Andorianos estão de volta para abrir
o arco da fundação da Federação
Publicado originalmente por Salvador Nogueira
Nota do TB: 3.5 / 4.0 TB
Archer e Tucker estão analisando as cartas estelares cedidas pelo Alto Comando Vulcano, procurando algum lugar interessante para visitar. Ao perguntarem a T’Pol sobre um planeta sob jurisdição Vulcana, ela os informa de que se trata de P’Jem, um santuário de meditação dedicado a práticas como a do Kolinahr, em que os Vulcanos se livram de todas as suas emoções.
A primeiro-oficial não recomenda a visita, mas Archer insiste e a Enterprise vai até o planeta, visitar o monastério. Chegando lá, o capitão é acompanhado por T’Pol e Tucker à superfície. Ao adentrar o templo, eles percebem que o ambiente está estranhamente quieto e algumas coisas estão fora do lugar. T’Pol repara que o monge que os atende também parece um pouco agitado. Ele diz que os visitantes precisarão partir, pois os monges estão em seu Kolinahr comunal e não podem ser perturbados.
Archer começa a falar, gesticular e passear pelo salão de entrada do santuário, tentando ganhar tempo para descobrir o que pode estar havendo. Ao caminhar pelo recinto, ele percebe que há um alienígena azul escondido por trás de um encosto de madeira. Ele rapidamente sinaliza para Tucker e os dois pegam o alienígena de surpresa, desarmando-o. Infelizmente, quando eles o fazem, outros três colegas azuis entram em cena, rendendo os tripulantes da Enterprise.
Eles são todos levados junto dos outros monges Vulcanos a uma outra sala. Lá, Archer é informado de que os alienígenas são Andorianos, velhos inimigos dos Vulcanos e uma raça agressiva e paranóica. Eles estão lá à procura de um poderoso equipamento de sensoriamento remoto que, segundo eles, estaria monitorando as ações Andorianas para uma futura invasão Vulcana de seu mundo. Shran, o líder Andoriano, acha que a chegada da Enterprise está ligada às atividades ilícitas dos Vulcanos e decide interrogar Archer –o que, em bom português, equivale a torturá-lo.
O capitão leva pancadas até dizer chega, mas diz que não sabe de nada. A Enterprise tenta estabelecer contato com o grupo de descida, mas não tem sucesso. Em vez disso, Shran se apodera do comunicador e diz que o grupo está aprisionado e que se a nave tentar qualquer movimento de resgate os reféns serão mortos. Em seguida, Shran destrói os três comunicadores. Malcolm Reed, no comando da nave, não aceita essa situação e já começa a bolar um plano de resgate para Archer, Tucker e T’Pol.
Enquanto isso, os três debatem sobre qual seria a solução. Um dos monges oferece um velho transmissor, que está guardado nas catacumbas do templo e que não é usado há muito tempo. O equipamento está com problemas, mas nada que Tucker não consiga solucionar. Depois de colocar o transmissor para funcionar, o engenheiro passa as instruções de Archer a Reed –não interferir nem executar um plano de resgate, pois o trio já estaria trabalhando lá embaixo em uma solução.
No caminho pelas catacumbas, Tucker percebeu que uma passagem tinha uma iluminação externa, vinda por três cavidades na parede. Ao relatar isso a Archer enquanto eles pensavam em um plano, especularam que poderia ser uma ligação direta (os vãos dos olhos e da boca de um Vulcano esculpido na parede) entre a sala de entrada, onde estavam os Andorianos, e os túneis. Para testar essa idéia, Archer conseguiu convencer os Andorianos a levá-lo para o salão, onde ele lhes daria informações importantes. Entre socos e pontapés, Archer conseguiu chegar até a escultura na parede e atirar um pequeno boneco pela boca. Mais tarde, Tucker voltou às catacumbas e encontrou o boneco –era de fato uma passagem.
Archer decidiu então, sob protestos dos monges, usar o teletransporte para trazer três tripulantes da Enterprise, que entrariam nas catacumbas e plantariam uma bomba na parede que as separava do salão de entrada, surpreendendo os Andorianos. Reed e mais dois tripulantes desceram e fizeram isso. Dois dos Andorianos foram detidos, mas os outros dois conseguiram fugir pelas catacumbas.
