O roteirista e produtor Mike Sussman, começou como estagiário na série Voyager, e acabou como um dos produtores e roteiristas de Enterprise. Seu último trabalho para TV foi a já cancelada série Legend of the Seeker. Numa entrevista ao site Star Trek.com, ele compartilha as memórias de seu tempo de trabalho em ambas as séries de Jornada.
Mike Sussman, que chegou a se aventurar no projeto de Brannon Braga, Threshold, está preparando uma nova série para a emissora a cabo TNT, intitulada Perception, cuja premissa envolve um neurocientista excêntrico que utiliza seus conhecimentos para ajudar o governo a solucionar crimes. Aqui, Susssman fala de Jornada e suas experiências com a franquia.
Você começou como estagiário em Voyager. Como isso aconteceu? Quais eram suas responsabilidades?
“Meu chefe e futuro parceiro de escrita, Ken Biller, encontrou um script meu de A Nova Geração na pilha de roteiros não usados. Ele gostou, me ligou e perguntou se eu gostaria de fazer um estágio com a equipe de roteiristas de Voyager. É claro que eu agarrei a chance. Uma das minhas funções como estagiário era ler roteiros que foram apresentados por não-profissionais, resumi-los e depois apresentá-los ao produtor de Voyager, Michael Piller. De vez em quando eles aceitavam um desses scripts. Mas Michael não gostou de nenhum dos que eu havia lido. Nosso encontro estava quase acabando e ele disse: “Isso é tudo que você tem?” Então, eu apresentei-lhe algo que eu tinha estado trabalhando, uma história sobre a fusão mental de Tuvok com um alienígena assassino serial. Michael olhou para o teto, quando eu apresentei a idéia, mãos atrás da cabeça, depois olhou para mim e disse: “Eu não acho que tenha ouvido uma idéia como essa antes”, e ele aceitou. Meu estágio havia acabado naquela sexta-feira e na segunda-feira seguinte, eu estava de volta nos escritórios como um roteirista.”
Você escreveu diversos episódios para Voyager. Qual você se sente mais orgulhoso?
“Meld (Elo – 2ª temporada) que acabou por ser um episódio muito bom e Brad Dourif fez um ótimo trabalho como o assassino serial dos Maquis. Michael Piller conduziu o episódio. Author, Author (7ª temporada) é provavelmente o meu script favorito de Voyager. O Doutor escreve uma holonovela, uma “roman à clef” (forma de mostrar pessoas reais por meio de personagens fictícios) que retrata a tripulação da Voyager em uma visão menos lisonjeira. O coração da história era a luta do médico para ser aceito como um legítimo escritor e uma pessoa normal. Bob Picardo realmente fez esse episódio e ele o deixou divertido – você poderia dar o Bob o livro de telefone para ler e ele seria ainda assim fantástico.”
Você era um verdadeiro escritor, produtor, quando você começou Enterprise. Quão diferente é uma experiência desse tipo?
“Foi bom para eu deixar de ser a cara nova no convés. De repente a sala dos roteiristas foi preenchida com um monte de caras novas, pessoas que nunca haviam escrito antes Jornada. Rick e Brannon queriam sacudir as coisas, introduzir pessoas que tinham escrito mais de um personagem de fundo, e tirar um pouco da ênfase na sci-fi e na technobabble. Mas o resultado foi uma miscelânia. Eram todos muito talentosos escritores, mas Jornada é coisa muito própria, e foi uma luta para algumas das novas pessoas se ligarem na série.”
Enterprise provocou reações diversas no começo. O que deu certo e o que não funcionou como previsto?
“Você acaba pisando em gelo fino com os fãs de ficção científica, quando decide fazer um prequel. Eu tenho inveja do que Orci e Kurtzman fizeram com o novo filme – definindo seu prequel em uma linha de tempo alternativa, onde tudo pode acontecer, um brilhante movimento e o tipo de coisa que você só pode sair com Star Trek. Quanto ao que deu certo com Enterprise, fizemos alguns episódios, acredito, ao lado do melhor no cânon de Jornada. Mas às vezes a série parecia mais um prequel de A Nova Geração e não da série original. Corrigimos isso, a um ponto na quarta temporada, em grande parte devido à influência de Manny Coto. Como eu, ele queria encontrar o tecido conjuntivo da era Kirk.”
