Pesquisadores dos EUA estão construindo equipamentos que, segundo eles, permitirão vislumbrar um universo paralelo, e os testes devem começar ainda este ano. Os cientistas estão à procura de um “espelho”, onde praticamente tudo é espelhado, até as partículas subatômicas, quase como se fossem uma sombra do nosso próprio universo. Os pesquisadores do Oak Ridge National Laboratory, no leste do Tennessee, estão construindo um túnel de mais ou menos 15 metros para conduzir o experimento. Eles irão disparar partículas subatômicas pelo túnel, passando por um imã poderoso e até uma parede impenetrável no final.
Leah Broussard, líder da pesquisa, disse que se as partículas passarem pela parede para um detector de nêutrons do outro lado, elas se transformarão em uma imagem espelhada de si mesmas – o que será a primeira evidência de um universo espelhado.
Broussard disse à NBC News: “É muito maluco. Este é um experimento bastante simples que nós montamos com peças que encontramos espalhadas por aí, usando equipamentos e recursos que já tínhamos disponíveis em Oak Ridge.”
O conceito de universo paralelo sempre foi um prato cheio para a ficção científica, que imagina ambientes e até pessoas semelhantes a nós mesmos em situações diversas de vida ou mundos espelhados sombrios e ameaçadores. Star Trek tem brincado com essas teorias, imaginando pessoas a nossa imagem, existindo em um mundo semelhante ao nosso, mas com personalidade invertida.
Mas esta ideia, antes tida como ficção, vem ganhando força há décadas e os cientistas acreditam que essa ficção pode ter alguma base na realidade.
A partir dos anos 90, os físicos desenvolveram experimentos de alta precisão para estudar como os nêutrons – partículas encontradas no núcleo dos átomos – se transformam em prótons, um processo relacionado à radioatividade. Mas esses experimentos tomaram um rumo estranho.
Os pesquisadores descobriram que os nêutrons criados em feixes de partículas, semelhantes ao que Broussard usará, duram 14 minutos e 48 segundos, em média, antes de “decair” em prótons. Mas os nêutrons armazenados em garrafas de laboratório parecem quebrar um pouco mais rápido, em 14 minutos e 38 segundos. Dez segundos podem não parecer muito, mas a diferença real deve ser zero: todos os nêutrons são exatamente os mesmos, e seu comportamento não deve depender nem de onde ou como eles são examinados.
Benjamin Grinstein, especialista em física de partículas da Universidade da Califórnia, explorou a possibilidade de que alguns nêutrons quebrem inesperadamente partículas que não são prótons, mas até agora não encontraram nada. A matéria espelhada oferece uma explicação mais elegante, embora um tanto bizarra.
Há uma década, Anatoli Serebrov, do Instituto de Física Nuclear de Petersburgo, na Rússia, introduziu a ideia de que os nêutrons comuns às vezes cruzam o mundo dos espelhos e se transformam em nêutrons-espelho. Nesse momento, não podemos mais detectá-los – seria como se alguns dos nêutrons simplesmente tivessem desaparecido. “Isso faria com que a vida dos nêutrons parecesse errada”, explica Broussard, porque alguns dos nêutrons teriam desaparecido do equipamento de teste enquanto os pesquisadores os estudavam.
Daí veio a suposição: os experimentos de nêutrons podem parecer malucos porque os físicos inadvertidamente abriram um portal para o mundo dos espelhos?
O objetivo de Broussard é descobrir se esse portal realmente existe e, em caso afirmativo, abri-lo de maneira metódica. É aí que entra o raio de nêutrons e a parede impenetrável.
Oak Ridge tem um reator nuclear de 85 megawatts que pode disparar bilhões de nêutrons sob demanda, portanto, obter matéria-prima suficiente para trabalhar não é um problema. A parte difícil é descobrir como fazer com que alguns dos nêutrons passem para o mundo dos espelhos, e então provar para seus colegas céticos que isso realmente aconteceu.
O que poderíamos de fato encontrar se esse tal portal fosse aberto?
Em uma recente conferência de física, Berezhiani, um físico da Universidade de L’Aquila, na Itália (que conduziu suas próprias buscas por nêutrons espelhadas), expandiu a ideia, delineando uma possível realidade paralela repleta de estrelas-espelho, galáxias espelhadas e buracos negros espelhados. Talvez até a vida sombria como na série Stranger Things ou em Star Trek?
“As pessoas das trevas são, provavelmente, um pouco forçadas”, diz Broussard, que confessa que essas idéias a empurram para a beira da sua zona de conforto. “Mas a matéria escura é muito provavelmente tão rica quanto a nossa própria matéria. Esse tipo de coisa precisa ser explorado ”.
Broussard acredita que o “mundo espelhado” teria suas próprias leis de física e história, e teoricamente conteria versões alternativas de objetos elementares. Se isso acabar sendo verdade, seria a primeira prova real de que o universo existe além do que é visível para nós, o que posteriormente mudaria muito de como vemos a física e até a própria vida.
“Se você descobrir algo novo como isso, o jogo muda totalmente”, acrescentou Broussard.
Vida Longa ao Império!
Fonte: NBCNews, ComickBook