Garrett Wang (Harry Kim) e Robert Duncan McNeill (Tom Paris) são os apresentadores do novo podcast, The Delta Flyers, que aborda os bastidores da série Voyager.
O podcast revisa os episódios e compartilha histórias dos bastidores da série. Além dos comentários dos apresentadores temos estrelas convidadas que contam suas impressões do trabalho nos sets. O programa oferece download gratuito para alguns episódios, mas ao optar por assinar o podcast, você tem, além de ouvir todo o conteúdo, um bônus, com vídeo dos dois atores e convidados comentando sobre os episódios, lendo e discutindo críticas de fãs.
O primeiro episódio de Delta Flyers foi lançado no início de maio e liberado em vídeo no youtube.
Os atores conversaram com o site TrekMovie falando sobre seu novo podcast e o tempo de trabalho nos sets de filmagens. Veja aqui os pontos mais importantes dessa entrevista.
A origem do podcast
Antes de fazer o The Delta Flyers, Garrett já tinha experimentado outro podcast, chamado de Alpha Quadrant, sobre Deep Space Nine, com Aron Eisenberg (Ferengi Nog, falecido em 2019). Com esse trabalho, Garret veio com a ideia de revisar os episódios de Voyager, mas esse projeto estava na gaveta desde que ele e seu colega de elenco, Robbie McNeill, trabalhavam na série.
Robbie McNeill conta que, “Mesmo quando estávamos filmando Voyager, ele costumava falar sobre: “Deveríamos ter um programa de entrevistas como o The Tonight Show”, disse o ator. Então, a pandemia deu a oportunidade para a dupla desenvolver melhor a ideia e, com o cancelamento das convenções, poder oferecer algo diferente e divertido.
Avaliando o trabalho na série
Os atores lembram que tiveram de rever todos os episódios da série para prepararem o programa e os dois tiveram sentimentos diversos sobre suas performances.
“Eu senti que muitas vezes meu desempenho era um pouco mais rígido do que eu me lembro”, disse McNeill continuando. “Então, para mim, tem sido um pouco desafiador. Às vezes sou muito crítico com o meu desempenho, às vezes sou muito crítico com o personagem e a escrita desse personagem. Mas há também muitos momentos realmente agradáveis que estou descobrindo, que não via há muitos anos. É uma espécie de mistura”.
Para McNeill, sua primeira meta, quando veio a bordo da franquia, era manter esse emprego, embora não gostasse muito do comportamento do personagem, no início.
“Então, simplesmente não critiquei nem questionei nada do que eles escreveram porque eu estava lá para fazer o que quisessem”, comentou o ator.
Mas, com o tempo, o personagem se transformou em algo que o deixou orgulhoso e feliz. “
Ele se transformou em alguém que era realmente adulto e verdadeiramente heroico de várias maneiras, e um cara legal. E ele cresceu nisso, em algum lugar que estava meio interrompido e precisava de algum trabalho. Eu acho que a história funcionou no final”.
“Eu acho que a única coisa pela qual fiquei agradecido nas últimas temporadas foi o relacionamento B’Elanna / Tom, porque permitiu que eles tivessem um personagem com o qual eu acho que eles lutaram desde o início … e eles experimentaram no meio disso um pouco”.
Já Garrett Wang acredita que devido ao ritmo frenético das gravações, onde não tinham praticamente ensaios, algumas falas dele foram entregues ao público rápidas demais e outras sem a intensidade devida, principalmente na primeira temporada.
“Quando chegávamos ao set, realizávamos um ensaio apenas para a equipe de filmagem e o som e descobríamos como iluminar aquela cena em particular. Então, depois daquele ensaio rápido, voltávamos e tínhamos que filmar, de uma a três tomadas. E acho que quando você tem uma falta de ensaio assim, é muito difícil encontrar o ritmo certo”.
Treshold e Tuvix
McNeill citou “Threshold” como um episódio que ele tem receio de tocar no programa, mas ao mesmo tempo acha interessante para comentar com o público. Apesar de considerado um dos piores episódios de Star Trek, ele defendeu seu trabalho:
“A razão pela qual acho que é tão odiado é por causa dos elementos da escrita e da história – não o que eu fiz, espero”, disse o ator. “Eu nunca ouvi falar das pessoas: “Oh, você foi um ator horrível nesse episódio”.
