Jornada nas Estrelas se aproxima de sua comemoração de 50 anos em setembro de 2016.
Como parte da celebração, a Paramount lançou recentemente nos EUA e na Europa um novo blu-ray do melhor filme da série de cinema, “Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan”, contendo no disco a edição original de cinema (112 min) e a edição estendida do diretor Nicholas Meyer (116 min), ambas masterizadas a partir de um novo escaneamento da película original em 4k. O Trek Brasilis importou o novo Blu-Ray dos Estados Unidos para esta exclusiva resenha, e você confere nossas impressões aqui!
Sobre o filme em si, não há o que acrescentar ao que já fora dito nos últimos 35 anos. É um excelente filme de ficção-científica e merecedor de um lugar cativo dentre os 100 melhores filmes norte-americanos já produzidos. Para não alongarmos, vocês podem conferir o mega-artigo sobre o filme publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis aqui. Uma análise das cenas adicionais da edição do diretor também pode ser conferida neste link. Pois bem, quando a Paramount entrou no mercado de alta definição em 2009, apenas Jornada II recebeu tratamento vip em blu-ray. Os demais cinco filmes da tripulação clássica no cinema tiveram tratamento medíocre, com a reutilização de másteres de, na época, mais de 10 anos (utilizadas para as edições especiais em DVD), além de uma opção lamentável de uso intenso de filtros digitais para a remoção do granulado típico dos filmes em película, bem como abuso na paleta de cores, para a obtenção de uma imagem mais limpa, digital, porém extremamente artificial. O rosto dos personagens parecia o de um boneco de cera. Bizarro.
Jornada II, ao contrário, naquela época recebeu uma nova masterização e, como resultado, uma linda imagem em alta definição, com excelente nitidez e uma natureza bem orgânica, com granulação típica de filme em película, não digital. Com o novo lançamento do filme agora em 2016, é possível superar o padrão de excelência do disco blu-ray de 2009?
Nesses últimos sete anos, a tecnologia de transferência de filmes em película para a nossa sala de casa melhorou muito e o resultado pode ser conferido no novo blu-ray. A película original do filme foi escaneada em 4k (Ultra High Definition), para extrair o máximo de informações da imagem na resolução de 3840×2160 linhas. Após esse processo inicial, a imagem é reprocessada e reduzida para 1980×1080 linhas, o padrão do Blu-Ray. Trabalhar com uma fonte de altíssima resolução garantiu uma considerável melhora na imagem. Assim, é com muita satisfação que anunciamos que o novo disco de Jornada II é, simplesmente, a melhor edição que esse filme já recebeu!
O filme apresenta melhor nitidez, fidelidade de cores e contraste, mantendo a agradável característica orgânica de um filme no sentido estrito da palavra, gravado em película. A textura dos uniformes da Frota salta aos olhos, bem como os detalhes dos cenários, notadamente os gráficos dos monitores na ponte de comando da Enterprise, com cores muito vivas e realistas. Aliás, é interessante notar que, nas edições anteriores, desde o longínquo VHS, passando pelo LaserDisc, DVD e o primeiro blu-ray de 2009, a palete de cores de Jornada II sempre puxou para o azul. A ponte de comando da Enterprise e da Reliant, bem como os corredores e a própria estrutura externa das naves tinham um tom azulado.
Agora, no novo blu-ray de 2016, o tom azulado se foi, dando lugar a cores mais naturais e realistas. É a diferença que, numa primeira comparação, chama a atenção no novo disco.
Para quem sustente que o tom azulado deveria ser o original, da forma como o filme foi concebido, cabe aqui ressaltar que o diretor Nicholas Meyer pessoalmente supervisionou essa nova masterização de 2016, o que atesta que as cores naturais são as mais apropriadas para o filme. O áudio original em inglês, no formato 7.1 Dolby TrueHD, é exatamente igual ao do primeiro blu-ray de 2009. Dadas as limitações da trilha original de um filme do início dos anos 80, a reprodução em blu-ray é fiel ao original e expande o número de canais de som de forma bem satisfatória. Contudo, o som abafado de alguns diálogos permanece.
