Volta dos andorianos não é a melhor coisa que você já viu, mas é legal…
Sinopse
Data: Desconhecida
No comando da Frota Estelar, em San Francisco, o almirante Forrest conferencia com uma delegação vulcana, chefiada pelo embaixador Soval. Ele informa Forrest de que os andorianos destruíram o santuário de P’Jem e culpa a Enterprise e a inabilidade do capitão Archer de terem definido o destino do posto avançado.
Embora Forrest tente defender seu oficial e apontar a responsabilidade dos vulcanos em romperem os Acordos de Tau Ceti, estabelecidos entre eles e os andorianos, Soval comunica que estará retornando a Vulcano e que, por ora, todos os programas espaciais conjuntos de Terra e Vulcano estão suspensos. A ordem inclui ainda a chamada de T’Pol de volta a seu planeta natal.
O almirante entra em contato com a Enterprise e comunica Archer da decisão. O capitão estava se preparando para, junto de Tucker, fazer uma visita à capital do planeta Coridan, a convite do governo local. Diante das circunstâncias, ele decide substituir Trip por T’Pol, na tentativa de convencê-la a protestar contra as ordens do Alto Comando Vulcano.
A oficial de ciências, entretanto, está se sentindo culpada pela destruição de P’Jem e acha justo que seja punida por seus superiores. Mesmo quando Archer aponta que ele teve total responsabilidade pelo incidente, ela argumenta que nem sequer registrou um protesto contra as ações do capitão.
Os dois descem a Coridan em uma cápsula auxiliar, mas são interceptados em órbita por outra aeronave. Abatidos, os dois são capturados e levados para um cativeiro. Depois de amarrados juntos, eles são interrogados. O grupo que os sequestrou faz parte de uma organização terrorista contrária ao governo local, que, segundo eles, é corrupto e sustentado por forças vulcanas.
Na Enterprise, Tucker é informado pela chanceler do governo de Coridan que seu capitão e T’Pol foram sequestrados. A governante assegura-o de que todos os esforços estão sendo feitos para resgatar os oficiais, mas Trip não está muito convencido. Ele ordena que Hoshi Sato comece a procurar por sinais de vida de Archer e T’Pol ou por uma leitura que aponte a localização da cápsula auxiliar.
O veículo é localizado e Malcolm Reed propõe o envio de uma tropa de assalto. Tucker está hesitante, mas começa a concordar com a ideia depois que os terroristas contatam a Enterprise, exigindo 40 pistolas de fase em troca dos prisioneiros. Mesmo assim, ele só toma a decisão depois que a nave vulcana enviada para buscar T’Pol chega ao local e o capitão Sopek comunica que está assumindo controle da situação e pretende enviar seu próprio grupo de assalto ao planeta.
Tucker e Reed descem em um outra cápsula auxiliar, mas são sequestrados. Dessa vez, não são os terroristas, mas os andorianos Shran e Tholos. Eles dizem que estão lá para ajudar no resgate de Archer e pagar o débito que foi deixado quando o capitão humano os ajudou a encontrar a instalação secreta dos vulcanos em P’Jem.
Juntos, os quatro conseguem invadir o complexo controlado pelos terroristas, mas ainda precisam evitar o fogo cruzado que é causado quando a tropa de assalto vulcana invade o local. A tensão toma conta do ambiente, mas os terroristas são exterminados. Shran liberta Archer e T’Pol e considera sua dívida com o capitão paga.
Todos estão se preparando para partir quando um terrorista desacordado recupera a consciência e atira contra Sopek. T’Pol entra na frente e salva o capitão vulcano do disparo, levando o tiro em seu lugar. Ela é levada por Archer à Enterprise, onde Phlox trata seus ferimentos. Embora a vulcana esteja quase recuperada, Archer e Phlox fingem que sua condição é mais grave para convencer Sopek a deixá-la a bordo da Enterprise.
Além disso, Archer convence o vulcano a interceder por ela junto ao Alto Comando, depois que ela arriscou sua vida para salvá-lo. Sopek promete fazer a tentativa, que provavelmente garantirá a continuidade do trabalho de T’Pol como oficial de ciências da Enterprise.
