Isa Briones e Evan Evagora interpretam dois personagens sobre os quais quase nada se sabe em Star Trek: Picard. Ela é a misteriosa Dahj, que, a julgar pelos trailers, coloca em movimento a trama da nova série. Ele é o romulano Elnor, cujo visual combina um elfo com um samurai, mas isso é tudo que sabemos. Eles estavam em Berlim para a segunda pré-estreia europeia de Star Trek: Picard, na última sexta-feira (17), quando atenderam ao Trek Brasilis para uma entrevista por telefone. Na conversa, eles falam de como foi trabalhar nas cenas de ação da série, do conhecimento prévio que tinham de Jornada nas Estrelas e de como é ser os “novos garotos do bairro” na franquia. Confira a seguir o bate-papo.
Podemos ver pelos trailers que os seus personagens vêem muita ação, me pergunto como foi a experiência em fazer sequências de ação. Vocês já tinham experiência com isso? Como isso aconteceu? Vocês fizeram muitos dos seus stunts?
Isa Briones: Eu fazia artes marciais quando eu era criança e acho que pratiquei por volta de uns 4 ou 5 anos. Eu era uma daquelas crianças que iam à escola e imediatamente iam para a sala de artes marciais para praticar o dia todo, mas eu acabei parando quando adolescente. Quando me disseram que eu voltaria a fazer stunts, eu fiquei tão animada! Realmente senti como se estivesse voltando para algo que já estava de fato no meu corpo… claro que foi difícil, eu não fazia aquilo há um tempo, então demorou um pouco, mas eu treinei por volta de um mês com o nosso time incrível de stunts e com uma ótima dublê, Kiera. Foi emocionante, terminou em muitos machucados, mas foi muito legal.
Evan Evagora: Eu tinha absolutamente nenhuma experiência em treinar stunts ou lutar com espadas, mas, assim que eu cheguei em Los Angeles, me deram uma espada de plástico e nós começamos a treinar basicamente todos os dias, praticando sequências de luta, movimentos, como segurar a espada e as posições corretas. Eu tive sorte de conseguir realizar a maioria dos stunts, exceto grandes giros, eles eram muito complicados então os deixei para o meu dublê.
Qual foi sua primeira memória [de Star Trek], por qual parte da franquia você começou?
Briones: A primeira coisa que eu me lembro é dos filmes mais novos com Chris Pine e Zachary Quinto. E sim, esse é basicamente meu conhecimento principal [sobre a franquia]. Eu sabia da existência anteriormente através da televisão, enquanto trocava de canais, episódios de A Nova Geração e da Série Clássica apareciam. Comparada a fãs de verdade, eu estava bem “no escuro” até eu conseguir esse trabalho e voltar atrás para assistir a A Nova Geração…
Agora você já assistiu a tudo?
Briones: Não tudo, eu comecei a assistir diferentes episódios e pegar o clima da série, depois de um certo ponto, 3 ou 4 episódios, ela me fisgou e eu continuei assistindo. Até porque eu estou trabalhando com a Marina Sirtis e o Jonathan Frakes então isso realmente me preparou para surtar como uma fã (risos) quando os conheci.
Evagora: Eu acho que minha memória mais antiga de Star Trek é provavelmente À Procura de Spock, o que é meio estranho porque A Ira de Khan é tão bom, mas esse filme em particular é muito especial para mim. Eu cresci assistindo A Nova Geração com minha mãe e minha irmã então como cada trekker tem sua própria jornada, tenho que dizer que a minha começou com A Nova Geração. Eu não sei, acho que algumas coisas realmente me prenderam, como a cabeça maluca do Worf e também a presença de Whoopi Goldberg, é uma memória forte que eu tenho, é uma personagem muito boa.
Falando sobre dividir cenas com Patrick Stewart, o que vocês aprenderam com ele? Ele é uma figura icônica, deve ser sido intimidador no começo…
Evagora: Ah, sim, eu lembro que no meu primeiro dia eu estava tremendo tanto, mas ele é tão calmo, assim que ele entra pela porta ele traz uma espécie de energia, eletricidade, não sei nem como chamar isso. Todo a sala, todo o elenco, toda a equipe, tudo simplesmente muda, ele te faz querer atuar melhor. Eu acho que foi a Michelle Hurd que disse que você não consegue mentir para ele…
Briones: Ele é um ator tão verdadeiro que faz com que você queira melhorar acima de tudo. Tudo começa com o número 1 da série e isso engrandece todo mundo, já que ele é tão generoso, cuidadoso e tem um espírito muito bonito.
Evagora: Ele acredita em todo mundo, ele contribui em todo mundo ser parte daquilo, não somente o elenco, mas também a equipe, até mesmo o pessoal dos serviços de alimentação. Ele é uma pessoa tão acolhedora, encantadora, engraçada… Ele conta histórias muito engraçadas, principalmente quando Jonathan [Frakes] estava dirigindo. Ele fala e você apenas senta e esquece até mesmo que está trabalhando.
