O showrunner da série Star Trek: Picard, Michael Chabon, foi autor do recente Short Trek “Q & A”, que trouxe de volta Spock (Ethan Peck) e a Número Um (Rebecca Romijn) mostrados em Discovery.
Numa entrevista ao site SYFY WIRE, Chabon falou sobre “Q & A”, “The Cage”, A Nova Geração e a nova série Picard.
Para o escritor, “Q & A” tenta responder algumas questões deixadas em aberto no episódio piloto da série original “The Cage”, como a personagem Número Um.
“Pode não haver outro personagem parecido com a Número Um em nenhum outro fandom, em que eu possa pensar“, disse Chabon sobre a primeira oficial interpretada inicialmente por Majel Barrett no episódio piloto “The Cage”.
“Entender como incluí-la no cânon é uma questão pela qual provavelmente seria mais para fãs apaixonados. Ou seja, você precisa ser mais do que um fã levemente casual para saber sobre ela, até sua aparição na segunda temporada de Discovery”.
A introdução da Número Um foi um movimento ousado de Gene Roddenberry, que não caiu no agrado do estúdio, temendo uma reação conservadora de sua audiência, pela presença de uma mulher em papel de comando.
Gene teve de reorganizar a série, retirando a personagem. e dando a maioria de seus traços de personalidade a uma versão reestruturada de Spock.
Falando do Vulcano, outra questão mostrada em “The Cage” e que Chabon tentou responder no Short Trek foi o sorriso de Spock.
“É algo sobre o qual pensei desde a primeira vez que vi ‘The Menagerie’, quando eu tinha 10 anos”, explica Chabon. “E é claro que havia a explicação Doylist (objetiva) do por que Spock é tão, tão diferente. Mas, que explicação pode haver do ponto de vista watsoniano (dentro da história)? Sim, há muitas outras expressões de emoção que são meio perturbadoras se você sente que conhece o personagem de Spock. No sentido extra-ficcional, Spock assumiu a personalidade da Número Um. E se realmente vamos mergulhar neles e eles coexistirem um com o outro, precisamos dar conta disso.
“Então, eu queria abordar o que aconteceu fora do extra-ficcional e pegar isso e colocá-lo na ficção em si – e mostrar como a Número Um teve essa influência sobre Spock; meio que fazê-la dizer:”Se você quer ser um comandante, terá que se sacrificar ao dever e à responsabilidade.”
Segundo Chabon, o episódio de A Nova Geração, “Disaster”, serviu de inspiração inconsciente para a cena de “Q&A” em que Spock e a Número Um ficam presos em um turboeléctrico.
“Bem, você sabe, eu vou ser honesto. Eu conheço esse episódio. Lembro-me daquele episódio. Mas foi realmente um acidente. Penso que no fundo da minha mente, a ideia de Picard ficar preso no turboelevador certamente estava lá. Eu já vi pelo menos duas vezes, talvez mais ao longo dos anos“, revela Chabon.
O fato de cantar a mesma canção em “Q&A” cantada por Geordi LaForge em “Disaster” foi devido a Rebecca Romijn conhecer a peça musical de Gilbert e Sullivan.
“Isso surgiu porque está no currículo de Rebecca Romijn! Eu não sabia disso. Eu já estava pensando na Número Um e nas aspas dela “esquisito”. Então eu perguntei a ela se havia algo que Rebecca fosse capaz que eu não soubesse, que o público não soubesse, que talvez ninguém soubesse, e uma das primeiras coisas a dizer é que ela era uma cantora treinada de Gilbert e Sullivan”, diz Chabon. “E eu disse ‘isso é perfeito.”
“Agora, o fato de que eu disse ‘isso é perfeito’ foi porque eu tinha essa memória inconsciente de Gilbert e Sullivan naquele episódio [‘Disaster’]”, continua ele. “Mas não foi a primeira coisa que pensei. A primeira coisa que pensei foi em ver instantaneamente essa mulher legal e reservada que nunca mostra nada a ninguém, de repente, arrebentando nessa música incrível. Parecia imediatamente perfeita. e imediatamente fiel a Número Um. Então, para que tudo se reunisse e meio que ressoasse como uma homenagem ao episódio de A Nova Geração, foi acidental, eu acho, mas também, no fundo, sou uma grande fã de A Nova Geração“.
Chabon revelou que originalmente ele queria lançar o conceito de “Q&A” como um pacote de dois episódios. A primeira ideia, que acabou ficando no Short Trek, foi o primeiro dia de Spock na Enterprise. Mas ele também queria lançar uma segunda parte que retratasse o último dia da Número Um na Enterprise também.
“Talvez eu escreva a segunda parte”, diz Chabon em tom de mistério.
Existe diferença entre escrever Short Treks e Picard? Chabon esclarece.
“Escrever Picard é muito diferente de escrever Short Treks“, diz ele. “O arco da história de Picard, a forma narrativa de Picard, os personagens, todos os aspectos de Picard foram co-criados e simultaneamente. Isso cresceu primeiro por um grupo principal que era Akiva Goldsman, eu, Kirsten Beyer e Alex Kurtzman. Esse grupo principal gerou o enredo geral que é mais amplo e, em seguida, a sala dos roteiristas acabou sendo convocada, que era uma versão um pouco expandida do grupo inicial que co-criou e co-gerou as histórias e os episódios e o que aconteceria nos episódios individuais. Os enredos não são transmitidos do alto, nem fui eu quem o gerou sozinho. Foi muito uma colaboração“.
De certa forma, Chabon diz entender por que parte dos fãs tem grandes dúvidas quanto a possíveis mudança no cânon.
“Os fãs costumam ter medo de mudanças, não é?” ele diz. “Você quer mudar para melhor. Mas às vezes é muito mais fácil imaginar de que tudo vai ser pior.”
Mas ele se sente confiante de que Picard é uma série feita para os fãs e espera que fandom o aceite.
“Mal posso esperar para você ver Picard. Está vindo exatamente do mesmo lugar em minha mente, meu coração e minha imaginação desse curta”, e finaliza. “Acho que os fãs vão adorar.”