Comentários
“Shadows of P’Jem” começa muito bem, respeitando o fio da meada estabelecido em “The Andorian Incident” para este que promete ser um dos arcos mais interessantes da série – a evolução das relações entre as diferentes espécies locais para a formação da Federação.
A abertura do episódio, mostrando a tensão entre os vulcanos e os humanos e o forte desejo de interferência que os alienígenas desejam ter sobre a política terrestre são bem explorados, de forma até bastante realista. Mais uma vez, alguns podem pensar que esses vulcanos continuam muito mais malvados que o de costume. Mas não é o caso. Imagine como os católicos se sentiriam se, por interferência de um grupo, alguém resolvesse simplesmente destruir o Vaticano.
É assim que os vulcanos se sentem com relação ao ataque andoriano a P’Jem. É bem verdade que eles foram os primeiros a romper o tratado, mas o que eles perguntam, com razão, é o que a Terra tem a ver com isso. Forrest argumenta muito bem junto a Soval, mas também lembra a Archer que os terráqueos não podem se dar ao luxo de interferir nas relações entre outras espécies a torto e a direito.
Até aí, com o rompimento dos programas conjuntos Terra-Vulcano e a convocação de T’Pol de volta a seu planeta natal, estava desenhado o tema para um grande episódio. Infelizmente, essa boa história ficou meio perdida em meio ao incidente de Archer e T’Pol em Coridan, que não teve a mesma inspiração em sua execução que o prólogo teve.
A história toda não apresenta grande apelo, nem fornece muitos elementos para fazer progredir a relação Terra-Vulcano-Andoria. Que logo se entenda: não é que ela seja horrível; simplesmente não tem uma razão de ser. A aparição dos andorianos é um pouco conveniente, mas ainda assim convincente. Shran está procurando uma forma de ajudar Archer e aqui encontra a oportunidade ideal.
Os andorianos estão bem mais interessantes aqui do que em “The Andorian Incident”, em termos de sua caracterização. Jeffrey Combs dá um show com sua interpretação, fazendo frases que poderiam parecer bobas, como “estou te ajudando para poder ter uma boa noite de sono”, soarem extremamente realistas. Combs começa a imprimir a verdadeira caracterização do que é ser andoriano – algo que nunca havia sido feito antes em nenhuma série do franchise.
Mais uma vez, o forte da série prevalece – a interação entre os personagens regulares. Trip está ótimo no comando da Enterprise, principalmente na hora de lidar com o arrogante Sopek. Ele forma uma boa dupla com Malcolm (que será ainda mais reforçada no próximo episódio, “Shuttlepod One”), e mostra o principal traço necessário a quem senta na cadeira do meio – espírito de liderança.
Hoshi Sato também tem uma pequena oportunidade de brilhar quando precisa “despachar” o capitão Sopek, que exige uma explicação sobre a cápsula auxiliar que havia partido algumas horas antes da Enterprise rumo ao planeta. Phlox faz uma rápida, mas significante aparição com T’Pol no refeitório, no começo do episódio.
Infelizmente, a dupla Archer e T’Pol não rende o mesmo que seus colegas. Os dois até que trocam bons diálogos, mas todo aquele papelão de ficar tentando se desamarrar destruiu o que poderia ter sido uma excelente interação da dupla. Infelizmente, houve muita concentração em esfregação, e pouca em caracterização. Eu podia ter passado sem ter de ver Scott Bakula com o rosto enfiado nos seios de Jolene Blalock. Por mais que a cena tenha apelo cômico, destrói totalmente a seriedade do episódio. Os produtores precisam aprender que em nem todas as histórias é possível ficar enfiando piadinhas.
Tirando isso, Blalock consegue mais uma vez imprimir texturas a T’Pol, dando uma nova dimensão de seu personagem e mostrando exatamente o quanto ela está apreciando sua estadia na Enterprise, mas ainda assim a deixando dividida por estar abandonando o “lado” de seu povo para defender os humanos. Sem dúvida, essa evolução da personagem ainda vai oferecer pano para manga, assim como a relação entre vulcanos e humanos em si.
