[SEM SPOILERS] No início deste ano, escrevi uma matéria no Trek Brasilis sobre a morna, quase fria, perspectiva dos fãs para os 50 anos de Jornada nas Estrelas. Naquela época, as perspectivas não poderiam ser piores. O primeiro trailer de Star Trek: Sem Fronteiras simplesmente não agradou – parecia filme genérico de ação – e não havia qualquer movimento da Paramount para divulgar o seu produto.
Esse cenário mudou rapidamente a dois meses da estréia do filme. Quase que num passe de mágica, a Paramount acionou os motores de dobra espacial e começou uma eficaz, embora tardia, massificação de publicidade envolvendo o filme. Um trailer mais competente foi liberado para o público, mostrando que, entre as cenas de ação, haveria uma importante interação entre os personagens (digna de um episódio da Série Clássica). Também foi gravado um clipe promocional da Rihanna com a música tema do filme, Sledgehammer. Por fim, os atores começaram um tour internacional promocional.
O Brasil não ficou de fora da festa. A Paramount presenteou os fãs com a primeira verdadeira convenção de Jornada nas Estrelas em anos no Museu da Imagem e do Som – MIS na cidade de São Paulo no dia 23 de julho, com painéis com participações de pessoas de notória importância para o fandom brasileiro, como Salvador Nogueira, Roosevelt Garcia, Paulo Gustavo e Silvio Alexandre.
E não parou por aí. A Paramount também promoveu uma especial pré-estreia de Star Trek: Sem Fronteiras no dia 30 de julho, exclusivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O Trek Brasilis esteve presente para conferir o evento e o filme. Foi um dia muito especial. Depois de anos sem convenções ou eventos específicos de Jornada nas Estrelas, velhos amigos se reencontraram e novas amizades foram firmadas. O pátio de alimentação do Shopping Bourbon em São Paulo parecia o Promenade de DS9, com pessoas uniformizadas ou fantasiadas de alienígenas.
Abertas as portas da sala, via-se na fila um misto de alegria e de ansiedade no rostos de todas as pessoas.
Pipocas e refrigerantes foram oferecidos de cortesia pela Paramount. Uma curtição!
Após todos se sentarem nas poltronas, começou uma divertida sessão de sorteio de brindes, com boas risadas, seguida da exibição do clip Sledgehammer da Rihanna como aperitivo. A essa altura éramos todos uma fraternidade, reunidos em nosso pequeno templo de adoração à Jornada nas Estrelas. Em breve o filme começou a ser exibido e a atenção e a concentração do público eram dignas de quem estava degustando um bom vinho.
Ao final, após calorosos aplausos, a certeza é que os fãs ganharam um belo presente nesse ano tão especial.
Star Trek: Sem Fronteiras é, surpreendentemente, um excelente filme de aventura e ficção-científica, muito superior ao anterior, Além da Escuridão, e talvez até melhor que o primeiro Star Trek de 2009.
Simon Pegg e Doug Jones conseguiram um feito extraordinário no roteiro. Embora a história em si não seja o forte do filme, há muita aventura e ação intercaladas por momentos muito interessantes de interação entre os personagens, o que emula, quase à perfeição, a camaradagem dessas mesmas pessoas nos episódios da Série Clássica. Essa é a melhor qualidade do filme.
Um tanto ausente nas filmes anteriores, a dinâmica entre Spock e McCoy é a maior atração e remete à deliciosa dinâmica e química antagônica entre os dois. A nova personagem, Jaylah, também é um achado. Interpretada com um misto de força e de fragilidade pela estrela em ascensão Sofia Boutella certamente receberá lugar cativo entre os personagens marcantes da franquia. O diretor Justin Lin também colaborou com o cuidado com os personagens. Embora vindo de outra franquia diferente, Velozes e Furiosos, Lin foi contratado porque soube trabalhar muito bem a interação de vários personagens protagonistas ao mesmo tempo, conferindo momentos de destaque para cada um deles. Nesse ponto, pelo menos, a franquia Velozes e Furiosos se aproxima de Jornada, o que demonstrou o acerto na escalação de Lin para a direção. E também é sempre bom oxigenar a cadeira de comando. Embora J.J. Abrams tenha feito um excelente trabalho nos dois filmes anteriores, é interessante que um diretor novo assuma a direção em dado momento para trazer uma nova perspectiva e abordagem à série.
Tendo no currículo filmes de ação, Justin Lin também injetou uma boa dose de adrenalina a Sem Fronteiras. As cenas de ação, embora com cortes rápidos e câmera em constante movimento, são muito eficazes e divertidas.
Sobre o elenco, todos os atores principais estão mais afiados. Dentre os principais, Chris Pine interpreta um Kirk mais maduro e bem estabelecido como capitão; Zachary Quinto é sempre muito competente como Spock; e Karl Urban é assustador na interpretação de McCoy, como se fosse um DeForest Kelley reencarnado. Aqui o mérito reside com o J.J. Abrams, por ter escalado um elenco novo e talentoso a partir do filme de 2009.
O vilão é interpretado com muita energia e intensidade pelo sempre excelente Idris Elba, mas pena possuir pouco tempo em tela, bem como suas motivações parecerem forçadas, servindo apenas ao propósito de fazer o roteiro caminhar. Os efeitos especiais são de altíssimo calibre. As tomadas aéreas pelo interior da gigantesca estação espacial Yorktown são belíssimas e de tirar o fôlego, bem como o brutal ataque que Enterprise recebe ao chegar ao planeta Altamid. A trilha sonora de Michael Giacchino é, sem dúvida, a melhor da trilogia, com uma fanfarra menos agressiva e mais sensível, com um tom constante de aventura.
Por fim, o filme não economiza nas homenagens. É o primeiro da nova série de cinema sem a participação de Leonard Nimoy, falecido em fevereiro de 2015, mas o seu Spock está presente no filme em uma belíssima cena que trará muita emoção para os fãs. O filme também é dedicado a Anton Yelchin, falecido prematura e tragicamente pouco antes da estréia, que recebe uma bela e apropriada homenagem.
O ano de 2016 vai muito bem para os fãs de Jornada, que estão bem servidos com o competente terceiro filme da nova série de cinema. Os próximos meses também prometem. Em breve a Netflix disponibilizará todas as séries e, no início de 2017, teremos o lançamento de Discovery de forma simultânea com o exterior.
É um ótimo momento para ser trekker.