Cerca de 500 fãs tiveram a chance de ver, no último dia 20, o novo trailer de Star Trek: Sem Fronteiras. Adicionalmente, o diretor Justin Lin apresentou pessoalmente duas cenas do filme, das quais trechos curtos figuram no próprio trailer. Eu tive a sorte de ser um desses fãs e agora compartilho com vocês minhas impressões do que vi — mas, sem revelar o conteúdo exato das cenas, atendendo a um pedido da própria Paramount. (Vocês sabem como J.J. Abrams gosta de esconder seus segredinhos, né?)
Importante destacar que os dois trechos revelam momentos bastante diferentes do filme — um calmo e introspectivo e o outro de ação desenfreada. Eis aí a primeira novidade de Sem Fronteiras que já me deixou bastante contente: ele tem “alma”, no sentido de que os personagens claramente têm uma vida interna e estão refletindo sobre ela.
Isso é algo que infelizmente faltou em Além da Escuridão — um filme que, embora seja tecnicamente impecável e uma aventura divertida, padece da falta de momentos centrados na própria tripulação. Ninguém tem muito tempo para pensar naquele filme. Neste, ao que tudo indica, terá. E de uma maneira que reflete de forma muito mais acurada o espírito e os personagens da série original de Jornada nas Estrelas. Até em coisas simples, como o famoso “voiceover” do diário do capitão, você vai sentir isso, tenho certeza.
Já a outra cena, mais voltada para a ação, é obviamente ditada por efeitos visuais estonteantes numa batalha espacial como nunca antes se viu em Jornada nas Estrelas. Mas, de novo, o que chama a atenção é a “alma” dos personagens refletida em meio à pancadaria cósmica. Você pode ver estampada no rosto de Chris Pine, extremamente à vontade com sua versão de James Kirk a essa altura, a agonia e a angústia do momento. Um baita Kobayashi Maru para cima dele, por assim dizer. E isso mostra que, mesmo nos momentos de ação, o filme não perde de vista seu foco nos personagens. Pode ser um olhar, dois segundos de tela, mas Justin Lin consegue estabelecer a conexão o espectador e os personagens, criando aquela empatia e identificação tão necessárias para que a cena tenha o impacto certo, sem ser um amontoado gratuito de cortes alucinantes.
De resto, fica claro que estamos lidando com uma história realmente original — o que é uma novidade desde que a franquia sofreu o reboot no cinema — e que os roteiristas conhecem e entendem os personagens que são amados pelos fãs há 50 anos.
É difícil julgar um filme inteiro por menos de 10 minutos, de modo que nem me arriscarei a cravar nada, mas o que eu posso dizer é que saí do evento muito mais otimista com relação à qualidade do novo longa-metragem do que quando entrei.
Importante ressaltar, claro, que a seleção dos trechos foi feita justamente para atender a pessoas como nós, fãs de carteirinha e de longa data. Mas só o fato de que esses trechos foram bem escolhidos já sugere que Lin entende o público a quem ele está se dirigindo. Resta saber o quanto essas cenas são representativas do filme todo. A julgar pelo nível de respeito e entusiasmo que Lin e Simon Pegg têm pela franquia, desconfio que estamos prestes a ver uma grande aventura de Jornada nas Estrelas no cinema.
Salvador Nogueira viajou a Los Angeles a convite da Paramount Pictures.