Tem havido uma série de novidades sobre o novo Jornada nas Estrelas ao longo das últimas semanas. O site TrekMovie conseguiu uma entrevista com o roteirista, Roberto Orci, que falou sobre esses acontecimentos recentes, incluindo respostas a algumas perguntas sobre o filme. Veja abaixo a parte 1 dessa longa entrevista. Pequenos spoilers.
TrekMovie: Novembro foi um grande mês para o filme, começando com o trailer e previews. Qual é a sensação que passou com essa abertura, após um período tão longo de segredos?
Orci: “Foi embaraçoso para mim e o Alex (Kurtzman), porque nós estávamos muito habituados a ficarmos calados sobre isso. Mesmo sendo um trailer oficial quase ficamos em pânico. Somos como cães de rua que vivem agora em uma bela casa, não estávamos habituados”.
TrekMovie: Qual é a sensação que passou por vocês sobre a forma como as coisas foram lançadas nos principais meios de comunicação?
Orci: “Acho que todos nós ficamos muito encorajados e agradecidos, porque parece que o trailer obteve uma boa recepção. As pessoas que não sabiam sobre Jornada, realmente tomaram conhecimento dela e pareceu criar a impressão de que isso será uma coisa nova”.
TrekMovie: Durante a apresentação de parte do filme em outros países, Abrams fez questão de afirmar que ” não era um fã de Jornada” e ” que este filme não está sendo feito para os fãs”. Algumas pessoas têm reagido a isso perguntando se realmente este filme não é para o antigo fandom. Qual a sua opinião?
Orci: “Acho que isso está apenas refletindo o que ele disse de si mesmo – que ele não imaginava dirigir este filme – Quando ele diz que não era fã, claro que ele estava ciente de Jornada, não estava fazendo cena, ele a admirava, junto com Twilight Zone (Além da Imaginação) e algumas outras séries que ele realmente gosta. Mas acredito que Abrams nunca se imaginou, ao longo de um ano de sua vida, se dedicando a Jornada e isso é o que quis dizer. Creio que essas citações refletem o quanto ele ficou surpreso ao perceber que passou a amá-la ainda mais. Ele passou por esse processo sem saber disso, assim como todos nós fãs, e partindo de uma perspectiva mais geral do público, também pode ser com qualquer um. Isso é o que ele quis dizer com “não para os fãs”, ele acredita que vai atrair mais do que apenas fãs e eu certamente não acho que signifique excluí-los”.
“Podemos comparar com o que aconteceu em A Nova Geração. Como fãs, quando J.J. está dizendo coisas que causam uma sensação estranha aos nossos ouvidos, nós imaginamos ele como Riker no episódio “Questão de Honra“, onde tinha de ser o primeiro oficial a bordo de uma nave klingon, pelo programa de intercâmbio. Nesta nave, quando alguém responde com ousadia, você tem de derrubá-lo ou perderá o respeito de sua tripulação, que é o protocolo deles, enquanto que em uma nave da Federação seria um crime. Então, nós temos que dar um pouco de espaço de manobra para J. J., quando ele está viajando na galáxia, onde as pessoas não conhecem Jornada, para dizer coisas que precisam de ser ditas, a fim de levar as pessoas para o nosso lado”.
TrekMovie: O que foi apresentado neste último mês respondeu a algumas perguntas dos fãs sobre o filme, mas também levantou outras questões. A primeira das quais surgiu recentemente, e está relacionada com o capitão Robau, revelado no site da Intel. Poderia falar sobre quem ele é e qual é o seu passado?
Orci: “Como você sabe, a USS Kelvin é chamada assim, não só em homenagem ao cientista da escala de temperatura, mas também ao avô de Abrams. E que o capitão da nave, Richard Robau, tem o nome de meu tio, que nasceu em Cuba. Uma das coisas que falamos no início era, onde Uhura nasceu? Sulu têm de ser japonês? E isso nos ocorreu porque, no futuro, as fronteiras que existem agora não vão existir mais. Então, você pode ter nascido em algum lugar, crescido em outro, e vivido em outro, e as vezes fora da Terra. Então, eu imaginei que o capitão Robau nasceu em Cuba, mas depois cresceu no Oriente-Médio”.
TrekMovie: Com relação a esse site Intel. Você e sua equipe estão fornecendo o conteúdo para o site?