Pelo uso de Coridan como palco dos acontecimentos, o episódio ganha aquela conotação “histórica” que se esperaria de pelo menos parte dos segmentos de Enterprise. Os roteiristas aproveitam a história para preencher um vazio no universo da série, o que é muito positivo.
Também é interessante ver andorianos e humanos trabalhando juntos. Keating, Trinneer, Dennis e Combs mostraram boa química em suas cenas conjuntas e demonstraram que os andorianos devem mesmo ter vindo para ficar. Esperamos apenas a próxima aparição.
Em compensação, o final do episódio, restaurando o status quo com relação à designação de T’Pol à Enterprise, é uma oportunidade perdida. Seria interessante ver a oficial de ciências voltando a Vulcano por alguns episódios, trabalhando para recuperar seu posto na Enterprise. Essa opção certamente teria oferecido uma chance bem maior para desenvolver os vulcanos do que essa abordagem “vilões da série” que os produtores estão adotando.
O preço seria pago em serialização – seria preciso acompanhar todos os episódios subsequentes para entender o que T’Pol estaria fazendo em Vulcano -, o que a equipe da série quer evitar para manter cada episódio acessível ao público que está vendo pela primeira vez o programa. Uma pena.
Do ponto de vista técnico, vemos um empobrecimento de valores de produção. Embora as tomadas espaciais continuem competentes como de costume, os cenários são todos escuros e mal podem ser vistos. Em outras palavras, eles poderiam ter filmado esse episódio na garagem da minha casa à noite que ninguém ia notar a diferença. A maquiagem do povo de Coridan também deixou muito a desejar – mal se via diferenças entre eles e os humanos. Mesmo a direção, que costuma passar sem acidentes, deu um belo tropeço na cena em que T’Pol salva Sopek. Em vez de dar dramaticidade e tensão, a câmera lenta só serviu para destruir a dinâmica da cena. Não sei se filmada de outro modo ela ficaria melhor, mas que desse jeito não funcionou, não funcionou.
Um ponto positivo fica para a coreografia da luta entre Archer, T’Pol e seus captores, durante a primeira tentativa de fuga. O golpe que o capitão dá em um dos terroristas é digno de Bruce Lee e relembra as velhas e exageradas voadoras do capitão Kirk. Um momento divertido, em que a paródia funciona em favor do episódio. E, claro, a primeira citação de Houdini em Jornada nas Estrelas.
Ainda há muito que melhorar até a fundação da Federação, mas o importante é manter a história caminhando. Com um episódio que não vai deixar muita saudade, mas também não vai entrar na lista negra dos fãs, “Shadows of P’Jem” mantém a bola rolando. Vamos torcer para que o gol venha logo.
Avaliação
Citações
“The Vulcan High Command doesn’t make command assignments here.”
(“O Alto Comando Vulcano não faz designações de comando aqui.”)
Forrest
“Tell me about your ship!”
“The food resequencer can make chicken sandwiches.”
(“Fale-me sobre sua nave!”)
(“O re-sequenciador de alimentos pode fazer sanduíches de frango.”)
Rebelde e Archer
“I’m starting to get real tired of getting cut off!”
(“Eu estou começando a ficar cansado de ser cortado!”)
Tucker
“From what we can tell, the entire capital is surrounded by shantytowns. There are almost as many bio-signs on the outskirts as there are inside the city.”
“Looks like those people have a lot to learn about building a free society.”
(“Pelo que posso dizer, a capital inteira está cercada por rebeldes. Há quase tantos bio-sinais na periferia quantos dentro da cidade.”)
(“Parece que esse pessoal tem muito a aprender sobre construir uma sociedade livre.”)
Reed e Tucker
“I’m here for only one reason… I need a good night’s sleep.”
(“Estou aqui por uma razão… preciso de uma boa noite de sono.”)
Shran
“You’re the one who should’ve been dying… not her.”
(“Você é o que deveria estar morrendo… não ela.”)