Archer decide segui-los e os dois grupos se enfrentam em um relicário –um lugar sagrado onde, dizem os Vulcanos, ninguém entrava há gerações. O tiroteio quebrou várias relíquias e também fez desprender uma cortina, que revelou uma enorme porta de metal. Archer a abriu e, para a surpresa de todos, por trás dela havia uma enorme instalação de alta tecnologia –exatamente o que desconfiavam os Andorianos.
Vendo que os Vulcanos de fato quebraram o tratado que tinham com Andoria, Archer decidiu dar aos alienígenas as informações que T’Pol coletou a respeito da instalação. Um dos Vulcanos do monastério tenta impedir, ameaçando matar o capitão, mas é facilmente imobilizado. Shran parte com seus colegas, dizendo estar em débito com Archer pelo cumprimento da missão.
Comentários:
Se você queria ver as verdadeiras raízes do nascimento da Federação Unida de Planetas, ou se você queria ver arcos maiores, ligando vários episódios, “The Andorian Incident” é uma excelente pedida. Não só traz de volta de forma consistente e coerente os Andorianos, uma das raças “perdidas” da Série Clássica, como também o faz em um episódio plasticamente muito bonito e cheio de ação e aventura.
Este segmento é um contraponto a tudo que veio antes na série (à exceção de “Broken Bow”). Não só não é um episódio feito para concluir todas as ramificações da história em 45 minutos, como também não se sustenta apenas em uma premissa simples e direta (os famosos “high-concepts” de Brannon Braga). Aqui, é preciso muito mais reviravoltas, diálogos e eventos para mover a história –o que resulta em um episódio mais rico e qualificado que os anteriores.
A sensação exata de vê-lo é como a assistir a uma aula de história ao vivo. Um dos maiores potenciais de Enterprise certamente é esse: oferecer aos telespectadores dos séculos 23 e 24 um pouco do que teria levado ao futuro que todos conhecemos. Nesse sentido (e provavelmente em qualquer sentido do termo), “The Andorian Incident” é até aqui o melhor episódio da primeira temporada.
É bem verdade que os Andorianos (e mesmo os Vulcanos) não recebem uma caracterização estupenda. Mas nesse caso esse realmente não é um problema. A idéia é desenvolver tudo isso aos poucos, mostrando como essas raças acabarão saindo de um estado de animosidade total para, em dez anos, estarem fundando uma Federação Unida de Planetas. Mesmo assim, os Andorianos se apresentam coerentes com o pouco que se viu deles na série original, e este episódio serviu apenas para abrir as portas para esse novo mundo –Andoria.
Prepare-se para verdadeiramente conhecer essa raça duranteEnterprise –eles voltarão em“Shadows of P’Jem”, ainda na primeira temporada, e devem acabar pintando aqui e ali em toda a série. Olhando por esses termos,“The Andorian Incident” foi um excelente modo de introduzi-los. E Jeffrey Combs faz um bom trabalho interpretando Shran, o líder da Guarda Imperial Andoriana que vemos neste episódio.
Os Vulcanos apresentam uma caracterização um pouco complicada. Por episódios como esse, uma pergunta que fica é de onde veio aquela inabalável fama de que os Vulcanos são incapazes de mentir? Aqui eles mentem deslavadamente, para os Andorianos e para a tripulação da Enterprise. Seguramente, esses não são os Vulcanos que vimos nas outras séries de Jornada. Essa raça que aqui se apresenta é muito mais sombria e errática do que a dos séculos posteriores.
Por outro lado, o fato de os Vulcanos estarem mentindo e de que havia de fato um posto de observação em P’Jem nos leva um fascinante mundo político que envolve as forças mais próximas da Terra no quadrante Alfa. Será “fascinante” (com o perdão da expressão) ver como os Vulcanos justificarão suas ações e farão para corrigir sua reputação e esse grave incidente diplomático.
Com todas as repercussões que o episódio traz, não só para a série como um todo, como também para o nosso conhecimento do background histórico de Jornada, é impossível não vê-lo com bons olhos. Pelas possibilidades que ele abre, deixou de ser apenas a soma de suas partes. Criticá-lo por pouco desenvolver os Andorianos ou por deixar de fora esse ou aquele ponto é um crime –já que tudo isso deve acabar sendo abordado, a seu devido tempo.
