O personagem de Mark Allen Shepherd em Jornada é um dos mais enigmáticos e populares da franquia. Para quem não sabe, ele interpretou Morn em Deep Space Nine, o alienígena que freqüentava o bar de Quark, que embora tenha surgido em vários episódios, nunca disse uma palavra sequer. Numa entrevista ao Star Trek.com, Shepherd contou a respeito de seu tempo na série, inclusive fazendo outros papéis e trabalhos como artista.
Em Deep Space Nine Shepherd já fez um capitão de nave Luriana, apareceu como um civil da Federação e até mesmo como um Bajoriano, que pediu para se sentar no lugar de sempre do Morn no bar do Quark, após a suposta morte de Morn. Shepherd também fez aparições como Morn em Voyager e A Nova Geração. As contribuições de Shepherd em Jornada não terminam aí. Também é um artista talentoso, ele licenciou duas dúzias de seus trabalhos para a equipe de produção de Deep Space Nine, peças que foram usadas para decorar os quartos de vários personagens principais, incluindo a Major Kira e Bashir. Atualmente com 50 anos, Shepherd vive na Alemanha. Veja agora um resumo de sua entrevista.
Fã da franquia, Shepherd disse que ficou muito feliz quando foi chamado para fazer um papel em Jornada. “Eu cresci assistindo a série original”, disse ele. “Kirk e Spock eram meus heróis. Assim, um dia recebi um telefonema para entrar eu fiquei animado por estar lá. Então, quando eu entrei, eles colocaram a minha maquiagem e depois me mandaram para o departamento de figurino”, disse o ator.
Shepherd descreveu as cenas mais importantes para ele na série. “Eu encontrei um alfaiate esperando por mim para caber Morn num smoking. Eu não me lembro o nome do episódio, mas foi de alguma forma baseado em “Our Man Bashir”, onde Morn está vestindo um smoking, sai da holosuite e desce a escada em espiral. Quark está agitando uma bebida e Morn diz: “Agitado e não mexido”. Infelizmente, no último minuto, isso foi cortado. Eu acho que eu gostei de “Who Mourns for Morn?“, especialmente quando Morn volta para o bar após fingir sua morte, (e também) a introdução de Odo e a surpresa de Quark quando Morn regurgita latinum líquido no copo e dá a Quark. Esse foi um momento de orgulho para mim.”
Shepherd não sabia no início como deveria se comportar o Morn e nem se o papel era para ser feito só uma vez, ou se iria voltar, mas estava disposto a trabalhar quantas vezes fosse preciso. “Eu sempre respondia: – Claro, eu posso fazer o que quiserem – Eu acho que eles sempre achavam no fundo de suas mentes que se eu me saisse bem iriam continuar a usar o personagem”, disse ele. “Trabalhar em uma maquiagem completa assim por 12 horas é um desafio para qualquer um, mas encontrar alguém para trabalhar por sete anos nesse tipo de equipamento com a maquiagem é difícil. A maioria dos atores não quer fazê-lo”.
“Eu não tinha quaisquer noções preconcebidas sobre Morn. Toda vez que os escritores me falavam, eu estava sempre interessado no que iriam dizer-me no próximo episódio. Eu acho que na maior parte eu apenas tentava manter uma mente aberta e ter um bom senso de humor sobre o papel”.
Depois, Shepherd saiu do papel de Morn e, uma vez desempenhou um Bajoriano sentado no banco de Morn (“Who Mourns for Morn?”). “Você sabe o que é engraçado, até hoje eu não sei de quem foi a ideia”, disse ele, “… Sendo um fã da série original desde que eu era velho o suficiente para pegar um phaser, devo dizer que toda vez que eu tive a oportunidade de atuar ou apenas assistir e aprender, era uma tremenda oportunidade para mim, que me fascinou sem fim. Eu tenho um grande respeito e admiração pelos atores e o nível de concentração e organização que a produção deve diariamente conseguir alcançar tais valores de produção é excepcional. Eu não hesitaria um momento em fazer algo assim novamente”.
