Desde a apresentação da premissa de Jornada nas Estrelas – Voyager, todos sabiam que eventualmente a capitã Janeway iria deparar-se com a Coletividade Borg, afinal sua nave foi transportada para o quadrante Delta, região natal desses seres cibernéticos. O que ninguém sabia era em que condições ou freqüência tais encontros ocorreriam.
Surgiu então um dilema para a equipe de produção do seriado: como eles explicariam a sobrevivência da pequena USS Voyager em território Borg, lembrando que apenas um cubo foi responsável pela destruição de 39 naves da Frota no setor Wolf 359 (A Nova Geração, “The Best of Both Worlds”; e Deep Space Nine, “Emissary”)?
A busca por uma resposta a essa dúvida culminou no episódio-duplo “Scorpion”, que marcou a primeira aparição significativa na série. Enquanto viajava rumo ao quadrante Alfa, a tripulação se alarmou com o surgimento de 15 cubos nos sensores de longo alcance. A assimilação ou destruição pareciam inevitáveis, mas as naves passaram pela Voyager sem parar. Horas depois, estavam reduzidas a um vasto campo de destroços…
Descobriu-se, então, a presença de uma raça mais poderosa no quadrante Delta, resistente à tecnologia Borg. Trata-se da “Espécie 8472” (designação Borg), seres telepáticos de uma outra dimensão, dotados de um sistema imunológico extremamente desenvolvido.
O fato de existir um adversário à altura dos Borgs provoca sentimentos mistos na capitã, pois podem significar a garantia de passagem pela região, ou o aniquilamento. O Doutor descobre um meio de penetrar no organismo dos alienígenas usando nanossondas Borgs modificadas.
Janeway força então uma aliança temporária com a Coletividade: forneceria o conhecimento que permitiria a derrota da Espécie 8472, em troca de passagem livre e segura por seu território.
Nesse ponto, temos a introdução de Seven of Nine (Jeri Ryan), que acaba sendo separada da mente coletiva ao tentar assimilar a Voyager. A partir de então, os confrontos tornaram-se freqüentes. O quarto ano da série baseia-se notadamente em Seven.
Na quinta e sexta temporadas, os Borgs voltam com força total, com a cinematográfica aparição da Rainha Borg…
Na data estelar 51978.2, a USS Voyager quase é destruída em uma elaborada emboscada por Arturis, um alienígena que ajudava a traduzir uma mensagem fragmentada, recebida da Frota Estelar. De fato, ele planejava atrair a nave para o espaço Borg, onde seria assimilada. Isso era uma vingança contra Janeway devido à aliança temporária com a Coletividade na derrota da espécie 8472, que possibilitara a assimilação do planeta de Arturis.
Alguns meses mais tarde, a tripulação da Voyager lança uma missão ambiciosa e de alto risco para invadir uma esfera Borg e roubar a tecnologia transdobra. Entretanto, os Borgs rapidamente detectam o plano e persuadem Seven a voltar à mente coletiva, ameaçando assimilar Janeway e sua tripulação. A jovem é então capturada e levada à Unimatriz 01, onde a Rainha Borg revela que sua permanência na Voyager foi intencional, a fim de entender a natureza da resistência humana. Seven não aceita voltar à Coletividade e é resgatada por seus amigos, que obtiveram sucesso em sua missão de obter a tecnologia.
Algum tempo depois, o intrépido grupo de humanos encontrou um cubo severamente avariado, em que todos os zangões adultos estavam mortos. Entre os sobreviventes estavam apenas crianças assimiladas, as quais foram prematuramente liberadas de suas câmaras de maturação. Elas tentam roubar o defletor de navegação da Voyager a fim de reparar sua nave e voltar à Coletividade.
Janeway descobre que o cubo fora infectado por um vírus, responsável pela morte dos zangões adultos. Também toma conhecimento de que a tentativa das crianças em voltar aos Borgs é inútil, uma vez que a colméia as considera defeituosas e irrelevantes. Seven as convence a vir a bordo da Voyager para ajudá-las. O Doutor remove seus implantes cibernéticos e elas começam a retomar suas vidas.
Na data estelar 54014.4, Seven of Nine vivencia o que pensa ser um sonho, mas descobre a existência da Unimatriz Zero – um lugar onde certos zangões vão durante seus ciclos de regeneração e podem existir como indivíduos.
Vendo isso como uma oportunidade de destruir os borgs, a capitã Janeway fala para Seven contatar esses zangões. Lá ela encontra Axum, um antigo conhecido que a informa sobre a mutação recessiva que originou a Unimatriz Zero. Explica que a Rainha Borg está tentando localizar e destruir esse santuário e pede ajuda à capitã, que concorda em auxiliá-los na resistência.
A tripulação da Voyager desenvolve um vírus que permitiria a esses zangões mutantes manter sua individualidade após acordar do ciclo. Janeway, Tuvok e B’Elanna se transportam para uma nave Borg a fim de dispersar o vírus no plexo central –dispositivo que liga todos os zangões a bordo à Coletividade.
O grupo avançado acaba assimilado e a Rainha tenta convencer Janeway a fazer os ocupantes da Unimatriz Zero se renderem. Ao final, o grupo é resgatado com sucesso, com a ajuda dos zangões (agora liberados), e uma guerra civil toma o lugar da estabilidade Borg…
Enfim, a presença desses seres cibernéticos em Voyager supera as séries anteriores. Trata-se de inúmeros conflitos dos quais Janeway sempre consegue se safar, com uma certa vantagem sobre a Coletividade. A própria USS Voyager utiliza tecnologia Borg.
Essa nave, assim como sua tripulação, tornaram-se únicas no universo de Jornada. Representam a sobrevivência (característica primordial da natureza humana) e a capacidade de superar adversidades sem o “benefício” de uma mente coletiva.
Artigo originalmente publicado no conteúdo clássico do Trek Brasilis no ano de 2000, não contemplando os episódios do sétimo ano de Voyager.