente a peça de tecnologia — com razão — mais zoada da história de Jornada), o episódio parece literalmente “PARAR” até os seus quinze minutos. Obviamente, a ideia do mau funcionamento do tradutor foi para retardar as “grandes revelações” do episódio para mais tarde, ou seja: EMBROMAÇÃO COM CARA-DE-PAU!

Após a grotesca cena em que a “barreira de linguagem é quebrada”, uma alegoria sobre imigração começa a se formar. Ainda que ache o tema e correlatos de real (e atual) relevância, a execução aqui foi muito mal feita (repitam comigo) com “a sutileza de um estouro de rinocerontes mutantes grávidos”.

De forma a passar a mensagem, os skrreeanos são humanos feios (eles não são alienígenas, são humanos feios) que soltam a pele por onde passam e possuem horríveis traços de comportamento (exemplificados pelos seus machos “emocionalmente instáveis”). Ou seja, seres fadados a sofrer discriminação.

Existe também um ângulo que estabelece os skrreeanos como um matriarcado poligâmico à procura de uma “terra prometida”, elementos que me fazem ficar preocupado com a possível contrapartida destes (ou daqueles) na vida real.

Até que a reação dos personagens com relação aos skrreeanos é interessante, mas, a partir do momento em que Bajor é reconhecida como a “terra prometida” dos refugiados, a obviedade da história e da mensagem chegam a incomodar. A sequência (quase no final) em que Tumak acaba sendo morto é tão forçada e manipulativa que chega a ser engraçada, o exato oposto do efeito intencionado.

A trama do episódio até que foi decente, mesmo que muito lenta em várias partes e forçada ao extremo em outras, para satisfazer a “mensagem trekker da semana” do episódio.

Felizmente, os personagens regulares não tiveram a caracterização alterada para salientar a “mensagem” do episódio, o que é uma coisa boa. Eles responderam dentro da sua caracterização em relação à situação em que foram imersos (ainda que esta pareça essencialmente não-natural, manufaturada para um fim). Um destaque especial para Kira, que continua a brigar com o governo provisório bajoriano pela melhoria das condições no seu planeta, mas, na situação apresentada aqui, concordou com seu governo quanto à decisão de não aceitar os skrreeanos em Bajor, ainda que, obviamente, ela sentisse total simpatia pelos refugiados. Compare a Kira deste episódio com a Kira de “Progress”, da temporada passada, e vocês perceberão um natural e consistente desenvolvimento da personagem.

Haneek até que foi uma boa personagem, mal servida em partes como quando ela descreve os “porquês” da sociedade matriarcal dos “skrreeanos” ou quando dispara a pérola: “Nós somos fazendeiros, nos deem um pedaço de terra”.

A sua natureza direta e objetiva e a sua incapacidade de perdoar Kira no fim são bem adequadas à situação desesperadora do seu povo. O que não funciona é a sua “mágica descoberta” de que Bajor é a “terra prometida” do seu povo, novamente artificial e manufaturada (a insistência com Bajor, mesmo frente ao planeta ofertado por Sisko é ainda mais “misteriosa”).

Tumak, por outro lado, foi insuportável de se assistir, com um andar e uma atitude que pareciam gritar: “bad boy Skrreean, watch out!“. Não é dada razão alguma para o que ele faz ao final do episódio (além de ele ser um macho “emocionalmente instável”, é claro).

A direção de Les Landau foi boa, ele não teve culpa pelo roteiro lento, forçado e manipulativo. O elenco regular esteve sólido, como de costume, em especial Nana Visitor e Terry Farrell. Eisenberg, May e Schallert estiveram bem. Os demais atores convidados foram de medíocre para baixo.

Dentre as inúmeras versões do tema de Deep Space Nine, a tocada por Varani neste episódio é a minha favorita.

O momento em que Odo sonda Nog, tentando descobrir o que Quark sabe sobre venda de armas, foi excelente. (Ainda que uma referência inocente neste ponto da série, Quark  se envolveria REALMENTE na venda de armas em “Business As Usual”, da quinta temporada)

Pela primeira vez é citado o relacionamento de Jake com Mardha, uma garota do dabo, ainda sem o conhecimento de seu pai.

Temos, aqui, mais uma referência feita ao Dominion, estabelecida de uma forma que atrai mais curiosidade que a anterior, em “Rules of Acquisition”.

“Sanctuary” é mais um episódio contando uma “mensagem trekker da semana” e um dos mais extremos nesse particular tipo de episódio. Felizmente, ele não fere nenhum personagem em sua fúria para passar a mensagem em questão.

Avaliação

Citações

“I am way beyond frustrated”
(Estou mais que frustrada.)
Kira

“It’s hard to keep a secret in OPS, especially when you’ve been shouting at a monitor for two days.”
(É difícil guardar um segredo no OPS, especialmente quando você está gritando para um monitor por dois dias.)
Sisko

Trivia

  • Participação de Andrew Koenig (filho de Walter Koenig, o Chekov da série original de Jornada) como Tumak. Andrew faleceu em 2010.
  • Presença de Kitty Swink (esposa de Armin Shimerman, o Quark de DS9) como a Ministra Rozahn. Swink participaria novamente da série em “Tacking Into The Wind”, da sétima temporada, como a Vorta Luaran.
  • Participação de William Schallert, o Nilz Barris do episódio da segunda temporada da série original “The Trouble With Tribbles”.
  • É citado novamente o nome “DOMINION” como uma importante força político-econômica-militar do Quadrante Gama.

Ficha Técnica

História de Gabe Essoe & Kelley Miles
Roteiro de Frederick Rappaport
Dirigido por Les Landau

Exibido em 29 de novembro de 1993

Título em português: “Santuário”.

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

William Schallert como Varani
Andrew Koenig como Tumak
Aron Eisenberg como Nog
Michael Durrell como general Hazar
Betty McGuire como Vayna
Robert Curtis-Brown como vedek Sorad
Kitty Swink como Ministra Rozahn
Deborah May como Haneek
Leland Orser como Gai
Nicholas Shaffer como Cowl

Balde do Odo

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Edição de Muryllo Von Grol
Revisão de Nívea Doria

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