Para o ator é um motivo de orgulho ter feito um personagem, que embora nunca fosse do elenco regular, cativou a atenção de muitos fãs. Mas, por detrás disso, há uma equipe de artistas sem igual que participou da confecção de Morn. “Eu sempre vou estar muito orgulhoso do trabalho que fiz em Deep Space Nine. Vestir a máscara de Morn foi uma parte inseparável disso e com o tempo eu aceitei. Um dia de trabalho médio na maquiagem durava cerca de 13 horas. Vincent Niebla, eu entendo, esculpiu a cabeça de Morn primeiro, que foi então usada para fazer o molde a partir do qual todas as máscaras de Morn viriam. Eu acho que havia 12 ou possivelmente 13 máscaras feitas que eu sei que foram usadas na filmagem de Deep Space Nine. A média foi de cerca de duas máscaras por época das filmagens. A primeira máscara de Morn foi preenchida e definida com olhos de vidro e passou a viajar numa turnê mundial de Jornada. Outras máscaras foram preenchidas e enviadas para várias exposições. Após o término da série, Michael Westmore (designer de maquiagens) me disse: “Eu acho que você deveria ter uma dessas”, e ele me deu a última máscara de Morn”.
O ator ficou surpreso e satisfeito com a forma como se tornou popular pelo fãs com Morn. “Eu fiquei tão impressionado que tive de colecionar pelo menos uma cópia de todas as revistas que tinha Morn na capa ou de alguma forma um artigo dentro: capas da Entertainment Weekly, Starburst, a revista MAD, Fangoria, livros em quadrinhos de Deep Space Nine, bem como a Newsweek, TV Guia de Star Trek Magazine, Starlog, Deep Space Nine Magazine, etc. Foi inacreditável quando o estúdio começou a entregar-me envelopes pardos grandes cheios de cartas de fãs”.
Receber mais de mil cartas de fãs era sinal de que muitos adoravam Morn. “Disseram-me que cada pedaço de carta de fã representa cerca de quinze mil outros fãs”, disse Shepherd, “e quando recebi mil cartas de fãs significou que cerca de quinze milhões de fãs adoram Morn, um personagem que nunca disse uma palavra nos sete anos em que esteve na série”.
Na verdade, o personagem se tornou tão popular que Shepherd ouviu algo surpreendente. “Foi-me dito por um jornalista sobre a série: – “Você sabia que dissemos para a produção para suavizar um pouco o tom do seu personagem, porque estávamos começando a ficar mais requisitados para fotos de Morn do que algumas das estrelas da série?”
O personagem ainda atrai o interesse até hoje. “Na Alemanha, onde moro agora, houve um Star Trek 50th Anniversary feito no local e TV Guide & Movie magazine tinha Morn listado como número cinco em um top 10 das histórias mais curiosas sobre Jornada”, explicou Shepherd. “É apenas uma daquelas coisas que tem uma qualidade quase mágica para isso e parece levar uma vida própria, e é algo que eu sou muito grato”.
E o que faz no momento? “Eu atuo sempre que posso. Eu tenho uma turma de conversação de inglês (na Alemanha) que eu ensino a cada semana. Estou sempre estudando fotografia e agora trabalhando principalmente num formato digital profissional. A maioria das minhas obras de arte hoje é digital e existe virtualmente pelo milagre dos computadores. Eu passo duas ou mais horas por dia estudando o meu ofício. Eu periodicamente sou requisitado para fazer o trabalho de narração em inglês. Tanja minha adorável esposa e meus dois filhos lindos são, de longe, minha maior conquista. Estou envolvido no projeto chamado Gatekeeper (Guardião), que eu vou estar filmando na Suécia e na Noruega este ano. Isso também coincide com uma convenção de sci-fi, em Estocolmo, na Suécia, no início de dezembro.”