Quais episódios com o seu nome lhe deram orgulhoso?
“Twilight (Crepúsculo – 3 ª temporada) foi melhor do que eu imaginava e foi muito bem recebido. Foi originalmente uma história para Voyager – em vez de ter uma aflição na memória de Archer, acordando no futuro, ela teria sido com Janeway, tendo Chakotay como seu protetor. Foi a minha tentativa de escrever uma história de amor para os dois, mas eu não pude atrair os produtores de Voyager na idéia. De qualquer maneira, ela acabou funcionando melhor como uma história de Archer e T’Pol , com o pano de fundo a guerra Xindi correndo solta. É sempre divertido quando você pode deixar a Terra em apuros antes dos títulos de abertura. Eu também me diverti muito escrevendo o universo espelho parte dois em nosso último ano.”
Você ficou desapontado que Enterprise tenha ficado inacabada, e que tipo de histórias você estava planejando contar?
“Contamos 97 histórias ao longo de quatro temporadas, então não é como nós tivéssemos sido roubados. Ainda assim, teria sido divertido revisitar o universo espelho na quinta temporada, e ouvir os sussurros da primeira guerra romulana. Eu tinha um plano sorrateiro para revelar que o pai de T’Pol seria um romulano, mas quem sabe, como isso teria terminado. Eu acho que poderia ter vendido a idéia a Rick e Brannon. O arco Xindi foi muito divertido e fizemos alguns ótimos episódios, mas se você vai passar uma temporada inteira em um conflito, então basta fazer a guerra romulana. Isso é o que a terceira temporada deve ter sido.”
Como você desfrutou suas experiências pós-Jornada em Threshold e Legend of the Seeker?
“Eu tive um ótimo momento em Threshold, mas a emissora puxou o plug quando a série estava encontrando seu alicerce. Legend of the Seeker foi muito divertida e um verdadeiro desafio no início. Tivemos que descobrir uma maneira de adaptar esse violento e filosófico romance em episódios autônomos que a Disney poderia transmitir no syndication e na transmissão aberta num sábado à tarde. Demorou alguns episódios para encontrar a série, até que nós estivéssemos com toda a potência. Infelizmente, o início no syndication não teve muito bom retorno. O modelo de negócio não deu certo no final. Mas foi ótimo trabalhar com muitos dos meus antigos colegas (roteiristas) de Jornada como Ken Biller, Andre Bormanis e Raf Green.”
Você e Ken se uniram novamente para Perception. Qual é a premissa?
“Perception (Percepção) é sobre um neurocientista, Geoffrey Pierce, um homem com um estado mental incomum, que ajuda a capturar os criminosos do FBI. Se o piloto for bem, espero que a gente termine um fim de temporada na TNT. Perception é um pequeno recuo para mim, por ter escrito tanta coisa do gênero no passado. Para mim, o gancho nessa história, qualquer história, é o personagem. Pierce é muito mais um estranho em seu mundo, assim como Data ou Spock, e nunca me canso de escrever histórias sobre alienígenas.”
Você começou Jornada como estagiário e agora você co-criou o sua própria série. O que significou para você dar esse salto?
“Estou emocionado por ter conseguido a chance de jogar no universo de Gene por pouco tempo. Foram cinco anos, mas foi num piscar de olhos. A coisa legal sobre escrever para Jornada é que você começa a usar todos os seus músculos. Uma semana você está escrevendo um drama de tribunal, no próximo você está fazendo uma parte de um personagem calmo, na semana seguinte você está escrevendo uma comédia maluca. Você trabalha em Jornada tempo o suficiente e sente que pode lidar com qualquer gênero. Acho que isso é parte do apelo da franquia – que pode ser muitas coisas diferentes para pessoas diferentes.”