Além dessas importantes características do episódio, ele apresenta algo que está se fortalecendo a cada episódio da série: excelente interação entre os personagens. Archer finalmente parece estar achando seu lugar e, apesar de ser muito mais solto e inconsequente do que os outros capitães, começa a mostrar alguma inteligência e capacidade de liderança. Sua relação com Tucker é sensacional (veja a cena em que os dois desarmam o Andoriano, logo no começo do episódio), e T’Pol está se mostrando um bom elemento para formar um novo “grande trio” à la Série Clássica.
Archer, T’Pol e Tucker cada vez mais se parecem com Kirk, Spock e McCoy, mas as diferenças sutis que existem oferecem uma gama completamente variada de situações, de modo que não se trata apenas de repetir o que já foi feito há 35 anos. Um dos fatos que tem ajudado nesse sentido é T’Pol ser mulher. Duas cenas mostram bastante esse lado. Uma quando o capitão oferece um canto de cobertor à primeiro-oficial, que depois de aceitar, acaba roubando o cobertor todo para si, oferecendo um belo momento de humor do episódio. O outro em que o capitão manda um intempestivo “Deixe-a em paz”, quando um dos captores Andorianos manifesta um interesse, digamos, especial por ela.
Além do trio, que parece estar se afinando, tivemos a chance de ver Malcolm Reed brilhar, no pouco tempo que teve de tela. A atuação de Dominic Keating deve receber o crédito aqui –ele teve poucas falas, mas o ator fez cada uma delas valer o máximo possível. É interessante ver a abordagem de Reed no comando da Enterprise. Confesso que por um momento torci para que ele fosse o capitão, não Archer.
Hoshi Sato e Travis Mayweather mais uma vez passaram batidos. E Phlox cada vez mais se parece com uma Guinan que aparece todo episódio –o que é bom. Billingsley sabe interpretar o papel e a interação do médico com todos os personagens é bastante interessante. Aqui, ele faz apenas uma cena, com T’Pol, logo no início do episódio, mas que funciona maravilhosamente. Whoopi Goldberg deve estar orgulhosa…
O visual do episódio é espetacular. A nova maquiagem Andoriana conseguiu o impossível: respeitar o visual semi-trash da Série Clássica e ainda assim tornar os Andorianos alienígenas respeitáveis. As antenas que se mexem contribuíram bastante para a redenção da maquiagem original. Os cenários do templo e das catacumbas beiram a qualidade cinematográfica –com direito a múmias, vasos, paredes, túneis e tochas que poderiam muito bem ter saído de um filme de Indiana Jones.
A direção de Roxann Dawson é extremamente competente. Algumas transições são marcantes, como a em que Tucker dispõe as pedras de forma a ilustrar a iluminação na caverna e então vemos uma transição de cena que sobrepõe as pedras aos olhos e boca do Vulcano esculpido na parede da sala de entrada do monastério. Gol de placa. Outras cenas, como a em que os Andorianos vão verificar se os prisioneiros estão todos lá, munidos de lanternas, é esteticamente bonita e imprime bem o estilo opressivo dos alienígenas.
De crítica, só resta perguntar como um Vulcano apontando uma arma colada à nuca de Archer pode ser tão rápida e facilmente posto fora de ação com um murro. E relembrar a última frase de Shran neste episódio: “Estamos em dívida com você”, ele disse a Archer. Aguardamos ansiosamente o pagamento.
Tucker – “We’re supposed to be explorers, aren’t we?”
(“Deveríamos ser exploradores, não?”)
Archer – “That’s the general idea…”
(“Essa é a idéia básica…”)
Tucker – “What’s the exploration in going to places other people already have been?”
(“Qual é a exploração em ir a lugares onde outros já estiveram?”)
Shran – “Why did you come here? Answer me, pink skin!”
(“Por que vieram aqui? Responda, pele rosada!”)
Tholos – “I’ll enjoy having you… as a prisoner.”
(“Gostarei de ter você… como prisioneira.”)
Reed – “I don’t take orders from a comm voice, ensign. Not unless that voice belongs to the captain.”
(“Eu não recebo ordens de uma voz em um comunicador, alferes. Não se essa voz não pertencer ao capitão.”)
Tucker – “For people without emotion, you should have a flair for the dramatic.”