Shran
Trivia
- O roteirista e consultor científico Andre Bormanis viu com bons olhos a volta dos andorianos neste episódio: “Os andorianos são personagens tão legais, você pode contar em vê-los de novo. Até onde nossa relação com eles vai mudar no futuro, isso é algo que descobriremos conforme continuemos a escrever novos episódios para esses personagens.”
- Jeffrey Combs fez vários comentários sobre o segmento. Segundo ele, “basicamente, é outra situação de reféns onde o capitão se mete em outro planeta e é pego no fogo cruzado de uma guerra civil. Não é uma boa situação e, basicamente, nós somos a cavalaria subindo a montanha. Aparecemos no momento oportuno e os ajudamos, e tiramos o capitão daquela situação.”
- “Eu estava ‘seco’ para viver Shran novamente”, disse Combs. “Fiquei especialmente satisfeito por isso acontecer agora, poucos episódios após minha primeira aparição na série. Eu estou ansioso para ver o novo episódio, ele é um dos mais legais.”
- Combs vê uma continuidade entre “The Andorian Incident” e “Shadows of P’Jem” específica para seu personagem. “Bem, o primeiro termina com o meu personagem meio que pensando de má vontade que esses humanoides podem ser um pouquinho confiáveis, mas também com a sofrida dor de que eu devo a esse cara, o que eu não gosto, e é uma dinâmica interessante de interpretar. Com esse agora eu basicamente consigo dizer, ‘Ok, estamos empatados agora’.”
- “O planeta em “Shadows of P’Jem” é Coridan, que, é claro, foi mencionado em “Journey to Babel” [Série Clássica], onde primeiro encontramos os andorianos”, diz Mike Sussman, um dos roteiristas do episódio. “Foi divertido finalmente ir a aquele planeta, ver como essas pessoas são e criar todo tipo de história pregressa interessante; na série, Coridan é um planeta com três bilhões de pessoas, e em cem anos, é um planeta que o pai de Spock diz ser pouco povoado. Agora estabelecemos que há uma guerra nesse planeta, o que vai acontecer? Essa guerra vai matar toda essa gente? E nós estabelecemos que os vulcanos têm um relacionamento com o governo e muita gente não aprova. Isso é tudo background e subtexto que eu não sei se estará muito aparente, mas é algo a mais para os fãs que procuram por pequenos ecos.”
- “Eu lembro que Scott [Bakula] e eu estávamos filmando uma cena em um dos novos episódios que vão estar sendo exibidos”, conta Jolene Blalock. “E nós chamamos de cena ‘Love Shack’, porque estávamos amarrados de costas. E tínhamos que que nos virar estômago a estômago. E o erro foi, nós caímos. E, obviamente, não podíamos nos mexer. E a equipe toda, depois que caímos no ensaio, colocou “Love Shack” dos B-52s. E todo mundo se reuniu, falando, “Love Shack!” e não podíamos nos mover, porque estávamos amarrados juntos. Ficamos, ‘isso é muito legal, sabia?'”
- Jeffrey Combs, Vaughn Armstrong, Gary Graham e Steven Dennis já interpretaram seus papéis em episódios anteriores de Enterprise.
- Jeff Kober já interpretou Iko, no episódio “Repentance”, de Voyager. Barbara Tarbuck já fez a governadora Leka Trion, em “The Host”, de A Nova Geração. Gregory Itzin foi Ilon Tandro em “Dax” (Deep Space Nine), Hait em “Who Mourns For Morn?” (Deep Space Nine) e o doutor Dysek em “Critical Care” (Voyager).
- Esse é o último episódio de Tim Finch como co-produtor.
Ficha Técnica
História de Rick Berman & Brannon Braga
Roteiro de Mike Sussman & Phyllis Strong
Dirigido por Mike Vejar
Exibido em 06 de fevereiro de 2002
Título em português: “Sombras de P’Jem”
Elenco
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado
Jeffrey Combs como Shran
Vaughn Armstrong como almirante Forrest
Gregory Itzin como capitão Sopek
Gary Graham como embaixador Soval
Jeff Kober como Traeg
Steven Dennis como Tholos
Barbara Tarbuck como chanceler Kalev
Enquete
Edição de Mariana Gamberger
Revisão de Nívea Doria