Muitos e muitos meses atrás, quando foi anunciado o projeto de Star Trek e a produção foi iniciada, meu comentário pessoal de expectativa se resumia em basicamente o seguinte. Mesmo que o canon fosse alterado com mudanças internas no universo fictício de Jornada, e se criasse uma nova cronologia ao reescrever a história deste universo fictício… se o resultado final for um bom filme, com uma boa direção, produção e roteiro, e bem atuado e focar nos personagens clássicos, que preserve a essência da tradição de Jornada nas Estrelas, então teríamos um filme vencedor. Foi exatamente o que aconteceu.
Eu não vou realmente fazer uma looonga crítica para me atentar a detalhes de cronologia, tecnologia, e outros fatores técnicos ou internos do universo fictício de Jornada nas Estrelas — isto tudo é coisa que eu intenciono discutir em vindouros artigos para o TB, focando em determinados temas de cada vez (um destes já na boca do forno mesa, a propósito). Por ora, vou me ater ao essencial, na Experiência Cinematográfica como um todo.
O que se destaca? As atuações do elenco são o melhor — os personagens clássicos reaparecem na tela de uma forma ao mesmo tempo familiar e inovadora, e podemos ir descobrindo (a nova maneira de) como vieram a ser a máquina bem azeitada que faria deste um dos grupos de personagens mais memoráveis da história. Zachary Quinto como Spock e Karl Urban como McCoy são os melhores, mas todos os demais estão muito bem, de Pine a Yelchin. E Zoe Saldana se destacou como uma Uhura a qual eu gostaria que Nichelle Nichols tivessem tido maiores chances de ter feito do mesmo jeito. Mas enfim. Usos de drama, humor e desenvolvimento de personagens ocorrem de maneira bem satisfatória, nos momentos certos.
Se algum dos elementos básicos pudesse ser considerado como fraco, talvez seria o caso da trama, escrita por Roberto Orci e Alex Kurtzman, que pelo valor da face não parecia ser tão interessante. Ainda assim, ela não compromete em nada — nem um pouco complicada, ela na realidade é muito mais simples do que qualquer prévia deixou a entender e flui muito bem. E Eric Bana faz Nero servir à esta trama muito bem. E de qualquer forma isto é algo acadêmico, pois o filme é claramente orientado a personagens ao invés de trama, e ser orientado aos seus personagens é o que importa.
Mas haveria alguns aspectos mais específicos que eu não tenha gostado? Realmente não, pois qualquer coisa que poderia ser considerado assim, bem como as inevitáveis conveniências de roteiro, foi tudo no tom de “Bem, eu teria feito este detalhe diferente” do que um “zomg droga que besteira erro mimimi”. A direção como um todo por Abrams me pareceu muito boa e manteve o filme em um ótimo ritmo, sem cansar mas também sem sufocar. A trilha por Michael Giacchino tem a mesma forte personalidade da Série Original e os efeitos visuais são ótimos, sem dúvida.
E tudo aquilo que realmente faz de Jornada nas Estrelas tão especial está lá. Jornada nas Estrelas tem que inspirar o aperfeiçoamento do indivíduo, a construção de uma sociedade justa, a busca do conhecimento, a aplicação do método científico, a exploração do espaço e todo este jazz, e não querer forçar estes conceitos garganta abaixo com pregação pretenciosa e/ou tecnobable pseudointeligente. A Série Original inspirava corretamente o que listei acima com seu entusiasmo e otimismo, e é o que ocorre aqui novamente. Não se precisa pedir mais nada no campo de proteção do valioso legado da franquia criada por Gene Roddenberry.
Cena após cena, as simples emoções que TOS me fazia ter com isto tudo vinham novamente à flor da pele. E os detalhes dos sons, dos visuais, da ambientação como um todo, da ótima atuação de Leonard Nimoy, da Enterprise surgindo como um farol de esperança quando as chances estavam contra eles e a situação parecia desesperadora. Isto parece bem divertido, como já discutiram antes comandantes anteriores desta unidade da Frota Estelar. E foi.
As referências são inúmeras, e todas inseridas bem no estilo que gosto — eu tenho a impressão que até Futurama teve um par de pequenas homenagens inseridas, e até vários 47 estão espalhados por todo lado, juntamente com diversas outras homenagens. Mas não se pegue demais nisto em detrimento de aproveitar o filme. Aprecie toda a excelente experiência cinematográfica que resgata novamente tudo aquilo que nos fez adorar esta grande franquia de ficção-cientifica em primeiro lugar.
Seguindo a tradicional escala do TB, a fita fica com sólidos 4 em 4, merecidos. E agora, vamos para a sequência…!