Parece que foi ontem que Star Trek completou 25 anos, em 1991. Eu tinha 13 anos de idade e já era trekker fervoroso. Era um momento muito legal para ser fã da franquia, que, naquela época, estava por todos os lados, não só no exterior, como no Brasil também.
O sexto filme com a tripulação clássica, “A Terra Desconhecida”, estreou nos cinemas com excelente recebimento pelo público e crítica; revistas em quadrinhos estavam nas bancas; romances editados pela Aleph, nas livrarias, e a extinta Rede Manchete exibia na TV a “Série Clássica” e “A Nova Geração”. Star Trek reinava absoluto em 1991.
Ocorre que, no Brasil, a alegria durou pouco. A Rede Manchete encerrou as atividades e não tivemos a exibição da terceira temporada da “Série Clássica” nem as temporadas após a primeira de “A Nova Geração”. Os quadrinhos desapareceram das bancas em 1992 após apenas nove edições. A Aleph parou de editar os livros. Em suma, lá pelos idos de 1994, quando o primeiro filme de “A Nova Geração”, “Generations”, estreou por estes lados, Jornada nas Estrelas não era mais relevante no Brasil.
No exterior a franquia permaneceu firme por anos e anos, até que o esgotamento dos filmes e das séries cobrou o seu preço no início do Século XXI. O décimo filme para o cinema, “Nemesis”, foi um grande fracasso de público e de crítica. A série “Enterprise” capengava com uma audiência baixa, embora estivesse melhorando significativamente de qualidade a cada temporada. Contudo, diante da falta de interesse do grande público, em 2005 “Enterprise” foi cancelada e uma pá de cal foi jogada na franquia.
O futuro era incerto. Desde 1987, com a estreia de “A Nova Geração” na TV, Star Trek prosseguiu com mais seis filmes para o cinema e outras três séries televisivas (“Deep Space Nine”, “Voyager” e “Enterprise”), ou seja, a sua permanência na grande ou na pequena tela era uma constante, até que, em 2005, não havia mais nada. E assim continuou pelos próximos quatro anos.
O hoje consagrado cineasta J.J Abrams ressuscitou a franquia com sucesso em 2009 com o “reboot” da “Série Clássica”, simplesmente entitulado “Star Trek”, sendo a dose repetida de forma relativamente positiva com a continuação de 2013, “Além da Escuridão: Star Trek”.
No Brasil, em virtude da absoluta ausência de divulgação pela Paramount, esses dois filmes passaram desapercebidos pelo público em geral. Como consequência, ninguém mais aposta na franquia de Jornada no Brasil. O nosso mercado, salvo algumas poucas edições pontuais em DVD e Blu-Ray, é nulo. Agora, em 2016, quando a franquia consagra os seus 50 anos, enquanto no Brasil nada se fala, no exterior o clima é, no máximo, morno.
O terceiro filme da nova safra de cinema, “Star Trek – Sem Fronteiras”, dessa vez com J.J. Abrams apenas na produção, tendo passado o bastão da direção para Justin Lin (da franquia “Velozes e Furiosos”), não está empolgando. Um trailer genérico e sem sabor, exibido nas sessões de “Star Wars: O Despertar da Força”, e, obviamente, eclipsado pelo colosso da Lucas Film/Disney, não ajudou na apropriada divulgação; muito pelo contrário, gerou sério desconforto nos fãs que viram o rico universo de Jornada reduzido a um filme genérico de ação. Além disso, é fato público que a produção foi conturbada, com mudanças de direção e de roteiro (um dos roteiristas dos primeiros dois filmes, Robert Orci, ia arriscar na cadeira de diretor, mas foi retirado do projeto sumariamente pela Paramount – motivos ainda não revelados) praticamente nas vésperas do início da produção.
Talvez mais reconfortante seja a notícia da CBS (divisão da Paramount para a TV) de que uma nova série de Jornada está no forno após um hiato de mais de 10 anos sem produções televisivas. A TV é o formato no qual Jornada melhor se adequa, pela possibilidade de expansão do universo e dos personagens, o que garantiu o sucesso recorrente por anos e anos no passado. Mas será que a fórmula funcionará de novo?
Por enquanto não temos qualquer informação da nova série além de dois fatos: será criada por Alex Kurtzman (também um dos roteiristas dos filmes de 2009 e 2013, ao lado de Robert Orci, que se distanciaram para projetos individuais) e será o carro-chefe de um canal via streaming de propriedade da CBS.
Alguns fãs já se pronunciaram negativamente sobre a nova série exclusivamente sobre esses únicos dois fatos acima, mas é uma postura, no mínimo, precipitada e sem fundamentos válidos. Alex Kurtzman, embora tenha um currículo bem irregular (é também um dos roteiristas dos primeiros dois filmes dos Transformers), é uma pessoa familiarizada com o universo de Jornada e está antenado com as exigências do padrão atual televisivo.
Já o fato da série ser transmitida via internet por streaming não é motivo para descontentamento, haja vista o sucesso absoluto desse formato no Netflix com séries como “House of Cards”, “Demolidor”, “Jessica Jones” dentre outras. Talvez não possamos esperar uma série profundamente enraizada nos preceitos originais de Gene Roddenberry, com seres humanos perfeitos em uma sociedade utópica (hoje, as melhores produções na TV lidam com personagens imperfeitos sobrevivendo em um mundo hostil, como “Breaking Bad” e “Games of Thrones”). Contudo, conquanto a nova série de Jornada seja atual e traga para o público moderno questões sociais de relevância com roupagem de ficção-científica (elementos consagrados nas séries anteriores), ainda pode ser considerada como pura Jornada nas Estrelas.
Aliás, há chances de que, até mesmo, o terceiro filme que sai nesse ano, “Star Trek – Sem Fronteiras” contrarie as baixas expectativas e nos pegue de surpresa com um produto de qualidade. Trailers e marketing não são, necessariamente, indicativos de um filme bom ou ruim. São instrumentos de marketing para venda e, não raro, não representam com fidelidade a obra finalizada.
Concluindo, embora estejamos entrando nos 50 anos de Jornada com baixa empolgação, pode ser que a Paramount/CBS esteja nos reservando gratas surpresas com os novos filme e série. Vamos aguardar com otimismo reservado e, quem sabe, podemos estar à beira de um necessário renascimento de Jornada com qualidade. Aí, no futuro, lembraremos os 25 anos com um período rico de Jornada nas Estrelas e os 50 anos como um reavivamento.
Agora, se o aniversário de 50 anos efetivamente não emplacar, vamos torcer para que o de 75 anos seja mais empolgante.