Dois temas que parecem sempre mexer com a cabeça dos trekkers referem-se a continuidade (ou o cânon) e as viagens temporais. O editor do TrekMovie, Anthony Pascale, conseguiu uma entrevista exclusiva com o roteirista Roberto Orci, que comentou sobre esses temas no filme. Pequenos spoilers abaixo.
A entrevista aborda o tema da viagem temporal com ênfase na teoria da física quântica e a opinião do escritor. Veja os pontos mais importantes.
Anthony: Desde o trailer, não há dúvida de que as coisas estão diferentes. Pike e Kirk estão em um bar. A nave parece diferente. Kirk está na Enterprise e não na Farragut. As pessoas estão vendo os Romulanos. Agora, um artigo da Entertainment Weekly revela que Nero vai voltar no tempo e atacar a Kelvin. J.J. e você também falaram sobre isto durante suas entrevistas. Então, a grande questão é: Será que a destruição da Kelvin, com relação ao cânon, é a razão pela qual tudo está diferente?
Orci: “É a razão pela qual algumas coisas estão diferentes, mas nem tudo é diferente. Nem tudo é incoerente com o que poderia ter realmente acontecido, no cânon. Algumas das coisas parecem que são totalmente diferentes, vou argumentar que, uma vez que o filme saia, cai bem dentro do que poderia ter sido uma versão não-viagem no tempo”.
Anthony: Então, por exemplo, Kirk está diferente, porque a sua história anterior mudou totalmente, com relação aos pais dele … e tudo o mais. Mas você está dizendo que talvez as histórias anteriores de Spock e Scotty não seriam afetadas por essa mudança?
Orci: “Correto”.
Anthony: Será que essa viagem no tempo explica a razão pela qual a Enterprise parece diferente e porque ela está sendo construída em Riverside, Iowa?
Orci: “Sim, e sim”.
Anthony: OK, alguns fãs vão dizer “bastante justo, afinal é um tempo alternativo, estamos acostumados a isso, mas esse não é o meu Kirk, é um outro Kirk”. Então este ainda é o nosso filme, ou será que estamos vendo alguma outra versão de Jornada?
Orci: “Eu diria que para os personagens, a sua verdadeira natureza não muda. O nosso lema para este filme é: mesma nave, dia diferente”.
Anthony: Então, a viagem no tempo, bem como o tempo alternativo, são apenas uma forma de fazer um estilo “reboot Galáctica”, enquanto ainda remanescente do cânon?
Orci: “Nas mãos de outra pessoa, talvez, mas, novamente digo, muito do que você verá poderia obedecer ao cânon clássico, e portanto não estamos usando isso como uma desculpa para mudar tudo”.
Anthony: Então, apesar de algumas coisas, principalmente sobre o Kirk estar num caminho diferente (por exemplo, ele não vai para o Farragut depois da Academia), ele ainda acaba na Enterprise com Scotty, Uhura, Chekov, Spock, etc. Está dizendo que existe uma espécie de ‘entropia’ talvez? Assim, mesmo que algumas coisas sejam diferentes, elas gravitam para algum tipo de ponto central?
Orci: “Sim. Se você olhar para a mecânica quântica, você aprenderá sobre o fato de que o nosso maior sucesso é teoria da mecânica quântica, e ao fato de que ela lida com probabilidades de eventos que estão acontecendo. E que o mais provável dos eventos tende a acontecer mais vezes e que um dos subgrupos dessa teoria é a teoria dos muitos universos. Data disse isso (em “Paralelos”), ele resumiu a mecânica quântica como a teoria de que “todas as possibilidades que podem acontecer acontecem”, em um universo paralelo. Segundo a teoria, existe um número muito maior de universos em que os eventos estão estritamente relacionados, pois essas são as mais prováveis configurações das coisas. Inerente à mecânica quântica, existe uma espécie de entropia reversa, que é o que você estava tentando dizer, em que o universo tende a querer pôr ordem em si mesmo, de uma certa maneira. Isto não é algo que estamos inventando, é algo que pesquisamos, em termos da física teórica. Então sim, existe um elemento do universo tentando manter a si mesmo”.
