O filme Star Trek: Sem Fronteiras foi rodado em boa parte na cidade de Vancouver, Canadá. O site Omelete visitou os sets do Bridge Studios. De acordo com o site, J.J. Abrams esteve ativamente em contato com os atores enquanto trabalhava em Star Wars, mas Justin Lin teve total liberdade para moldar a sua maneira. Veja o que o Omelete viu por lá e suas impressões, além de entrevistas com elenco e produção.
A visita do Omelete se deu com um mês de produção, dos 77 dias previstos.
“Este novo filme capta a essência do que eu amo em Star Trek“, comentou o diretor. “Não sou o tipo de fã que conhece cada detalhe da série, cada nome e o que houve no episódio tal, mas eu cresci vendo a série. Ela é muito importante para mim pois não tínhamos dinheiro quando eu era criança e não íamos ao cinema… mas tínhamos uma televisão e eu tinha um ritual com o meu pai de assistir à série. Mais tarde, já adulto, eu revia episódios e os filmes com um novo olhar… mais níveis de entendimento. Assim, minha responsabilidade como o novo guardião desse legado é desconstruir essa ideia e chegar à essência do que torna Star Trek especial“, disse Lin.
Para o diretor, parte desse desconstrução passa pelo conceito da família. “O que acontece quando esses caras não estão em missão? Como é seu cotidiano e suas relações? Há sexo? Eles bebem? Se divertem?“. Dentro dessa ideia, foi chamado Simon Pegg, ator que vive o engenheiro Scotty, para assumir o roteiro do filme. “Foi um convite do produtor Bryan Burke que eu aceitei na hora“. Respeitar o legado também foi fundamental para ele. “Entendo que precisamos tornar o filme um ponto de partida possível para novos fãs e para tanto ele não pode ser tão exclusivo para quem já conhece a série. Mas ao mesmo tempo estamos celebrando muita coisa e especialmente sendo fiéis às ideias originais de Gene Roddenberry. O espírito de humanidade, do desafio da exploração e o idealismo dele estão presentes aqui. A filosofia é a mesma, porém mais acessível. Analisamos muito o que isso significa para os dias de hoje“, comentou. “Inclusão é algo que Roddenberry sempre defendeu. Algo que está no cerne de Star Trek“, seguiu, antecipando momentos como a revelação da orientação sexual de personagens como Hikary Sulu (John Cho).
O que acontece com as relações quando o mesmo grupo de pessoas passa tanto tempo juntos é algo que também empolgou Pegg. “Imagine essas pessoas confinadas na nave há dois anos, missão atrás de missão. É algo que nos interessou muito. Quais os efeitos desse convívio neles?“, questionou. Lin também garante que o visual será bastante distindo do trabalhado até aqui no cinema. “Chega de brilhos luminosos“, brinca citando o amigo J.J. Abrams. “Criamos 52 novas raças alienígenas para o filme. Com os vulcanos, a única raça já conhecida que reaparecerá, teremos exatamente 53 novos aliens, celebrando os 50 anos de Star Trek! JJ me pediu para ser ousado – e estou sendo“, continuou o cineasta, que buscou um equilíbrio entre elementos retrô e um estilo novo e moderno.
“É um filme diferente, que respeita o legado conquistado ao longo de meio século“, comentou Zachary Quinto, o Sr. Spock. Para ele e Chris Pine, o Capitão Kirk, a hora de reinventar a franquia é agora. “50 anos é um ótimo momento para isso. O roteiro desse episódio explora coisas nunca vistas na série, como os momentos fora dos grandes momentos“, comentou Pine. “Ao mesmo tempo é um grande retorno ao cerne de Star Trek, a esperança… o trabalho em equipe e os desafios dessa missão da Enterprise“, complementou Karl Urban, intérprete do Dr. McCoy.
