Vida longa e próspera a Nimoy, Parte II

Na primeira parte da entrevista com Leonard Nimoy, o ator falou sobre a carreira fora de Jornada e como começou a fazer Spock. Agora, nesta segunda edição, Nimoy faz uma viagem no tempo, dando um retrospecto das características da série original, dos primeiros longametragens e de A Nova Geração, onde apareceu como convidado especial. A entrevista foi realizada pelo Star Trek.com.

Star Trek: The Motion Picture fracassou na bilheteria, o que você acha que poderia ter acontecido?

“O sentimento foi, depois que o primeiro filme ficou pronto, de que havia algo a ser feito com Jornada, que o primeiro filme não tinha feito o que estava acessível para ser feito, que ainda havia uma audiência, ainda um interesse, mas que não satisfez o público em termos de conteúdo. E isso custou muito. Então, quando eles se aproximaram de Harve Bennett com a idéia de fazer um segundo filme de Jornada e perguntaram se ele poderia fazer um filme de Jornada pelo menos, ele disse algo como: – “Eu posso fazer dois filmes pelo preço que você pagou pelo primeiro”. Foi intrigante, e eu acho que ele realmente fez Star Trek II por até menos que isso. Eu acho que ele fez isso por, talvez, um terço do custo do primeiro filme. Eu não estava a par dessas conversas, mas o meu entendimento, o meu sentimento era de que eles sentiram que valeu a pena fazer um segundo filme, a um custo muito, muito baixo para ver se havia mais alguma coisa em Jornada. E, francamente, quando eu ouvi sobre isso, quando vieram a mim com a idéia de fazer o segundo filme, eu pensei que eles estavam apenas tentando espremer mais um filme da franquia. Pensei que seria o fim de Jornada e é por isso que eu aceitei a idéia de Spock morrer no final de Star Trek II.”

Star Trek: The Motion Picture realmente surgiu das cinzas da Fase II, a série que a Paramount abortou quando se tornou evidente a partir de Star Wars e Contatos Imediatos do Terceiro Grau que os filmes de ficção científica poderiam ser grandes produtores de dinheiro. Contaram mais recentemente sobre a Fase II histórias de como você poderia ter participado ou não …

“É que está sendo relatado que o Sr. Roddenberry me ofereceu um contrato para aparecer como Spock em dois dos 11 episódios de Jornada, nos anos 70, quando houve uma nova série contemplada. Isto é verdadeiro e (é) também verdade que eu recusei a oferta. Eu não me sentia confortável em ser contratado como um ator a tempo parcial.”

Isso é interessante. Foi a escolha de Roddenberry ou foi a Paramount tentando manter os custos baixos ou esperavam seduzi-lo com uma agenda menos cansativa?

“Uma vez que o Sr. Roddenberry se foi, nós nunca saberemos. Ele também foi contratado para desenvolver uma série para mim na Universal em 1971. Foi chamada de Questor (The Questor Tapes). Quando chegou a hora de lançá-la, ele escolheu Robert Foxworth.”

Passando para Star Trek II: A Ira de Khan, o que você mais lembra da reação dos fãs, elenco, críticas, sobre Spock morrer?

“Foi muito comovente, muito comovente. Lembro-me claramente do dia em que filmamos a cena da morte. Foi uma experiência muito triste, emocional. Fiquei muito triste, preocupado. Quando surgiu a idéia de fazer um elo mental com o Dr. McCoy, DeForest Kelley, me perguntaram se eu poderia dizer alguma coisa se este elo mental nos daria um gancho para o futuro, no caso de haver uma possibilidade de continuar. E eu sugeri a palavra “Lembre-se”, que eu achava que era suficientemente ampla e interessante o suficiente para que pudéssemos ser capazes de usá-la como nosso gancho no futuro. E deu certo. Mas, naquele determinado momento houve uma tristeza real. Houve um entendimento de: – “Olha, quem sabe, algo de positivo pode sair de tudo isso”, mas nós realmente fizemos uma cena de morte muito séria e todo mundo estava bastante emocionado por isso.”

Star Trek III: A Procura de Spock foi o seu primeiro longa como diretor. Você se sentiu em casa quando estava atrás da câmera? Você se sentiu como se tivesse precisando de apoio? E você ficou satisfeito com o filme pronto?

“Eu estava muito confortável na gravação do filme. Eu senti que estava sendo controlado, acho que essa é a palavra. Eu tinha de justificar tudo o que eu fazia e explicar tudo o que eu estava fazendo, o que gastou muita energia. E eu sofri com isso. Incomodava-me estar sendo tão cuidadosamente monitorado, porque eu realmente sentia que sabia o que estava fazendo. Eu achei que o roteiro era viável e fiz o que tinha de fazer, que era encontrar Spock e levá-lo de volta. Eu achei que foi uma ideia interessante, a idéia do planeta Gênesis evoluindo e Spock continuando a evoluir com o planeta. Pode não ter sido tão divertido como alguns gostariam, mas eu creio que ele fez o seu papel. Ele fez o que se propôs a fazer. Talvez, em retrospecto, poderíamos ter encontrado uma melhor história, para construir, para começar esse trabalho. Mas nós temos o trabalho feito e o filme foi OK. Nas bilheterias, ele fez o que estava se tornando padrão para filmes de Jornada. Foi mais ou menos como esperado, por isso estava bem. Não foi um sucesso gigantesco, mas não foi considerado um fracasso. E foi tão forte que eles decidiram ir em frente e fazer outro depois disso.”