Orci: “Sim”.
TrekMovie: Então, nós devemos considerar este site cânon? Por exemplo, tudo isso que você descreveu não está no filme, correto?
Orci: “Exato. Acho até que isso poderia estar em um filme ou uma série, falando tecnicamente, não é mesmo? Eu teria que verificar com o resto da Suprema Corte (apelido da equipe de Abrams), mas gostaria de pensar que tudo o que é considerado um website promocional não é cânon”.
TrekMovie: Quanto ao comic book prequel “Star Trek: Countdown“, ele é ou não considerado cânon? Não é uma coisa promocional?
Orci: “Eu não acho que é para eu decidir isso. Como você sabe, eu considero que alguns dos livros se revestem de caráter canônico. E alguns deles, situados entre os filmes, eventualmente, são até mesmo possíveis candidatos à cânon, até que algum outro filme venha e torne essas coisas escritas impossíveis. Essa é a minha opinião pessoal, mas não irei declarar se esses quadrinhos são cânon”.
TrekMovie: Quem toma essa decisão?
Orci: “Não sei, penso que será um voto majoritário”.
TrekMovie: Falando de “Countdown”, a série tem lugar antes ou depois de Star Trek Nemesis?
Orci: “Após”.
TrekMovie: Sobre a Enterprise sendo construída em Iowa. Você está surpreso que isso tenha causado tanta polêmica entre os fãs?
Orci: “Não, de forma alguma. Desde o minuto que nós vimos a fotografia de um fã com a Enterprise sendo construída no estaleiro de um navio – nós mostramos isso a J.J. como uma maneira de deixá-lo animado e mostrar-lhe 0 quanto fundamentada Jornada poderia estar, literalmente [risos]. E ele realmente captou essa imagem. Nós mostramos a ele, com a ressalva de que se fôssemos por esse caminho haveria alguma reação forte dos fãs, mas pensávamos que poderíamos justificá-la”.
TrekMovie: E você tem alguma razão pela qual a nave está sendo construída em Riverside, Iowa, ao invés de São Francisco.
Orci: “Sim”.
TrekMovie: O policial do trailer é um robô ou um cara com máscara?
Orci: “Na minha opinião, existe uma pessoa debaixo dela. Mas não há nada no filme que diga de uma maneira ou de outra. Mas, na leitura de alguns pensamentos de Roddenberry e dissertações sobre Jornada, sempre houve uma hesitação em negar o espírito humano e negar o lado humano do mesmo. Existe uma pequena parte de mim que pensa que um andróide policial seria contra os instintos de Roddenberry. No entanto, o Sr. Data é claramente uma figura central cânon na série, assim você pode argumentar isso. Eu não acho que haja nada no filme que comprometa de uma maneira ou de outra. Gosto não se discute”.
TrekMovie: Com relação ao alienígena agente de segurança da Kelvin, Alnschloss K’Bentayr, é um personagem de alguma forma relacionado a Arex da Série Animada?
Orci: “Não em nossas mentes, mas possivelmente na do designer. Você teria de perguntar ao designer”.
TrekMovie: Como foi feito esse personagem? Por meio de maquilagem e protéticos ou CGI?
Orci: “Um pouco dos dois, principalmente maquilagem e protético. Este particular alien estava realmente sentado no set. J. J. queria a coisa tão real quanto possível, o que não é típico para este tipo de filme nos dias de hoje”.
TrekMovie: Falando de alienígenas, alguns fãs acham que não deveríamos ver nenhum novo alien que não fosse os da Série Original, e alguns ainda pensam que é tradição de Jornada manter a testa de látex para os alienígenas e que eles deveriam continuar sendo antropomórficos (formato humano). Ter aliens do tipo de Guerra nas Estrelas romperia com a tradição da franquia?
Orci: “Pela primeira pergunta, eu uso o mesmo argumento que alguns usam para justificar o reconhecimento de Chekov por Khan (Jornada II: A Ira de Khan), que é: se você fosse para um andar inferior (da nave), na primeira temporada, você poderia ter visto Chekov. Portanto, a idéia é de que não se pode ver um novo alienígena simplesmente por girar a câmera para algum outro lugar da nave que talvez você tenha visto antes. Eu acho que é justo ver um novo alien. Quanto ao segundo ponto, nós realmente tivemos esta conversa, onde um dos divertidos alienígenas, e eu acho que lemos no livro “Primeira D iretiva”, era uma criatura em forma de polvo, que não era claramente antropomórfica. Nós conversamos sobre fazer algo como isso, alguns estranhas criaturas, e creio que ele puxou um pouquinho para esse ponto. Eu não acho que qualquer um deles possa ir muito longe dessa área, mas era algo em nossas mentes. Não acho que tenha de haver uma tradição para mantê-las antropomórficas, mas não creio que se desvie demasiado disso”.
