Numa entrevista ao Star Trek.com, a autora de livros da franquia como “Jornada Nas Estrelas – O Filho De Spock”, A.C. Crispin fez algumas críticas quanto a reimaginação de Jornada através do filme de J. J. Abrams, Star Trek. Veja a seguir alguns trechos de seus comentários.
Ann Carol Crispin é uma conhecida escritora de histórias de ficção científica, autora de 23 romances publicados e colaboração em franquias como: Star Wars, V, Alien e Piratas do Caribe. Ela escreveu vários romances de Jornada, e criou sua própria série de ficção científica chamada “Starbridge”.
Dois de seus romances “Yesterday’s Son” e “Time for Yesterday” foram continuações diretas do episódio da terceira temporada da série original “All Our Yesterdays”. O livro “Yesterday’s Son” foi artigo na lista do New York Times Best Seller. Seu quarto trabalho foi o romance “Sarek”, que ocorre após a Star Trek VI: A Terra Desconhecida. “Enter the Wolves” foi sua quinta e última grande obra de Jornada, situada antes dos eventos de A Nova Geração: “Sarek” e “Unification I”. Ela também foi co-autora de “Star Trek Sand and Stars: Signature Edition”.
No Brasil, três livros de Crispin foram lançados pela editora Aleph com as seguintes versões em português:
1) “Yesterday’s Son” como “Jornada Nas Estrelas – O Portal do Tempo”,
2) “Time for Yesterday” como “Jornada Nas Estrelas – O Filho De Spock” e
3) “The Eyes of the Beholders” (referente a A Nova Geração) como “Jornada Nas Estrelas – Cemitério Espacial”.
Como você foi trazida para Jornada? Quanto você sabia sobre Jornada antes de seu primeiro livro? Quanta pesquisa que você fez?
“Eu era uma fã de Jornada desde criança. Assisti todos os episódios muitas vezes. Eu tinha lido muitos dos romances e de todas as novelizações de James Blish. Então eu conhecia Jornada de dentro para fora quando escrevi O Portal do Tempo. Eu fiz alguma pesquisa para escrever o livro, principalmente sobre terrenos árticos e sobrevivência em regiões árticas. Mas desde que eu usei as configurações estabelecidas, a maioria eu só escrevi sobre o que eu já conhecia de ver a série em todos esses anos.”
Em seus livros sobre Jornada – e os quadrinhos que co-escreveu – você realmente explorou o interior da vida Spock e Sarek. O que intrigou você mais sobre os personagens? E o que você acha que adicionou à sabedoria dos vulcanos em geral, em Spock, Sarek e Zar, especificamente?
“Desde o início eu era fascinada – com o perdão do trocadilho – por Sr. Spock e Vulcano. Como uma criança dos anos 60, a idéia de que vulcanos eram fortes e capazes, qualquer coisa, exceto fracos, mas o seu planeta inteiro abraçado ao pacifismo, realmente me inspirou. Além disso, o Sr. Spock era inteligente, e me identifiquei com a sua inteligência, mas (também) o seu “distanciamento”. Ele era um personagem vivendo entre os mundos … esta é uma caracterização que um escritor pode realmente aprofundar. Então eu trabalhei muito duro para ser capaz de criar algo no interior da pele dos meus personagens Vulcanos, e gravá-los de uma forma que foi fiel à sua natureza, mas fez compreensível e permitiu que os leitores simpatizassem com eles. Eu também adorava a visão otimista do Sr. Roddenberry sobre o futuro. Eu queria viver nesse futuro, e eu era capaz disso, pelo menos durante o tempo que levei a escrever os meus romances. Quanto à Zar, pareceu-me quando eu assisti “All Our Yesterdays”, o episódio pedia por uma sequência … então eu sentei e escrevi isso. Quanto a acrescentar a “tradição” de Jornada … Acho que eu fui capaz de acrescentar um pouco. Lembro-me de inventar uma arma bastante desagradável da época de Surak que romulanos usaram ainda em Sarek … um senapa, eu acredito que foi chamada assim. Isso foi divertido.”
Vamos ser crueis aqui e pedir para você fazer o seguinte: dê-nos duas frases resumindo suas idéias – o que você sentiu que funcionou melhor, o que os leitores responderam na maioria, etc – em cada uma das suas histórias de Jornada.