Agora, uma excelente notícia para os fãs brasileiros mais saudosistas. Como opção do áudio em português, o novo blu-ray traz a dublagem clássica dos anos 80, quando o filme foi exibido na Tela Quente da Globo. É uma gratíssima surpresa ouvir de novo a rara dublagem dos anos 80, já que o filme foi exibido poucas vezes na TV aberta.
A Paramount ainda fez um esforço adicional. A versão estendida do diretor acrescenta cenas que não estavam presentes no original e, assim, não tinham sido dubladas em português. Para conceder um produto uniforme, a Paramount encomendou uma nova dublagem especificadamente para as cenas adicionais. O resultado pode parecer estranho, pois os personagens mudam completamente de voz quando entram as cenas adicionais, mas vale aplaudir o esforço dos profissionais que buscaram emular o melhor possível o timbre dos dubladores originais. Quanto às legendas, tanto as edições de cinema como a estendida do diretor têm opção em português do Brasil.
Como podem perceber, o novo blu-ray está pronto para o mercado brasileiro, com opções de dublagem e legendas em português, mas ainda é incerto o lançamento por aqui. Infelizmente o mercado de home video brasileiro está em franca decadência, pois a conveniência de serviços online como Netflix, Now, Google Play e iTunes está fazendo o público perder o interesse na aquisição de mídias físicas. O próprio blu-ray pode estar com os dias contados no Brasil, já que muitas distribuidoras estão simplesmente abandonando o formato que, embora há 10 anos no nosso mercado, simplesmente não decolou. Preços elevados e pouco competitivos em comparação ao DVD colaboraram para limitar o blu-ray a um produto de nicho.
Prosseguindo agora para os extras do novo disco, o único conteúdo inédito é o documentário “The Genesis Effect: Engineering The Wrath of Khan”, com duração aproximada de 28 minutos e repleto de informações interessantes, inclusive com novas entrevistas com o diretor Nicholas Meyer e membros da equipe da produção, além de Bill Prady (um dos criadores da série The Big Bang Theory) e de Gabrielle Stanton (produtora da nova série do Flash). O novo documentário comenta fatos interessantes, como o vazamento do roteiro do filme e, consequentemente, a morte de Spock, por ninguém menos do que o criador da série original, Gene Roddemberry, ressentido por não estar à frente da produção e desejando jogar os fãs contra o estúdio. Também é narrado como William Shatner, intérprete do capitão Kirk, teria detestado o roteiro original por favorecer também outros personagens secundários. De forma muito inventiva, o documentário usa fotografias originais em preto e branco da produção e adiciona efeitos tridimensionais para dar vida a elas. Muito bacana!
Os demais extras, como os comentários em áudio de Nicholas Meyer e do Manny Coto (produtor da quarta temporada da série Enterprise), entrevistas com o elenco, fotos, storyboards, etc, vieram todos do Blu-Ray de 2009. Assim, o fã colecionador não precisa ter os dois Blu-Rays do mesmo filme, pois o novo importou todo o material do anterior, sem exceção.
Concluindo, é uma pena que apenas Jornada II tenha sido relançado de forma muito especial para prestigiar os 50 anos da série. Os outros nove filmes originais (de Jornada nas Estrelas: O Filme a Nêmesis) também mereciam melhores edições em alta definição e a Paramount ficou devendo neste ano tão especial. De qualquer forma, para quem tem interesse em importar o novo blu-ray nas lojas virtuais no exterior, pode fazê-lo sem receio. É um produto diferenciado, de alta qualidade e de valor inestimável na coleção!
Confira algumas diferenças entre o blu-ray antigo e o novo (crédito das imagens: TrekCore.com)