Se há algum valor de produção em que a Série Clássica ultrapassa de longe as séries posteriores de Jornada nas Estrelas é a música composta para os episódios. Acredito que não há um fã que simplesmente ouvindo uma determinada música da série deixe de relembrar os momentos antológicos em que ela foi tocada.
Ao ouvir a “Ancient Battle”, de Gerald Fried, quem não se lembra do combate corpo a corpo entre Kirk e Spock em “Amok Time”? Ao ouvir “Kirk does it Again”, de Sol Kaplan, quem não se lembra dos momentos de suspense de Kirk preso na USS Constellation enquanto ela se dirige em rota de colisão com o Devorador de Mundos em “The Doomsday Machine”? Também não podemos esquecer da divertidíssima trilha de “Shore Leave”, composta por Gerald Fried, reminiscente de músicas irlandesas.
As séries atuais de Jornada nas Estrelas nunca tiveram músicas tão associáveis à própria série como teve a Série Clássica. As trilhas das demais séries da franquia são insuportavelmente repetitivas em seus temas, sendo que dificilmente algum fã conseguirá lembrar de um episódio ao ouvir a música deste. Lógico que há exceções, como a trilha de “The Inner Light” e “A Fistful of Datas”, da Nova Geração, e “Emissary”, da Deep Space Nine, que compõem o seleto grupo de raríssimas trilhas sonoras decentes das séries pós-TOS.
Acredito que a última verdadeira magnífica trilha sonora de uma série contemporânea de Jornada tenha sido a de “The Best of Both Worlds”, da Nova Geração, composta pelo excelente Ron Jones. Como Rick Berman não gostava muito do estilo de Ron Jones, houve atritos que resultaram em sua saída durante o quarto ano da série. Foi um dos primeiros atos de tirania de Berman contra a qualidade das séries atuais de Jornada.
De 1990 para cá só se salvam os temas de abertura de Deep Space Nine e Voyager, pois 99% das músicas compostas para cada episódio eram no máximo razoáveis, sendo algumas insuportáveis. Eu, pelo menos, nunca consegui escutar um CD inteiro de A Nova Geração, Deep Space Nine ou Voyager. Os 1% pertencem a episódios já mencionados acima, como “The Inner Light”, “Emissary” etc.
Mas a série que com certeza levará o troféu de pior trilha e pior tema de abertura será Enterprise com a cafona “Faith in the Heart”. Sempre que revejo um episódio dessa série faço questão de acionar o fast forward do vídeo durante a abertura. A trilha composta para cada episódio é também lastimável. A música dos créditos finais com variações instrumentais da abertura é o fundo do poço.
Uma excelente oportunidade de comparação entre a qualidade das trilhas sonoras da Série Clássica e das séries atuais pode ser feita assistindo-se aos episódios “The Trouble With Tribbles”, da Série Clássica, composta por Fred Steiner, e “Trials And Tribble-ations”, da Deep Space Nine, em que Sisko, Kira, Odo e cia. voltam no tempo e graças à magia dos efeitos especiais podem contracenar com Kirk, Spock e cia. nos eventos do episódio supracitado da Série Clássica.
Enquanto trilha do primeiro episódio é engraçada, empolgante e inesquecível, a trilha do segunda é fria, sem graça e totalmente esquecível. Mas, fora a trilha, nada contra o referido episódio de DS9, que eu considero um dos melhores da série.
Note-se que durante a produção da Série Clássica era permitida a reutilização da trilha sonora de um episódio em outro sem a necessidade de chamar de novo o compositor. Já da Nova Geração até hoje o sindicato dos compositores exige que cada episódio de qualquer série de TV tenha trilha independente, ou seja, para cada episódio um compositor deve ser contratado sem a possibilidade de reutilização da trilha à sua revelia.
Assim, as séries atuais de Jornada têm um número imenso de trilhas sonoras, chegando a mais de 500 levando-se em conta o número de episódios produzidos de 1987 (lançamento da Nova Geração) até hoje. A Série Clássica, por outro lado, tem pouquíssimas trilhas sonoras, mas a maioria é de ótima qualidade, extremamente criativa e sempre dando o toque certo para a cena certa, seja humor, aventura, romance, suspense etc. Por esse motivo é que a repetição da mesma música em diferentes episódios nunca foi um fator negativo, muito pelo contrário, pois o casamento entre as cenas e as músicas era perfeito.
Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis.