O roteirista Roberto Orci, ao explicar a trama do filme envolvendo linha temporal alternativa, usou a ciência real como base. O site TrekMovie procurou a ajuda de especialistas no assunto para opinarem sobre as declarações de Orci e a teoria da viagem no tempo. Veja também uma entrevista exclusiva com o produtor André Bormanis.
No início de novembro, em uma entrevista publicada pelo TB, o escritor Roberto Orci confirmou que a história do filme começa no mesmo universo que estamos familiarizados, mas que grande parte do roteiro tem lugar em um universo alternativo, que foi criado quando o vilão Nero volta no tempo a partir da época de A Nova Geração e destrói a USS Kelvin (com os pais de Kirk a bordo).
Para basear sua opinião, Orci cita tanto o episódio Paralelos (7ª temporada de A Nova Geração), quanto a mecânica quântica e, especificamente, a teoria da “Interpretação de Muitos Mundos”, onde postula que qualquer decisão cria um novo universo. Esta opinião não só permite que ambos os universos co-existam, mas também resolve muitos paradoxos normalmente associados com a viagem no tempo. De acordo com o co-escritor Alex Kurtzman, no que diz respeito à ciência teórica de viajar no tempo e da mecânica quântica, eles utilizaram quatro livros que foram particularmente úteis para o script: “Black Holes and Time Warps” por Kip Thorne, “Parallel Universes” por Fred Wolf, “The Fabric of Reality” por David Deutsch e “Hyperspace” por Michio Kaku.
O site TrekMovie procurou ouvir alguns entendidos no assunto, sobre a premissa do filme. Um deles foi André Bormanis, autor de “Star Trek Science Logs”. Bormains iniciou sua carreira profissional como físico e acabou se tornando um roteirista de Jornada. Seu primeiro trabalho na franquia foi como consultor científico a partir da sétima temporada de A Nova Geração, seguindo com Deep Space Nine e Voyager. Mas quando Enterprise começou, ele foi promovido a escritor da série. Bormanis diz que concorda com Orci sobre a mecânica quântica ser “o maior sucesso na teoria física”, mas observa também, que não é uma simples forma de considerar a solução correta, “Interpretação de Muitos Mundos é uma maneira de olhar a mecânica quântica, mas nem todo mundo concorda que seja o caminho correto, certamente não é o único caminho. “Muitos Mundos” é divertido em termos de ficção científica, mas não é necessariamente o modo como pensa cada físico da mecânica quântica. É uma de várias interpretações”. Bormanis diz também que a teoria de “Interpretação de Muitos Mundos” tem o benefício de resolver as questões de viagens temporais, “mas não se destina a resolver o paradoxo do avô, apenas dá uma resposta para ele”, afirma o produtor.
Outro entrevistado pelo site foi Lawrence M. Krauss. Professor de Física da Universidade do Arizona, Krauss é autor do livro “The Physics of Star Trek” (A Física de Jornada) e “Beyond Star Trek” (não lançado no Brasil). Ele também concorda sobre Interpretação de Muitos Mundos, dizendo que “é uma abordagem perfeitamente adequada para tentar compreender a mecânica quântica em termos da nossa realidade clássica”. Contudo, Krauss também adverte, “Saltar para trás no tempo e começar uma nova linha tem sido sugerida como uma maneira de evitar os paradoxos da viagem no tempo. É provavelmente a única maneira de evitar isso, a não ser ter de repetir-se o tempo exatamente. Entretanto, não estou convencido de que isto permaneça consistente com as leis da física, como nós a compreendemos. No entanto, é certamente coerente com a forma como Jornada tem tentado lidar com a viagem no tempo”.
Os especialistas concordam que a idéia do tempo alternativo no novo filme é aceitável, pelo menos, como uma possível interpretação válida, mas o mais importante ainda é que tem coerência com as histórias de Jornada. Bormanis diz que sente em Orci e na equipe uma espécie de “respeito pela história da franquia”, mas a sua abordagem permite-lhes tomar certas liberdades, “Eu acho que é uma bela maneira inteligente de continuar”, disse Bormains, “baseado nessa hipótese o “universo espelho” (visto no episódio da série original Espelho, Espelho) poderia ter sido criado no episódio Cidade à Beira da Eternidade, em uma versão alternativa, onde Kirk e Spock não tiveram êxito na sua missão e Edith Keeler sobrevivido”.
Bormanis também salienta que, embora existam dezenas de episódios e longas metragens que lidam com a viagem no tempo, não houve uma abordagem uniforme sobre o assunto, “A abordagem de Jornada sobre a viagem no tempo não foi consistente. Eles têm considerado ambos os lados da rua. Muita gente se esquece, quando olha para trás na série original, que houve uma série de incoerências, desde o início. Penso que Abrams, Kurtzman e Orci estão perfeitamente dentro dos seus direitos, essencialmente, para reinventarem a série original. Isso cria a impressão de que eles deram duro para serem coerentes com o universo estabelecido e qualquer desvio que introduzam vai ser contabilizado pelo elemento da viagem no tempo, a qual é considerada na interpretação de muitos mundos pela mecânica quântica”.
Outro questionamento levantado pelos fãs refere-se aos personagens de uma linha temporal alternativa. Seriam os mesmos ou totalmente diferentes? Orci disse ao TrekMovie que o seu lema para o filme é “mesma nave, dia diferente”. O site perguntou a Bormanis sobre como vê essa questão, “São diferentes tonalidades da mesma cor”, disse ele, “Assim, esse Picard de Yesterday’s Enterprise (Elo Perdido) era reconhecidamente o Picard de muitas maneiras. Ele era o mesmo, tinha os mesmos traços de caráter e o mesmo aconteceu com os outros, mas eles viviam em um universo diferente e eles foram moldados por diferentes eventos. Se seus personagens ocupam um universo diferente e tem uma história diferente, então é certo que são personagens diferentes, mas como diferente é a questão crítica envolvida. Não creio que Picard e Guinan de Yesterday’s Enterprise fossem diferentes em tudo dos personagens que estamos familiarizados”.
Orci já havia citado anteriormente Yesterday’s Enterprise, como um dos principais episódios referência ao script e na sua mais recente entrevista o escritor ressaltou que “algumas coisas são diferentes, mas nem tudo é diferente” neste universo alternativo.
Viagem no tempo, universos alternativos não são novidades para o trekker e, portanto, apesar de alguns comentários críticos, ninguém foi surpreendido com isso. A dúvida que fica é que implicações poderá ter essa mudança no que diz respeito a futuros filmes e séries da franquia? Realmente, só o tempo dirá.
Fonte: TrekMovie