Garrett aproveitou para brincar com a transformação do personagem, “Robbie, eu não acho que eles odeiam, cara. Eu acho apenas que o final é tão bizarro que perturba as pessoas. O fato de você ter bebês lagartos com Janeway, no final. É como, ‘Sério?’ Sim, eles são lagartos. E agora eles têm filhos?… Eles tinham toda aquela maquiagem protética nele, lembro-me de entrar no trailer e vê-lo. Honestamente, ele parecia uma vítima de queimadura”, observou.
McNeill lembrou que um dos convidados do podcast foi o ator Tom Wright, intérprete de um personagem controvertido em Voyager, Tuvix, um híbrido criado como resultado de um acidente com o teletransporte de Tuvok e Neelix. Tom Wright também esteve no papel do alienígena Ghrath no episódio “Storm Front” de Enterprise.
“A parte polarizadora é que algumas pessoas pensam que Janeway basicamente assassinou Tuvix, certo? Eu nem penso nisso… Eu amo esse episódio. Eu não entro na política de “Janeway deveria ter deixado esse cara viver”, sabia?”, disse Garret, acrescentando “Mas se você deixou o Tuvix viver, acabou de matar Tuvok e Neelix. Você matou duas pessoas agora, certo? Essa é uma decisão difícil para Janeway, mas acho que ela tomou a decisão certa”.
A preparação para o piloto e viagens no tempo
“O meu era bem básico. Ele saiu da Academia da Frota Estelar, o jovem e ansioso alferes. O alferes Kim tinha a tela mais em branco para trabalhar, certo? Ele era muito verde”, disse Garret sobre seu personagem no primeiro episódio.
O ator revelou que, no início da série, raramente discutiam arcos com seu personagem. Mas a história de maior importância para Garret foi “Timeless”, onde um Kim do futuro tenta salvar a Voyager de um desastre catastrófico. Além de ser o o centésimo episódio da série, foi dirigido por LeVar Burton.
Além de “Timeless”, Garret cita ainda outra estória de viagem no tempo que estava no planos da produção.
“E houve outra vez em que eles telefonaram e disseram: “Ei, nós vamos fazer um episódio na próxima temporada, será o nosso episódio do Quantum Leap … Kim acorda no corpo de um serial killer na moderna Los Angeles . E ele está sendo perseguido pelo FBI por todo o episódio para tentar voltar à Voyager . Pensei: ‘Uau, isso é como o fugitivo misturado com o salto quântico ‘. Eu estava tão empolgado – e eles nunca filmaram. [risos] Eles acabaram não fazendo nada e isso me chateou. Robbie, eles conversaram com você sobre seu personagem e seu arco?”
No que respondeu McNeill:
“Eles nunca fizeram realmente, não. Eu acho que eles estavam fazendo isso há tanto tempo, eles tinham tantos projetos em andamento. Haviam acabado de encerrar A Nova Geração na televisão, e estavam fazendo filmes, tinham Deep Space Nine e Voyager e não tinham tempo para orientar todos os atores em todos os arcos e nuances de seus personagens. Lembro-me de poucas conversas de longo prazo”.
Atores lançando ideias para os roteiristas
Alguns do elenco, como Robert Picardo, gostavam de lançar idéias para os escritores, mas Robbie McNeill tinha outros planos em mente, “Eu realmente não lancei, não”, negou o ator. Ele preferia, na verdade, ser diretor e não queria confundir os produtores com a tentativa de ser escritor, diretor e ator. “Deixe-me apenas fazer o meu trabalho de ator e manter o foco na direção“.
“Eu tentei, mas não fui tão persistente quanto Robert Picardo”, brincou Garret. O ator revelou sua ideia de estória que foi rechaçada pela propdução:
“Eu tentei, porque eu continuava dizendo: “Escute, pessoal, minha força são minhas personificações, minha capacidade de fazer sotaques e apresentações. Vamos ter um enredo B, onde a tripulação tem um show de talentos em todo a nave. E o alferes Kim se levanta e faz sua representação do Doutor, de Janeway, de quem quer que seja”. Mas os roteiristas ficaram tipo, “Eh … não”.
Garret lamenta que a produção tenha permitido que os colegas de elenco personificassem uns aos outros e ele tenha sido deixado de fora.