Pine, porém, explicou que essa questão do cotidiano a bordo da Enterprise será apenas o início da aventura. “É claro que há muita ação! Justin Lin é o cara que reinventou Velozes e Furiosos. Boa parte do filme é ação absurda e ininterrupta e ele faz isso muito bem“, seguiu. “Eu trato tudo igual, ação e diálogo“, explicou Lin. “Gosto de todos os momentos com a mesma intensidade. J.J. me deu um presentão e um recomeço do zero para essa série“, comentou, afirmando também que optou por não rever nada – nem as séries, nem os filmes, de forma a “buscar dentro de mim o que representa o Star Trek que eu cresci amando“. Isso significa que os trekkers não terão nas telonas seus fan services então? “Tenho uma enciclopédia viva chamada Simon Pegg no roteiro para isso“, garantiu.
“Trazer Justin foi uma escolha inspirada de J.J. Ele transformou Velozes em algo novo e inclusivo. Ele trabalha de maneira impressionante“, elogia Pine. “Pena que eu não pude participar dessas cenas“, lamentou Zöe Saldana, a Tenente Uhura. A atriz teve recentemente gêmeos e não podia se esforçar demais. “Mas é maravilhoso trabalhar com ele. Justin fala pouco e quando fala é muito preciso. Ele confia demais em nós, no nosso senso de grupo e sabe que é o novato aqui. É sempre muito respeitoso”, declarou a intérprete da oficial de comunicações, que disse também adorar seu papel. “Eu amo a minha carreira. Quase nunca faço papeis de esposa, namorada, etc. Vivo guerreiras e heroínas e estou sendo pintada de azul, verde… sempre chutando traseiros! E fazer parte de franquias é maravilhoso. Você trabalha com aquilo que ama, consegue voltar e fazer melhor e fica mais corajosa a cada filme. Não fica melhor que isso“, disse.
Nesse sentido, vários segmentos da Enterprise foram construídos, diferente dos filmes anteriores, em que J.J. Abrams quis dar uma sensação de continuidade para os atores. Desta vez, pedaços menores possibilitaram mais liberdade e dinamismo para Justin Lin. Um trecho do corredor, por exemplo, foi criado em um mecanismo que permite que ele seja girado 360 graus e sacudido violentamente, para cenas de ataques. Simon Pegg também questiona a necessidade de muitos filmes e séries de fantasia e ficção de injetar um tom sombrio nessas produções. “É como se esse tom fosse para dar uma desculpa ao público de que está tudo bem e que não há vergonha em gostar daquilo pois é adulto. Mas essa estratégia é utilizada demais e nem sempre necessária. Qual é o problema em tratar de ficção científica com um tom mais leve?“, perguntou.
Para Chris Pine, a entrada de Pegg como roteirista foi extremamente positiva. “Ele entende nossa dinâmica e está extremamente aberto a colaborações. E sua abordagem, dando mais espaço a toda a tripulação e tirando o foco de Kirk e Spock, é brilhante. Usa da melhor maneira possível o elenco excelente que temos. Todo mundo tem espaço!“. Zachary Quinto também celebra a entrada do colega de elenco no escritório de produção. “Foi um presente para nós. Ele nos conhece tanto quanto conhece a tripulação da Enterprise. É incrível ter essa ponte“. Saldana, por sua vez, se diz extremamente orgulhosa do que o colega conseguiu. “Ele tem uma imaginação louca e é muito sentimental. Os personagens estão a salvo com ele emocionalmente, ainda que o filme tenha muito mais ação“.
