Numa palestra ao público presente no Complexo Hero Film Festival e publicado pelo Los Angels Times, o diretor e produtor Nicholas Meyer falou sobre seus filmes: Star Trek II: A Ira de Khan e Star Trek VI: A Terra Desconhecida, dizendo que se fosse possível fazer tudo de novo, ele seria gentil com a vontade de Gene Roddenberry.
Roddenberry faleceu algumas semanas antes do lançamento de Star Trek VI: A Terra Desconhecida. Após Star Trek: The Motion Picture, o criador da franquia continuou a proceder consultas sobre os filmes, mas não se envolveu diretamente como produtor. O diretor e co-escritor Nicholas Meyer comentou sobre as tensões entre ele e Roddenberry a respeito de elementos do sexto filme, especialmente pelo racismo anti Klingon exibido por membros da tripulação, que Roddenberry achava que deveria ser mais desenvolvido.
“Há momentos na vida onde você olha para trás e diz: – Bem, eu gostaria de ter feito isso de forma diferente”, disse Meyer uma sala cheia no Six Chinese Theater, em Hollywood.
Antes de Meyer começar a filmar Star Trek VI: A Terra Desconhecida, Roddenberry estava descontente com o script. “Se eu estou interpretando-o corretamente e se eu estou acreditando no que ele disse, Roddenberry realmente acreditava na perfectibilidade do homem, dos seres humanos, e eu ainda tenho que ver as provas para isso”, disse Meyer. “Eu sei que o que vi foi um filme em que a tripulação da Enterprise possuia todos os tipos de preconceitos, preconceito racial, em oposição aos Klingons. E alguns de seus comentários, incluíam como eles eram todos iguais e o que eles pareciam cheirar, e todas essas coisas xenofóbicas que nós estamos às voltas – que era profundamente ofensivas para ele porque achava que não era para ser assim. De fato, em seu conceito original de Jornada, não havia nenhum conflito. Assim, ele sempre teve problemas com os escritores que estavam tentando escrever conflitos, porque é isso que o drama é, eu sei que ele estava muito angustiado com o mundo da Enterprise. – O tipo de “música” que eu estava escrevendo”.
Meyer foi ver Roddenberry, em reuniões que ele disse lamentar. “Seus rapazes estavam alinhados em um lado da sala, e os meus homens estavam alinhados do outro lado da sala, e isso não foi uma reunião em que senti que tinha me comportado muito bem, muito diplomaticamente”, disse Meyer . “Eu saí da mesma com sentimento não muito bom, e eu não me senti bem com isso, desde então. Ele não estava bem, e talvez houvesse maneiras mais palatáveis para lidar com isso, porque no final do dia, eu ia fazer o filme. Eu não tinha de confrontar ele. Não era minha melhor hora.”
Meyer também descreveu o desafio de reescrever “A Ira de Khan” de cinco roteiros atrapalhados, em 12 dias, dizendo que foi um processo intuitivo de adaptar uma trama diferente com elementos dos personagens – “Era como mexer com um cubo mágico” – para formar a história que foi finalmente sobre o capitão, a jornada emocional de Kirk e seu relacionamento com Spock. “Enquanto eu estava trabalhando nisso, ocorreu-me que este era um filme sobre amizade, velhice e morte, e como você lida com isso”, disse ele. “Kirk pensava que sabia sobre a morte, mas ele não sabia.”
Também Meyer falou sobre sua relação com Jornada, a relevância da franquia em tempos de mudança e a influência da Literatura que ajudaram a moldar a história da Enterprise. “Ao decidir fazer um filme de Jornada nunca visto por um fã, eu sempre quis fazer um filme com submarinos e destróieres e pessoas torpedeando umas as outras. Uma espécie de desenvolvimento interrompido – Mas eu pensei: -Ah, OK, trata-se da Marinha. Eu sei como fazer isso. … E Khan, porque eu tinha visto esse episódio “Space Seed”, e eu pensei: – Esse cara deve estar com muita raiva agora.”
Sobre assumir a batuta de uma franquia que já passou por várias mãos, Meyer acha que apenas acrescentou mais um tempero, “A missa católica tem um texto, mas vários compositores tem levado estas palavras para diferentes músicas. … Quando você ouvi várias versões, elas não soam iguais em tudo. … Todos estes filmes de Jornada, incluindo o de J.J. (Abrams), são o resultado de diferentes compositores pondo músicas diferentes, para a mesma coisa básica.”
Sobre os atores de A Ira de Khan, “Eu acho que os atores tiveram um trabalho muito duro. Atores tiveram que ir a lugares… deliberadamente onde o resto de nós daria tudo para evitar. Quando os bombeiros vêem um prédio em chamas, eles se apressam nele. E os atores, afim de trabalharem com sentimentos reais, tem de ir em alguns lugares perigosos. Então, sim, talvez tornem eles um pouco nervosos ou temperamentais, é uma profissão estranha. E essas pessoas são ainda mais estranhas dessa forma, porque elas eram os tripulantes da Enterprise, e, geralmente, eu não sabia o que foram e onde mais estavam. Eu fiquei muito emocionalmente envolvido com o Bill (William Shatner), que eu acho que deu a melhor performance de sua vida neste filme. Eu olho para ele, e eu penso: – Não há absolutamente nenhum absurdo…. E, certamente, (Ricardo) Montalban, que considero ser muito, muito, muito bom ator … eu olhava para isso e pensava: – Bem, ele deveria estar fazendo Lear, ele não deveria apenas estar interpretando um cara que pensa que é Lear”. … ”
Fonte: TrekWeb e TrekMovie