“E então, o que foi tão frustrante foi que, ao longo dos sete anos, houve algumas vezes em que os atores de Voyager conseguiram personificar outros personagens; especificamente, quando o médico estava no corpo de Sete de Nove , você se lembra disso? (“Body and Soul”). E Sete teve que basicamente se passar pelo Doutor. E então a outra vez foi quando Barclay, de A Nova Geração, estava no refeitório. E ele acaba fazendo sua personificação de Janeway (“Inside Man”). Agora, as duas cenas: Adivinhe quem eles tinham naquela cena, bem ao lado do ator fazendo sua representação? Sinceramente. Então foi quase como se eles dissessem: “Não apenas não vamos permitir que você tenha o que pede, mas também esfregaremos sal em sua ferida e faremos você assistir outras pessoas fazendo a representação deles não tão boa assim”, e isso estava me matando”.
Garret disse que chegou a pedir para que o deixassem ensinar o estilo de luta Krav Maga na nave, como fez Worf em A Nova Geração, mas no final da série concordaram em lhe dar uma habilidade a mais, como músico de clarinete:
“O clarinete não é um instrumento muito masculino. [risos] Você poderia me dar um saxofone? Então eles removeram o clarinete e o saxofone acabou em meus aposentos. Então, há um episódio em que você vê um saxofone lá, e essa é a única coisa pela qual conseguir pressionar”.
Neelix, Chakotay e o humor na série
Garrett Wang tem suas críticas quanto ao humor na série. Ele vê no personagem Neelix , interpretado por Ethan Phillips, uma sensibilidade cômica incrível. Mas os produtores não permitiram que isso realmente florescesse, na opinião do ator.
“A maior parte da comédia foi para o Doutor. Era como, ‘Ok, neste bolo da comédia vamos dar cada fatia, mas um pouquinho mais ao Doutor’, e eu senti que poderia ter desenvolvido mais para ver mais comédia entre os personagens humanos, entre Paris e Kim. E até Chakotay. Por que temos que relegar todas as coisas engraçadas para um personagem? Isso sempre me devorou e eu senti que meio que perdemos isso”.
Sobre Neelix, McNeill acha que ele foi mal desenvolvido. “Eles o transformaram em um alienígena fofinho e agradável para as pessoas quando ele era realmente esse paranoico comerciante de rua. Ele não era um cara simpático e amável quando o conhecemos. Tinha todo o figurino para escrever, acho que Neelix poderia ter sido um personagem muito mais complicado do que eles deram a Ethan a oportunidade de interpretar”.
Ainda segundo o ator, Neelix tinha uma definição diferente no piloto, mas a produção tirou isso e transformou-o rapidamente em algo útil para agradar as pessoas “… ele era como o diretor social, era muito suave. A longo prazo, poderia ter sido feito para um personagem muito mais interessante”.
Outro personagem, que na opinião da dupla, poderia ter sido melhor desenvolvido, foi Chakotay.
Para McNeill, a produção poderia ter investido algum tempo e esforço em realmente tentar fundamentar o personagem na tradição dos nativos americanos. Segundo o ator, ele ouviu dizer que, foi um esforço para não ofender nenhuma tribo. Eles o fizeram de uma não-tribo genérica que realmente não existia.
“Eu acho que isso realmente prejudicou esse personagem Chakotay. Se ele tivesse sido fundamentado na verdadeira e autêntica tradição nativa americana, isso poderia ter sido muito mais interessante. E eu senti que era uma espécie de gesto simbólico nessa coisa indígena genérica”.
Continuou McNeill, “Seria como ter um personagem preto – imagine as coisas mais racistas e estereotipadas que você possa pensar que possam ser potencialmente ofensivas – mas dizendo: “Oh, esse personagem preto gosta dessas coisas” e isso é o máximo que você explorou. Se eles tivessem feito isso em Deep Space Nine com Sisko, você pode imaginar? O que era bonito em Deep Space Nine é que eles realmente exploraram o que significa ser um pai preto, o que significa ser um líder preto. Eles não se intimidaram com a oportunidade de explorar de maneira real o lado racial desse personagem naquela experiência. Mas com Chakotay, eles realmente não fizeram”.
Saída de Jennifer Lien
Os entrevistados não sabem o que aconteceu com a atriz Jennifer Lien (Kes) para sair da série, apenas ouviram que não estavam renovando o contrato dela e que estavam trazendo outro personagem.
“Essa transferência de bastão foi muito embaraçosa porque o último episódio de Kes – ela apareceu mais tarde naquele episódio de tempestade de fogo [“Fury”] – seu último episódio foi o primeiro de Sete de Nove e elas estavam no set ao mesmo tempo também, e isso foi muito estranho. Mas eles nunca realmente nos prepararam para isso”, disse Garrett, informando que o elenco chegou a fazer um jantar de despedida para a atriz.