Vocês poderiam nos contar quais foram pessoalmente seus momentos mais especiais durante a gravação da primeira temporada? Eu sei que vocês não podem dar spoilers, mas pode ser algo em cena ou de bastidores… Qual foi o momento mais especial para vocês?
Evagora: Teve uma cena em particular que eu me diverti muito filmando. É no meu primeiro episódio e é meio sangrenta, então eu não quero dar muitos detalhes porque senão eu contaria tudo e eu quero que vocês a vejam.
Briones: Eu preciso dizer, em qualquer momento que todos nós estávamos lá trabalhando… Michelle Hurd, Santiago, Alison, Harry e Patrick, quando todos nós estávamos juntos, nós nos tornamos amigos mais próximos e isso fez trabalharmos juntos mais divertido, o que fez gravar ser mais difícil às vezes porque estávamos sempre rindo. Nos divertimos muito, não houve um momento em que ficamos para baixo. Me senti brincando com meus amigos.
Vocês são o sangue novo da franquia, não sei os detalhes sobre seus personagens mas espero que eles também sejam algo novo em Star Trek…
Evagora: Sim, nós somos os novos personagens! (risos)
Briones: Bom, eu acho que a única coisa que realmente importa para nós é que possamos contar uma história nova e incrível, algo realmente tocante e motivador. Eu acho que é aí que a nossa incrível equipe de roteiristas se destaca. Todos os personagens tiveram experiências diferentes e vieram de lugares diferentes, estamos todos procurando por um futuro parecido, uma esperança similar, e essa é a linha de Star Trek em geral. Eu acho que a série faz um trabalho muito bom em contar histórias muito diversas…
Evagora: Com um elenco muito diverso.
Briones: Sim, você olha para o elenco e tudo começa ali. A diversidade transforma nossas experiências e no que podemos trazer para essas histórias.
Evagora: Quando eu cresci, não tínhamos essa representatividade na televisão e eu espero que possamos inspirar não apenas uma geração de atores mas também uma geração de pessoas. Quando você vê pessoas como você na tela, não é apenas inspirador mas também reconfortante. É isso que Star Trek sempre tem sido, sempre há um lugar para pessoas, eu não quero dizer “desajustadas” ou “rejeitadas”, mas olhe para essa linda comunidade e família que foi criada que vem sendo criada há quase 60 anos, há uma razão para isso.
O elenco é uma das coisas mais intrigantes dessa série. Como foi o processo de seleção? Como vocês vieram parar aqui? O que eles estavam procurando até encontrarem vocês?
Evagora: Eu não quero dizer que sou o que eles estavam procurando…
Briones: Nós nunca sabemos o que eles estão procurando! (risos)
Evagora: Você recebe um escopo ou um roteiro e é dado um personagem, você o interpreta…
Briones: E às vezes você recebe algo que não conta de fato quem sua personagem é. Usam-se codinomes e pequenas descrições. Minha personagem era descrita basicamente como “uma jovem mulher”. (risos)
Evagora: O meu tinha os termos “alien” e “adolescente”, mas depois que eu fui conversando com a Hanelle, diretora dos episódios 1 e 3, ela foi me dando mais com o que trabalhar, mais informações, mais pontos. Então ela pedia para eu refazer e acho que fiz um bom trabalho porque aqui estou. (risos)
Briones: Com certeza! (risos)
Gostaria de perguntar sobre suas expectativas para a segunda temporada. A série foi renovada antes de sua estreia, o que vocês acharam disso?
Evagora: É incrível. Eu sabia que estávamos fazendo ali algo especial com os roteiristas, o elenco, a produção, é bom ter esse reconhecimento antes mesmo de ir ao ar. Acho que mesmo que saibamos que a série vai se dar muito bem, tem algo que nós trekkers sentimos que é uma grande história, bem construída e bem escrita, com grandes personagens cheios de camadas, assim como as pessoas são de fato. É algo relacionável, algo que as pessoas vão acompanhar quando assistirem à série.
Podemos esperar vocês na segunda temporada?
Evagora: Possivelmente…? Você precisa esperar para ver.
Briones: Precisamos passar pela primeira temporada antes de tudo. (risos)
Vocês são recém-chegados, é gratificante chegar já como personagens regulares?
Evagora: Para mim, é muito gratificante porque sou um grande fã de Star Trek. Eu não tinha grandes expectativas sobre mim nisso, pensei “você tem um trabalho a fazer, faça o seu melhor com as suas habilidades”, assim como em qualquer outro trabalho, até mesmo quando eu trabalhava meio período em uma cozinha em Melbourne. Eu só entrava, dava o melhor que eu podia e ia para casa, é o mesmo de qualquer emprego. Preciso dizer que tenho gostado muito disso tudo até agora e espero continuar gostando.