TrekMovie: Embora no trailer tenhamos visto quatro Spocks, as cenas referiam-se mais sobre a vida de Kirk (Pine). Isso é que veremos no filme ou vamos ver um lógico Spock também?
Orci: “Absolutamente. O filme é para ambos. Houve alguma preocupação anteriormente sobre o filme ser muito centrado em Spock e que iríamos ignorar totalmente Kirk, e como você lembrou temos quatro Spocks. Lá não vai ter qualquer escassez de Spock, nem qualquer escassez do clássico Spock. Claramente algumas das coisas que você está vendo no trailer são alguns dos momentos mais extremos no filme”.
TrekMovie: A capa da revista Drudge Report apresenta como título “Spock fica violento!”. Foi esse o tipo de plano, de escolher os momentos loucos de Spock para que as pessoas pensem que esse é diferente?
Orci: Eu não acho que dissemos que iria chegar nesse grau. Não partirmos do princípio que uma audiência vai achar particularmente pró-ativo ou incoerente, mas aparentemente, como salientou, existe muito mais escondido lá fora. Então, creio que há um elemento de querer fazer você sentir algo que não esperava. Ver por um diferente lado do mesmo e não exatamente ser capaz de captá-lo, do tipo – “Oh, eu não acho que este seja um filme sci-fi, ele começa com um Corvette ou com a nave sendo construída na terra” . Então, certamente, em um trailer, você deseja buscar alguns momentos mais agressivos”.
TrekMovie: J. J. Abrams e você falaram que o filme irá ser ‘real’.Você sente que está correndo o risco, quando o objetivo é levar a sério, que com muito humor o filme possa ser entendido como uma paródia?
Orci: “Acho que não vai ser percebido como paródia. Não estou preocupado com isso. Creio que há uma diferença entre as palavras ‘real’ e ‘sério’. Acho que o filme pode ter a sensação de real, de uma forma que nunca vimos antes, e ter o humor ainda coerente com isso. Humor foi sempre uma parte de Jornada, e portanto, tínhamos de ter certeza de que ele foi representado, de alguma maneira. Mas não creio que real e sério sejam a mesma coisa”.
TrekMovie: O humor é parte de um recurso para atrair um público maior e possivelmente um público mais jovem?
Orci: “Eu não penso assim. O humor neste filme está tentando ser específico para cada personagem. Não estamos tentando fazer o que alguns fãs nos acusaram fazer em Transformers. Acho que o humor não vai para esses lugares. Acredito que o humor é muito mais baseado no que os personagens são”.
TrekMovie: J.J. falou um pouco sobre as possíveis sequências do filme. Você disse que a Paramount queria você já fixado nisso. Então, eles já te liberaram ou não se manifestaram ainda?
Orci: “Não estamos falando ainda sobre isso. É muito difícil falar sobre esse assunto antes mesmo de terminar o primeiro filme. Consideramos que é má sorte fixar em algo antes de terminar tudo”.
TrekMovie: Sobre a edição do filme, em que ponto está do seu fim? Não será em meados de Dezembro, a meta para terminá-lo?
Orci: “Estamos ainda na mixagem do som. Essa ainda é a meta, mas poderemos acabar juntamente com o som. O som é realmente difícil, porque você quer que ele seja de ponta e é complicado”.
TrekMovie: Você tem uma uma versão quase terminada do filme, do começo ao fim?
Orci: “Não, eu vi uma versão mais antiga sem praticamente nenhum efeito, mas ainda assim o filme todo. Assim, eu venho assistindo as seqüências aqui e ali, mas tenho tentado me guardar dessa experiência tanto quanto eu posso realmente e tentar vê-lo em sua forma final, antes que eu o veja muitas vezes”.
A segunda parte dessa entrevista será mostrada em breve.
Fonte: TrekMovie