McNeill disse que esse fato do elenco não saber nada do que ocorria na produção era o padrão no estúdio:
“Normalmente, não havia uma abordagem inclusiva com os atores de Star Trek, que eu me lembro. Você descobre quando recebe um memorando ou os scripts. Eu acho que diria que não havia um grande tipo de vibração do escritório e dos escritores. Parecia que éramos uma família no set, quando estávamos filmando. O elenco e a equipe muito perto, realmente uma equipe incrível, um grupo maravilhoso de atores, acho que todos nos sentimos muito próximos. Mas do lado da gerência, não houve um aviso do tipo: “Hey, falaremos com vocês como um grupo sobre coisas que podem ser sensíveis”.
Um exemplo dado foi o do personagem Neelix, quando encerrou sua participação na série, alguns episódios antes de todo mundo.
“… eles o escreveram cedo. E não acho que Ethan tenha sido informado disso até ver o roteiro. Ou talvez ele tenha sido informado no dia em que recebemos o roteiro”.
Críticas a Rick Berman
Essa crítica de distanciamento da produção com elenco tinha como foco principalmente o showrunner da série, Rick Berman.
“Sim, definitivamente há um certo nível de desconexão da gerência, como Robbie disse“, concordou Garrett acrescentando.
“E é muito indicativo de … se você está falando sobre Berman ser o principal showrunner, Rick Berman. Eu fui muito crítico com ele no passado. E vou dizer neste caso em particular, não vou falar sobre a pessoa dele nem nada sobre isso. Só vou dizer: em sete anos, eu o vi no set duas vezes, ok? Duas vezes em sete anos. E um desses momentos era fazer uma entrevista para a revista Yahoo”.
Um fato engraçado foi o que ocorreu nessa entrevista de Rick Beman. Garrett conta que parte do elenco estava no set da ponte da Voyager para um jantar de sexta. Uma grande mesa foi colocada bem à frente da ponte. Garret Wang e Ethan Phillips foram os primeiros a se sentarem, enquanto Berman, com sua pose de “Eu sou o governante do universo”, fazia a entrevista mais acima. Foi então, que Ethan, com sua tranquilidade peculiar, disse: “Hum, os degraus deveriam estar pegando fogo?”. Garrett faz um “O QUE?” e enquanto se vira vê Berman gritando apavorado e correndo do cenário. Uma das lâmpadas aqueceu o tecido colocado para enfeitar o set e este pegou fogo, incendiando uma parte do cenário. A equipe de reparos entrou em cena e todos ajudaram a apagar o pequeno incêndio, mas o showrunner já havia desaparecido. Com os gritos de Berman, muitas pessoas saíram histéricas, em pânico. Ele deu o tom do desespero, segundo McNeill. As únicas pessoas que não fugiram foram Ethan e Garrett.
Revivendo o Capitão Próton
Como resultado do incêndio, eles aceleraram as filmagens de “Bride of Chaotica”, porque precisavam fazer algum trabalho no set.
Por falar em Capitão Próton, Garrett revela que Kate Mulgrew adorou fazer o personagem Arachnia.
“Ela não entrou no personagem. Ela estava no personagem. Ela teve esse passo realmente incrível. Você podia ver o entusiasmo dela quando entrou no set – ainda nem estávamos filmando. Foi ótimo”.
“Eu adoraria fazer novamente”, disse McNiell. “Eu realmente não fiz um esforço concreto, mas conversei com algumas pessoas, vamos ver. Há uma chance de que possa haver alguma versão disso sendo desenvolvida e voltando”.
“Meu objetivo é realmente tentar impedir Robbie de fazer outros projetos, e focar na realização do Capitão Proton“, disse Garrett brincando, “Ele é literalmente o homem mais ocupado de Hollywood, e se conseguirmos que ele se concentre em Próton, talvez isso se torne realidade. Então vamos ver”.
Já participaram do podcast os atores Tom Wright, Robert Picardo, Robert Beltran, Brian Markinson, assim como o pessoal da equipe técnica Dan Curry (supervisor de efeitos visuais), Dennis Madalone (coordenador de dublês). Kate Mulgrew ficou de confirmar sua presença.
Você pode assistir ao podcast de alguns episódios neste link.