Entrando agora no personagem de Patrick Stewart, o que vocês acham que fez Picard ser um personagem tão icônico e qual sua importância ainda em 2020?
Evagora: Seu melhor é quando ele reconhece seus defeitos. Eu acho que muitas pessoas se fingem, esbravejam saber das coisas, escondem o medo de não saber das coisas, Picard definitivamente não é uma dessas pessoas. Você observa isso no primeiro episódio de A Nova Geração com o Q. Ele mostra a Picard tudo de ruim que a humanidade já fez, mas Picard reconhece aquilo tudo e aponta também tudo de bom que a humanidade já fez, mostra do que a humanidade é capaz.
Briones: Nesse momento, estamos passando por tempos onde as pessoas não têm fé em seus líderes, em suas instituições, e nós estamos procurando pessoas em que possamos confiar para nos guiar, alguém em quem acreditamos e que tem sempre o melhor interesse em mente. Acho que Picard personaliza isso, é por isso que tanta gente o ama. Ele é uma pessoa que eles gostariam que estivesse liderando seus países. (risos) É por isso que eles têm esse amor por ele.
Isa, sabemos que sua personagem guarda muitas surpresas. Como foi para você como atriz trazer a nuance para as diferentes personas que veremos relacionadas a sua personagem?
Briones: O mais legal é que você sempre acha que está retratando diferentes personalidades, eu acredito. Elas precisam ser tão diferentes uma da outra, mas é como olhar para duas irmãs: elas terão suas semelhanças, expressões faciais similares, mas podem ter diferentes opiniões, afinal são pessoas normais. Acho que isso veio naturalmente, pude trazer um pouco de mim mesma porque é uma garota por volta de seus 21 anos, começando uma nova fase e com um grande caminho a trilhar em sua vida, então acredito estar falando também sobre mim agora. É muito legal poder fazer uma personagem que tem muito de mim e que eu possa trabalhar com minhas próprias experiências para dar vida a essa personagem.
Evan, seu personagem é um romulano, mas não um romulano tradicional. O que você pode nos contar sobre Elnor e sua jornada pessoal na primeira temporada?
Evagora: Quando você olha para a cultura romulana, vê que eles são muito reservados e às vezes mentirosos, mas ele não é bem assim. Ele foi criado em uma seita de freiras guerreiras, então acho que ele inicialmente não é nem capaz de mentir. Posso dizer que Elnor tem uma visão completamente diferente de seu mundo, ele não tem um entendimento real do universo em que está inserido. Essa é sua grande jornada: entender a si mesmo e as pessoas ao redor de si.
Vocês se consideram prontos para a reação dos fãs em relação à série?
Evagora: Jonathan Del Arco disse uma vez a melhor frase: se você ama os fãs, eles te amarão de volta. Eles são a razão pela qual a série existe, são a razão pela qual Star Trek durou tanto tempo. Então, sim, acho que estamos prontos e de braços abertos.
Briones: Nós por enquanto só tocamos na superfície do que isso tudo vai ser, mas mesmo assim já recebemos tanto carinho que acaba tornando tudo muito mais empolgante e isso é para o resto das nossas vidas. Trekkers são muito leais e carinhosos.
Evagora: E eles serão parte dessa jornada também, o que é incrível.
E em relação a aquelas pessoas que não são fãs, que não cresceram assistindo às séries, elas desaprovarão esse material ou a série proverá algo a elas?
Evagora: Acredito que tudo é explicado no primeiro episódio, então não precisa ser um grande fã de Star Trek para assistir. Dito isso, todo mundo sabe o que Star Trek é. Jornada nas Estrelas é tão grandioso que não consigo pensar em uma série de TV na cultura pop que não a tenha mencionado. Mesmo que você nunca tenha visto Star Trek, você definitivamente sabe o que é e sobre o que é. Nós temos uma história muito boa…
Briones: Eu falo com pessoas que nunca viram Star Trek antes e então assistem a um episódio, claro que há piadas internas aqui ou ali que elas não entendem, mas são séries tão bem escritas que você precisa de pouco para entender. São histórias centradas em personagens e o que te fisgam são as aventuras que são contadas.
E o que vocês acham que vai animar ainda mais os fãs das séries antigas nessa nova série?
Evagora: Patrick. Essa é provavelmente a melhor coisa. (risos)
Briones: Sim, é uma série completamente nova e às vezes trekkers podem ter medo disso, se perguntando “por que mudar algo que vem dando tão certo?”, mas o que sempre se mantém é o coração de Star Trek, o espírito de esperança e otimismo jamais irão embora. Estamos apenas contando novas histórias que precisam ser contadas porque o mundo mudou, então a série precisa mudar também.
Tradução de Gustavo Gobbi.