(“Para pessoas sem emoção, vocês devem ter uma queda para o dramático.”)
Reed – “It’s a console, ensign. It won’t bite.”
(“É um console, alferes. Não morde.”)
Sato – “No, it will just scramble your molecules.”
(“Não, apenas embaralha suas moléculas.”)
Vulcano – “I hope you’re pleased, captain. You turned a place of solitude into a war zone.”
(“Espero que esteja satisfeito, capitão. Transformou um lugar de tranquilidade em uma zona de guerra.”)
Shran – “We are in your debt.”
(“Estamos em dívida com você.”)
Esta é a primeira aparição dos Andorianos em Enterprise, e mostra o primeiro contato dos humanos com essa espécie. Também é a estréia de Roxann Dawson (B’Elanna Torres) como diretora da série.
“O roteiro era fantástico”, diz Dawson. “Tinha uma sensação ‘Caçadores da Arca Perdida’, aventura desenfreada, humor e permitia aos atores terem interação entre os personagens. Eu gostei de todas essas qualidades nesse roteiro e certamente gostei de trazê-las à vida. Não poderia ter ficado mais satisfeita.”
O elenco ficou bastante satisfeito de ter a veterana de Jornadana direção. “Todos nós amamos. ela criou uma grnade atmosfera para os atores trabalharem –tudo bem se atrapalhar”, disse Linda Park. “Seu forte era realmente lidar com os atores e com a história. Ela é uma mulher adorável, sua confiança e silenciosa convicção foram grandes coisas de se ver –a única diretora mulher que tivemos.”
Jeffrey Combs, que já interpretou personagens recorrentes de calibre em Deep Space Nine (Weyoun e Brunt) não pensava em retornar a Jornada, mas não pôde resistir ao papel. “Enterpriseligou e perguntou se eu apareceria no episódio cinco da nova série. Eu estava reticente no início, mas no fim minha curiosidade acabou levando a melhor”, diz Combs. “Eu interpreto um Andoriano. Eles são uma raça introduzida na Série Clássica, mas não foram muito usados. Eles são azuis com cabelo branco e antenas e uma diferença. Eles odeiam Vulcanos.”
Combs comentou como o trabalho de maquiagem influenciou sua atuação, se comparada a outros papéis que fez em Jornada. “Foi mais exigente”, disse. “Estou acostumado com as restrições da maquiagem, mas essa tinha cabelo, peruca, maquiagem, próteses e também mecanismos para mover a antena. Então eu tive de ser ligado a um controle operado por rádio e tive isso acontecendo também. Eu podia ouvi-las se mexendo –zooom-zoooooom (risos). Isso afeta sua concentração, mas não muito.”
Brannon Braga também comentou sobre o novo visual dos alienígenas. “Os Andorianos eram provavelmente os alienígenas de aparência mais boba em Jornada nas Estrelas. Então pensamos que seria legal atualizar a aparência. Os novos figurinos e maquiagens são extremamente impressionantes. Nós exploraremos um pouco a cultura também.”
Steven Dennis, que aqui interpreta Tholos, o Andoriano que vive passando cantadas em T’Pol, já fez quatro papéis em Voyager. Um alienígena em “Night”, Fennin em “Think Tank”, Onquanii em“Warhead” e o tripulante Thompson em “Equinox, Part I” e“Equinox, Part II”.
Bruce French, o líder Vulcano de P’Jem, já apareceu emJornada como Sabin em “The Drumhead” (A Nova Geração), o médico Ocampa em “Caretaker” (Voyager) e um oficial Son’a em“Insurreição”.
Jeff Ricketts, outro Andoriano, apareceu em Enterpriseanteriormente, como o capitão Axanar de “Fight or Flight”.
História de Rick Berman & Brannon Braga e Fred Dekker
Roteiro de Fred Dekker
Direção de Roxann Dawson
Exibido em 31/10/2001
Produção: 007
Elenco:
Scott Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como T’Pol
John Billingsley como Phlox
Anthony Montgomery como Travis Mayweather
Connor Trinneer como Charlie ‘Trip’ Tucker III
Dominic Keating como Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado:
Jeffrey Combs como Shran
Bruce French como líder Vulcano
Steven Dennis como Tholos
Jeff Ricketts como Keval
Richard Tanner como aprendiz Vulcano
Jamie McShane como oficial tático