Anthony: OK. Vamos chamá-lo de linha do tempo Nero, como a principal linha temporal, isso significa que a USS Kelvin, tal como foi concebida e vista no trailer, está também nessa linha inicial do tempo?
Orci: “Sim”.
Anthony: Então, o que acontece com a destruição da Kelvin é a criação de um tempo alternativo, mas o que acontece com timeline inicial após Nero deixá-lo (no tempo de A Nova Geração)? Será que ela deixará de existir num piscar de olhos, uma vez que ele vai voltar e criar esta nova linha temporal?
Orci: “Ela continua. De acordo com a mais bem sucedida, e testada teoria científica, mecânica quântica, ela continua”.
Anthony: Desse modo, todos da primeira linha de tempo, como Picard e Riker, ainda estarão lá, só que o Nero estará desaparecido?
Orci: “Sim”.
Anthony: OK, acabamos de aprofundar nas minúcias da física de Jornada. Alguma coisa disso foi discutida no filme? Em De Volta Para o Futuro II, aquela cena com o Doc e Marty, onde Doc explica a viagem no tempo para Marty no quadro negro. Será que Spock nunca faria isso com Kirk?
Orci: “Isso parece muito lógico. A mecânica quântica evita o paradoxo do avô em que De Volta Para o Futuro baseia-se, que é: você pode retornar em De Volta Para o Futuro e ferrar com o seu próprio nascimento e potencialmente invalidar o seu próprio nascimento. Na mecânica quântica esse não é o caso. Na mecânica quântica, se você voltar e matar seu próprio pai, então você apenas vive como o cara que veio de outro universo e que vive em um universo onde você matou um cara, mas você não apaga a sua existência que está fazendo”.
Anthony: E você acredita que a “Interpretação de Muitos Mundos” da mecânica quântica é a interpretação para Jornada, com base no episódio “Paralelos”?
Orci: “Sim. Eu diria que, no mínimo, se vamos fazer a nossa Jornada, temos que estar em conformidade com as mais recentes teorias científicas e o que existe de mais avançado e completo, até agora, que é a mecânica quântica”.
Anthony: Jornada não tem sido coerente nesta matéria. Por exemplo, tanto Yesterday’s Enterprise (Elo Perdido) de A Nova Geração quanto The City on the Edge of Forever (Cidade à Beira da Eternidade) da série original parecem seguir as regras da viagem no tempo de De Volta Para o Futuro, onde as novas linhas do tempo sobrescrevem as anteriores.
Orci: “Nós temos que lidar com isso, com o fato dos episódios não estarem em conformidade com a nossa teoria e ainda em conformidade com a mais altamente testada teoria científica da história humana. Então, eu definiria apriori, que é a ciência que conta. E dizer, para o caso de Jornada IV: A Volta Para Casa, que poderia seguir nos dois sentidos. Eles atravessam um universo paralelo, pegam algumas baleias para trazê-las de volta e salvar seu próprio universo”.
Anthony: Embora a perspectiva de viagem no tempo no episódio Paralelos resolva os paradoxos e baseia-se em física quântica, ela também não afeta o nível do drama? Existe ainda o jogo de vida e morte, pois você faz alguma coisa no passado que não tem nenhum efeito real sobre a linha de tempo que começou?
Orci: “Há, evidentemente, o jogo de vida e morte. Não estamos contando com o elemento da viagem no tempo para narrar uma boa história. É por isso que ele não é o Exterminador do Futuro, ou qualquer outro filme que tenha visto antes. E, no entanto, curiosamente, como uma questão prática, a maioria das pessoas que assistirem esse filme não terão lido esta entrevista. A maior parte da audiência vai assumir as regras da viagem no tempo clássica que ainda se aplicam”.
Anthony: Tradicionalmente, nos enredos de viagem no tempo que vão de Yesterday’s Enterprise (Elo Perdido), Jornada VII: Primeiro Contato e Cidade À Beira da Eternidade para De Volta Para o Futuro e a série Exterminador, o objetivo do protagonista é proteger ou restabelecer a cronologia original. Esse é também o caso deste filme? É a missão do Spock restaurar o seu tempo original?
Orci: “Sem comentários, não posso revelar todo o segredo”. (risos)
Fonte: TrekMovie