Star Trek IV: AVolta Para Casa foi a mais bem sucedido das produções da série original, em vários níveis. Você acreditava que o filme poderia ter tocado no espírito da franquia?

“Sim, eu estava muito, muito confiante com esse filme. Eu tive um grande compromisso para o desenvolvimento dessa história. Fiquei envolvido o tempo todo. Quando Star Trek III terminou, ainda antes da estréia, Jeffrey Katzenberg, que era o chefe de produção do estúdio, me chamou e disse: – “Nós gostaríamos que você fizesse outro”. Eu disse: – “Eu preciso ter um pouco mais de liberdade. Eu me senti muito controlado neste último filme. Eu preciso ter alguma liberdade para explorar algumas idéias e fazer meu próprio filme”. E ele respondeu: – “As rodinhas de apoio estão desconectadas. Faça seu próprio filme. Dê-nos a sua própria imagem do que o filme deveria ser”. Passei muito tempo nele. Eu fiz um monte de investigação. Fiz um monte de leitura. Fiz um monte de viagens. Fui para a Costa Leste para me reunir com vários cientistas e falar sobre no que eles estavam interessados, como possíveis idéias, para explorar no futuro. Foi tudo muito útil e tudo encontrou seu caminho para o filme de uma maneira ou de outra.”

“Mas eu não me deixei distrair para sair e fazer um monte de outros tipos de trabalho durante esse período de desenvolvimento. Eu fiquei envolvido maior parte do tempo na mesa de trabalho ou falando ou explorando ou lendo ou tentando desenvolver a história. A coisa toda da baleia se apresentou empolgante, mas apresentou alguns desafios, também, porque não havia muitas baleias jubarte disponíveis para nós. Assim, tornou-se uma questão de se devemos ou não criar essa cena de filmagem com sucesso com miniaturas e imagens digitais e (reais) e assim por diante. Então havia muito trabalho a ser feito, mas uma vez que as idéias se encaixavam, tornava-se muito emocionante. Quando o roteiro ficou pronto, entre eu e Harve Bennett ficamos na a história, e Harve e Nick Meyer fazendo o roteiro, eu estava muito, muito animado. Eu pensei: – “Nós temos um filme muito forte aqui.”

“Além disso, Ned Tanen era agora o chefe de produção da Paramount. Jeff Katzenberg e Michael Eisner tinha ido para a Disney. Assim Ned Tanen era a pessoa que leu o roteiro e nos deu a luz verde. Ele me chamou e disse: – “Vamos almoçar”. E durante o almoço, ele disse: – “Gostaria de fazer este filme, mesmo se não fosse um filme de Jornada”, porque ele sentia muito fortemente que o roteiro era firme, bem sucedido e com história emocionante. Eu realmente me diverti muito fazendo esse filme.”

Star Trek V foi, para todos os efeitos, o filme de William Shatner, por isso vamos passar para Star Trek VI. Era hora de dizer adeus? Ficou satisfeito com com que a história fez com a franquia e o elenco?

“Eu tive alguns outros desejos para Star Trek VI. Tive alguns que não se realizaram. Eu achei que o filme serviu o seu propósito, mais uma vez. Ele não criou nenhum problema para nós, mas não realizou muito o que eu esperava.”

O que foi?

“Eu tive uma conversa muito interessante com Gene Roddenberry em que estávamos discutindo a idéia do filme ser dentro do território Klingon, para o Império Klingon. Eu vim com a idéia de que uma vez que Nixon, era um conservador conhecido, seria a pessoa que poderia ir para a China fazer um negócio, que obviamente era não conservador – eles eram de um país profundamente comunista – que o Capitão Kirk seria a escolha ideal para ir para o Império Klingon para lidar com eles para criar uma distensão entre o Império Kingon e o nosso lado, a Federação. Essa idéia intrigou Nick Meyer e ele escreveu um roteiro muito viável, mas o que eu esperava era que uma vez dentro do Império Klingon iríamos descobrir algo sobre os Klingons que seria surpresa para todos nós. Por que são tão irritados? Por que são tão hostis? Por que são tão beligerantes? Por que estão tão empenhados em conflito, na paranóia e desconfiança? O que está acontecendo em suas mentes? O que está dentro que o Império que não sabemos que nos surpreende? Nunca pegamos isso. Nunca realmente o fizemos. Nós fizemos uma história interessante sobre uma facção política dentro da estrutura do Klingon, mas não tínhamos muito a chegar nessa revelação surpreendente sobre o que os Klingons eram realmente.”

Suas aparições como Spock em A Nova Geração foram idéias suas, certo?

“Eu fui com os produtores de A Nova Geração com a idéia de que poderíamos fazer um crossover, que eu poderia fazer uma aparição em A Nova Geração que, em certo sentido, seria uma conexão com os filmes de Jornada que estávamos fazendo. Eles escreveram um roteiro que eu achei que serviu a esse propósito. Fui e fiz isso com prazer. E sim, foi minha idéia. Eu fui até eles com a idéia, e nós fizemos isso.”

Em breve a terceira e última parte dessa entrevista.