“Todo filme é reflexo de sua cultura e tempo. Nos anos 60, Star Trek lidava com o medo da época da tecnologia e burocracia. Esse filme está 50 anos à frente. Não faz sentido discutirmos as mesmas coisas, mas há como misturar anseios de hoje com os temas que a série comentou no passado“, comentou Anton Yelchin, que faleceria em um acidente de carro seis meses depois dessa conversa. “J.J. respira e fala sci-fi. Ele é obcecado com ciência e lógica. Justin é diferente… Ele pensa em termos mais realistas. Eles são diferentes, mas Justin está arrasando! É uma nova perspectiva“, explica Saldana. “Ele é ótimo tanto nos momentos menores e humanistas como nas sequências épicas. Ele é muito sensível também às nossas perspectivas sobre os personagens”, complementou Yelchin. “Ele confia muito em nós. Sabe há quanto tempo estamos vivendo esses personagens e nos questiona bastante. Ele tem uma energia nova, é extremamente confiante e trabalha para manter o que J.J. uniu, alem de visualmente talentoso. É muito empolgante trabalhar com ele“, disse Quinto.
O elenco todo fala com carinho dos intérpretes originais desses personagens, mas os atores admitem estar mais livres agora. “Já estamos habitando esse mundo há algum tempo. Dá pra arriscar trazer coisas a eles, mas sem desrespeitar suas essências“, explicou Saldana. “É como se fôssemos os zeladores de um artefato precioso. Temos que rejuvenescê-lo sem perder as origens. É um privilégio“, continuou Yelchin. Para um dos integrantes do elenco, porém, a experiência tem sido mais emotiva. “Perder Leonard Nimoy foi intenso. Penso nele diariamente“, revelou Quinto, que dividia com o ator o papel do icônico Sr. Spock. “Ele tinha uma espiritualidade poderosa, que usava para infundir Spock, apesar da lógica. Perdê-lo tornou minha conexão com seu trabalho ainda mais poderosa“.
“Estamos mais velhos e experientes“, diz Zoë Saldana. A tripulação da USS Enterprise está há dois anos em sua missão de pesquisar novos mundos e civilizações. “O grupo está ficando cansado… Precisamos de férias. Estamos indo de planeta a planeta e ficamos muito bons nisso… Mas algo acontecerá que vai tirá-los dessa zona de conforto“, comentou a atriz.”O que é interessante é que estamos mais próximos enquanto elenco trabalhando há tanto tempo. E isso se reflete no filme. Star Trek é sobre esse grupo unido e nossa relação favorece isso“, seguiu Anton Yelchin. Para o ator, o fato de gravarem desta vez fora de Los Angeles é ainda melhor, pois eles permanecem mais tempo juntos, mesmo nos fins de semana. “O difícil é pararmos de rir quando as câmeras estão rolando“, garantiu Karl Urban. Para Zoë, cada filme testa um aspecto desses personagens. Mas o que será testado desta vez é a amizade entre eles. “Há uma fragmentação acontecendo com nosso grupo… Estaremos separados em mais de um nível e teremos que lutar pela nossa união“, explicou Quinto.
“Todos os personagens serão desafiados a fazerem coisas que nunca fizeram“, seguiu Urban, garantindo que seu médico de bordo explorará um lado físico até então inédito no cânone e que todos os personagens terão tempo de tela expressivo. “Claro que a continuidade estabelecida será preservada… mas há novidades muito legais e a linha alternativa criada no primeiro filme de J.J. Abrams está cada vez mais ousada em relação ao Star Trek original“, explicou. No filme anterior, a jornada do vilão, Khan (Benedict Cumberbatch), era de vingança. “Este, Kraal (Idris Elba) explorará outro aspecto arquetípico de Star Trek”, cita, misterioso, Pine. “Trek sempre foi sobre utopias e continua utópico… mas a humanidade é idiota – e só piora. Esse filme lidará com isso. Essa é a importância da série para a cultura, afinal“, encerrou o ator.
Ao final, Justin Lin explicou que quando J.J. Abrams o procurou para realizar esse filme, eles já estavam atrasados. “Eu tinha que correr. Mas se eu ia correr uma maratona tinha que ser algo que valesse a pena – e Star Trek – Sem Fronteiras é o tipo de projeto que vale cada gota de suor. Estou feliz“, concluiu.