“O Portal do Tempo, acho que os leitores estavam com fome naquela época para as histórias que exploravam a vida interior dos personagens, e meu livro fez isso. Especialmente no caso do Sr. Spock. Com relação a O Filho De Spock, fiquei orgulhosa de que o livro, de todos os quatro romances meus de Jornada, tenha sido um prequel de A Ira de Khan, o filme de Jornada dos meus favoritos. Além disso, foi divertido escrever uma história de amor de Zar (filho de Spock). Cemitério Espacial, quando A Nova Geração foi ao ar, eu decidi fazer algo que nunca havia perseguido antes, e apresentei uma adaptação para um roteiro de filme sobre um artefato antigo que estava causando pertubação numa certa área do espaço, tornando-a uma espécie de Mar Sargasso do espaço. Em seguida, os editores da Pocket lançaram um apelo a todos os seus escritores pedindo-lhes para escrever uma história para A Nova Geração, e eu achei que era melhor um pássaro na mão do que dois voando, como dizem, e converti a minha adaptaçãso em um romance. Já Sarek, eu encontrei muitas vezes com Mark Lenard em convenções de Jornada ao longo dos anos, e sempre fui fascinada pelo personagem que ele interpretava. Nós estávamos falando sobre o caráter de Sarek em um ponto, e ele disse: “Por que você não escreve um romance que conta a história de Sarek?” Eu me senti muito honrada por Mark ter dito isso, e eu lancei a idéia ao meu editor, e foi assim que escrevi o romance.”
O quanto legal foi ter Leonard Nimoy e Jimmy Doohan fazendo a leitura dramática (em áudio) com algumas de suas histórias? E o feedback que você recebeu de Leonard sobre a sua adaptação de Spock e Sarek?
“Eu conheci o Sr. Nimoy inúmeras vezes ao longo dos anos, e ele foi sempre educado e cortês, mas a única vez que ele comentou sobre a leitura que ele fez para Yesterday’s Son e Time for Yesterday foi para me perguntar uma vez em uma festa se eu peguei meus royalties do departamento de áudio ainda naquele ano. E sim, eles estavam pagando um pouco tarde, que não era tão incomum. Jimmy Doohan leu Yesterday’s Son, e me disse que gostou muito, mesmo antes dele ser aproveitado para fazer a leitura da fita de áudio. Mark Lenard me disse que realmente gostou de Sarek. Como você disse, a audiência foi muito legal.”
Você frequentemente colaborou com outros autores ao longo dos anos. Em seu romance gráfico “Enter the Wolves”, juntou forças com Howard Weinstein. O que Weinstein trouxe à mesa para você como um colaborador?
“Eu colaborei com Howie Weinstein para escrever a novela gráfica “Enter the Wolves”, porque ele tinha a experiência de escrever histórias em quadrinhos e graphic novels que me faltava. Eu vim com a idéia e escrevi a história inicial, mas traduzir essa história em painéis eficazes para o artista desenvolver não era algo que eu já tinha feito antes, então eu pedi ao Howie para colaborar com a novela gráfica para torná-la melhor. E ele certamente fez isso. Howie foi capaz de visualizar os painéis e organizar as “imagens” de modo que trouxesse a história realmente à vida.”
Você viu Star Trek (2009)? O que você achou das cenas de Spock e Sarek?
“Eu vou ser honesta sobre esse filme. Eu vi uma vez, e apenas uma vez, porque me aborreceu. A atuação foi boa. Todos os jovens atores escolhidos para interpretarem os nossos heróis fizeram um excelente trabalho. Mas a escrita do filme, parecia que os roteiristas nunca tinham visto o original de Jornada e não tinham idéia de que maneira os personagens – especialmente aqueles interpretrados por Nichelle Nichols e Leonard Nimoy – eram retratados. Eu achei completamente inacreditável que o Sr. Spock tivesse um caso com uma oficial junior que foi uma de suas alunas. Isso é completamente fora de todo o protocolo militar e profissionalismo. Eu também não acreditava que Uhura fosse atirar-se a um oficial superior assim.”
“A ciência retratada no filme era boba, também. Por que cavar um buraco para plantar em Vulcano a “matéria vermelha” quando qualquer matéria ainda que mais densa que a matéria escura, quando cai na atmosfera de um planeta, afunda imediatamente no seu núcleo? Isso medeixou desapontasda, com franqueza. Esse filme passou tão rápido e tão solto com a continuidade de Jornada, parecia que os roteiristas estavam desfrutando de desdenho com o universo e os personagens que tínhamos amado por tantas décadas. Enquanto eu olhava, eu imaginava as sessões de construção da trasma com os escritores, e comentários como: “Ei, eu tenho uma ótima idéia. Kirk é suposto ser o garanhão, então vamos deixá-lo com isso na sua cabeça e Spock têm de ser aquele que tem relações sexuais (com Uhura), e Kirk não consegue chegar junto. Não vai ser divertido? “Bem, não. Não foi. Pelo menos, não para mim. Eu sei que estou em minoria sobre isso. Todo mundo ficou aplaudindo no final do filme. Meu marido e eu nos entreolhamos e dissemos: “Eles viram o mesmo filme que acabamos de ver?” Mas, como dizem, gosto não se discute, isso é tudo.”